Não costumo comparar livros, mas esse livro será uma leitura complementar e muito semelhante a Um Teto Todo Seu, de Virginia Woolf. E esse é um grande elogio ao ensaio de 120 páginas de Alma Guillermoprieto, que tem o grande diferencial de trazer um viés que só as mulheres latinas possuem. Com alusões a Simone de Beauvoir e outras importantes feministas, a autora retrata porque a luta feminista é difícil, porém necessária. Em um texto curto, o leitor certamente terá consciência que as mulheres continuam presas em correntes quase invisíveis do sistema. Certamente uma leitura obrigatória também para os homens que pretendem ajudar as companheiras, amigas e familiares a chegar mais longe.
Com a icônica afirmação, “O pessoal é político”, a autora relembra momentos da história onde homens e mulheres levantaram a voz e fizeram revoluções que transformaram a vida privada feminina. Mudanças não apenas para as mulheres, mas para o ambiente familiar, o que consequentemente melhora todo o sistema político e social. Mostrando histórias de guerreiras latinas como Marielle Franco, Alma nos recorda que, enquanto as mulheres não ocuparem todos os espaços em igualdade de gênero, a sociedade toda permanecerá numa política arcaica e com deficiências de direitos.
E não bastam os direitos. É necessário sentir o alívio quando é tirado dos ombros das feministas o peso de ser considerada bruxa ou louca. Ressaltando o posicionamento de Beauvoir de que os homens veem mulheres como objetos, a narrativa traz um tom de protesto sobre todas as imposições de estado físico, mental e civil que deve ter uma cidadã comum.
Como conciliar o desejo de sermos mulheres fisicamente livres com o desejo de sermos desejadas?
Passando por temas como pílulas anticoncepcionais, o estereótipo contido nas novelas latinas e feminicídio, Alma mostra que ser mulher na América Latina é uma luta diária e nós devemos lutar juntas para sobrevivermos.