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27 de janeiro de 2020

O Amante de Lady Chatterley | D. H. Lawrence


O Amante de Lady Chatterley é um clássico que entra naquela categoria dos romances polêmicos. Lançado em 1928, a obra teve sua publicação impedida por falar abertamente sobre sexo e adultério. Sendo um livro que fala abertamente sobre sexo, essa resenha vai, inevitavelmente, precisar abordar o assunto. E já adianto que algumas questões bem problemáticas são discutidas, incluindo abuso sexual. Então, se você não se sente totalmente confortável, sugiro que não leia essa resenha. 💜

A história começa com o marido de Constance, Clifford, voltando da guerra com a parte inferior de seu corpo paralisada, o que o impede de ter relações sexuais e, consequentemente, de ter filhos. Eu já sabia que essa é uma história sobre adultério, bem no estilo de Madame Bovary. O início da história até me deu a impressão de que o livro se aprofundaria na questão dos efeitos da guerra na vida de um jovem casal, mas eu estava enganada. Acontece que O Amante de Lady Chatterley é essencialmente um livro sobre sexo.

O que me fez ter interesse nessa leitura foi um contato que tive com os primeiros parágrafos da história. Esse livro tem um daqueles começos memoráveis e que nos chamam a atenção imediatamente, como acontece com Anna Karienina, O Apanhador no Campo de Centeio e A Assombração da Casa da Colina, por exemplo. Infelizmente, após essa parte inicial, a história perde o ritmo, apostando em um enredo muito repetitivo, cheio de personagens que não nos cativam e páginas e mais páginas com descrições desinteressantes. Porém, o livro volta a ficar bom depois da metade. Eu vivi uma relação de amor e ódio com essa leitura. Me vi lendo obstinadamente e sem parar, ao mesmo tempo que me vi indignada em muitos momentos.

Vamos começar falando sobre os personagens insuportáveis desse livro. Não pensem que eu estou dizendo que não gostei da obra porque os personagens são detestáveis. Afinal, isso não é motivo para não gostar de um livro. O Morro dos Ventos Uivantes é meu livro favorito da vida e os personagens são completamente intragáveis. A diferença está na definição do personagem. Em O Morro dos Ventos Uivantes, a gente sabe o que os personagens sentem, a gente os entende mesmo eles sendo confusos e maldosos. Há uma identificação, há empatia, há compreensão. Nada disso acontece com O Amante de Lady Chatterley. Eu passei quase o romance inteiro sem saber o que os personagens sentiam, o que pensavam, se gostavam uns dos outros ou se apenas se toleravam. Isso fez com que eu visse todos como extremamente superficiais e rasos. Emoções rasas, conexões rasas e relacionamentos rasos.

Não é segredo para ninguém que a Lady Chatterley terá um amante na história. Afinal, está no título da obra. E diferente do que acontece em Madame Bovary, outra história de adultério, aqui o leitor não entende essa relação com o amante. Pelo menos não até a metade do livro. É amor? Apenas atração sexual? Uma fuga de sua vida tediosa? Ela gosta dele?

Como vocês podem perceber, há uma diferença clara entre a primeira e a segunda metade do livro. Pelo menos na minha experiência de leitura, eu senti que o livro melhorou muito na segunda metade, foi quando eu consegui entender os personagens e quando o livro se tornou realmente mais interessante. Então, sim, valeu insistir na leitura, mas, mesmo assim, não sei se valeu tanto.

O livro trabalha várias questões paralelas, mas o ponto central é certamente o sexo. É uma história sobre sexo, sobre se descobrir no ato sexual. A relação de Constance com seu amante é quase que totalmente sexual e o sexo é exaustivamente colocado como a máxima de estar vivo. Entre os temas paralelos, que para mim foram infinitamente mais interessantes, estão industrialização, desigualdades sociais e econômicas, o poder de uma classe sobre a outra e a oposição entre existência física e espiritual. Porém, nenhum desses temas é tão explorado como o tema da sexualidade.

