15 de fevereiro de 2025
A Ladra Amaldiçoada, de Margaret Owen: um "conto de fadas" ao contrário
10 de fevereiro de 2025
Chuvas Esparsas, um livro de contos de amor da autora Rainbow Rowell
Olha ela, voltando com mais um livro de contos! 2024 foi o ano deles aqui na minha estante. E vou confessar que adorei, já que passei por meses difíceis e empaquei na leitura em diversos momentos. Contos são sempre mais fáceis de ler, e aqui está um livro que é muito fofo e divertido.
Chuvas Esparsas é uma coletânea com nove contos de amor, da autora Rainbow Rowell. É aquele tipo de livro que você não precisa ler de uma vez. Como pessoa trevosa que sou, gosto muito dos livros de suspense e terror, mas às vezes gosto de pegar algo mais suave para poder aquecer meu coraçãozinho trevoso. Como ele vem pela Seguinte, vocês já devem imaginar que são coisas mais leves e jovens mesmo. Temos conto com temática de Natal (um que inclusive é com o Simon e Baz, da famosa trilogia Simon Snow), amigos para amantes, medos e inseguranças adolescentes.
Para mim, o melhor conto é Músicas para esquecer um ex de merda KKKKKKKKK. Gente, esse foi tudo mesmo, tanto que preciso dar uma contextualizada. Summer termina seu relacionamento com Charlie, mas só porque ela sabia que ele já estava pensando nisso. Eles passaram a brigar muito e o fim era inevitável. O que acontece é que ela ter terminado seu namoro não a deixou menos triste e foi assim que ela se enfiou em um looping de "Silent All These Years", uma música mais triste ainda, que mexia com ela profundamente. Ouvia a voz de Tori Amos no seu dormitório da faculdade todos os dias. Quando acordava, depois que voltava das suas aulas, até durante seus estudos. Mas sabia que uma hora teria que parar com isso. Ela só não imaginou que seu vizinho de dormitório, Benji, um amante de músicas, pediria pelo amor de deus para que ela deixasse ao menos ele escolher as músicas desse "velório" já que ele teria que participar de maneira involuntária. E aí eu imagino que vocês saibam onde isso vai dar.
Acredito que essa tenha sido a primeira vez que eu li alguma coisa da Rainbow Rowell, já que eu passei a leitura de Eleanor & Park e não quis começar ainda a série Simon Snow (pois só tenho o primeiro volume), mas já posso dizer que gostei de como ela escreve. É uma autora que parece se voltar bastante para o público jovem, então sua escrita não tem a pretensão de mover montanhas ou ser super marcante, mas ainda assim é legal. Fora que ela faz uma coisa que eu gosto muito que é acrescentar coisas da cultura pop que a gente gosta e conhece, para ambientar e trazer o leitor ainda mais para a história. Claro que vi alguns probleminhas aqui e ali, como em um conto em que uma personagem é questionada sobre sua vestimenta, já que estão dando em cima dela... Nem preciso falar sobre o que eu acho disso né.
E agora chegou a hora de realmente reclamar sobre uma coisa. A diagramação dele me incomodou bastante. Sem querer ser chata, mas a letra ser rosa me atrapalhou um pouco e eu tive que dar um tempinho da leitura às vezes, ou dar continuidade no Kindle, por ser mais complicado de enxergar. Entendo a proposta, mas eu preferia que a letra fosse preta. Poxa, me ajuda dona Seguinte. Mas o resto ficou muito fofo e inclusive queria deixar claro que amei as ilustrações, são lindas ♥️
De modo geral, achei que ele tem um climinha de festinhas de fim de ano, ainda que nem todos os contos sejam necessariamente sobre essas datas. Um livro leve, divertido e sem pretensões, mas que vai te deixar feliz no final.
8 de janeiro de 2025
Conectadas, de Clara Alves, continua sendo o queridinho do momento mesmo após anos do seu lançamento
Raíssa e Ayla são duas garotas apaixonadas por games e é exatamente isso que as conecta. Através de Feéricos, um dos jogos mais populares do momento, as duas se tornam amigas e não se desgrudam mais. Acontece que elas passam tanto tempo juntas (mesmo que online) que a amizade se transforma em paixão. Mas existe um pequeno grande problema nessa história toda... Raíssa finge ser um garoto dentro do jogo, então Ayla não faz ideia de que ela conversa esse tempo todo com uma menina.
Raíssa não quer perder a menina que ama, mas também não se sente pronta pra contar tudo. Não é tão ruim, afinal, elas não moram na mesma cidade... A probabilidade de ser encontrarem pessoalmente é baixa, certo? Errado! Uma feira de Feéricos está prestes a acontecer em São Paulo e é aí que as coisas complicam de vez, pois é o lugar perfeito para esse encontro rolar.
Deve ser horrível ter que fingir ser outra pessoa pra poder ficar perto de quem você ama. Mas acho que deve ser ainda pior não poder estar perto dela — p. 285
O livro é dividido em dois pontos de vista intercalados, de Ayla e Raíssa, é claro. Uma coisa que achei muito divertida também é que temos os chats das conversas ali, e não só transcrições. Eu não tive acesso à primeira edição, então me diverti bastante com essa! Adoro quando o livro tem esse tipo de coisas inseridas (embora eu saiba que tem gente que detesta HAHAHA).
