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14 de julho de 2025

Os livros da Jenna Levine são a prova de que vampiros nunca saem de moda


Não adianta nem tentar enganar vocês: foi Crepúsculo que me tornou a leitora que sou hoje. Eu era perdidamente apaixonada pelo Edward Cullen como qualquer adolescente no auge dos seus 13 anos. Na minha cabeça ele era o último romântico do mundo — não vamos entrar nesse mérito aqui, mas fiz um post muito legal comentando as várias problemáticas da saga, a quem interessar possa. A grande questão é que estou muito feliz mesmo por essa nova leva de livros com vampiros, bruxas, lobisomens e outros seres míticos que estão sendo lançados tantos anos depois. 

No início do ano passado, a Intrínseca publicou Morando Com um Vampiro, o romance de estreia de Jenna Levine. Nele, acompanhamos Cassie Greenberg, uma pintora que simplesmente não consegue sobreviver dignamente com o seu ofício, algo que acontece muito com pessoas que trabalham com artes de modo geral. O agravante é que Cassie está prestes a ser despejada de novo e precisa urgentemente encontrar um lugar bem baratinho até conseguir equilibrar as finanças.

É aí que Frederick J. Fitzwilliam entra na história, um carinha bastante antiquado que oferece um quarto em seu apartamento por uma pechincha. Mesmo com toda a esquisitice de Frederick, Cassie está tão falida que não vê outra alternativa a não ser aceitar morar com esse querido que parece ter vivido no século passado. Como o próprio título já diz, nosso protagonista é um vampiro, e não demora muito para que Cassie descubra essa condição

A incógnita desse livro é: por que cargas d'água um vampiro rico de mais de 300 anos precisa alugar um quarto em seu apartamento igualmente rico? Isso e os dilemas de Cassie com sua arte incompreendida são as questões que movem a história. Ambos os personagens são muito excêntricos, cada um a sua maneira, e se completam de uma forma estranhamente divertida, nos presenteando com um romance muito leve e despreocupado.

Na real, toda a atmosfera de Morando Com um Vampiro é leve e despreocupada. Não existe um grande dilema, muito menos uma reviravolta, mas eu me diverti tanto e a química entre Frederick e Cassie é tão boa que foi impossível não me apaixonar e sentir aquela nostalgia gostosa, sabem? Inclusive, para um livro bobinho de comédia romântica, a autora não poupou detalhes nas cenas picantes, fica aí o aviso — e que fique claro que eu amo/sou.

A única coisa que me desagradou um tantinho nesse livro foi o final, corrido e com uma resolução bem besta, para ser sincera. É claro que passou longe de estragar minha experiência, principalmente porque os personagens compensam tudo. Inclusive, o meu preferido foi o Reginald, o pior melhor amigo de Frederick. Ele é muito arrogante, prepotente e parece se deliciar irritando as pessoas e colocando elas nas maiores enrascadas possíveis. Parece meio controverso gostar de um personagem assim, mas é que ele é muito sem noção e engraçado, vocês nem imaginam.

É exatamente por isso que eu amei muito mais Namorando Com um Vampiro, a sequência indireta de Morando Com um Vampiro. Nesse segundo volume, além do protagonista ser Reginald, tem um dos enredos de comédias românticas que eu mais amo, o namoro de mentira. Amelia Collins é uma contadora de sucesso e está muito bem assim, obrigada, mas não aguenta mais a família inteira no seu pé para que ela arrume um namorado. Quando ela é convidada para o casamento de uma prima distante, Amelia resolve levar um acompanhante para se passar por seu namorado durante o evento. Reginald é o ser perfeito para isso, afinal, além de tudo o que eu disse sobre ele anteriormente, não tem senso nenhum de moda e estética, tudo o que Amelia precisava. 

O grande "problema" é: Reginald é adorável, no fim das contas. Ele também tem suas próprias questões — que vão ao encontro da mocinha em determinado momento da história — e vai se beneficiar com o relacionamento de fachada, mas acaba se apegando à Amelia muito rapidamente. Eu adorei a construção do relacionamento deles, principalmente porque Amelia não tinha expectativa nenhuma, mesmo achando Reggie muito bonito. O melhor de tudo pra mim foi constatar que Reginald faz de tudo por ela e sem esperar nada em troca, mesmo antes de perceber que estava apaixonado. Muito fofinhos. 

Novamente, a única coisa que me decepcionou foi o final. O clímax, que em teoria seria a resolução do problemão que Reginald arrumou, é muitíssimo raso. Soluções bobas para problemas pouco desenvolvidos. A sensação que eu tenho é que a autora acaba se perdendo com os detalhes do romance e não consegue amarrar direitinho quaisquer outros confilhos que insere na trama. E já que estamos falando de romance, achei os hots muito mais explícitos nesse livro, fiquei até envergonhada, risos. 

E pra quem gosta de crossover, é obvio que Frederick e Cassie dão as caras em Namorando Com um Vampiro. Temos até uns vislumbres de como anda o relacionamento e do que podemos esperar para o futuro deles. E aí, será que Cassie vai aceitar viver com Frederick para toda a eternidade?

Fato é: histórias com vampiros nunca ficam fora de moda, simplesmente porque que agradam a todos os públicos, dos fãs de um bom terror sobrenatural às farofeiras como eu. Outro exemplo muito legal é o Noiva, da Ali Hazelwood, que causou o maior auê na comunidade literária, o que só prova a minha teoria de que nunca nos enjoaremos dos nossos amados vampiros. Enfim, Jenna Levine acertou demais ao criar seus vampiros disfuncionais, espero que ela escreva mais livros do gênero. Aliás, Road Trip With a Vampire, o terceiro volume dessa seleção, já está em pré-venda na gringa, e vai ter uma bruxa protagonista — e a gente bem sabe que bruxas e vampiros não se relacionam muito bem, né? Intrínseca, faz a boa e traz pra nós, não vejo a hora de ler!

Título Original: My Roommate is a Vampire & My Vampire Plus-One ✦ Autora: Jenna Levine
Páginas: 304 & 320✦ Tradução: Lígia Azevedo ✦ Editora: Intrínseca
Livros recebidos em parceria com a editora

9 de julho de 2025

A mini coleção de livros infantis de Arthur publicados pela Intrínseca


Quem acompanha o Roendo Livros há mais tempo sabe que eu sou fã de livros infantis. Tinha uma coleção enorme que foi todinha pra Arthur no momento em que eu descobri que ele estava na minha barriga. Tento ler para o mini querido desde que ele nasceu, mas às vezes o caos do dia-a-dia deixa a tarefa um tanto quanto complicada, mas o importante é manter e incentivar o hábito. 

Obviamente a Intrínseca, que me acompanha desde a adolescência, faz parte também da jornada do meu filho. Caso vocês ainda não saibam, a editora tem uma pequena lista de títulos infantis em seu catálogo, e eu adoro todos eles. Separei aqui a coleção de Arthur, que está com alguns desfalques porque o pequeno leva muito a sério seu título de roedor de livros, rs.


Já falei sobre O Luto é um Elefante no Instagram, um livro lindamente ilustrado que fala sobre o sobre o luto com sensibilidade e delicadeza, principalmente por usar uma linguagem metafórica com animais, o que conversa super com nossos pequenos. Arthur é obcecado pelas imagens, fica tão maravilhado que é um dos poucos livros que ele não tenta destruir, juro kkkkkkkk. 