Acontece que, apesar da protagonista ser uma mulher, o livro foi escrito por um homem. Então, é tudo muito do ponto de vista masculino. E de um masculino bem problemático, a propósito. Constance "permite" que seu amante faça o que bem entender. Em alguns momentos, relações sexuais que não me pareceram totalmente consensuais foram praticadas e a narrativa deu a entender que Constance gostava de ser forçada. O tempo todo, o livro reforça a ideia de que há poucos "homens de verdade" no mundo, como se ser homem de verdade significasse ser sexualmente ativo e dominante. Toda essa masculidade tóxica é extremamente exaltada no livro.

Sabemos que os livros da Penguin são um primor, com muitos conteúdos complementares e matérias de apoio. Aqui não é diferente. A edição conta com um texto do próprio autor, muitas notas e diversos outros complementos. Confesso que a introdução me desagradou porque acho que não cumpriu seu papel de introdução. A autora da introdução fica falando sobre a sua interpretação da obra e parece atacar "as feministas" que problematizam o livro e que "não entenderam" o que o autor quis dizer. Haja paciência, né?! Sinto muito, mas, vou ser essa feminista que problematiza sim. Porque pra mim não é aceitável um livro que faz referência a estupro como uma coisa normal e que usa o termo "homossexual" como sendo sinônimo de "menos homem". Pelo menos a introdução serviu para apresentar o autor, que tinha uma relação muito estranha com o sexo, o que explica muita coisa.

Tem muitos outros problemas nessa história, incluindo o pai e o amante de Constance conversando sobre as relações sexuais da filha e o pai dizendo que sente inveja do amante. Gente, sou eu que estou louca ou esse livro é extremamente bizarro? Por isso, vale reforçar que esse é um livro não indicado para todas as idades. As descrições das relações sexuais são bem explícitas e o vocabulário é bem direto.

Esse é um livro que eu acho que nunca vou conseguir digerir totalmente. Algumas cenas ficaram na minha cabeça e eu achei o livro todo muito esquisito e repulsivo. Parece que o tempo todo o autor defende que mulheres precisam de homens que as dominem, que sejam brutos e animalescos. E, aiiiiii gente, o pior é que minhas expectativas estavam bem altas, porque o começo é realmente bom. O tombo foi grande. Por favor, conversem comigo nos comentários. Preciso saber a opinião de vocês.

Título Original: Lady Chatterley's Lover  ✦ Autor: D. H. Lawrence
Tradução: Sergio Flaksman Páginas: 560 ✦ Editora: Penguin Companhia
Livro recebido em parceria com a editora
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16 comentários :

  1. Olá!
    Um livro bastante interessante, ainda mais por ser um clássico. Não tinha um conhecimento dele mas a resenha me pareceu ser um livro interessante e sim poderia ser lido, apesar de que se trata de assuntos como o sexo. Me pareceu ser uma ótima premissa.

    Meu blog:
    Tempos Literários

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  2. Parece que tudo é meio sem propósito e sem nexo não é? Nos livros citados, as mulheres tinham amantes mas sabíamos o porquê. Em Morro, Heatcliff era insuportável mas o entendíamos, mas me parece que em O Amante de Lady Chatterley, tudo é jogado sem um contexto. Não entendi se é um clássico ou um livro erótico.

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  3. Puxa, eu admito que ainda não conhecia esse clássico,mas mesmo sendo assim, indigesto e estranho, pra não dizer bizarro demais, deu aquela curiosidade enorme em saber mais.
    Não pelo sexo, mas pelo conteúdo totalmente voltado para o sexo. E com diálogos que parecem sair demais da zona do "comum".
    Se puder, quero sim conferir.
    O bizarro é bizarro!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  4. Oi, Priscila
    Tenho esse livro em uma versão que ganhei quando assinava a revista super interessante. Na época tentei ler, mas como não estava familiarizada com o tema sexo não consegui passar das primeiras páginas.
    Esses dias estava organizando meus livros e fiquei um tempo olhando para ele. Quem sabe um dia dou uma chance.
    Beijos

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  5. Oi!
    Só pela sua resenha, já peguei uma repulsa, um nojinho por esse livro.
    Por ser barrado em 1928, achei que seria uma história mais empoderada (?), diferente dos padrões da época, mas me pareceu algo extremamente machista (e é).

