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13 de novembro de 2023

O Princípio do Coração, de Helen Hoang: uma história sobre sentir várias coisas ao mesmo tempo


A Helen Hoang com certeza entrou na minha lista de autoras favoritas, principalmente por ela sempre escrever personagens neurodivergentes. Os Números do Amor e o Teste de Casamento são livros que eu gostei muito, então as expectativas pra O Princípio do Coração eram levemente altas. 

Os outros livros da trilogia:
A única coisa que esse meu coração quebrado consegue sentir é amor por você.

Anna Sun tem um vídeo seu tocando violino se tornando viral e, mesmo que em primeiro momento isso pareça algo positivo, pra ela não poderia ser uma mentira maior. Anna se sente pressionada pra ter outro sucesso como o do primeiro e isso a leva a um burnout. Além da pressão na carreira, o seu namorado de anos decide que quer "abrir a relação" antes de se compromissar em um casamento com ela. Anna fica extremamente frustrada, mas alguém pede que ela leve isso como uma oportunidade. Ele quer um relacionamento aberto (e não apenas uma relação onde ele transa com quem quiser e ela não), então, é isso que ele vai ter.

A sua ideia inicial é ter vários parceiros de sexo casual (já que com seu namorado as coisas não são lá interessantes pra ela), mas ao conhecer Quan, as coisas falham no primeiro encontro. Anna percebe nele uma aceitação que ela nunca encontrou em absolutamente ninguém. Mas nada são flores e uma crise familiar coloca Anna entre a cruz e a espada, o que pode atrapalhar o que quer que seja que ela pode ter com Quan.

Uma das coisas que fiz ao começar a ler O Princípio do Coração foi checar se eu tava ficando maluca ou se esse é o primeiro livro que a autora escreve em primeira pessoa. E não, eu não estava louca. As outras duas histórias da trilogia são escritas em terceira pessoa, o que dá ao leitor uma experiência muito mais intimista nessa narrativa em específico. Essa visão em primeira pessoa torna os sentimentos dos personagens muito mais realistas, e olha, Hoang continua sendo mestre em escrever personagens incríveis, completos e intensos.
Ninguém deveria precisar de um diagnóstico para ter mais compaixão consigo.
Anna é uma mulher que foi diagnosticada com autismo tardiamente, então, muito do que a gente vê no livro são experiências muito reais de (principalmente) mulheres que começam a (re)descobrir o mundo com um diagnóstico e sem mascarar e como é difícil pra uma pessoa autista se encarar como a cuidadora de uma outra pessoa em processo de burnout, enquanto vive as emoções que uma paixão traz (coisa que também não é muito fácil pro autista lidar).

A autora coloca muito de si e das suas experiências em seus personagens e é por isso que é TÃO importante que literatura, principalmente de ficção, com personagens autistas seja escrita por autistas. E como é necessário falar dos assuntos que Hoang traz aqui, a mulher no lugar de cuidadora (gente o tema da redação do Enem esse ano!!!!!), a mulher autista se reconhecendo, o autista se apaixonando, sendo bem sucedido e as consequências disso quando o sucesso começa a ser demais.

Eu amei essa leitura. Eu não sou uma pessoa que gosta de literatura erótica por si, eu prefiro livros de romance com cenas eróticas (faz sentido né?) e a Helen escreve tão bem. Uma das cenas desse livro é bem comentada nas redes sociais e resenhas e faz todo sentido. Uma artista.
O único lugar onde a perfeição existe - uma página em branco. Nada que eu faço consegue competir com o tamanho potencial do que eu ainda posso fazer. Mas se eu permitir que o medo da imperfeição me aprisione em intermináveis começos, eu nunca vou criar nada de novo.
P.S.: finalmente, o leitor dessa trilogia conseguiu conhecer o Quan mais profundamente, ele já tinha aparecido nos outros livros, muito bom te conhecer, querido!

Título Original: The Heart Principle ✦ Autora: Helen Hoang
Páginas: 304 ✦ Tradução: Alexandre Boide ✦ Editora: Paralela
Livro recebido em parceria com a editora

4 de fevereiro de 2023

O Que Sobra, de Príncipe Harry: Como quebrar — corajosamente — traumas geracionais

O Que Sobra é a história de Harry, finalmente.