Um dos meus livros infantis preferidos da vida é O Touro Ferdinando, sempre falo dele quando tenho oportunidade. As ilustrações são simples, somente os traços sem cores, mas a mensagem é maravilhosa: não tenha medo de ser quem você é, tá tudo bem ser um pouquinho (ou muito) diferente. Infelizmente a edição da Intrínseca só está disponível em e-book, mas juro que vale muito a pena. A boa notícia é que a versão em inglês também é bem linda e vocês podem comprar e ler para as crianças! 



Em Alguma Coisa, Algum Dia, Amanda Gorman, através de um poema bem delicado, mostra como a esperança e a união podem fazer a diferença nesse mundão de Deus. Acho que todo mundo tem vontade de transformar essa nossa casa num lugar melhor, né? É muito, muito importante deixar essa chama acessa nas nossas crianças, ainda mais com as coisas como estão! Ah, o livrinho também é recheado de ilustrações maravilhosas, parecem feitas com recortes, um primor!



E vejam só, Amanda Gorman de novo nessa lista! Essa é a obra de estreia da autora na literatura infantil, e ela usa esse poema para convidar as crianças a construir uma sociedade mais inclusiva. O texto de Canção da Mudança é um pouco complexo para crianças muito pequenas, mas as ilustrações abrem espaço para várias discussões legais. Agora uma curiosidade: sempre que deixo esse livro disponível, Arthur vai direto nele, é impressionante!


A versão para crianças de A Origem das Espécies, do Darwin, é o meu xodó! Nem vou entrar no mérito de complexidade por motivos óbvios, mas juro que a adaptação da bióloga e ilustradora Sabina Radeva para uma das teorias mais importantes da humanidade ficou bem divertida e acessível para o público alvo! As ilustrações são um espetáculo à parte, se eu sou apaixonada por elas, imaginem só Arthur! Como mãe Geóloga & cientista, me senti na obrigação de trabalhar com o pitico o assunto desde cedo. De início vou mostrando os bichos, as cores, mas o livro todo é um recurso didático perfeito.



Espero muito que cês tenham gostado desse estilo de post! Se acharem legal, prometo voltar com mais opiniões do mini divo em breve! Já vou criar uma tag #ArthurdoRoendo para ele aqui também, fiquem de olho. Enquanto isso ajude o blog (e uma mãe que ainda precisa comprar fraldas e aproximadamente 80kg de comida por semana) comprando os livros através do nosso link!

23 de janeiro de 2025

Os Cincos Sobreviventes: mais um ótimo suspense de Holly Jackson, autora do sucesso Manual de Assassinato para Boas Garotas


Como vocês bem sabem, não fui uma leitora assídua em 2024. Consequentemente, não escrevi muitas resenhas. Aliás, parando para pensar aqui, acho que escrevi um total de vários nadas ano passado. Enfim, Os Cincos Sobreviventes foi um dos últimos livros que li antes desse hiato na minha vida e é a primeira resenha que escrevo depois de muito, muito tempo. Peguem leve comigo, pelo amor de Deus!

Holly Jackson ficou conhecida depois que sua trilogia, Manual de Assassinato Para Boas Garotas, explodiu nas bolhas literárias. Gostei demais da história — inclusive do desfecho, que foi considerado muito controverso para várias pessoas —, principalmente porque a autora conduz uma personagem adolescente resolvendo um mistério de forma muito legal, sem deixar pontas soltas. Tô divagando sobre isso porque achei que a Holly conseguiu repetir esse feito em Os Cincos Sobreviventes

Aqui, conhecemos seis adolescentes que decidem viajar juntos para a praia para comemorar o fim do ensino médio. Para isso, eles alugam um trailer que, feliz ou infelizmente, nunca chegará ao destino final. No meio da noite, no meio do nada, todos os pneus do veículo furam ao mesmo tempo e ele fica sem gasolina. Como se não fosse possível ficar pior, todos eles ficam sem sinal de celular. Porém, é só quando tiros começam a atingir o trailer, que eles entendem que caíram numa emboscada. O atirador tem um alvo e ele quer uma coisa específica dele: um segredo inconfessável. 

A gente acompanha essa confusão toda pelos olhos da Red, a personagem mais desajustada do grupo. Ela é órfã de mãe, tem pai é alcoólatra e digamos que ela não tem muito dinheiro sobrando, diferentemente dos seus colegas. A dinâmica dela com os outros personagens foi interessante de acompanhar. Como o próprio título do livro já diz, a gente já começa a leitura sabendo que alguém vai morrer, a expectativa é essa. A questão é que aparentemente todos os seis protagonistas guardam ao menos um segredo muito cabeludo, inclusive a narradora, então não dá para saber o que a pessoa armada tá querendo.

Toda a história se passa durante uma madrugada, então tem tensão de sobra. Parece muito aqueles filmes que passam na Sessão da Tarde, tipo O Trem Desgovernado, em que as pessoas ficam boa parte da trama tentando escapar de uma situação de risco que não parece ter escapatória, sabem? Então a primeira metade de Os Cincos Sobreviventes tem esse marasmo, o que pode desagradar alguns leitores. Eu, particularmente, acho angustiante e gosto da construção do ambiente, mas é óbvio que as coisas esquentam mesmo quando as informações começam a aparecer e conseguimos fazer conexões.

Fato é: Holly Jackson é a deusa do plot twist. Por mais que existam elementos clichês e que algumas coisas pareçam óbvias, é praticamente impossível descobrir o que ela tá preparando para o final. E não se enganem, nenhum mísero elemento é colocado na trama em vão. Uma fala "inocente" aqui, uma lembrança aparentemente boba acolá, tudo é usado para amarrar a situação em que o grupo está envolvido. Eu gostei demais, demais. 

Agora, outra coisa que a Holly também é especialista é fazer a gente odiar personagens, misericórdia. Primeiro temos Max Hastings em Manual de Assassinato, odiável até o último fio de cabelo... Mas acreditem ou não, ela conseguiu se superar com o Oliver nessa história aqui. Juro, ô carinha intragável, meu Deus. Como assim o restante dos protagonistas eram amigos de um ser tão detestável e, pior, resolveram carregar ele para um passeio por livre e espontânea vontade? E olha que nem precisou ele se revelar muito pra eu querer que ele fosse de base.

Para quem gosta de um bom suspense, acho que Os Cincos Sobreviventes pode agradar bastante. Só gosto de lembrar sempre que os personagens são adolescentes, e adolescentes são inconsequentes por natureza, então não esperem uma grande maturidade ou resoluções muito complexas. Ouso dizer que um dos maiores feitos da Holly Jackson é justamente conseguir trabalhar com mentes tão voláteis e ainda assim criar tramas tão fechadinhas, que não ficam atrás dos maiores livros do gênero. 

Título Original: Five Survive ✦ Autora: Holly Jackson
Páginas: 448 ✦ Tradução: Karoline Melo ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

3 de janeiro de 2025

"Eu disse que ele viria, nasceu..."

E eu nem sabia como seria
Alguém prevenia
Filho é pro mundo
Não, o meu é meu
Sentia a necessidade de ter algo na vida
Buscava o amor das coisas desejadas
Então pensei que amaria muito mais
Alguém que saiu de dentro de mim e mais nada
Me sentia como a terra: Sagrada
— Mãe, Emicida

22 de abril de 2024

O fenômeno Ali Hazelwood: uma (não tão) breve opinião sobre Noiva, Xeque-mate e Amor, teoricamente

Foto: @pimenta_preta
Juro para vocês que eu até pensei em fazer uma resenha separada para cada uma dessas leituras, mas vamos ser sinceros: eu ia enrolar até o fim do ano e não ia sair nada, e depois eu ia simplesmente desistir de falar sobre elas. Então, como li esses livros com um intervalo de tempo relativamente curto e são da mesma autora, achei que seria legal deixar minha opinião — totalmente parcial, já fiquem sabendo — aqui para vocês. 