Então essa é uma história de amizade, amor, descobertas, expectativas, representatividade LGBTQIAP+ e tudo isso dentro do universo adolescente. Sinto que é uma obra muito importante para essa geração, já que no meu tempo (véia) a gente não imaginava se ver representado como protagonista em obra alguma. Como uma pessoa da comunidade me senti abraçada, achei um livro fofo de mais.
Uma das coisas mais difíceis de ser LGBTQIAP+ (dentre outras milhares de coisas muito difíceis) é lidar com o fato de que você vai precisar se assumir mais de uma vez.Na verdade você vai precisar se assumir todos os dias.O tempo todo.Para várias pessoas.E as vezes — muitas vezes — você vai precisar se esconder — p. 313
Ressalto aqui a importância também de enaltecermos autores brasileiros. Costumo trazer muitos autores de fora nas minhas resenhas, mas tenho cada vez mais tentado ser uma leitora mais consciente e engajada com meu próprio país. Por isso vou deixar aqui mais duas autoras brasileiras que eu amo e escrevem nessa pegada de histórias adolescentes: Iris Figueiredo (que conheci pessoalmente no encontrinho de autores que a Companhia das Letras promoveu em 2022) e Gih Alves que vai do romance ao horror <3
Livro recebido em parceria com a editora
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8 de outubro de 2024
A belíssima nova edição de O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias, de Tim Burton
Para os que não sabem, Tim Burton não é apenas cineasta, produtor, animador e roteirista, mas também é escritor e ilustrador. E, aliás, grande parte das suas obras que não viraram filme roda o mundo em uma exposição chamada O Mundo de Tim Burton, onde todo seu trabalho é explorado, desde a infância, com desenhos e esculturas inclusos. Ou seja: existe muita coisa que Tim produziu durante sua vida e que o público geral passou a conhecer através da exposição. Dentre elas, o Pequeno Menino Ostra e outros personagens que já ditam o tom do que viria futuramente nos trabalhos de Burton.
Em O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra somos apresentados a poemas e histórias curtas, muito esquisitas, com personagens estranhos e que mesmo assim conseguem gerar uma identificação e calorzinho no peito. O Menino Ostra, a Garota fósforo (minha favorita) e a Rainha Alfineteira são apenas alguns dos personagens desse livro e posso dizer com tranquilidade que se não fossem eles, tudo que conhecemos de Tim Burton não existiria.
Não quero falar muito sobre as histórias em si, pois são muito curtinhas e seriam grandes spoilers hehe você vai ter que ler pra saber dessa vez. E não se engane! Apesar de conter as ilustrações originais e parecer ser mais infantil, não é. As histórias podem parecer bobas, mas não são. Na realidade, sinto que todas as coisas produzidas por Tim Burton são bem mais profundas do que aparentam.
O sarcasmo, a genialidade, sensibilidade, estranheza e tom sombrio dessa obra conseguem tocar nosso coração, assim como outras tantas obras do autor que conhecemos. Vai dizer que você não se emocionou nem um pouquinho com Edward Mãos de Tesoura, não deu risada com Beetlejuice e Lydia e não quis entrar na Fantástica Fábrica de Chocolates? E é exatamente esse sentimento que temos ao ler esse livro, estranho e incomum, mas que ainda assim transmite aceitação e amor, do jeito que só Tim Burton consegue fazer.
E por fim eu não poderia deixar de comentar da estética desse livro né? Para nossa felicidade, a editora Seguinte nos presenteou com essa edição, pois como eu disse, ela está perfeita! O corte tem uma pintura linda, o livro tem capa dura, gramatura excelente, a diagramação ficou um xuxuzinho e digna das ilustrações (agora coloridas) de Burton. Além de tudo é bilíngue, deixou a tradutora aqui feliz pra caramba!
Enfim, mais um livro que vai ser uma joia na minha estante, não só por ser bonito, mas por mexer diretamente com meu coraçãozinho trevoso.
9 de maio de 2024
Perfeita (na Teoria), de Sophie Gonzales, e a bifobia internalizada de pessoas queer
Parece que a leitura de livros YA está se tornando recorrente na minha vida, e é claro que Perfeita (na Teoria) da Sophie Gonzales estava na minha lista. Sinceramente, não quis saber nada sobre ele antes de começar, e eu acho que quanto mais me mantenho assim, mais gosto da leitura. Mas vou falar sobre ele hoje, já que virou um dos favoritos do ano!
Darcy Phillips tem dezesseis anos e de alguma forma conseguiu a senha do Armário 89. Desde então, começou a oferecer conselhos de relacionamentos — de forma anônima — na sua escola. Para receber o serviço era simples: você escrevia uma carta com sua dúvida, junto de um endereço de e-mail e uma nota de dez dólares e colocava no armário. Pronto, em breve você teria uma resposta. De imediato foi um sucesso, afinal ela era boa nisso e adolescentes estão sempre precisando de conselhos.
Mas é claro que, com tanta experiência, Darcy estaria com seus próprios relacionamentos em dia né? Muito pelo contrário! Sua paixão pela melhor amiga Brooke a consome e ela não sabe nem por onde começar a resolver a situação.