Finalmente porque pra quem o acompanha (tipo eu) sabe que ele sempre criticou duramente a imprensa britânica e deixou claro que odiava ser um membro da realeza por conta deles, afinal, sua mãe morreu por influência de paparazzi. E depois começou a detestar a instituição em si por ser tão conivente com a imprensa.

Havia a mesma sensação de embarcar em uma missão e não saber se eu estava preparado, ao mesmo tempo em que sabia que não havia como voltar atrás. O destino estava na selado.

Em O Que Sobra, Harry esclarece e explica inúmeras histórias falsas sobre si que saíram na imprensa britânica para salvar a pele do herdeiro, ele também justifica (quando necessário) e se responsabiliza da sua parte em diversas "polêmicas" da sua fase "problemática". Harry mostra como ele teoricamente parecia muito bem por fora, mas passou basicamente toda a sua adolescência e juventude com depressão por não saber processar o luto de perder a Diana. Inclusive, não soube processar porque na família real eles fingem que ela nunca existiu. E ele era o reserva, nunca foi cuidado da maneira correta. A falta de amor, afeto, companheirismo, irmandade... Tudo isso afetou e muito o príncipe, principalmente depois da morte da Diana, já que ela era a única que se dedicava a ele. 



Diana falou a famosa frase: "a instituição vai cuidar do herdeiro e eu vou cuidar do reserva." É muito bizarro ler o Harry dizendo que o William simplesmente falou pra ele fingir que eles não se conheciam no internato quando Harry foi pra lá. Com 1 ano da morte da Diana. Tipo, é seu irmão!? E também deixa muito claro que a fanfic que a família real vendeu de que "os meninos da Diana eram super unidos até a Meghan chegar", era só isso mesmo, uma fanfic.

E se eles (Charles e William) não sabiam por que eu saí (dos deveres reais), talvez eles simplesmente não me conhecessem.  De forma alguma.  E talvez eles nunca tenham realmente me conhecido.  E para ser justo, talvez eu também não.  O pensamento me fez sentir frio e terrivelmente sozinho.  Mas também me animou.  Pensei: preciso contar a eles.

Harry relembra seus momentos com Diana — aqueles que ele lembra —, seu tempo no exército, e como viver aquela energia de camaradagem mudou seu ponto de vista, a saída obrigatória do exército porque novamente, a imprensa britânica arruinou sua vida e tantos outros momentos antes de Meghan. E claro, temos uma parte dedicada a esposa inspiradora de todas as outras mulheres da realeza que veio pra iluminar a vida de H. Um presente que parece ter vindo diretamente do céu das mãos de Diana, já que eles se conheceram no que seria o aniversário da princesa. 

O Que Sobra vai além de uma série de memórias, é um relato corajoso de como se quebram maldições geracionais, como você sai de um ambiente tóxico e de um ciclo vicioso de trauma passado de pai pra filho. Harry escolheu romper com isso e o fez direta e sem pestanejar.

Ser um Windsor significava descobrir quais verdades eram atemporais e depois bani-las de sua mente.  Significava absorver os parâmetros básicos da própria identidade, saber por instinto quem você era, o que era para sempre um subproduto de quem você não era.

Já vi falarem por aí que ele se vitimiza na leitura e se tem uma coisa que este homem não fez, foi se vitimizar. Nas vezes que vemos ele como vítima, ele realmente foi uma. Eu não sei vocês, mas se a imprensa dissesse que eu tava indo pra reabilitação por um problema com heroína e na realidade, eu só tava fazendo um compromisso DA REALEZA em uma clínica e minha família não movesse um dedo pra corrigir a história (marcando minha juventude com isso, que já não tava fácil) só pro meu pai que casou com a amante dele sair de bonzão... Não sei o que eu faria...

Ele foi uma vítima da família dele por anos, assim como a Diana e assim como Meghan é. E isso não muda porque você tem uma visão fantasiosa da realeza e manipulada por tablóide (sim, porque o Brasil trabalha no copiar e colar dos britânicos viu).

Papai estava modelando seu próprio pai? Porque ele não conhecia outra maneira de ser pai? Ou era mais subliminar, algum gene recessivo se expressando? Cada geração está condenada a repetir involuntariamente os pecados da anterior? Eu queria saber, e poderia ter perguntado, mas esse não era o tipo de coisa que você poderia questionar com o papai ou o vovô. Então tirei isso da cabeça e tentei me concentrar no bem.

