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14 de junho de 2025

Imagens Estranhas, um suspense perturbador de Uketsu

Uketsu, fenômeno do terror japonês, chegou ao Brasil por duas editoras diferentes: Casas Estranhas, que eu já li e já resenhei, foi lançado pela Intrínseca, enquanto Imagens Estranhas veio pela Suma. Decidi pegar os dois pra ler no mesmo mês porque queria conhecer logo esse autor que tem feito tanto sucesso, tanto pela qualidade de suas obras, quanto pelo mistério de sua própria identidade, já que ninguém sabe quem ele é, pois sempre que ele aparece, ele está usando uma máscara branca sinistra.

Já quero começar falando sobre a edição brasileira de Imagens Estranhas que está impecável: a capa é linda e tem detalhes em verniz localizado, a parte interna da capa é ilustrada, assim como todo o livro e a diagramação está perfeita. Foi um prazer fazer essa leitura, ao mesmo tempo que eu observava as ilustrações.

A história começa com uma psicóloga e professora universitária mostrando aos alunos um desenho feito por uma criança que matou a própria mãe. Em seguida, somos apresentados a quatro histórias diferentes e todas envolvem desenhos que parecem normais, mas que revelam, aos olhos mais atentos, detalhes obscuros e segredos chocantes.

Um homem posta em seu blog os desenhos que sua mulher fez durante sua gravidez, uma professora mostra a uma mãe o estranho desenho que seu filho fez na escola, um professor de artes deixa um último desenho antes de morrer misteriosamente e uma garotinha pede ao pai um passarinho de estimação.

Essas quatro histórias se ligam paras formar uma única e completa história. E aqui vai o primeiro ponto positivo: normalmente, em livros com histórias que se ligam, essa ligação só fica realmente clara no fim da leitura. Porém, em Imagens Estranhas, isso vai ficando evidente capítulo a capítulo, permitindo que nós, leitores, possamos ligar os pontos aos poucos e de forma constante.

Assim como aconteceu em Casas Estranhas, aqui também a investigação beira o mirabolante em vários momentos e é preciso fazer certa suspensão de descrença e apenas aceitar os caminhos que o autor decide trilhar. Na verdade, essa característica das histórias de Uketsu me lembra muitos os livros de Sherlock Holmes, em que o personagem possui habilidades dedutivas brilhantes e, por vezes, não muito criveis. 

Uma curiosidade é que esse personagem em questão (que faz deduções inacreditáveis) também aparece em Casas Estranhas. Essa é uma tendência forte em livros de investigação e mistério: Agatha Christie tinha seu Poirot, Arthur Conan Doile tinha Sherlock Holmes e Uketsu tem Kurihara.

Eu gostei da leitura, mas o mistério por trás dos desenhos não me prendeu tanto assim. Já próximo do fim do livro eu percebi que não me importava tanto com o desfecho, que a jornada em si é que estava sendo interessante e divertida: observar os desenhos e tentar encontrar as respostas antes delas serem reveladas me manteve na leitura mais do que a resolução em si

Foi uma leitura rápida, mas não tão rápida quanto Casas Estranhas, que é menor e, na minha opinião, um pouco mais fluido. Uma coisa curiosa sobre a esmagadora maioria dos livros japoneses que eu já li é que suas narrativas são muito mais diretas do que a literatura com a qual estamos habituados (livros da América e da Europa, principalmente). Um bom exemplo disso é que, mesmo após ler dois livros com o Kurihara eu sigo sem saber nada sobre ele, apenas que ele tem boas habilidades dedutivas.

Ou seja, Uketsu não nos dá muito contexto e background. Ele vem, conta a história que quer contar e nada além disso. Se você gosta de histórias direto ao ponto, provavelmente você vai gostar. Eu gostei de conhecer o trabalho desse autor, foram leituras intrigantes, rápidas e bem diferentes do que eu estou acostumada.

Uma coisa que eu já havia dito na resenha de Casas Estranhas e que aqui se repetiu foi a questão de eu ter ido esperando terror quando, na verdade, encontrei mistério e investigação. Em Imagens Estranhas isso se repete: apesar da capa e de algumas imagens serem bem perturbadoras, é um livro de investigação para que o leitor brinque de detetive.

No geral, gostei das minhas experiências com Uketsu, mas nada muito memorável. E você, já leu alguma coisa do mascarado?

Título Original: Henna E ✦ Autor: Uketsu
Páginas: 184 ✦ Tradução: Maria Luísa Vanik ✦ Editora: Suma
Livro recebido em parceria com a editora

9 de junho de 2025

Romantasia: a nova obsessão da comunidade literária


Romantasia, como o próprio nome indica, é a fusão entre romance e fantasia. Essa junção é crucial para a narrativa. Não se trata apenas de adicionar amor a uma história fantástica, mas de integrar os elementos de ambos, criando um subgênero que oferece o melhor de dois mundos. Leitores se perdem em universos mágicos, acompanhando histórias de amor profundas e complexas, tornando a leitura única e envolvente.