Não fosse por esse pequeno probleminha, tudo estava correndo perfeitamente bem, até que Alexander Brougham resolve contratar os serviços do armário para ajudá-lo. Só que ele não queria que fosse de forma anônima, pois achou que seu problema era muito complexo e precisaria de mais do que um conselho por e-mail. É então que ele pega Darcy no flagra depois da hora na escola, recolhendo as cartas, e oferece muito dinheiro para que ela o ajude. Em troca ele não contará seu segredo (além dele ser riquinho, então ela ficaria com zero remorso de receber 50 dólares pelo coaching em relacionamentos).
Ambos se detestam. Brougham por precisar dos serviços de Darcy, e ela por ter que falar com um menino tão metido e insuportável. Mas até que ele é bem bonitinho, ela só não entende qual é a dele e nem onde isso vai parar. Com o tempo as coisas vão ficando estranhas, a situação sai do controle de Darcy e tudo explode de uma só vez.
Acho que o que fez eu gostar tanto de Perfeita (na Teoria) foi o fato de me identificar com ela. Às vezes nos entender como parte da comunidade LGBTQIAP+ é muito complexo. Ser bissexual, então... Porque assim, somos invalidados o tempo inteiro, independente da configuração do relacionamento: se estamos com uma menina é um eterno "não sabia que fulana era lésbica", se estamos com um menino, por outro lado, não acreditam na nossa bissexualidade, e isso é muito cansativo.
Então, acaba que o livro trata da bifobia internalizada de pessoas queer, porque os questionamentos da sociedade e até mesmo da comunidade, de certa forma, são tantos que a gente começa a se questionar. Vejam bem, Darcy é apaixonada pela melhor amiga há séculos, e tudo bem, mas não conseguia aceitar que estava nutrindo sentimentos por Alexander. Tipo assim, que bissexual é essa que tá se apaixonando por um cara cis-hétero-aparentemente-babaca, né? Gostei muito de acompanhar essa dinâmica e fazia tempos que procurava por um livro assim.
— Isso. É quando bissexuais começam a acreditar na bifobia que nos cerca. Ouvimos que nossa sexualidade não existe, ou que somos héteros se estamos com alguém de outro gênero, e que nossos sentimentos não valem se nunca namorados alguém de determinado gênero, esse tipo de baboseira. Aí a gente escuta isso tanto que acaba duvidando de si — p. 298
Além da representatividade LGBTQIAP+, Perfeita (na Teoria) fala sobre relacionamentos famíliares, amizade, apego, amadurecimento. Inclusive acho que vale salientar que a sensação que eu tive lendo ele, foi a mesma de Para Todos os Garotos Que Já Amei da Jenny Han. Me fez sentir eufórica, ansiosa, nervosa e feliz com o rumo da história. Enfim, é um livro ótimo e muito amorzinho.
Antes de ir embora, queria deixar essa fala que está nos agradecimentos da Sophie Gonzales, em que ela fala um pouquinho sobre o objetivo dela com Perfeita (na Teoria) e o quão especial ele é:
Pela primeira vez, a primeiríssima vez, eu acreditei neles de verdade. Que meus relacionamentos não mudavam quem eu era. E que, mesmo se outras pessoas não concordassem, todo mundo naquela saia me apoiaria sem pensar duas vezes. Eu estava com eles, eles estavam comigo, e estávamos todos juntos. Uma comunidade dentro de uma comunidade dentro de uma comunidade. Sem perguntas. Sem provas. Sem documentos comprovatórios.A gente pertencia ao grupo por pertencer — p. 345
P.s.: até agora não acredito que o título desse livro não é Querido Armário 89 ou algo do tipo! Agora eu vou de verdade!
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8 de abril de 2024
De Volta aos Anos 90, de Maurene Goo: um retrotáxi e a relação entre gerações de uma família coreana
Por causa das diferenças abissais entre as duas, elas brigam constantemente sobre tudo. Um dia, em meio a uma briga muito feia, Sam se vê obrigada a pedir um carro por aplicativo para "fugir" de Priscilla. Ela nota algumas coisas estranhas, mas só quer acabar aquela corrida, chegar na escola e tomar conta da sua própria vida e seus problemas. Só que ao descer do carro, Sam descobre que ela foi parar em 1995.
Não tendo a menor ideia dos motivos que fizeram ela ir parar ali, precisando encontrar um meio de voltar pra casa, ela entende que precisa ajudar a versão adolescente (e insuportável) da mãe a ganhar o concurso de rainha do baile e, consequentemente, melhorar seu relacionamento familiar.
Em meio a essa confusão, Sam começa a entender a si mesma, e também começa a ver como a relação entre ela e sua mãe se tornou tão pesada com o passar dos anos. Ah, e temos crushes de outras épocas também, um personagem muito fofo que vai roubar seu coração, assim como roubou o de Sam. Além disso, o livro tem mil referências aos anos 90, óbvio, mas também tem coisas atuais como k-pop e k-dramas, Taylor Swift e muito mais.
No meio de todo esse universo pop, De Volta aos Anos 90 mergulha na dinâmica entre três gerações de uma família coreana, navegando por diferentes épocas através de uma jornada no tempo. Ao fazê-lo, ele habilmente aborda questões sensíveis como as experiências de famílias imigrantes, o racismo arraigado e a xenofobia estrutural dos anos 90, cujas repercussões ainda ecoam nos dias atuais. Apesar da profundidade desses temas, a narrativa é leve e muito divertida.