Quem não vive em uma bolha, ou quem vive na bolha certa, provavelmente conhece a Ali Hazelwood. Ela ficou muito conhecida após o sucesso de A Hipótese do Amor, uma comédia romântica sobre uma cientista que acaba se envolvendo com um professor do setor onde realiza sua pesquisa de doutorado. Depois desse, podemos dizer que a carreira da autora deslanchou. Para ser bem sincera, além das situações cômicas entre os personagens, o que eu mais amo nos livros da Ali é justamente o fato dela trazer protagonistas que atuam nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) e, consequentemente, o ambiente científico/acadêmico para as tramas. Foi assim com A Razão do Amor e com as novelas que compõe a coletânea Odeio te Amar

Eu não costumo ser muito exigente com comédias românticas e é por isso que gostei de todas essas histórias, mas não vou negar que elas são mesmo muito parecidas. Nem acho que é por causa das protagonistas atuarem nas áreas de STEM, e por fazerem questão de mostrar o ambiente tóxico e machista do meio científico... A grande questão são os romances, geralmente com homens altos, musculosos, gostosos, ranzinzas e grandes feito guarda-roupas. Inclusive, acho que essa é maior crítica que a gente vê por aí sobre a autora e seus livros — e o fato de todos serem brancos, é claro —, mas querem saber a verdade? Eu adoro essa farofada. Não tem porque eu mentir para vocês. 

E foi por causa disso que eu resolvi ler Amor, Teoricamente, que é meu livro preferido da Ali Hazelwood até agora. Em primeiro lugar, sinto que o texto dela evoluiu muito. Ela consegue manter seu estilo de escrita, mas sai um pouco dessa "fórmula" de fanfic. Não tô dizendo que isso é negativo gente, seria até hipócrita da minha parte porque eu amo fanfic, mas dá para perceber claramente que ela saiu desse lugar-comum, o que significa que, de certa forma, ela ouviu seus leitores. 

Nessa história, Elsie Hannaway, uma física teórica, se envolve com Jack Smith, um físico experimental. Eles são basicamente rivais acadêmicos, mas fora desse contexto se dão muito bem. As diferenças já começam aí, porque os protagonistas não se "odeiam", dialogam bastante, mas existem outras questões que "impedem" que eles se envolvam romanticamente. Um deles, por exemplo, é o processo seletivo para professora titular que Elsie participa e que está diretamente ligado a Jack. Alías, essa parte foi muito bem desenvolvida no livro, e eu sei disso porque eu tô no meio acadêmico, e eu amei pra caramba! Ouso dizer que foi o que mais me cativou no enredo, e é uma das coisas que torna esse o meu livro preferido da autora. Também adorei que a Ali desmistificou duas coisas que todo mundo acredita: que professor universitário ganha bem e que pesquisa é valorizada em algum lugar

Depois, engatei a leitura de Xeque-mate, e foi muito bom porque foi um livro que me prendeu num momento que nada mais estava me interessando. Esse é o primeiro livro da Ali Hazelwood que não é voltado para o público adulto. Confesso que fiquei um pouco receosa porque sou do tipo de pessoa que acha que o sexo é uma das formas mais fáceis de conectar personagens, mas gostei muito de como a autora trabalhou essa questão da sexualidade aqui. Mallory é uma jovem de 18 anos, bissexual, com uma vida sexual muito ativa, mas tem dificuldade de se apegar às pessoas. Nolan, por sua vez, apesar de ser um pouco mais velho que Mallory, nunca havia experimentado de fato o desejo sexual. Essa dinâmica foi muito interessante de acompanhar. 

Mas voltando ao cerne da questão, nessa história não temos o famoso ambiente acadêmico, mas os personagens não deixam de ser super inteligentes. Mallory é uma ex jogadora de xadrez, que basicamente desistiu do esporte para sustentar a família. Seu pai faleceu há alguns anos — e mesmo se estivesse vivo, não posso dizer que a relação deles era muito boa —, sua mãe tem uma doença crônica nas juntas que a impede de trabalhar e ela tem duas irmãs mais novas. Esse foi um ponto que me incomodou muito durante a narrativa, porque não me parece normal uma pessoa tão jovem abrir mão de todos os seus sonhos porque acha que tem responsabilidade sobre a família. E o pior de tudo é que a própria família dela parece se sentir muito confortável com a situação.

Abrindo um parênteses aqui... Amo o fato da Ali ter criticado o sistema de saúde estadunidense tanto em Xeque-mate quanto em Amor, Teoricamente. No primeiro, Mallory não teria que aceitar um emprego insalubre, desistir do xadrez e da faculdade, se não tivesse que comprar os remédios caríssimos da mãe, e sem eles ela não consegue se manter saudável o suficiente para fazer qualquer coisa que seja. No fim das contas, ela não tinha muita escolha a não ser deixar que, indiretamente, Mallory assumisse o seu papel em casa e eu até demorei um pouco para entender isso. No segundo, Elsie tem diabetes e mesmo com dois empregos não consegue ter grana o suficiete para bancar um tratamento, o que faz com que ela seja obrigada a "trabalhar" por fora como uma espécie de acompanhante de luxo — acompanhante mesmo, nada sexual, gente. No Brasil esse tipo de coisa não aconteceria, né, mores. 

Espacinho para agradecer imensamente minha amiga Marcella por ter salvado minha vida com essas fotos incríveis, já que eu li os livros no Kindle. Agora vão lá no Instagram dela dar uma moral pois pfta d+.

Tá, retornando para Xeque-mate... Mallory acaba aceitando participar de um torneio de xadrez beneficente e, totalmente "sem querer", derrota facilmente o atual campeão mundial, Nolan. Por mais que exista o romance — e notem que os romances da Ali quase sempre são pautados em rivalidades e não necessariamente em relações de inimizade, o que é bem diferente —, o foco maior é na relação da protagonista com a família e no seu crescimento, tanto pessoal, quanto no xadrez. Mesmo depois de muito tempo sem jogar, Mallory se mostra uma competidora à altura, o que incomoda muitos homens. Essa questão do machismo é muito bem trabalhada em todas as histórias da autora, aliás, por isso que eu amo tanto.

E sobre o romance... É interessante perceber como a Mallory tem uma visão super distorcida de relacionamentos amorosos por causa de uma situação envolvendo seu pai, que também era jogador de xadrez. Acaba que esse ponto em específico não influencia somente a forma da protagonista se conectar emocionalmente com as pessoas, mas também em como ela enxerga o xadrez. Por isso gosto de dizer que é uma história sobre uma pessoa que precisa, acima de tudo, resolver seus dilemas para conseguir seguir em frente e entrar em uma relação. 

Agora, voltando totalmente para o rolê das fanfics, temos Noiva, o mais novo lançamento da Ali Hazelwood, e com certeza o livro mais diferente da autora — o que parece bem irônico, mas vou explicar. Primeiramente, é um romance sobrenatural entre um lobisomem, ou licano, e uma vampira, e foi praticamente inevitável associar a um universo alternativo em que a Bella e o Jacob de Crepúsculo ficaram juntos. Ao mesmo tempo, foge totalmente da dinâmica científica/acadêmica/totalmente nerd que estamos acostumados, ainda que a protagonista seja da área da tecnologia. 