O livro contém gatilhos de depressão, luto, ideação suicida e tem muito relato de guerra dos períodos que o Harry serviu no Afeganistão. A leitura é pesada na questão psicológica (porque a vida dele foi uma série de traumas), mas ele e o seu ghostwritter conseguem trazer isso de uma forma mais sutil, então você consegue ler "rápido". 

Príncipe Harry sempre foi o mais popular depois da rainha Elizabeth, o mais querido, o príncipe do povo, carregando título e legado da sua mãe, Diana, e nessa leitura isso se confirma ainda mais. Que homem. E se passaram 30 e tantos anos contando história falsa sobre ele, fazendo dinheiro com ele com o aval da realeza, eles (imprensa e família real) não deveriam estar reclamando né?! Com 38 anos o Harry pôde contar seu lado. Depois de anos da gente vendo só o lado de lá.

Se a história do Harry mancha uma suposta boa reputação de fulano e ciclana, talvez eles devessem procurar ser pessoas melhores.

Enquanto isso, em meio a tudo isso, Meg conseguiu manter a calma.  Apesar do que certas pessoas diziam sobre ela, nunca a ouvi falar mal de ninguém, ou para ninguém.  Pelo contrário, observei-a redobrar seus esforços para ajudar, para espalhar bondade.  Ela enviou notas de agradecimento manuscritas, checou os funcionários que estavam doentes, enviou cestas de comida, flores ou guloseimas para qualquer um que estivesse lutando, deprimido ou doente (...) Ela sempre dava um jeito de enxergar o melhor nas pessoas.

E não silenciar e descredibilizar o meu querido príncipe Henry. Dizer sua verdade é um ato de coragem, ser sincero sobre si mesmo como Harry foi, principalmente na posição que ele tem, é ajudar outras pessoas a serem fiéis consigo mesmas.

H, você é um orgulho. Um homem de valor, honra e serviço. 

Também é preciso um tipo de amor próprio, disse Nige, e isso se manifesta como confiança.  Confiança, Tenente Wales.  Acredite em si mesmo - isso é tudo.  Eu vi a verdade em suas palavras, mas não conseguia me imaginar colocando essa verdade em prática.  O fato é que eu não acreditava em mim mesmo, não acreditava em quase nada, muito menos em mim.  Sempre que eu cometia um erro, o que era frequente, eu era bastante dura com Harry.

Viva ao major Wales!

Título Original: Spare  ✦ Autor: Príncipe Harry ✦ Páginas: 512 
Tradução: Cássio de Arantes Leite, Débora Landsberg, Denise Bottmann & Renato Marques 
Editora: Objetiva
Livro recebido em parceria com a editora

29 de dezembro de 2022

Os desafios da mulher no esporte em Carrie Soto Está de Volta, de Taylor Jenkins Reid

Carrie Soto Está de Volta traz a história de Carrie, uma tenista que se aposentou no auge da carreira, quando conseguiu o recorde de vinte grand slams. Ela é a GOAT (greatest of all time, ou "melhor de todos os tempos"), como a Serena Williams, por exemplo.

Só que 5 anos depois dessa aposentadoria, uma outra tenista, Nicki Chan, simplesmente bate o recorde de Carrie e ela não sabe lidar muito com isso. Ela sente que perdeu o seu legado no esporte. Com 37 anos, Carrie decide voltar para o tênis, com intuito de ter seu recorde de volta.

Eu vou ser honesta com vocês, nunca li Daisy Jones & The Six e nem Malibu Renasce — a Carrie é mencionada nesse segundo livro como a amante do marido da protagonista, Nina Riva, que por sua vez é filha do Mick Riva, que é citado em Daisy Jones e Evelyn Hugo. É o Taylorverso, mores. Os outros trabalhos de Taylor, sim, esses eu li. E parte de eu ter uma certa trava com a autora é o medo da decepção hahaha. 

Mas Taylor conseguiu o mesmo efeito de Os Sete Maridos de Evelyn Hugo com Carrie Soto em mim. Ela tem uma habilidade de escrever personagens que não são queridas dentro dos livros — muitas vezes por cenários misóginos, já que ela escreve mulheres ambiciosas (que não é uma coisa ruim) e que sabem o que querem — mas que o leitor decide abraçar. Isso é algo muito complicado, a maioria dos autores acaba apenas criando personagens insuportáveis que você gostaria de dar um tapa.