Uma coisa sobre essa questão das dinâmicas familiares que eu gostei bastante foi perceber como a gente tende, mesmo que inconscientemente, a reproduzir comportamentos dos nossos pais. Por exemplo, a relação da Sam com a avó é maravilhosa, mas a relação da Priscilla com a mãe é tão ruim quanto a de Sam com Priscilla. Inclusive, é essa ruptura da relação entre a mãe e a avó que "justifica", de certa forma, a rigidez da relação entre Sam e Priscilla. Será que a interferência de Sam no ano de 1995 vai ajudar? Só vocês lendo para saber.
Como é boa a surpresa de pegar um livro sem pretensão nenhuma e simplesmente acabar com um favorito da vida em suas mãos. Amei de mais De volta aos anos 90, me diverti horrores e chorei também. Um livro ótimo e uma recomendação um pouco diferente do que eu costumo trazer por aqui!
19 de fevereiro de 2024
Heartstopper, saúde mental e rede de apoio
Oseman sempre me surpreende com seu domínio sobre temas de saúde mental. É evidente que a autora toma todos os cuidados necessários na hora de elaborar suas históricas. No entanto, seu maior trunfo é mostrar, de forma simples e acessível, o valor da rede de apoio. Basta lembrar que Elle descreve sua pintura que retrata seu grupo de amigos como um lugar seguro. A rede de apoio nada mais é do que ter pessoas em quem você confia e que sabe que poderá contar com elas se precisar. Redes de apoio reduzem as chances de tentativa de suicídio, por exemplo, mas não apenas isso: redes de apoio aumentam a eficácia de tratamentos psicológicos e psiquiátricos. Esse suporte no tratamento também pode ser observado em Heartstopper: quando Charlie é internado, quando Nick está lidando com se abrir para seus familiares e amigos a respeito de sua sexualidade ou quando Elle passou pela transição (momento que não é mostrado na série, mas que é muito comentado pelos personagens).
Uma rede de apoio sólida tem o poder de reduzir as chances de desenvolver um transtorno mental e melhorar e acelerar o tratamento. E quem não gostaria de ter o grupo de amigos retratado em Hearstopper, né?! Só de assistir e ler a gente já se sente acolhido e parte de algo maior. Me alegra saber que são obras assim que os jovens estão lendo, que mostram relações saudáveis, diversidade e aborda temas importantes.
9 de fevereiro de 2024
Heartstopper, Volume 5: Mais Fortes Juntos, um olhar de Alice Oseman sobre o amadurecimento
Os humilhados finalmente foram exaltados com o lançamento do quinto volume de Heartstopper. Pelo que sabemos até então, esse é o penúltimo quadrinho da série, e só de pensar nisso me dá um pouco de desespero, porque eu amo demais esse Universo. Em Mais Fortes Juntos, acompanhamos uma nova fase, por assim dizer, do relacionamento entre Charlie e Nick. As coisas finalmente estão melhores, uma vez que o tratamento de anorexia do Charlie está dando resultados, um dia de cada vez.
Minha opinião sobre os volumes anteriores:
✦ Heartstopper: Dois Garotos, Um Encontro & Heartstopper: Minha Pessoa Favorita
✦ Heartstopper: Um Passo Adiante
✦ Heartstopper: De Mãos Dadas
A grande questão agora é que os meninos estão chegando ao fim de mais um ano letivo, o último do Nick. Assim como vários de nós nesse período, Nick quer muito fazer faculdade, ao mesmo tempo em que está resoluto em ir para algum lugar mais distante. Ele não exprime em palavras, mas fica claro para o leitor que a distância é algo que preocupa Nick, não só por causa da dinâmica do relacionamento, mas também por medo que Charlie tenha alguma recaída. Além dele ser o principal apoio do Charlie, eles nunca ficaram separados desde que começaram a namorar.
Nesse meio tempo, acompanhamos os dilemas do próprio Charlie. Novamente existem embates entre ele e sua mãe, normalmente gerados pela falta de compreensão que ela tem acerca da doeça de Charlie. Convenhamos que, tendo em vista tudo o que eles têm passado, é totalmente compreensível. Mostrar nossas preocupações nos torna um pouco mais vulneráveis e reativos, e isso não é diferente com a mãe do Charlie... Mas ao mesmo tempo a gente entende o garoto, porque ele só quer ser um adolescente normal que faz coisas normais, ainda mais agora que ele está se sentindo bem e está muito mais próximo do Nick.
Eu gosto muito desse volume especificamente — acho que é o meu favorito até agora — porque mostra um amadurecimento muito grande de todos, absolutamente todos, os personagens. Acredito que muita gente vai ter essa percepção porque Nick e Charlie dão um passo a mais no relacionamento, mas eu estou falando em todos os sentidos. Os diálogos são mais profundos, temos aquela sensação de que as decisões são muito mais difíceis... Só que ainda existe aquele frescor da adolescência, sabem? A simplicidade de estar crescendo e começar a ter responsabilidades reais.
Qual a decisão que Nick vai tomar em relação ao seu futuro só descobriremos no volume seis, apesar de já termos várias pistas. Mas eu, como pessoa que namorei à distância por vários e vários anos e hoje estou aqui constituindo minha própria família, posso afimar uma coisa: no fim, tudo dá certo. Não vejo a hora de ver como essa história de amor vai terminar — e como a terceira temporada da série da Netflix vai ser adaptada!