Misery Lark é filha do maioral dos vampiros, e acaba sendo "obrigada" a casar com Lowe Moreland, o alfa do bando de lobisomens. Bom, historicamente sabemos que vampiros e licanos são inimigos mortais, e esse casamento é uma tentativa de estabeler a paz entre os reinos. Misery tem outras razões, nada a ver com alianças políticas, para aceitar essa união forçada, então ainda temos uma cerejinha no bolo que é essa aura de mistério

Além disso, acho que a maior diferença para todos os outros livros, é que me parece a primeira vez que o personagem masculino tem dilemas quanto ao relacionamento. Sei que muito disso vem do fato deles serem de clãs inimigos, mas o Lowe gosta da Misery e se sente atraído por ela desde o primeiro instante, mas existe alguma coisa dentro dele que impede o desenvolvimento dessa relação. Ainda mais porque a Misery meio que não esconde o tesão né, coitada. A pobre lá doida pro vuco-vuco e o querido "não podemos pois somos incompatíveis sexualmente bibibi bobobó". Enfim, senti que nesse livro a protagonista que tava pronta, e ela que teve que esperar pelo mocinho, sabem?

Também acho que Noiva é o livro mais sexy da Ali, até porque ela explora outras formas de sexo, outras formas de contato e outras formas de conexão — e olha que eu nem tô falando especificamente do babado do nó, que se vocês quiserem saber o que é, sugiro dar um Google ou imaginar dois cachorros cruzando, rs. Tem uma cena específica que rola dentro de um avião, depois deles firmarem uma aliança, que eu faltei morrer lendo e não podia dar nem um piozinho porque era madrugada e não podia acordar o meu querido. Inclusive, esse foi o primeiro livro que me fez virar uma noite lendo, depois de muito, muito tempo... Um hábito nada saudável para uma pessoa grávida, mas não consegui me controlar.

Então vocês me questionam... Nesse momento, eu sei que meu livro preferido da Ali é Amor, Teoricamente, mas eu não consigo ranquear os outrosA Hipótese do Amor tem meu primeiro guarda-roupa preferido, o Adam... Bee e Levi, de A Razão do Amor, arrancam suspiros com a maior tensão sexual da vida... Xeque-mate tem uma das tramas mais legais envolvendo o desenvolvimento pessoal da protagonista... Noiva me trouxe aquele sentimento gostoso de que finalmente os romances paranormais estão voltando com tudo e com muita qualidade... E até Odeio te Amar, que tem uma das minhas novelinhas favoritas, Sob o Mesmo Teto. Simplesmente não dá para escolher, gente. 

Eu acho que Ali Hazelwood merece esse hype todo. São histórias muito divertidas, sensuais, bem farofentas, mas sem deixarem de falar sobre algum assunto importante, do jeitinho que eu gosto. Agora, no dia que ela resolver me escrever um mocinho à lá Amaury Lorenzo, aí sim vocês vão me ver bem surtadinha. E é isso, assumo que sou completamente obcecada por essa autora e não vejo a hora de ler qualquer outra coisa que ela lançar. Apenas LEIAM, um beijo e um queijo. 

15 de abril de 2024

A Biblioteca da Meia-Noite, de Matt Haig, mostra que independentemente das nossas decisões, viver é sempre um processo muito difícil

Acho que o primeiro contato que tive com uma história com foco em realidades alternativas foi Efeito Borboleta, filme de 2004 protagonizado por Ashton Kutcher. Nele, Evan, o personagem, consegue viajar no tempo e alterar o passado, trazendo consequências não muito boas para o presente. "Efeito borboleta" é uma expressão muito utilizada na Teoria do Caos para explicar uma das características mais marcantes dos sistemas caóticos, isto é, a sensibilidade das condições iniciais. No caso desse filme, ou do livro A Biblioteca da Meia-Noite, até mesmo as menores decisões, aparentemente insignificantes, têm capacidade de gerar mudanças gigantescas ao longo do tempo

Nora Seed é uma mulher que coleciona arrependimentos. Vive uma vida totalmente sem emoção, o que faz com que ela se questione constantemente como estaria e aonde teria chegado se tivesse tomado algumas decisões diferentes no passado. Após ser demitida, seu gato ser atropelado e ser dispensada pelo vizinho idoso da única tarefa que fazia com seus dias tivessem um pouquinho de sentido, Nora sente que sua existência na Terra não é mais necessária, que ninguém mais precisa dela. E é assim que a personagem vai parar na Biblioteca da Meia-Noite. 

A Biblioteca da Meia-Noite é um lugar onde o tempo não passa. Nora não está morta, mas também não está viva. Mas ao chegar nesse lugar, ela recebe a oportunidade única de viver todas as vidas que poderia ter vivido caso tivesse tomado outras decisões. Cada livro da biblioteca é uma vida diferente: o que teria acontecido se Nora não tivesse terminado um relacionamento de anos? Ou fosse viajar com a melhor amiga, ou tivesse seguido carreira musical, ou tivesse se tornado uma nadadora olímpica, ou, ao invés de Filosofia, tivesse cursado Glaciologia na faculdade? A partir dos seus arrependimentos, Nora tem a oportunidade de consertar seu passado e, quem sabe, achar uma vida que realmente faça sentido a ponto de desejar ficar nela. 

Após finalizar essa leitura, entendo o porquê de ela fazer tanto sucesso. Afinal, todos nós temos vontade de mudar uma decisão ruim que tomamos no passado... Mas, assim como Nora, acho que nunca paramos para refletir sobre as reais consequências dessas alterações. Alguns exemplos práticos: eu estaria casada com meu marido mesmo se eu tivesse aceitado aquela primeira solicitação dele no Facebook, que eu recusei por não saber quem ele era direito? Se eu tivesse contrariado a vontade da minha família e tivesse feito Letras na faculdade ao invés de Geologia, eu já estaria terminando o meu doutorado agora, ou sequer estaria fazendo doutorado? A questão é justamente essa: nós nunca saberemos! 

Percebe-se por esse texto que A Biblioteca da Meia-Noite é um livro extremamente melancólico, cheio de gatilhos, do início ao fim. As primeiras tentativas de Nora de encontrar a vida perfeita, por exemplo, são extremamente dolorosas, até um pouco difíceis de digerir. Mas, assim como Nora, queremos saber os rumos que ela poderia ter tomado na vida. E é aqui que admito uma das maiores vitórias de Matt Haig com esse livro: é fácil demais se perder em uma narrativa com multiversos, uma vez que essas muitas vidas podem não agregar muita coisa na história como um todo, e não é isso o que acontece aqui. Cada universo alternativo de Nora causam algum impacto na personagem, na sua versão "definitiva". 

Os capítulos curtos ajudam muito na fluidez da narrativa, mas não deixa de ser um livro muito difícil. À medida que avançamos na leitura, temos a percepção de que a vida perfeita não existe. Coisas boas e ruins vão existir na mesma proporção, não importa a decisão que a gente tome. Acredito que essa é a grande reflexão desse livro, e é por isso que vejo tanta gente dizendo que ele flerta um pouco com o gênero autoajuda: viver não é fácil e, diferentemente de Nora Seed, não temos o privilégio de escolher entre milhares de possibilidades, não temos como voltar atrás. Nos resta, no fim, aproveitarmos as partes boas e aprendermos a lidar com as ruins.