Embora a mistura de amor e sobrenatural não seja nova, a popularização e formalização da romantasia como gênero distinto são fenômenos recentes. Isso foi impulsionado por comunidades de leitores online e pela demanda por narrativas que ofereçam escapismo e emoção — muitas vezes figurando entre os melhores livros de fantasia para você ler quando o assunto é literatura envolvente e cativante. O gênero se consolidou com características e expectativas bem definidas.

Assim, é crucial diferenciar a romantasia da "fantasia romântica". Na fantasia romântica, o foco principal é a fantasia, com o romance secundário. Na romantasia, romance e fantasia compartilham o protagonismo, desenvolvidos com igual profundidade. A remoção de um comprometeria a história, pois ambos os pilares são interdependentes. 

A ascensão da romantasia

A romantasia reside na capacidade de oferecer uma fuga da realidade para mundos fantásticos, ao mesmo tempo em que satisfaz o desejo por narrativas focadas em relacionamentos e emoções humanas. Essa combinação única de elementos permite que os leitores se conectem com personagens complexos e torçam por seus desfechos românticos em cenários extraordinários, tornando o gênero altamente atrativo.


O sucesso da romantasia é impulsionado por fatores como as redes sociais, especialmente TikTok (BookTok) e Instagram. Essas plataformas divulgam e recomendam livros, criando comunidades de fãs que compartilham leituras e entusiasmo. A facilidade de acesso a informações e a formação de grupos de discussão online aumentam a visibilidade de novas obras e autores.

Embora estatísticas de vendas globais específicas sejam difíceis de isolar, a constante menção em artigos e o sucesso de títulos indicam a força da romantasia no mercado editorial. Especialistas preveem crescimento contínuo em 2025, solidificando o gênero como um dos mais vendidos e influentes. A demanda por histórias que equilibram aventura fantástica com paixão e romance continua a impulsionar a produção e o consumo de obras de romantasia, garantindo sua relevância.

Elementos essenciais da romantasia

As histórias se passam em universos com sistemas de magia complexos, criaturas fantásticas, diferentes raças e geografias elaboradas. Este cenário detalhado não é apenas um pano de fundo, mas interage diretamente com a trama romântica e as jornadas dos personagens. As regras da magia, dinâmicas políticas ou ameaças sobrenaturais podem criar obstáculos ou fornecer meios para o relacionamento florescer em meio ao perigo e à aventura. O desenvolvimento de personagens é crucial, com foco nos protagonistas do romance. Os leitores torcem por eles, acompanhando suas lutas, crescimento pessoal e jornada romântica.

Arquétipos comuns incluem heróis relutantes, heroínas fortes, vilões complexos ou figuras misteriosas. A química entre o casal, seus diálogos, conflitos e a evolução do relacionamento são centrais, prendendo a atenção do leitor e tornando o aspecto romântico tão vital quanto a trama de fantasia. A interligação entre o enredo romântico e a trama de fantasia é a essência da romantasia, está intrinsecamente ligado aos eventos fantásticos. O destino do mundo pode depender do sucesso do relacionamento dos protagonistas, ou desafios mágicos podem ser superados pela força de seu vínculo.

Exemplos notáveis e autores de destaque

A romantasia é impulsionada por obras de sucesso que se tornaram referências. Quarta Asa (Fourth Wing) de Rebecca Yarros exemplifica a força do gênero, combinando fantasia envolvente com romance intenso. Corte de Espinhos e Rosas (ACOTAR) de Sarah J. Maas é outro pilar, com rica construção de mundo e personagens complexos que se apaixonam em meio a conflitos épicos.

Além de Yarros e Maas, autores como Jennifer L. Armentrout, com De Sangue e Cinzas, Rachel Gillig e seu maravilhoso Uma Janela Sombria e Rebecca Ross com o sucesso Divinos Rivais, destacam-se. Suas narrativas misturam romance proibido, criaturas sobrenaturais e intrigas políticas. Essas autoras criam mundos imersivos e personagens que ressoam com os leitores, garantindo que o elemento romântico seja tão empolgante quanto as aventuras fantásticas.


O impacto cultural da romantasia é inegável, influenciando o mercado editorial e a cultura pop. O sucesso de vendas e a paixão dos fãs geram discussões sobre adaptações para TV ou cinema, ampliando o alcance das histórias. Além disso, a romantasia é um terreno fértil para a criatividade, inspirando fanarts, fanfics e possui uma comunidade literária muito engajada, solidificando seu lugar como fenômeno cultural relevante.

O futuro da romantasia

O futuro da romantasia é promissor, com o gênero evoluindo e se diversificando. Autores exploram essa fusão, e novas abordagens narrativas surgem. Podemos esperar histórias com elementos de mistério, suspense ou ficção científica, mantendo o equilíbrio entre romance e fantasia. Essa capacidade de adaptação e inovação garante que o gênero continue relevante e atraente para um público, ávido por narrativas emocionantes que desafiem as convenções.