Carrie não é assim.

No meio do esporte, ela tem fãs, mas tem dificuldade de interagir com eles. Ela não sabe perder, ela fala mais que a boca... E aí ela vê uma competidora mais nova e precisa ser a melhor novamente pra conseguir seu recorde de volta, mas tudo na mentalidade dela diz "eu não me sinto mais a melhor". É interessantíssimo acompanhar essa jornada de Carrie em ser treinada pelo pai, como "nos velhos tempos" e até ser encarada com um treinamento vindo de alguém que ela tentou confiar no passado. 

É uma história muito bonita sobre a relação entre uma filha e um pai e também sobre como é difícil ser mulher no esporte. Eu não sou uma pessoa que acompanha esporte, o único que eu sigo religiosamente é a Fórmula 1 e toda santa semana algo misógino acontece (a primeira delas é simplesmente não aceitarem mulheres na categoria). Somos questionadas trabalhando com esporte e até gostando de esportes, então, sim, nós passamos raiva nesse livro porque os recordes e conquistas de Carrie são constantemente diminuídos em relação aos dos homens. E claro, existe toda a questão de "ela é capaz de voltar a ser a melhor?" e os próprios questionamentos de Carrie sobre sua capacidade de superação e resistência que são colocados em cheque

A ficção abraça a realidade aqui porque se você conhece um pouco de Serena Williams, sabe que ela, que é literalmente a melhor tenista do Universo, teve seu comportamento milimetricamente analisado em toda partida. Ela olhava feio pra alguém? Não sabe controlar emoções, ela celebrou sua vitória? "Noooooossa que metida". Mas vamos ignorar O tenista que quase quebrou a cara do juiz em uma competição, isso aí é só viver o esporte intensamente.

Enfim, eu indico a escrita da Taylor Jenkins Reid de olhos fechados, mesmo precisando ler Daisy Jones e Malibu Renasce, rs. Ela escreve mulheres com profundidade, coisa que falta e muito no mundo literário.

Título Original: Carrie Soto is Back ✦ Autora: Taylor Jenkins Reid
Páginas: 352 ✦ Tradução: Alexandre Boide ✦ Editora: Paralela
Livro recebido em parceria com a editora

14 de dezembro de 2022

A matemática, o autismo e o romance em Os Números do Amor, de Helen Hoang

Os Números do Amor conta a história de Stella, uma mulher que trabalha na área das exatas, mais especificamente com economia, especialista em análise de dados. Ela é autista e tem sérias dificuldades de se relacionar com o sexo oposto, mas isso não impede que sua mãe insinue que ela está envelhecendo e precisa se casar. Então, para aprender a interagir e conseguir um namorado e talvez futuro esposo, Stella tem uma ideia um tanto... Curiosa: ela contrata um acompanhante pra ensinar a ela a arte da sedução. 

Sim, é isso mesmo que vocês leram. Ela arranja um acompanhante de luxo pra ensinar como e o que ela deve fazer pra ser uma boa namorada. Michael, o tal acompanhante acha a ideia muito esquisita, ele tem uma série de regras que segue na profissão, incluindo a de não repetir clientela, mas ele tem uma pilha de contas a pagar e aceita a proposta.

Stella tem 30 anos, e todas as suas experiências com sexo foram terríveis, o que faz com que ela não queira tentar de novo, mas aí quando entra a mãe dela no jogo querendo netos e casamento (não nessa ordem) o cérebro matemático não para até encontrar uma solução. E como vocês viram, eu já disse a palavra sexo 3 vezes nessa resenha, então sim, esse livro é para maiores de 18 anos. Apesar de ter muitas cenas quentes, até que é bem equilibrado, tem muita história também.

É sempre interessante ver personagens autistas nesse universo das interações pessoais, principalmente quando elas envolvem sexo. E Stella como personagem tem TANTO a mostrar, é muito legal pro leitor acompanhar sua jornada entre suas hiper sensibilidades, o autismo e o desejo de amar alguém. A história fica mais real principalmente porque a própria autora descobriu seu diagnóstico de autismo tardiamente ao fazer pesquisas para esse livro (e eu posso me identificar kkkkkk). Autista escrevendo personagem autista é sempre uma obra de arte.

Michael é outro personagem cheio de nuances, não é apenas um acompanhante de luxo. Ele é super dedicado, e mesmo com a proposta estranha, ele entende Stella e suas dificuldades. Os dois complementam um ao outro muito bem, a história tem a dose certa de drama e um humor que facilita passar pelas partes onde as dificuldades de Stella nessa situação completamente fora da sua zona de conforto são mostradas ao leitor.

É um romance delicioso de acompanhar e traz muito da cultura asiática. É um bom livro pra se ler durante uma ressaca sabe, ele é rápido, mas completo. Recomendo muito. A única ressalva que tenho para fazer é que hoje o termo "Síndrome de Asperger", utilizado no livro, não é mais reconhecido para diagnosticar pessoas com transtorno do espectro autista, cujos graus são descritos em níveis. O autismo da Stella, portanto, seria considerado Nível 1. Acho que essa questão poderia ter sido corrigida nessa nova edição, porque além de ter sido dispensado pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o médico que deu nome ao transtorno tinha ligações com programas nazistas e cooperou com o regime enviando crianças com deficiência à morte. 

Título Original: The Kiss Quotient ✦ Autora: Helen Hoang
Páginas: 378 ✦ Tradução: Alexandre Boide ✦ Editora: Paralela
Livro recebido em parceria com a editora

21 de outubro de 2022

Como o autismo interfere nos relacionamentos? O Teste do Casamento, de Helen Hoang

O Teste do Casamento vai trazer a história de Khai e Esme. Khai é autista e, depois de uma perda muito significativa na infância, ele acredita racionalmente que é incapaz de sentir qualquer coisa e para se relacionar, é preciso ter sentimentos. Essa é a conexão que ele faz, e assim ele vive por 10 anos, sem ter relacionamentos vão além da sua mãe e irmão.

Acontece que sua mãe se cansa de ver o filho sozinho e decide encontrar alguém pra ele. E assim, acidentalmente, que ela encontra My (Esme) no Vietnã: ela é humilde, trabalha com faxinas pra tentar dar um futuro bom pra sua filha Jade, que teve na juventude. Esme é muito bonita e depois de um acordo estranho, vai para os Estados Unidos com a mãe de Khai para conhecê-lo. Khai que ama sua rotina, de repente, vê sua casa invadida por Esme com sua beleza, cuidado e tantos sentimentos que o sobrecarregam.

O livro é muito curto, ele narrado em terceira pessoa, mas intercala o ponto de vista dos nossos personagens principais. Eu já li Números do Amor e o que os dois têm em comum são personagens dentro de espectro. Como alguém se descobrindo dentro desse espectro, é sempre bom ver personagens assim — principalmente em romances. Eu gostei de O Teste do Casamento, mas eu senti a história muito acelerada. Tem um contexto, mas ainda achei tudo muito rápido.

Eu gostei muito de Khai, ele me garantiu boas risadas e até umas lágrimas. Ele descobrindo as emoções que — obviamente — existem dentro dele é uma jornada extremamente interessante. Esme também se destaca por descobrir um sonho novo ao ir para os Estados Unidos e pensar como pode realizá-lo. Uma imigrante vietnamita querendo uma vida acadêmica? É incrível! Ela é uma personagem muito doce, muitas vezes até inocente demais, mas muito cativante.

Outro ponto interessante é a forma que a autora mostra o relacinamento em que uma das pessoas é autista. Apesar de ser desafiador, principalmente por causa das dificuldades envolvendo interações sociais e rotinas rigorosas, pessoas no expectro conseguem sim manter relacionamentos amorosos caso seja desejo deles. Foi bem legal acompanhar o desenvolvimento de Khai, como ele passou a lidar com Esme e tudo mais.

Os personagens secundários não ficam pra trás. A mãe de Khai e Quan, seu irmão, são pessoas incríveis e uma das cenas mais engraçadas e a outra mais emocionante incluem Quan, então é impossível não gostar dele.

Eu dei 4 estrelas pro livro porque eu realmente senti ele andando muito rápido, mas os personagens compensam essa rapidez por serem todos maravilhosos. Stella e Michael de Os Números do Amor fazem uma aparição nesse volume e Michael participa da cena engraçada que eu citei com o Quan.

O livro tem cenas hot, então ele não é para todas as idades e é bom se atentar a isso. Eu gostei da representação do autismo com Khai porque existiu um desenvolvimento do aspecto emocional que acontece em vários casos. Eu recomendo muito a leitura se você quer um livro leve, que te rende risadas e lágrimas em poucas páginas.

Título Original: The Bride Test ✦ Autora: Helen Hoang
Páginas: 280 ✦ Tradução: Alexandre Boide ✦ Editora: Paralela
Livro recebido em parceria com a editora

6 de agosto de 2022

Linguagem Corporal: Guia prático para analisar e interpretar pessoas | Vitor Santos

Se você nunca ouviu a expressão "você foi metaforado", é porque você provavelmente não faz parte do grupo de pessoas (um grupo grande) que acompanha Vitor Santos do canal Metaforando, onde ele ensina e faz análise de linguagem corporal e expressões faciais.

Eu conheci o Vitor porque gostava de Lie To Me (ou Engane-me se for capaz em português), onde nós temos Cal Lightman, um especialista em expressões faciais que é consultor para a polícia. Lá eu descobri que era muito interessada por esse universo tão intrigante da linguagem corporal.

Então, para estudar, eu comecei com vídeos e foi assim que encontrei o Metaforando. Lá, Vitor me contou que Paul Ekman, o grande nome das expressões faciais, era consultor da série que eu tanto gostava!

Voltando ao livro, Vitor vai apresentar os conceitos básicos e mais importantes, assim como ele faz no canal dele. Linha de base, onde cada expressão altera o rosto das pessoas (a diferença de nojo e desgosto sempre me pega), como é importante analisar contextos e a palavra que eu mais gosto: INCONGRUÊNCIA.

O livro é um ótimo guia para iniciantes, dá para aprofundar um pouquinho o conhecimento, mas eu diria que ele é voltado pra quem tem interesse em começar nesse mundo.

Se você, como eu, já conhece os livros que Vitor indica em seu canal de cabo a rabo, talvez não tenha tanta informação nova pra você, mas ainda assim é um bom livro. Ele é cheio de imagens de referência, o que ajuda bastante a estudar todas as microexpressões e sinais do corpo apresentados. Muito bem baseado e eu não esperava nada diferente do Vitor que também é analista profissional de linguagem corporal e expressões faciais, além de fazer consultorias tal qual Cal Lightman.

Não tem como dizer muito mais do livro já que não é uma ficção de início, meio e fim, mas eu indico pra ter na sua estante de estudos. Considerando o mundo que a gente vive, é sempre bom conhecer o que o corpo delas diz antes ou sequer sem elas dizerem em palavras né?

Título Original: Linguagem Corporal ✦ Autor: Vitor Santos
Páginas: 296 ✦ Editora: Fontanar
Livros recebidos em parceria com a editora

23 de março de 2022

O que está acontecendo com os vizinhos da Sydney em Quando Ninguém Está Olhando, novo livro de Alyssa Cole?


Quando Ninguém Está Olhando é o novo livro de Alyssa Cole, mesma autora de Teoricamente Princesa. Diferentemente das suas outras publicações, que giram em torno do romance entre casais, Cole inovou ao trazer um thriller para seus leitores. De acordo com a Publishers Weekly, seu novo livro é “uma análise excepcional do racismo e da ganância”.


O vídeo foi só para aguçar um pouquinho a curiosidade de vocês. Querem saber mais? Saquem só a sinopse do livro, publicada pela Editora Intrínseca:
Sydney Green nasceu e foi criada no Brooklyn, em Nova York, mas cada vez que ela pisca os olhos seu amado bairro parece mudar. Condomínios se espalham como erva daninha, placas de “vende-se” surgem da noite para o dia e os vizinhos que ela conhece a vida toda estão sumindo.

Para manter de pé tanto o passado quanto o presente da comunidade, Sydney decide canalizar sua frustração planejando um passeio guiado em que pretende contar a verdadeira história do local. Só que, para tornar o projeto realidade, vai precisar aturar seu novo vizinho, Theo, como assistente.

A pesquisa dos dois, entretanto, logo se transforma. O que era apenas uma distração vira uma história de paranoia e medo. No fim das contas, talvez os vizinhos não tenham se mudado para outros bairros e a revitalização do lugar seja mais mortal do que eles imaginaram.