Título Original: The Midnight Library ✦ Autor: Matt Haig 
Tradução: Adriana Fidalgo ✦ Páginas: 320 ✦ Editora: TAG Experiências Literárias & Bertrand Brasil

15 de março de 2024

Os Registros Estelares de uma Notável Odisseia Espacial, terceiro volume da Série Wayfarers, de Becky Chambers


Os Registros Estelares de uma Notável Odisseia Espacial é o terceiro volume da Série Wayfarers, ficção científica criada por Becky Chambers. Ainda que ambientado no Universo criado pela autora, do qual já estamos familiarizados, este é o livro mais próximo de mostrar nossas vidas reais. Isso porque acompanhamos a Frota do Êxodo, um grupo de humanos que, há muitos anos, abandonou uma Terra praticamente morta em busca de novas condições de sobrevivência. 


Já conhecíamos a Frota do Êxodo dos volumes anteriores, mas nunca tínhamos tido um contato tão próximo. A frota é composta por um conjunto de naves de alta tecnologia que vagou por anos até ser resgatado e aceito pela Comunidade Galáctica (CG). A questão é que muitos humanos optaram por continuar vivendo nessas naves, mesmo podendo manter residência em cidades alienígenas e colônias terrestres. Dessa forma, esse volume em específico foca nos humanos e suas relações enquanto comunidade. 

Para tal, Becky Chambers traz como protagonistas cinco personagens com jornadas distintas: Tessa, mãe de duas crianças, que após um trauma pensa em explorar novas alternativas fora do Êxodo; Isabel, uma idosa que trabalha nos Arquivos de uma das naves da frota; Kip, um adolescente encrenqueiro que, assim como muitos outros, não se enxerga vivendo em uma única nave para o resto da vida; Eyas, uma das pessoas responsáveis para dar um destino para quem morre nas naves que compõe a frota; e Sawyer, um forasteiro que chega ao Êxodo em busca de novas oportunidades, distante da realidade de miséria em que vivia em seu planeta de origem. É a partir da visão desses personagens que conhecemos a comunidade, o sistema que faz a frota funcionar, a cultura deles e, principalmente, o futuro e as memórias dos últimos humanos que conheceram a Terra.

O mais interessante em Os Registros Estelares é perceber que ao mesmo tempo que a vida na frota é muito diferente da nossa realidade — e da realidade de humanos que habitam outros planetas —, é também muito próxima do que vivemos aqui na Terra. Quer dizer... Nosso planeta não possui recursos infinitos, da mesma forma que a Frota do Êxodo não possui. É necessário um intrincado sistema para que a vida no espaço continue, mas isso não acontece na Terra também? Nos dois contextos, um trabalho não é mais importante que o outro, ou pelo menos não deveria ser. 

Foi justamente essa dualidade que me pegou. Aqui na Terra somos dominados por um sistema capitalista, em que os mais ricos possuem claros benefícios. Na frota, a realidade é quase utópica, porque as coisas só funcionam por causa do senso de comunidade dos habitantes. Ninguém é melhor que ninguém. Não existe dinheiro, tudo é na base na troca. Propriedade privada é algo que eles nem cogitam. Gerações e gerações de humanos sobrevivem no espaço, em eterna crise, unicamente porque cada um faz sua tarefa, inclusive após a morte. 

Além disso, existem as lutas pessoais de cada personagem. Os capítulos são intercalados entre eles, então conhecemos a rotina de cada um, seus dilemas, erros e acertos. Afinal, apesar do sistema fluir muito bem coletivamente, os personagens são humanos e, consequentemente, imperfeitos. Me afeiçoei especialmente a Eyas, tanto pelo modo poético com que lida com seu trabalho, que ainda intimida parte da população, quanto por sua personalidade, a forma que explora sua sexualidade e se relaciona com outras pessoas — não apenas sexualmente falando, é claro. 

Em questão de enredo, acredito que Os Registros Estelares tenha o mais parado até agora. Não que isso seja ruim, principalmente para quem já está acostumado com o estilo da narrativa da Chambers, mas pode trazer uma certa sensação de nostalgia, não sei bem explicar. Também achei que é o mais filosófico, ao menos até agora. Me fez refletir bastante sobre o mundo que estamos construindo, o que vamos deixar para as futuras gerações... E talvez a resposta para isso não seja muito boa, né? Enfim...

Eu gostei muito, muito mesmo desse volume, mais do que o primeiro, mas acho que o meu favorito ainda é A Vida Compartilhada em Uma Admirável Órbita Fechada. Ainda que ambos falem muito sobre pertencimento, A Vida Compartilhada tem menos elementos a serem destrinchados, dando mais espaço para os protagonistas dentro da narrativa. Não que eles não tenham sido extremamente bem desenvolvidos em Os Registros Estelares, mas muitas vezes estava bem mais interessada por um núcleo X em comparação a um núcelo Y, por exemplo. 

Para finalizar, queria só fazer um comentário: o que me impressiona mesmo é Becky Chambers ser uma fonte inesgotável de criatividade. Mal vejo a hora de ver o que ela preparou para nós em Uma Galáxia Multicor e os Confins do Universo, último volume da série, e confesso que leria várias outras histórias inseridas nesse mesmo contexo. 

Título Original: Record of a Spaceborn Few ✦ Autora: Becky Chambers 
Páginas: 352 ✦ Tradução: Flora Pinheiro ✦ Editora: DarkSide Books
Livro recebido em parceria com a editora

9 de fevereiro de 2024

Heartstopper, Volume 5: Mais Fortes Juntos, um olhar de Alice Oseman sobre o amadurecimento

Os humilhados finalmente foram exaltados com o lançamento do quinto volume de Heartstopper. Pelo que sabemos até então, esse é o penúltimo quadrinho da série, e só de pensar nisso me dá um pouco de desespero, porque eu amo demais esse Universo. Em Mais Fortes Juntos, acompanhamos uma nova fase, por assim dizer, do relacionamento entre Charlie e Nick. As coisas finalmente estão melhores, uma vez que o tratamento de anorexia do Charlie está dando resultados, um dia de cada vez

Minha opinião sobre os volumes anteriores:
✦ Heartstopper: Dois Garotos, Um Encontro & Heartstopper: Minha Pessoa Favorita
✦ Heartstopper: Um Passo Adiante
Heartstopper: De Mãos Dadas

A grande questão agora é que os meninos estão chegando ao fim de mais um ano letivo, o último do Nick. Assim como vários de nós nesse período, Nick quer muito fazer faculdade, ao mesmo tempo em que está resoluto em ir para algum lugar mais distante. Ele não exprime em palavras, mas fica claro para o leitor que a distância é algo que preocupa Nick, não só por causa da dinâmica do relacionamento, mas também por medo que Charlie tenha alguma recaída. Além dele ser o principal apoio do Charlie, eles nunca ficaram separados desde que começaram a namorar. 

Nesse meio tempo, acompanhamos os dilemas do próprio Charlie. Novamente existem embates entre ele e sua mãe, normalmente gerados pela falta de compreensão que ela tem acerca da doeça de Charlie. Convenhamos que, tendo em vista tudo o que eles têm passado, é totalmente compreensível. Mostrar nossas preocupações nos torna um pouco mais vulneráveis e reativos, e isso não é diferente com a mãe do Charlie... Mas ao mesmo tempo a gente entende o garoto, porque ele só quer ser um adolescente normal que faz coisas normais, ainda mais agora que ele está se sentindo bem e está muito mais próximo do Nick. 

Eu gosto muito desse volume especificamente — acho que é o meu favorito até agora — porque mostra um amadurecimento muito grande de todos, absolutamente todos, os personagens. Acredito que muita gente vai ter essa percepção porque Nick e Charlie dão um passo a mais no relacionamento, mas eu estou falando em todos os sentidos. Os diálogos são mais profundos, temos aquela sensação de que as decisões são muito mais difíceis... Só que ainda existe aquele frescor da adolescência, sabem? A simplicidade de estar crescendo e começar a ter responsabilidades reais. 