25 de janeiro de 2024
Este Inverno, de Alice Oseman
4 de novembro de 2023
O Mar Me Levou a Você, o novo romance de verão de Pedro Rhuas
19 de setembro de 2023
Apenas Pedro Rhuas mostrando, mais uma vez, que O Universo Sabe o Que Faz
15 de junho de 2023
Nick e Charlie, de Alice Oseman: uma novela sobre os dilemas do primeiro amor
Leia também:
✦ Heartstopper: Dois Garotos, Um Encontro & Heartstopper: Minha Pessoa Favorita
✦ Heartstopper: Um Passo Adiante
✦ Heartstopper: De Mãos Dadas
Nick está terminando o ensino médio e logo mais vai morar fora para fazer faculdade. Charlie, por sua vez, é um ano mais novo e pela primeira vez desde o início do namoro vai ficar sem a sua companhia diária. É uma baita mudança, e Charlie se sente constantemente irritado por Nick estar tão animado para ir embora. Quer dizer, é ótimo que ele vá fazer faculdade e tudo mais, mas a maior parte do tempo Charlie sente que o namorado não vai sentir falta dele... Ou será que Nick realmente quer se ver livre dele o mais rápido possível?
Juntamente com o sentimento de culpa, afinal, Charlie deveria estar feliz com as conquistas do Nick, vem esse sentimento terrível de insegurança. A única coisa que passa na cabeça dele é que eles não vão conseguir superar um relacionamento à distância — e aparentemente essa questão não parece ser uma preocupação para Nick. Também não ajuda muito todo mundo falar que "namoros adolescentes não duram" ou que "você não vai amar seu primeiro namorado para sempre"...
Para mim, todos as questões apontadas por Oseman em Nick e Charlie são super válidas. Primeiro porque relacionamentos juvenis de fato não são levados a sério. Ninguém espera que a gente se case com o primeiro namoradinho, e ninguém valida nossa dor se esse namoro chega ao fim. Sempre tem alguém pra falar que você vai amar outras pessoas, ou que nem era amor de verdade, num momento em que só queríamos um pouquinho de colo... Depois, namorar à distância é bem difícil e as inseguranças são muito reais, falo por experiência própria. Namorei dessa forma por mais de cinco anos antes de me casar e sei que é muito complicado, mas quando há companheirismo e diálogo, as coisas dão certo!
É aí que entra minha única observação negativa com essa novela, a falta de diálogo entre Charlie e Nick. Charlie estava constantemente triste com a partida iminente do Nick, mas não conversava com ele sobre isso e pior, queria que o garoto percebesse esses sentimentos sem que ele precisasse verbalizar. Por causa disso, eu fiquei muito irritada com o Charlie pela primeira vez na vida! Eu sei que ele é naturalmente inseguro e que a depressão piora tudo, mas nenhuma doença, por pior que seja, dá aval pra gente agir como idiota.
Eu realmente fiquei muito braba, principalmente no plot, mas ao mesmo tempo "aceitei" o comportamento deles por entender que eram dois adolescentes agindo como adolescentes. Acho que quando a gente está nessa fase, não saber se expressar e esperar que as pessoas ao nosso redor adivinhem o que estamos sentindo é muito comum.
No fim das contas, gostei bastante da novela, mas ainda prefiro os quadrinhos. Acredito que a dinâmica de Nick e Charlie é bem melhor em Heartstopper, e os problemas, quando existem, não dizem respeito ao relacionamento em si, e sim às individualidades dos personagens. É interessante lembrar que, originalmente, Nick e Charlie veio antes dos quadrinhos! A Alice reformulou essa novela pra poder ser relançada, porque algumas coisas foram mudando conforme ela escreveu Heartstopper. Mas é claro que foi uma ótima leitura, principalmente para matar a saudade dos meus bebezinhos!
18 de maio de 2023
Nevasca, das autoras do best-seller Blackout: um clichê natalino juvenil com protagonismo preto
Nevasca, das autoras do best-seller Blackout, é um livro de romance juvenil. Com o sucesso e qualidade do livro anterior veio também a expectativa de que esse fosse tão bom quanto, mas será que entregou o que os leitores esperavam?
Quatro dias antes do Natal a cidade de Atlanta está coberta de neve, e a previsão é de que a tempestade seja das grandes. Mas isso não pode impedir Stevie de reconquistar sua namorada Sola, afinal, seu prazo é até a meia-noite Juntando seus amigos e toda sua criatividade, já que ela pisou feio na bola, Stevie planeja um grande gesto que poderá resolver tudo. É daí que a narrativa parte, com a história das duas de plano de fundo, enquanto vemos os amigos delas enfrentando seus próprios dilemas.
Dessa forma, assim como em Blackout, temos histórias de amor curtas protagonizadas por personagens negros, que estão ligados de uma forma ou de outra. No caso do primeiro livro, o fio que unia os personagens foi o verão que casou um apagão em Nova York; aqui, o enredo envolve essa nevasca de proporções tão inimagináveis que Atlanta entrou em pane.
Stevie não é uma garota cheia de gestos carinhosos e também nem um pouco romântica, enquanto Sola é o oposto. E a cada capítulo que passa, a cada amigo que conhecemos, vamos também adentrando em suas próprias histórias. O ponto em comum, além do casal principal e do protagonismo negro, é a amizade. Outro tema bastante abordado são os relacionamentos LGBTQIAP+, de forma tranquila ao invés de trágica, como normalmente acontece.