Seriam apenas coincidências ou sinais de uma grande conspiração? Sydney pode confiar em Theo, ou ela também corre o risco de desaparecer? Quando ninguém está olhando nos conduz por um enredo hipnotizante e surpreendente, que aborda com perspicácia a violência racial e as assimetrias sociais, em uma sequência de eventos instigantes que aos poucos dão forma a um cenário de completo horror.

Título Original: When No One is Watching ✦ Autora: Alyssa Cole
Páginas: 400 ✦ Tradução: Thaís Britto ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

27 de dezembro de 2021

Amor, Mentiras e Rock & Roll | David Yoon

Amor, Mentiras e Rock & Roll traz a história de Sunny Dae, um menino que carrega o título de nerd da escola — junto dos amigos — com muito orgulho. Apesar de todo o bullying que sofre por conta do cara popular. O clássico YA, né?

Mesmo gostando de todas as suas coisas de nerd e de ter bons amigos por ser quem ele é, quando Sunny conhece Cirrus, tudo muda. Cirrus é filha dos amigos do pai de Sunny e ela está se mudando com eles. Numa visita a casa de Sunny, Cirrus se confunde e acredita que o quarto do irmão "legal" e rockeiro de Sunny, que não mora lá faz tempo, é o dele. E ao invés de Sunny dizer "opa, quarto errado, querida!", ele decide que é uma ótima ideia mentir e dizer que sim, aquele quarto cheio de posters de banda e instrumentos musicais é dele. E pior, ele ainda diz que tem uma banda, sem saber tocar um acorde na guitarra.

Eu super entendo a vibe "vou mudar tudo o que sou por causa do crush" porque quando eu era adolescente, eu fiz isso também, mas assim… Sunny leva a mentira a um nível maior quando pede pros seus amigos — que também não sabem nada de música — fingirem que eles tem uma banda. Os elementos da história são surreais, mas meu maior problema não foi esse.

Meu problema é que nenhum dos personagens é cativante o suficiente pra carregar o livro e o leitor. Sunny é egoísta e chato, Cirrus se acha legal demais quando na verdade é superficial e completamente vazia. Não vale o trabalho de aprender um instrumento só pra fazer ela gostar dele, sabe? O livro também é muito esteriotipado, tipo, a gente tá quase em 2022, caro autor, vamos evoluir o pensamento?

Ele tentou fazer algo com o plot de bullying, uma redenção meio nada a ver que também não deu certo. Yoon também discute racismo e xenofobia no livro, o que é um ponto bastante interessante, mas eu tava com tanta preguiça da história em si que o bom não superou o chato. 

Talvez eu tenha ido com muita sede ao pote? Provavelmente, mas enfim, se você curte história adolescente — not my cup of tea — você vai curtir esse.

Título Original: Super Fake Love Song ✦ Autor: David Yoon
Páginas: 368 ✦ Tradução: Lígia Azevedo ✦ Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora

6 de dezembro de 2021

Uma Princesa em Tóquio | Emiko Jean

A reviravolta de Uma Princesa em Tóquio é digna de podridão da família real Britânica, viu?!

Izumi é uma garota normal que tem suas amigas e vive com sua mãe e um cachorro numa cidade da Califórnia (se isso não foi uma referência, eu vou fingir que é sim). Izzy nunca se sentiu norte-americana o suficiente por ter descendência japonesa e ser uma das únicas na cidade que é asiática. Mas isso pode estar prestes a mudar quando Noora, sua melhor amiga, utiliza o Google e boas habilidades de pesquisa para descobrir quem é o pai misterioso de Izumi.

A grande surpresa é ele ser o Príncipe Herdeiro do Japão.

De um jeito muito bizarro, Izumi acaba com membros do palácio da família Imperial na porta de sua casa com um convite: Vamos pro Japão? Seu pai quer te conhecer.

As mulheres da realeza são minuciosamente avaliadas. Tudo é colocado sob uma lupa. São criticadas por suas causas, seus vestidos e seus filhos.

Izumi vai porque acredita que é a oportunidade de descobrir quem ela é. 

Na minha própria vida, nunca fui protagonista. Simplesmente não sou uma estrela, não nasci pra isso. Sempre fui só a coadjuvante.