Qual a decisão que Nick vai tomar em relação ao seu futuro só descobriremos no volume seis, apesar de já termos várias pistas. Mas eu, como pessoa que namorei à distância por vários e vários anos e hoje estou aqui constituindo minha própria família, posso afimar uma coisa: no fim, tudo dá certo. Não vejo a hora de ver como essa história de amor vai terminar — e como a terceira temporada da série da Netflix vai ser adaptada!

Título Original: Heartstopper Volume 5 ✦ Autora: Alice Oseman
Páginas: 336 ✦ Tradução: Guilherme Miranda ✦ Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora

25 de janeiro de 2024

Este Inverno, de Alice Oseman


Li essa novela em 2022, quando estava com abstinência de Nick & Charlie e estava procurando absolutamente qualquer coisa que me entregasse migalhas deles dois. Diferentemente de Heartstopper e da novela Nick e Charlie, Este Inverno não foca tanto no relacionamento dos protagonistas. A história, que se passa toda em um dia, mostra um pouco do Natal dos Spring, o que pode ser um prato cheio para quem quer saber um pouco mais dos irmãos do Charlie e da dinâmica familiar deles. 

Desde Heartstopper sabemos que Nick não tem uma relação muito boa com sua mãe, mas isso fica muito claro nessa narrativa da Alice Oseman. Após o período de internação para tratar os transtornos alimentares do personagem, a noite de Natal parece algo muito grandioso para ele, envolvendo muita gente e, obviamente, muita comida. A grande questão é que a mãe de Charlie não consegue lidar muito bem com a situação, o que culmina em um embate entre eles. Para ter um pouco de paz, Charlie foge para a casa de Nick, e acompanhamos os resultados desse dia sob o ponto de vista dos três irmãos.


Esse foi o ponto que mais gostei do livro. Estamos cientes de como Charlie se sente na maior parte do tempo, mas e Tori e Oliver? Por eu já ter lido Um Ano Solitário, todo narrado sob o ponto de vista da Tori, já sabia um pouco mais sobre ela e como ela se sente responsável por Charlie. Aliás, a impressão que eu tenho é que ninguém a não ser o próprio Charlie parece perceber que Tori precisa de ajuda profissional tanto quanto ele. É possível ter um vislumbre disso em Este Inverno. 

Não estou aqui para julgar os pais de Charlie — apesar de, até certo ponto, fazer isso —, porque é realmente complicado lidar com uma pessoa em processo de cura e entender que esse processo não é linear. Se engana quem acha que uma temporada internado em um hospital psiquiátrico é a solução para tudo... A recuperação é cheia de altos e baixos, e a gente precisa exercitar nossa paciência. Eu sigo gostando bastante da forma como Alice Oseman retrata o assunto. 


De todas as obras da autora envolvendo o Universo Heartstopper, acho que essa é a que mais "incomoda", por assim dizer. Digo isso porque é uma narrativa curta e intensa, com muito menos das coisas fofinhas que estamos acostumados, tornando o sofrimento de Charlie muito mais real. Além disso, termos acesso aos sentimentos de Tori e Oliver mostra que até o mais novo dos Spring é afetado por todas essas questões familiares, muitas vezes sendo deixado de lado

Apesar de melancólico, Este Inverno é muito especial e a edição da Seguinte só prova isso. As ilustrações e todos os outros detalhes são um primor e nos aproximam bem mais da leitura. É claro que os quadrinhos ainda são meus preferidos, mas não nego que as novelas são um complemento maravilhoso e que, por mim, a autora pode continuar lançando umas duas por ano!

Título Original: This Winter ✦ Autora: Alice Oseman
Páginas: 112 ✦ Tradução: Guilherme Miranda ✦ Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora

4 de novembro de 2023

O Mar Me Levou a Você, o novo romance de verão de Pedro Rhuas


Não é segredo para ninguém que sou fã do trabalho do Pedro Rhuas. Ao meu ver, ele é um dos mais promissores autores nacionais do cenário LGBTQIA+ atual, porque ele está preocupado de verdade em contar nossas histórias e trazer finais felizes para nós. Seu primeiro livro, Enquanto Eu Não Te Encontro (EENTE), e sua novela, O Universo Sabe o Que Faz (OUSOQF), não fazem tanto sucesso à toa. Por causa disso, eu já sabia que O Mar Me Levou a Você (OMMLAV) também conquistaria nossos corações

Publicado anteriormente como conto de forma independente, OMMLAV conta a história de amor entre Matias e Júlio, cujos destinos foram traçados nas maravilhosas paisagens de Canoa Quebrada, no Ceará. Acontece que Pedro tinha tantos planos para os dois que precisou escrever mais sobre eles, e assim surgiu esse livro, publicado pela Seguinte. 

Matias é um jovem de 21 anos, preto, filho de um brasileiro com uma espanhola. Durante toda sua vida o garoto, seus pais e a irmã mais nova passam metade do ano na Espanha e voltam ao Brasil durante o verão, para aproveitar o calor e ficarem mais próximos do Hippie, um aconchegante hostel à beira-mar administrado pela família. Matias é cheio de vida, adora desenhar, tocar e surfar, mas ainda não sabe exatamente o que deseja fazer, profissionalmente falando. Ele não poderia ser mais diferente do irmão mais velho, um surfista profissional, o queridinho da mamãe, o filho que traz orgulho para a família. Mas todas essas preocupações parecem secundárias quando, em um dia escaldante, cheio de ondas perfeitas, Matias conhece Júlio.

Acontece que Júlio não é cativado por Matias logo de cara. Pelo contrário, o garoto parece ter aversão à ele. Mas também pudera...  Matias tem toda uma pinta de homem-hétero-cis, confiante demais, atirado demais, bonito demais, todas as características que Júlio detesta. Um cara desses com certeza está se aproximando só para zoar, algo que acontece o tempo inteiro quando você é um homem trans. O que Júlio não sabe, é claro, é que Matias é um bissexual, que se sente imediatamente atraído por ele. Apesar de fazer de tudo para se afastar, o destino está 100% disposto a fazer seu caminho se cruzar com o de Matias de todas as formas possíveis. 

Eu me diverti demais lendo OMMLAV, que tem uma vibe romance de verão, daqueles que passam na Sessão da Tarde, com vários elementos místicos e referências à cultura-pop. A narrativa é cheia de representatividade, trazendo aquele sentimento de pertencimento à comunidade LGBTQIA+, uma das especialidades do Pedro Rhuas. Outro ponto positivo é ambientação, novamente no nordeste, mais conhecida como a melhor região do Brasil. Senti como se estivesse em Canoa Quebrada, hospedada no Hippie, eventualmente passeando pelas falésias numa manhã ensolarada. 

Apesar do romance ser o foco da história, existem outras tramas acontecendo em paralelo, todas sob o ponto de vista de Matias. Conflitos familiares, principalmente envolvendo a mãe e o irmão mais velho, são muito comuns e bem desenvolvidos. A amizade com a irmã mais nova, hóspedes e funcionários do hippie também é muito legal de acompanhar. Além disso, existem todos os embates internos do Matias, seus medos e inseguranças, o fato de ter se apaixonado pela primeira vez... Todas essas questões fazem com que a gente se aproxime mais do protagonista. 