Dito isso acho que é possível perceber que a história não é muito complexa, assim como os personagens. Isso não significa que não sejam importantes, afinal, eles representam uma enorme parte da população. Mas é um romance juvenil, então as problemáticas são bem mais simples, é uma leitura bem mais leve, o que eu particularmente gosto muito, já que minha vida é basicamente um romance sáfico e todas as dificuldades que isso acarreta no caminho. Então livros como Nevasca e Última Parada são alívio do cotidiano muitas vezes.
Porém minha leitura não fluiu como eu esperava. Estava super ansiosa por essa narrativa e acho que criei muita expectativa. Os capítulos são muito longos, isso me fez perder um pouco a atenção e embalo de leitura, e mesmo assim algumas histórias parecem inacabadas, ou sem tempo suficiente para que fossem um pouco mais aprofundadas. Além disso, confesso que não curti muito a Stevie... Eu adoro personagens inteligentes, mas odeio personagens que sabem que são inteligentes e fazem questão de mostrar isso para todo mundo, rs.
No entanto, justamente por ele ser muito levinho, é o tipo de livro que super cai bem para leitores adolescentes, principalmente jovens pretos, que podem acabar se identificando muito mais com os personagens. A questão da amizade também me pegou muito, porque é muito fofo ver até onde as pessoas podem chegar para ajudar as pessoas que amam de verdade. Além do mais, Nevasca toca muito em um ponto importantíssimo, que é o pertencimento. E convenhamos, nada é tão gostoso quanto um clichê de Natal fofinho né?
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20 de dezembro de 2022
Cenas de Vermelho, Branco e Sangue Azul que espero ver na adaptação
Já faz um tempinho desde que Vermelho, Branco e Sangue Azul foi lançado aqui no Brasil, acredito que no fim de 2019. Como a Sil leu e escreveu resenha, nunca imaginei que eu fosse ler. Quer dizer, tenho esse "problema", raramente leio livros que as colunistas do Roendo Livros leram e falaram sobre por aqui. Mas acontece que anunciaram recentemente que as gravações da adaptação foram finalizadas, e foi aí que comecei a ficar curiosa...
Resumidamente, o livro retrata o romance entre Alex Claremont-Diaz, filho da presidenta dos Estados Unidos, e o príncipe Henry de Gales, da Família Real Britânica. Logo no início da narrativa há um confusão durante um casamento real envolvendo os personagens, que são obrigados a conviver para evitar uma crise diplomática. A partir de então, eles precisam convencer as pessoas de que são muito próximos, até que se tornam próximos de fato, rs.
Quem me acompanha nas redes sociais sabe que eu gostei do livro, mas com ressalvas. Esperava um pouco mais do romance no quesito desenvolvimento. Pegação é deveras importante, não vou negar, mas também gosto da parte "espiritual" da coisa, digamos assim. Então senti que a narrativa ficou um pouco repetitiva por causa disso e por causa das partes políticas. Além disso, me incomodei um pouco com o nome do príncipe, que é o mesmo do príncipe Henry de verdade, então não consegui desassociar essa imagem e isso acabou me atrapalhando um pouco.
Ainda assim, não vejo a hora de ver o filme, porque a história tem um potencial cinematográfico gigantesco! Parte disso se dá pelo clichê com um casal formado por dois mocinhos, que infelizmente estamos acostumados a ver unicamente com casais heterossexuais. Então, acredito que Vermelho, Branco e Sangue Azul é super importante para a comunidade LGBTQIAP+, e ter uma adaptação da obra é uma vitória tremenda pra gente.
A adaptação está sendo desenvolvida pela Amazon Studios, com Nicholas Galitzine no papel de Henry e Taylor Zakhar Perez como Alex. A autora, Casey McQuiston, comentou durante a Flipop 2022 que leu o roteiro do longa e acompanhou as filmagens na Inglaterra, então estou esperançosa de que minhas cenas preferidas estarão na adaptação — voltarei nessa publicação posteriormente para conferir minhas apostas. Ah, a partir daqui teremos vários spoilers do livro, então aconselho a lerem depois que finalizarem a leitura.
1. Primeiro beijo na Casa Branca
Obviamente não poderia elencar outra cena, mores, porque esse primeiro beijo demora um pouquinho para acontecer — mas depois que aconte, meus amigos... Não falo mais nada. Alex e Henry começam a história meio que como rivais, mas vão se apaixonando aos pouquinhos durante a convivência forçada. O beijo rola durante uma festa de ano novo na Casa Branca, enquanto eles conversavam no jardim. Acredito que todos os fãs estão louquíssimos pra ver essa pegação, né? E boto fé demais que vai rolar, porque o perfil oficial do filme no Twitter divulgou uma imagem muito suspeita, rs.
No thoughts, just a tree. pic.twitter.com/Pj3A6GjPtO
— Red, White & Royal Blue on Prime (@RWRBonPrime) August 29, 2022
2. —Alex? — a voz arranhada e perplexa de Henry do outro lado da linha. — Você me ligou às três da madrugada para me fazer escutar um peru?
Sinceramente, se não tiver essa cena icônica eu desisto, sabem? Juro para vocês que é a primeira coisa que vem na minha cabeça quando penso em Vermelho, Branco e Sangue Azul, antes mesmo do "History, huh? Bet we could make some", que eu também espero que esteja na adaptação de alguma forma.