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  6. É um dos livros que gostaria de ler por ser clássico e ficar naquela curiosidade, mas nossa, parece pior do que eu pensava. Sabia que era uma trama com muito sexo no meio, só que achava que era mais uma coisa "mulher arruma amante por motivos de marido ruim pra ela". É pior. É muito mais. Senhor...gosto da ideia de desenvolver sentimentos, coisas que amenizem a questão moral e etc, mas parece que falta muito pra gente sentir qualquer empatia por personagem aí. E isso de ser escrito por homem e a polemica da história só piorar por isso...cara, brabo esse livro hein! Parece daqueles que a gente lê com a cara torcida. Mas vou dizer que ainda tenho curiosidade e leria. Nem que seja pra entender o ranço. É muita coisa pra pensar...

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  7. Interessante saber desse clássico, até porque eu não o conhecia.
    Um enredo intrigante e que desperta muitas sensações, não sei se é o tipo de leitura que iria me agradar.
    O que eu mais gostei na resenha foram as referências a outros clássicos - e eu preciso ler todos.

    Beijos

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  8. Priscila!
    Quando pego um livro que é um clássico e escrito em um século diferente do nosso, vou sempre com a mente mais aberta para entender os comportamentos apresentados pelas personagens, principalmente porque é uma história forte que envolve traição e sexo.
    Entendo seus receios e suas observações, mas temos que perceber que naquela época, as mulheres não eram valorizadas...
    cheirinhos
    Rudy

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  9. Oi, Priscila
    Credo o pai com inveja do amante. Misericórdia!
    Não conhecia esse livro, mas já sei que não vou ler mesmo.
    Achei muito doido e com todas essas traições e lascívia kkkkkk não faz o meu tipo.
    Mas que pai doido. Me assustou kkk
    Bjs

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  10. Tem um pequeno problema com gatilhos de abusos sexuais Então como faço parte do Top comentarista só queria deixar consultado aqui que eu infelizmente não vou poder ler a resenha

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  11. Oi, Priscila!!
    Nossa esse é o tipo de livro que não gosto muito de ler e sinceramente pode ser um clássico mais não quero saber dele. Então vou passar essa indicação.
    Bjs

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  12. Olá! ♡ Dessa vez vou deixar passar, esse é o tipo de leitura que no momento acho que é melhor eu não ler, por conta dos temas abordados.
    Beijos!

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  13. Um livro bem forte e com uma história impactante. Mas que não vou ler, pois tenho certeza que não chegarei até o final.

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  14. Oi, Priscila! Tudo bem?

    Acabei de "concluir" (da página 245 pulei pras 5 últimas pq não estava mais aguentando) esse livro e precisava ler resenhas pra saber que eu não estava louca. Sou o tipo de leitora que sofre muito por abandonar alguma leitura, então fico insistindo até o final, mas essa obra eu não consegui. Um monte de personagens chatos, inconstantes, machistas e uma história que não tem nada pra ser boa: o pano de fundo é fraco, as conversas são chatas e o romance mesmo, poxa, que romance mais mequetrefe. Isso tudo, pra não falar das relações sexuais, confesso que fiquei chocada quando Mellors fala da sua ex-mulher, sobre o fato dela demorar mais pra atingir o orgasmo e ele, coitadinho, sendo esfalfado. Ah, pelamor né?
    Ô tempo perdido essa leitura!
    P.s. adorei a resenha, bjo 😊

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  15. Super decepcionada com o livro. Havia visto tantas resenhas boas, e comecei a lê-lo devido a série "As telefonistas" tê-lo retratado através da leitura da personagem Marga. Como gosto muito da série, pensei que fosse um livro o qual trouxesse a questão de forma revolucionária. Mas estive enganada. Não cheguei na metade do livro, e, ainda assim, sinto que é uma leitura chata! Gastei três páginas de leitura lendo a descrição de um local o qual Connie estava visitando. Leitura repetitiva e cansativa. Mas vou ler até o final. Fico feliz, dessa forma, que eu não seja a única a notar tais defeitos sobre a obra.
    Resenha maravilhosa! Beijão.

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  16. Li o Amante de Lady Chatterley e confesso que, pra mim, não foi uma leitura que valeu muito a pena. Motivos: personagens arrogantes, excesso de deliberações filosóficas, machismo e romantização do adultério, inclusive no final da história.
    E apesar de se apresentar como um livro "muito erótico", algumas cenas de contato íntimo me pareceram frias ou ridículas.

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