Porém, mesmo me conectanto com os personagens, principalmente com Matias, não consegui me conectar totalmente com o romance em si. É muito fofo, é claro, mas senti que faltou uma coisinha. Digo isso porque metade do livro é Matias correndo atrás de um Júlio aparentemente desinteressado, e a outra metade são eles trocando juras de amor, apesar de terem se conhecido há pouquíssimo tempo e de tudo o que aconteceu nesse início conturbado. Eu gosto muito de romances de verão e acredito que eles existam, mas acho que faltou uma conexão entre essas duas partes para que ficasse mais fácil acreditar na veracidade do sentimento deles

Confesso que gostaria de saber um pouquinho mais sobre outras questões apresentadas em OMMLAV. Por exemplo, o Matias vai conseguir a confiança da mãe para gerenciar o hostel sozinho? É isso mesmo o que ele quer fazer, do fundo do coração? Ou será que seria melhor investir na música? No desenho? Talvez rodar um pouco mais pelo mundo com Júlio, que é influencer de viagens, antes de tomar uma decisão tão complexa? Será que se a gente pedir com muito jeitinho, o Pedro escreve uma continuação pra gente, rs?

Fato é, de uma forma ou de outra, Pedro Rhuas sabe prender a gente, porque a escrita dele é muito deliciosa. O meu livro preferido ainda é EENTE, que conversou comigo em um momento mais delicado da minha vida ... Mas OMMLAV, assim como OUSOQF, tem um bom enredo, que conquista, emociona e aquece o coração, principalmente se você for um jovem LGBTQIA+ que acredita no amor, assim como eu. 

Título Original: O Mar Me Levou a Você ✦ Autor: Pedro Rhuas
Páginas: 424 ✦ Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora

31 de outubro de 2023

Livros infantis que vocês precisam conhecer


Recebi recentemente do #TimedaIntrín o novo livro do Neil Gaiman, Kanela, uma história infantil que conta narra a amizade entre uma princesa cega e um tigre. Me deu uma nostalgia grande demais, porque eu amava esse tipo de livrinho quando criança e, confesso, gosto até hoje. Fui dar uma olhada na minha estante e resolvi mostrar pra vocês os meus livros infantis preferidos, para ajudar, inclusive, no repertório de leitura com crianças que vocês tenham contato!


Obviamente a primeira indicação é Kanela. O autor é muito reconhecido por suas outras obras, como Coraline, que também tem uma pegada infantil. Nesse livro, em parceria com a ilustradora Divya Srinivasan, Gaiman narra a história de uma princesa cega que nunca proferiu uma palavra sequer, e sua amizade improvável com um tigre. Eu gosto muito do Neil Gaiman porque ele sempre fala nas entrelinhas, sabe? A gente que tem que tirar uma moral nas histórias e isso é muito divertido. Acontece também em Kanela, por isso acredito que é um bom livro para trabalhar a craitivade das crianças. Para mim, esse livro é sobre o nosso papel no mundo...


O Touro Ferdinando é um dos meus livros infantis preferidos da Intrínseca. Primeiro por causa da história dele: escrito em 1930, chegou a ser proibido em alguns países adeptos ao fascismo por ser considerado "pacifista demais". Segundo porque, ao criar um touro que não gosta de brigar e sim de sentir o perfume de flores preferidas, Munro Leaf mostra com muita sensibilidade que não precisamos ser aquilo que os outros querem que a gente seja


Esse livrinho é perfeito para os fãs do lado escuro da força! A Princesinha de Vader é uma história muito divertida que mostra como seria se Darth Vader tivesse cumprido seu papel de pai. Nesse, em específico, o personagem tem que lidar com as dores e as delícias de ser pai de menina. Tem várias referências aos filmes, mescladas com situações do dia a dia, o que deixa tudo muito mais engraçado.


Apesar de Tudo é pequeno e simples, mas deixa a gente com aquela sensação de coração quentinho. Fala sobre o sentimento da solidão, mas aquela solidão que sentimos mesmo estando rodeados de gente... E sobre a paz de encontrar alguém que nos entende, aquela pessoa que queremos dividir todos os nossos dias, sabem? Muito fofo, ainda mais porque os personagens são pinguins, e dizem por aí que os pinguins são casais duradouros e criam seus filhotes juntos. 

Outros livros infantis para vocês ficarem de olho


Amoras, Emicida
Malala e Seu Lápis Mágico, Malala Yousafzai
Enquanto Ana Espera, Fernanda Witwytzky

Sempre que falo sobre livros infantis no Roendo Livros, gosto de frisar da importância da leitura para as crianças: estimula o raciocínio, melhora o vocabulário, aprimora a capacidade interpretativa e criativa... E quando incentivada desde cedo, os impactos positivos são muito maiores. Leitura vem de berço, gente! Bora ler com nossas crianças!

19 de outubro de 2023

A Vida Compartilhada em Uma Admirável Órbita Fechada, de Becky Chambers, o segundo volume da Saga Wayfarers

A Vida Compartilhada em Uma Admirável Órbita Fechada é a continuação independente de A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil. Ambos os livros fazem parte de uma série de ficção científica criada pela autora Becky Chambers. As obras podem ser lidas separadamente, uma vez que têm arcos bem fechados, mas eu indico fortemente que sejam lidas em ordem de lançamento e logo mais vocês vão entender o porquê. 

Leiam também:
Resenha: A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil

Eu li A Longa Viagem em 2021, e foi uma história que me surpreendeu bastante pela forma como a autora construiu seus personagens e as relações entre eles. Em A Vida Compartilhada, tive certeza que a vibe da Becky Chambers é realmente abordar questões sociais, e ela faz isso de uma maneira muito bonita e convincente. Diferentemente do primeiro, em que os personagens tinham que resolver alguns conflitos externos além de lidarem com suas próprias existências, nesse volume, temos uma trama muito mais pacata, que gira em torno de duas protagonistas, Lovelace e Sálvia. 

Esse é o principal motivo de eu recomendar que vocês leiam os livros em ordem. Conhecemos Sálvia e Lovelace de A Longa Viagem, e os acontecimentos finais desse volume são cruciais para que a gente entenda as motivações dessas duas protagonistas em A Vida Compartilhada. Resumidamente, para não entregar muito do enredo, Lovelace é uma inteligência artificial (IA) que atuava no núcleo de uma nave, a Andarilha. Eu não vou dizer exatamente o que acontece, mas saibam que é tiro, porrada e bomba, e Lovelace precisa — e escolhe — ser transferida para um kit corporal. 

Lovelace, que a partir de determinado momento passa a se chamar Sidra, está acompanhada da Sálvia, uma humana geneticamente modificada que vai tentar fazer essa experiência ser o menos terrível possível para ambas. Vale destacar que colocar o núcelo de uma IA em um corpo que imita o humano é ilegal e elas não podem ser pegas. Dessa forma, Sálvia e seu companheiro Azul vão tentar fazer com que Sidra se adapte à sociedade. 

De modo geral, eu gostei muito mais de A Vida Compartilhada do que de A Longa Viagem. Como eu disse anteriormente, não há grandes acontecimentos na trama, mas acredito que esse seja o diferencial dela. Imaginem só uma história ser tão boa a ponto de se sustentar sem grandes conflitos? E isso só acontece porque é muito fácil se conectar com essas protagonistas — o que é muito "engraçado" se levarmos em conta que uma delas é uma máquina. 

O ponto alto do livro, para mim, é o estilo da narrativa, que alterna presente e passado. No presente, acompanhamos essa adaptação da Sidra, que não se sente à vontade dentro desse corpo humano, mas que não tem muita escolha a não ser permanecer nele. É muito interessante, porque ela é uma IA, mas com consciência e sentimentos, digamos assim, e que está buscando pertencimento dentro dessa sociedade tão diferente dela. No arco do passado, por outro lado, tivemos a oportunidade de conhecer as origens de Sálvia, antes de ela se tornar o que é no presente. 

Foi aí, meus amigos, que eu soube que iria amar A Vida Compartilhada. É sob esse ponto de vista que entendemos o porquê de Sálvia ser geneticamente modificada e, principalmente, o porquê de ser tão importante para ela ajudar Sidra. Gostei muito que história dela é contada em uma crescente dentro do livro, já que acompanhamos essa trajetória por muitos anos, até coincidir com o momento atual. Eu amava as partes sob o ponto de vista de Sidra, mas ansiava ainda mais por conhecer a história da Sálvia.

O mais incrível da Becky Chambers, tanto em A Longa Viagem, mas sobretudo em A Vida Compartilhada, é que ela consegue levar para os personagens dela dilemas que nós vivemos diariamente a partir de uma jornada de amadurecimento. O mais doido de tudo é que a autora escolhe justamente uma IA para nos mostrar isso, algo que é totalmente fora do nosso Universo e, evidentemente, muito fora da nossa realidade. 

A Vida Compartilhada conversou muito mais comigo que A Longa Viagem justamente por ter menos elementos e, consequentemente, mais espaço para desenvolver cada um deles. Emocionalmente falando, é uma história muito mais carregada, e grande parte disso se dá por falar majoritariamente sobre pertencimento. De certa forma, é como se eu tivesse me encontrado um pouquinho também. Indico demais e não vejo a hora de finalizar a Saga Wayfarers!

Título Original: A Closed and Common Orbit ✦ Autora: Becky Chambers 
 Páginas: 336 ✦ Tradução: Flora Pinheiro ✦ Editora: DarkSide Books
Livro recebido em parceria com a editora

5 de outubro de 2023

Dinastia Americana, de Tracey Livesay, um romance inspirado na realeza britânica

Vou contar uma verdade para vocês: ignorei completamente o lançamento de Dinastia Americana porque achei essa capa feia demais. Sim, eu sei que é ridículo da minha parte julgar um livro pela capa, mas foi muito inevitável. Foi só quando o pessoal começou a falar bem dele no grupo do #TimedaIntrín no WhatsApp que me interessei verdadeiramente. E cá para nós, vou ter que concordar com meus colegas que essa obra é muito injustiçada! Do fundo do meu coração, acho que é essa capa que afasta os leitores, pelo amor de Deus.

Brincadeiras à parte, em Dinastia Americana conhecemos a rapper norte-americana Danielle Nelson, mais conhecida como Duquesa. Além de cantora, ela é empresária, e tem uma marca de skincare muito promissora focada em produtos para pele negra. A marca faz tanto sucesso que Dani está prestes a assinar um contrato milionário com uma companhia de cosméticos mundialmente conhecida... Mas um "incidente" com uma estrela pop em ascensão acaba prejudicando esse acordo. 

É aí que conhecemos o Príncipe Jameson da Inglaterra. Até então, Jameson sempre preferiu viver fora da realeza, conseguindo inclusive trabalhar como professor universitário. Esse sossego termina quando a Rainha, sua avó, o obriga a organizar um evento em homenagem ao falecido príncipe consorte, uma tentativa de salvar a imagem da Coroa após vários escândalos envolvendo os herdeiros do trono. Assim, Jameson se torna o rosto do evento, e uma de suas funções é escolher um artista popular para se apresentar em um show. O caminho dos nossos protagonistas se cruza quando o príncipe acaba escolhendo Dani, que vê sua participação no show como uma oportunidade de melhorar a própria imagem. 

Nem preciso dizer que a atração entre eles é imediata, né? Os dois protagonizam cenas quentíssimas e simplesmente não conseguem ficar afastados. A questão é que nunca é fácil manter um relacionamento com um integrante da realeza e um exemplo claro disso é o casal que inspirou essa história, Meghan Markle e Príncipe Harry. Mesmo hoje, afastados da Família Real, os tabloides britânicos não perdoam e estão sempre soltando notícias maldosas ― e na maior parte das vezes mentirosas ― sobre eles. O racismo é escancarado, faltam dizer como que o Príncipe Harry teve coragem de corromper sua linhagem se casando com uma mulher negra, rs. 

Vemos muito disso em Dinastia Americana, apesar do contexto ser diferente. Dani é uma mulher poderosa, com uma carreira brilhante tanto na música quanto no setor dos cosméticos. Ela não tem medo de usar e abusar da sua sensualidade, algo que por si só incomodaria a Coroa Britânica, mas acho que o ponto principal aqui é a cor da pele da protagonista, preta retinta. Tracey Livesay trabalhou essa questão de forma que muitos consideraram sutil, mas, na minha concepção, foi efetiva: uma fala da Rainha aqui, um comentário do Príncipe Herdeiro acolá, declarações que mostram muito bem o racismo.

A química entre Jameson e Duquesa é muito boa, eles são explosão total. Dinastia Americana é muito quente, mas acredito que o propósito dele é esse mesmo. Inclusive, vi algumas pessoas reclamando que o livro é muito sexualizado, talvez não pelas cenas de sexo em si, mas talvez pelo comportamento da personagem. Não sei, eu por exemplo senti que foi uma crítica à indústria, porque a própria personagem deixa claro que as coreografias sensuais, por exemplo, são impostas pelo empresário dela. É aquela coisa, nada vende mais que o corpo feminino sexualizado, principalmente se esse corpo for preto. 

Por falar em cenas de sexo, me incomodei um pouco com um termo em específico, porque pra mim não faz sentido você transar com uma pessoa pela primeira vez e já chamá-la de "amor" na maior naturalidade do mundo. Notei um padrão aqui no Brasil de usarem "amor" para traduzir o famoso "baby", que é um apelido carinhoso lá fora, mas dependendo do contexto não encaixa muito bem. Fui dar uma conferida na versão original de Dinastia Americada e fiquei chocada que os personagens realmente falam "love", juro que esperava encontrar um "baby". Mas enfim, por causa disso, a interação durante o sexo acabou ficando um pouco forçada em muitos momentos. 

Eu realmente gostei da história e da costrução dela, pelo menos até uns 80% da narrativa. Isso porque o final, ao meu ver, foi um tanto abrupto. Vou precisar dar um spoiler para explicar, se vocês tiverem pretensão de ler o livro, sugiro que pulem esse parágrafo. Então, lembram do contrato milionário que a Dani estava prestes a assinar e que, de certa forma, motivou todo o enredo? O livro termina sem mostrar se ela conseguiu ou não. A personagem passa o livro inteiro falando dele e não há um desfecho para isso. Fiquei chateada porque a Duquesa que nos foi apresentada não colocaria um romance na frente da sua carreira. Até vi indícios de que terá uma continuação, mas acho que vai acompanhar outro casal, então não sei se terei as respostas que quero. 

A questão é que Dinastia Americana é uma boa história com alguns poucos deslizes, mas que não perde em nada para outros livros do gênero, como Através da Minha Janela, cujo foco principal da narrativa é a interação entre os protagonistas. O que eu quero dizer com isso é que alguns livros de romance não têm intenção de entregar assuntos ou relações profundas e está tudo bem, porque às vezes a gente só quer ler uma pegação, não é mesmo?

Título Original: American Royalty ✦ Autora: Tracey Livesay
Páginas: 384 ✦ Tradução: Karine Ribeiro ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora