Quando finalizei o primeiro volume de A Odisseia de Hakim, que conta a jornada de um refugiado, eu já sabia que estava apaixonada por Fabien Toulmé: o modo como ele usa as palavras me conquistou por completo. Foi por isso que fiquei tão curiosa para ler Não Era Você Que Eu Esperava, porque queria saber como ele usaria as palavras para contar um pedaço da sua própria jornada... E nossa, como me emocionei com esse relato, vocês não têm ideia... Chego a sentir que minhas palavras não serão suficientes para explicar!
Meu Deus, como esse autor é sensível e sincero. O título do livro já diz tudo, já que Não Era Você Que Eu Esperava narra o nascimento da filha caçula do autor, Julia, portadora da Síndrome da Down, algo que ele literalmente não esperava. Obviamente é um baque ter um filho com deficiência, né, principalmente quando essa deficiência não é sinalizada durante a gravidez, como aconteceu com Fabien Toulmé.
Acho que o que mais me marcou foi a dificuldade de Toulmé em aceitar a filha, aceitar que ela nasceu com a trissomia e as consequências que isso traria par ele e para sua família. Ele não escondeu, inclusive, o preconceito que permeava seus pensamentos sem nem mesmo imaginar que futuramente teria que aprender a lidar com pessoas preconceituosas também. A gente pode se achar a pessoa mais desconstruída do mundo, mas hora ou outra teremos pensamentos capacitistas em relação à pessoas com deficiência, verdade seja dita.
Eu digo que essa parte da história em específico me marcou porque é difícil imaginar um pai que acha que não ama a filha por causa de uma deficiência, sabe? Por causa de preconceitos que a gente traz desde sempre dentro de nós. Ainda mais se levarmos em consideração que para a esposa dele foi muito mais compreensiva desde o início — obviamente ela tinha medo, mas para ela, amar Julia foi fácil, entendem? A filha mais velha então, sequer imaginava que a irmãzinha era portadora de uma condição especial.
Ainda assim, quem somos nós para julgar? Qual seria nossa reação caso nossos fossem portadores da trissomia? Como eu já disse, todos nós nascemos preconceituosos, nos restando quebrar essas barreiras, mesmo que seja aos poucos. Fabien Toulmé aprendeu a amar Julia e entender as condições impostas pela síndrome de Down foi de suma importância para que isso acontece. Afinal, o que de fato é a síndrome de Down? O que isso implica para o desenvolvimento da criança? Foi só quando ele entendeu que Julia é uma criança como qualquer outra que conseguiu se abrir para ela.
Não Era Você Que Eu Esperava é uma narrativa corajosa, acima de tudo. Falar abertamente sobre sentimentos ruins e admitir preconceitos requer uma dose de coragem muito grande e admiro isso em Toulmé. Acho que justamente por isso — mesmo ficando injuriada com várias atitudes e acontecimentos, o que julgo ser normal numa situação em que estou sendo espectadora — senti uma empatia muito grande pelo autor e consegui entender sua dor, consegui entender que ele é, afinal de contas, humano, um ser capaz de aprender e amar.
"Não era você que eu esperava... Mas estou feliz por você ter vindo". ❤
Páginas: 256 ✦ Tradução: Fernando Scheibe ✦ Editora: Nemo