Recentemente, a editora Companhia das Letras publicou uma "edição de colecionador" de Dias Perfeitos, segundo romance do Raphael Montes e um dos maiores responsáveis pelo sucesso estrondoso do autor, dentro e fora do Brasil. Já li alguns livros do Raphael e aproveitei o relançamento para ler este que eu ainda não tinha lido.
Apesar de não ser uma super fã, eu leio os livros do Raphael Montes, porque geralmente são leituras rápidas e envolventes que despertam curiosidade e surpreendem com os plot twists e as passagens perturbadoras.
A sinopse de Dias Perfeitos não é inovadora. Na verdade, ela já foi bastante explorada em muitas outras histórias. A principal delas: o livro O Colecionador, de John Fowles, publicado em 1963. Confesso que as semelhanças me deixaram até intrigada e me levaram a fazer uma pesquisa rápida na Internet. De fato, encontrei diversas outras pessoas apontando para as semelhanças entre o clássico do suspense de 1963 (que ganhou até uma adaptação em 1965) e o livro do brasileiro.
Polêmicas à parte, vamos à resenha: Dias Perfeitos retrata um jovem estudante de medicina, excêntrico e deficiente em habilidades sociais, que conhece uma jovem vivaz, alegre e descolada, e acaba desenvolvendo uma paixão obsessão por ela. Movido pelo desejo de tê-la só para si, Téo sequestra Clarice com o objetivo de fazê-la se apaixonar por ele. Daí em diante acompanhados os tais "dias perfeitos" que se sucedem.
O estilo Raphael Montes está presente ao longo de todo o texto: muitas atrocidades são cometidas e muitas minorias são atacadas. As falas capacitistas do Téo são frequentes e, em certo ponto, me fizeram revirar o olho e dizer mentalmente: "Ta bom, Raphael, a gente já entendeu que todos os seus personagens são detestáveis e preconceituosos e esse é o seu jeito de chocar o leitor".
Não sei se o autor continua repetindo essa fórmula em seus lançamentos mais recentes, mas vi isso acontecer em O Vilarejo, em Suicidas e em Jantar Secreto e comecei a achar um pouco cansativo.
Como eu já esperava: foi uma leitura bem rápida. Li praticamente inteiro num único dia, principalmente porque eu estava curiosa pra saber o final (e se seria diferente do final de O Colecionador, já que, até certo ponto, estava tudo igual). Tem uma reviravolta perto do fim que eu amei e me fez pensar: "Uau, se o final for por esse caminho eu vou amar". Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu. Resumindo: eu não gostei do desfecho.
Aí veio a surpresa: essa edição traz um final alternativo. Minhas esperanças se renovaram e eu fui ler esperando que esse final fosse o final que eu queria. Não era! kkkkk' O final alternativo é bastante bizarro, mas interessante e coerente com o restante do livro (mas ainda prefiro o final que eu tinha em mente kkkk').
Uma curiosidade legal é que há uma sutil referência à Suicidas, primeiro romance de Montes, no final do livro. Saquei na hora e achei divertido encontrar esse easter egg.
Não foi uma leitura ruim, mas, após ler quatro livros do Raphael Montes, me encontro um pouco saturada. Sinto que a intenção de "chocar a qualquer custo" foi se desgastando e não é mais o suficiente (nunca foi?) para garantir uma boa história. Penso em algumas problemáticas de seus livros, mas nem sei se vale a pena mencionar porque deve fazer parte da fórmula, mas...
Por exemplo: as mulheres de suas histórias são sempre subjugadas, diminuídas, nunca saem por cima em nada e, frequentemente, são estupradas. Mais uma estratégia para chocar ou apenas uma falha na forma como Raphael cria e desenvolve suas personagens femininas? Porque, a impressão que fica é a de que todas as mulheres das suas histórias só estão ali para serem objetos de desejo de seus personagens masculinos (isso acontece em Dias Perfeitos, em Jantar Secreto, em Suicidas e em O Vilarejo).
No geral, eu gosto de histórias bizarras e perturbadoras. Mas acho que elas precisam ser mais do que apenas bizarras e perturbadoras e que não vale tudo pra torná-las bizarras e perturbadoras. Stephen King sabe bem disso depois de tentar chocar com o final de It e ser fortemente criticado.
Não me vejo lendo mais nenhum livro do Raphel Montes no futuro, a menos que alguém me garanta que a fórmula evoluiu. Porque se eu quiser ver mulheres sendo estupradas, pessoas sofrendo gordofobia, homofobia e capacitismo e homens brancos vencendo eu ligo a TV e assisto ao jornal.
Pra ser justa, não quero finalizar essa resenha sem elogiar essa nova edição, que está realmente impecável. Todos os detalhes foram bem pensados. A ilustração da capa, com uma mala de viagem rosa, e a pintura trilateral também rosa fazem alusão à mala de Clarice e dão um toque especial para a edição, que também conta com alguns conteúdos extras que enriquecem a leitura. Pra quem é fã vale muito a pena.
Quem me conhece sabe, que o estilo de livro do Raphael não é para mim....
ResponderExcluirFico feliz de ele ter um nome consolidado na literatura brasileira.
Quanto ao enredo/estilo super saturado acredito que seja um vício um tanto quanto comum para alguns autores. Já notei isso em alguns autores que leio com certa frequência
Do R. Montes, li O Vilarejo e adorei, leitura muito envolvente, a curiosidade te pega de jeito. Como a primeira experiência foi muito boa, tenho vontade de ler outros livros pra conhecer.
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