3. Feriado no Texas
A Casey McQuiston falou durante a Flipop que tiveram gravações no Texas, mas não contou pra gente exatamente o que foi gravado lá. Claro que pode ser alguma coisa envolvendo as eleições, flashbacks e tudo mais, mas espero sinceramente que seja o feriado na antiga casa da família Claremont-Diaz, porque uma das minhas cenas preferidas acontece nessa viagem, que é o quase "eu te amo" no lago.
Além disso, é claro, mal posso esperar para ver como a bissexualidade do Alex vai ser retratada no filme. É um ponto muito importante para mim, porque diferentemente do Alex, eu me entendi bissexual bem mais nova, na casa dos 18, mas talvez a realidade do protagonista seja parecida com a de muitos jovens por aí.
Não vou mentir para vocês que o que me inspirou nesse post foi a nova edição de colecionador de Vermelho, Branco e Sangue Azul lançada recentemente pela Editora Seguinte, que tá a coisa mais maravilhosa desse mundo. Não é só uma edição de capa dura com desing diferente: tem guardas com ilustrações das nossas cenas preferidas, laterais coloridas, e, por Deus, um capítulo inédito narrado pelo ponto de vista de Henry.
A edição de colecionador já está disponível para compra na Amazon, então se você ainda não leu ou é simplesmente muito fã, adquira essa belezura pelo amor de Deus! Só lembrando que esse livro não é indicado para menores de 16 anos, porque contêm cenas bem quentes entre os protagonistas, hein? Agora me contem aqui nos comentários: o que vocês esperam encontrar na adaptação de Vermelho, Branco e Sangue Azul?
3 de dezembro de 2022
A união entre mulheres muda o mundo: Amigas que Se Encontraram na História, de Angélica Kalil & Mariamma
12 de outubro de 2022
Eu Beijei Shara Wheeler, de Casey McQuiston, e as dificuldades de ser uma pessoa LGBTQIAP+ em um ambiente conservador
Comecei a ler Eu Beijei Shara Wheeler sem a mínima noção do que esperar da história. Não sou muito de ler sinopses, vocês sabem, mas acho esperava algo diferente, ainda que eu não saiba explicar exatamente o quê. No fim das contas fui surpreendida, porque apesar de ser um clichê digno de Sessão da Tarde, Casey McQuiston abordou um tema importantíssimo e muito corriqueiro na comunidade LGBTQIAP+: coexistir em um ambiente conservador.
Na trama, os personagens, incluindo a protagonista Chloe Green, vivem em False Beach, uma cidadezinha no interior do Alabama. O grande problema é que toda a cultura do lugar é proveniente de um fanatismo religioso extremo, então tudo o que foge do padrão "família tradicional" é condenado. Quem cresceu no lugar apenas aceita as "regras" impostas, mesmo sem concordar com elas... Mas imaginem só ser uma pessoa assumidamente bissexual, filha de um casal lésbico, e ter que lidar com tudo isso? É o caso de Chloe Green.
É justamente por causa disso que o que ela mais deseja na vida é terminar o Ensino Médio em Willowgrove — que é, inclusive, um colégio influenciado pela Igreja — com maestria e dar no pé. Aqui no Brasil isso não é assim tão comum, pelo menos nas escolas onde eu estudei, mas nos Estados Unidos o melhor aluno do último ano se torna orador da turma durante a cerimônia de formatura, e esse é o principal objetivo de Chloe. A questão é que a protagonista tem uma candidata à altura: Shara Wheeler, linda, inteligente, popular e filha do diretor, o cara mais crente de False Beach.
Mas eis que acontece algo muito inesperado: faltando pouco mais de um mês para a formatura, Shara simplesmente desaparece. Todo mundo fica surpreso porque Shara é certinha demais para fazer esse tipo de coisa, mas Chloe tem um motivo a mais para ficar desconfiada: exatamente no dia anterior ao sumiço, Shara a beijou do nada. E não só a beijou como parece querer ser encontrada por ela, uma vez que deixou cartões pela cidade inteira dando pistas sobre o seu paradeiro.
O livro praticamente inteiro é essa busca incessante por Shara. Apesar de ser liderada por Chloe, vários outros alunos de Willowgrove acabam se envolvendo por terem certa ligação com Wheeler. Quem já leu Cidades de Papel vai encontrar diversas semelhanças entre os enredos, mas ainda assim acho que Casey McQuiston inovou, principalmente por causa dos personagens que são praticamente todos LGBTQIAP+.
Acho que esse é o momento que vocês pensam: "Uai, mas a cidade não é inteira controlada pelo conservadorismo relegioso? Como assim praticamente todos os personagens de destaque são LGBTQIAP+?" Por motivos óbvios, gente: pessoas LGBTQIAP+ simplesmente existem! A diferença é que a maior parte acaba tendo que se esconder quando vive em ambientes hostis, que basicamente é o que acontece em Eu Beijei Shara Wheeler.
Em False Beach, Chloe é o ponto fora da curva, mas é porque veio de fora. Ela sempre teve o apoio de suas mães, nunca precisou se esconder de fato, e também não sentiu vontade de "voltar para o armário" ao se mudar para estudar em um colégio religioso... Mas o mesmo não pode ser aplicado aos amigos dela, que são obrigados a manter as aparências. Às vezes temos que escolher nossas batalhas para ter um pingo de paz, e muitas vezes isso significa viver nas sombras.
Acho que o principal ponto levantado por Casey McQuiston é como a religiosidade cega as pessoas. Não só os fanáticos, que usam a palavra de Deus para justificar a homofobia, racismo ou qualquer outro preconceito que têm. Shara Wheeler, por exemplo, precisou beijar Chloe Green por um motivo deveras idiota para entender quem ela era, entendem? De uma forma ou de outra, quando a gente cresce vendo esse tipo de coisa, acaba achando que tem algo errado de verdade com a gente, o que é muito triste.
Eu gostei muito do livro por se sentir representada de todas as formas possíveis. Não que eu precise sair por aí dizendo que sou bissexual, mas por muito tempo tive que manter essa informação só para mim por causa de fanatismo religioso. E por mais que as coisas tenham melhorado, acho que aqui no Brasil, por exemplo, a gente sofre demais e perde demais por ter energúmeno em posição de poder que legitima a todo momento usar a palavra de Deus para nos condenar, como se ele mesmo fosse Deus para saber o que é "certo ou errado".
Acabei de perceber que esse texto ficou comprido demais, mas eu ainda quero deixar uns apontamentos sobre a história em si antes de me despedir de vocês. Não esperem um grande mistério envolvendo o sumiço de Shara, se não a decepção vai ser bem forte. Na verdade, acho que os motivos dela foram até banais demais para a grandiosidade da mensagem do livro, mas ao mesmo tempo não dá para esperar muito de adolescente privilegiado, né? Também achei que o romance entre Chloe e Shara acabou deixando a desejar por causa da caçada, que durou tempo demais... E por esse mesmo motivo, achei que os personagens secundários ficaram muito apagados. Queria ter lido mais sobre eles, seus anseios, descobertas, como lidavam com as situações envolvendo sexualidade e identidade, enfim.
Eu Beijei Shara Wheeler foi meu primeiro contato com Casey McQuiston, mas já consegui entender porque todo mundo gosta tanto dela: ela ajudou a tornar nossos sonhos reais ao trazer para o nosso universo esses clichês impossíveis que só víamos com pessoas heterossexuais, e sou muito grata por isso.
30 de setembro de 2022
Heartstopper, volume 4: De Mãos Dadas | Alice Oseman
Heartstopper, a série de livros que acompanha Nick, Charlie e seus amigos, chegou para ficar. Vocês sabem que eu sou obcecada por essa história e pelo que ela representa para nós da comunidade LGBTQIAP+: ponto alto da trama está em um relacionamento leve, tranquilo, sem nenhum drama super pesado que existe apenas para fazer os personagens sofrerem. Em resumo, Heartstopper mostra que o amor não precisa e nem deve ser complicado!
No quarto volume, intitulado Heartstopper: De Mãos Dadas, acompanhamos o avanço do namoro dos nossos protagonistas preferidos, rs. Durante a excursão para Paris, Nick finalmente se sentiu pronto para contar para as pessoas que está em um relacionamento amoroso com Charlie, a coisinha mais fofa do mundo. Porém, como nem tudo são flores, também foi durante essa viagem que Nick confirmou que Charlie tem um transtorno alimentar. Esse volume, então, tem um tom um pouco mais sério, porque o foco principal é o diagnóstico de anorexia do Charlie e os vários transtornos que vêm junto, como ansiedade e automutilação.
Minha opinião sobre os volumes anteriores:
✦ Heartstopper: Dois Garotos, Um Encontro & Heartstopper: Minha Pessoa Favorita
✦ Heartstopper: Um Passo Adiante
O que eu mais amo na Alice Oseman é que, por mais tenso que o assunto seja, ela consegue trazê-lo de forma leve. Então, por mais que existam gatilhos nesse livro e partes bem difíceis, nada é ofensivo e autora tenta — e consegue — apresentar as situações de forma muito singela. Tendo isso em vista, acredito que Oseman foi muito responsável, principalmente porque ela faz questão de deixar claro que por mais que o amor seja importante, às vezes precisamos de ajuda profissional. No fim das contas, não há amor que cure transtornos mentais...
O Nick é a coisa mais fofa do mundo, vocês já sabem disso... Mas ele se mostra um perfeito cavalheiro nesse quarto volume, porque ele está muito preocupado com Charlie. Busca saber mais sobre o transtorno, passa a observar mais o namorado e demonstra um apoio muito grande. Essa parte foi bem bonita de acompanhar, ainda mais levando em consideração que Charlie não tem um diálogo muito bom com seus pais. Isso é até contraditório, porque ele recebe um suporte enorme dos pais desde que foi tirado do armário, mas ainda existe essa distância entre eles. Charlie simplesmente não consegue pedir ajuda, sabem? E, bom, realmente não é fácil pedir ajuda.
No meio disso tudo, também acompanhamos os dilemas dos outros personagens. O próprio Nick está enfrentando problemas em casa que dizem respeito ao seu irmão homofóbico e seu pai ausente; Darcy, apesar de ter um astral maravilhoso, não pode nem contar para a família sobre sua sexualidade; e Tao e Elle também têm uns momentos de fragilidade.
Apesar dos momentos difíceis, Heartstopper: De Mãos Dadas mostra que sempre há uma luz no fim do túnel. Deixa claro que o processo de cura é lento, mas é possível, principalmente quando temos o apoio das pessoas que amamos. O final foi feito para deixar a gente querendo mais, e eu não vejo a hora de poder ler mais sobre meus personagens preferidos. ❤