O papel da romantasia na literatura contemporânea é cada vez mais significativo. Longe de ser uma moda, o gênero aborda temas complexos através de suas lentes. Questões de identidade, poder, escolha, sacrifício e a natureza do amor são exploradas em profundidade em mundos onde magia e perigo são reais. A romantasia oferece uma plataforma única para discutir a condição humana e os relacionamentos em contextos extraordinários, provando que histórias populares podem ser divertidas e instigantes.

A paixão de sua base de fãs, a proliferação de novas vozes e a contínua exploração de suas possibilidades narrativas indicam que o gênero continuará a encantar leitores. Seja em sagas épicas com romances proibidos ou histórias intimistas em reinos encantados, a romantasia oferece uma rica tapeçaria de narrativas que celebram a imaginação, a emoção e a poderosa conexão entre os seres.

Conclusão

A ascensão meteórica da romantasia, impulsionada por comunidades online e o apelo por escapismo e aventura, reflete uma demanda crescente por histórias que ofereçam tanto a emoção de um grande amor quanto a maravilha de mundos inexplorados. Os elementos essenciais, do worldbuilding ao desenvolvimento de personagens e a interligação intrínseca entre romance e fantasia, são a base de seu sucesso.

O impacto e a relevância da romantasia na literatura contemporânea são inegáveis. Obras de autores como Jennifer L. Armentrout e Sarah J. Maas definiram o gênero e abriram portas para novos escritores e leitores. A romantasia provou ser mais que uma tendência, oferecendo um espaço para explorar temas universais em contextos fantásticos e promovendo uma comunidade global de fãs.

3 de junho de 2025

Casas Estranhas, um sucesso do misterioso autor japonês Uketsu


Se você gosta de livros de terror e mistério, talvez já tenha ouvido falar em Uketsu, um dos maiores autores de horror do Japão, que também é YouTuber. Uketsu desperta curiosidade entre os leitores, principalmente porque ninguém sabe quem ele é, já que ele sempre aparece com roupas pretas, uma máscara branca e usa efeito para distorcer a voz.

Um de seus maiores sucessos é seu primeiro livro, Casas Estranhas, que chega ao Brasil pela Intrínseca e que eu tive o prazer de ler. A primeira coisa que posso dizer é que foi uma leitura muito rápida. Eu comecei e terminei no mesmo dia. A história contada pelo autor é pontual, com começo, meio e fim e sem contextualizações desnecessárias ou digressões. A gente não sabe praticamente nada sobre os personagens: eles são apenas meios para contar a história que o autor quer contar.

E qual seria essa história? Em Casas Estranhas, um escritor com forte interesse em temas ocultos e um especialista em arquitetura analisam a planta de uma estranha casa. Entre as peculiaridades dessa residência estão: um pequeno espaço entre um cômodo e outro e um quarto infantil sem janelas que só pode ser acessado através do quarto dos pais e só depois de passar por duas portas.

O que essas peculiaridades revelam sobre a casa e sobre seus habitantes? Por que a criança parece estar escondida em um quarto sem janelas? O que realmente há naquele espaço misterioso entre cômodos? É isso que o escritor e o arquiteto tentam investigar e entender, ao maior estilo Sherlock Holmes: com deduções perspicazes e que beiram a adivinhação.

A maior parte do livro são diálogos e isso tornou a leitura muito rápida. Eu me senti sentada na mesa de um café com os personagens, ouvindo eles criarem teorias malucas que explicassem a estranheza das casas e ficando boquiaberta a cada vez que uma teoria insana se mostrava verdadeira.

Eu adorei a fluidez da leitura e a agilidade com que o autor conduz a história, sem enrolações e sem falsas pistas. Bem diferente dos suspenses convencionais onde, a cada página, tudo muda: quem parecia mocinho vira vilão e a gente fica desconfiado até da própria sombra. Se você curte histórias mais lineares, que não ficam tentando te fazer de besta, você vai amar.

Eu confesso que fui esperando um pouco mais de terror, com elementos um pouco mais sobrenaturais. Mas não é bem isso. Então se você não gosta de sentir medo e levar susto, fique tranquilo. Casas Estranhas é aquele tipo de horror que incomoda e gera estranheza, mesmo que a gente não entenda bem o porquê, e não o tipo de horror que dá medo.

A edição da Intrínseca está lindíssima. O livro é todo ilustrado com plantas de casa e uma coisa que eu gostei é que a planta de uma mesma casa reaparece sempre que os personagens estão falando sobre ela. Ou seja, você não vai precisar ficar voltando as páginas a cada vez que um personagem falar sobre algum aspecto da casa (igual mapa em começo de livro). Tem até uma parte da história em que os personagens estão riscando a planta e fazendo modificações e, a cada modificação, a planta reaparece com a alteração, tornando tudo muito fácil de visualizar.

A leitura é realmente rápida, até porque o livro ter cerca de 170 páginas. Gostei e fiquei com vontade de ler mais coisas do autor.

Título Original: Henna Ie ✦ Autor: Uketsu
Páginas: 176 ✦ Tradução: Jefferson José Teixeira ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora