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4 de agosto de 2025

Querida Tia: mais um hit da Valérie Perrin?

"2010 é o ano em que minha tia morreu pela segunda vez." declara Agnès, nossa narradora, uma mulher jovem, bem-sucedida, diretora de cinema, mãe, divorciada, que recebe uma estranha ligação a informando sobre o falecimento de sua tia. O problema? A tia de Agnès já havia morrido 3 anos antes. Ou era isso que Agnès achava.

Querida Tia é um romance envolvente que mescla mistério, drama e relações familiares complexas. Foi meu primeiro contato com Valérie Perrin, que já acumula fãs por conta de seus romances anteriores: Água Fresca Para as Flores e Três. Por tudo que eu já tinha ouvido falar, eu já sabia o que esperar: dramas longos e bem detalhados que exploram relações humanas de forma íntima e perspicaz.

E foi realmente isso que eu encontrei: uma narrativa intimista e detalhista que não deixa de lado nenhum personagem. Perrin cria personagens completos: cada um tem personalidade própria, questões pessoais e integridade narrativa.

Nossa narradora, Agnès, lida com o recente divórcio enquanto tenta superar um bloqueio criativo e, pra completar, descobre que a sua tia misteriosa e soturna acaba de morrer... de novo. Agnès sempre achou que Colette era uma mulher de pouca profundidade. Obcecada por futebol, sem marido e sem filhos, a tia Colette era apenas a tia calada que Agnès via todos os anos nas férias.

A pergunta que não quer calar é: Por que Colette fingiu a própria morte? Por que deixou Agnès acreditar que ela estava morta? Por que viveu 3 anos de forma "secreta"? E o que fez nesses 3 anos? Para surpresa de Agnès, quem vai responder essas e outras perguntas é a própria Colette, que gravou mais de 12 mil minutos de fita, guardou numa mala e deixou para Agnès. Quase um diário gravado em voz.

O livro alterna entre o passado de Colette e o presente de Agnès. Ambas as perspectivas foram interessantes. Agnès encontra-se num momento delicado, tentando superar o ex-marido enquanto ouve as fitas da tia e se reencontra com pessoas de seu passado. Porém, não posso negar que conhecer a história da tia Colette foi magnífico. Suas gravações revelam uma mulher complexa e cheia de segredos, marcada por escolhas difíceis, e cuja vida foi entrelaçada por momentos de rebeldia, dor e amor.

A relação de Colette com seu irmão, Jean (o pai de Agnès), é tão doce e cheia de amor que transborda afeto. Colette precisou ser adulta muita cedo, enfrentou pobreza, preconceito e cobranças desproporcionais para a sua idade e fez de tudo para garantir que o irmão pudesse desenvolver seu dom para música.

Mas talvez a personagem mais enigmática desse livro não seja Colette, mas sim Blanche. Não vou entrar em detalhes sobre quem é ela, porque acho que essa é uma das surpresas mais gratificantes desse romance, mas preparem-se para muito mistério, ternura e segredos.

O enredo se desenvolve à medida que Agnès escuta cada fita, revelando segredos de família, episódios dolorosos e verdades encobertas por décadas. A escrita é sensível e a narrativa cria uma sensação constante de descoberta e reconstrução.

Tive algumas oscilações com essa leitura, entre momentos de profundo interesse e momentos de me sentir ligeiramente desconectada da história. Por se tratar de um livro longo, com quase 500 páginas, há alguns capítulos que não me interessaram tanto e eu ficava só desejando que a história voltasse logo para as partes realmente interessantes. Mas, mesmo com essas passagens não tão interessantes (para mim), essa leitura me manteve engajada, principalmente pelo desejo de saber mais sobre a vida de Colette e o que a motivou a fazer o que fez. E o final, realmente, valeu a pena.

Valérie Perrin é, de fato, uma grande contadora de histórias. Sua escrita é profunda e poética e ela mergulha nas histórias, nos personagens e nas relações. As quase 500 páginas de Querida Tia se justificam pelo aprofundamento da história. Cada situação tem início, meio e fim e cada personagem tem personalidade, passado e complexidade. Tudo muito completinho e redondinho.

Por fim, só queria enaltecer a edição da Intrínseca, que está perfeitaaaa. Sabe aquele problema de livros grossos que, para conseguir ler confortavelmente, você acaba tendo que quebrar a lombada? Bom, aqui isso não acontece: o livro abre completamente, é maleável e a diagramação é ótima

Título Original: Tata ✦ Autora: Valérie Perrin
Páginas: 496 ✦ Tradução: Sofia Soter ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

Um comentário :

  1. Querida Tia foi meu segundo contato com a escrita da Valérie
    Já tinha lido, me apaixonado e emocionado com Água Fresca Para Flores.
    Li Querida em uma leitura coletiva
    Pretendia revezar com outra leitura mas não conseguia largar.
    Collete é minha personagem favorita do livro. Agnes me deu cansaço as vezes, apesar de ter entendido seu ponto de vista.
    Teve personagens horríveis, não foi?!
    E o plot?!?

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