Eu sou traumatizada pela família real Britânica e todo tratamento de lixo que Meghan recebeu daquela gentalha, logo, eu tenho sérias dificuldades de entrar em histórias fictícias sobre a realeza. Mas a escrita de Emiko é muito cativante. 

Uma Princesa em Tóquio ainda romantiza e facilita coisas que não são fáceis, como a adaptação a uma vida de realeza. Fora que em teoria, Izumi é uma filha não reconhecida, então, eu acho difícil que ela recebesse o título de Princesa assim de graça rs. Mas no espírito da ficção, vamos fingir que sim. Ao mesmo tempo, Emiko traz um pouquinho de realidade pra história, já que existe um tablóide japonês que inventa histórias dos membros da família Imperial e Izumi, como a novata, é o alvo.  

Pelo menos não é o alvo por causa de trabalho interno do irmão do cônjuge dela né? *Cof

Comecei a resenha dizendo que a reviravolta é digna da realeza britânica e não pense que é pelo lado positivo viu. Eu nunca falo bem da família real 😂. O livro é narrado em primeira pessoa, pelo ponto de vista de Izumi intercalando com alguns artigos do tablóide japonês. É um livro bem leve, Young Adult, tranquilo, fácil. A autora colocou um pouquinho de questão política sobre ascender ao trono japonês, mas é uma pincelada rápida nisso. 

Eu não posso dizer que Izumi ou Akio (o guarda imperial de Izumi) me chamaram super atenção. Como se fossem personagens super encantadores e cativantes, mas o todo da história é ótimo pra passar o tempo. Sem grandes lições, entretenimento gostosinho. Filme de sessão da tarde, sabe? No geral, eu curti a história, mas talvez tenha faltado algo mais uau pra deixar uma grande marca em mim. Não significa que é ruim, apenas que não foi favoritado 😂.

Uma Princesa em Tóquio é um bom livro, ótimo pra curar ressacas.

Título Original: Tokyo Ever After ✦ Autora: Emiko Jean
Páginas: 312 ✦ Tradução: Raquel Nakasone ✦ Editora: Seguinte
Livros recebidos em parceria com a editora

5 de novembro de 2021

Garota 11 | Amy Suiter Clarke

21.

7.

3.

São números importantes para o Assassino da Contagem Regressiva (acho esse nome horrível).

E Elle quer saber o motivo. Ela é uma "investigadora independente", dona de um podcast de true crime famoso. Eu a imaginei como uma das mulheres que vejo produzindo conteúdo sobre casos reais não resolvidos esquecidos por muita gente, mas são elas que dão uma luz. Muitas vezes, procuradas até pelas famílias das vítimas. O nome do podcast de Elle é Justiça Tardia e a nova temporada está focada nesse assassino que há 20 anos não comete crime nenhum porque todos acreditam que ele esteja morto. O ACR sequestrava meninas-mulheres e dentro de um ritual de 7 dias e 3 meninas, ele matava.

20 anos atrás, uma das vítimas do ACR fugiu antes de ser morta e ele supostamente teria dado fim à própria vida em um incêndio. Mas Elle não acredita nisso e, no presente, novos desaparecimento fazem ela pensar que ele está de volta com a contagem. 

O livro tem uma narrativa em terceira pessoa muito fluida, li em 2 dias. Também é dividido em partes. Numa dessas partes, que pra mim foi a melhor, temos um pouco do passado do próprio assassino explicando o que os números significam pra ele e foi um elemento bem interessante de história. Explicar o modus operandi de assassinos acontece em histórias não fictícias sempre que a investigação consegue esse tipo de informação. Também conhecemos sobre a vida de Elle além do podcast, porque ela se empenha tanto em relatar esses casos esquecidos, a ponto de esquecer das próprias necessidades.

Garota 11 tem algumas reviravoltas, uma eu já esperava porque é bem óbvia, a outra foi bem surpreendente, pelo menos pra mim. As últimas páginas da história trazem uma reflexão que qualquer pessoa aficionada por crimes reais já fez a si mesmo ou já foi questionado sobre "mas isso não glorifica o assassino? E as vítimas? Por que o interesse?"

Honestamente, não dei 5 estrelas porque eu senti raiva da maioria dos personagens. Principalmente depois da grande revelação do livro. Gostei do início ao fim da Elle, do Martin e da Natalie… Mas o resto. Nossa. É uma leitura intrigante, bem construída e que vale a pena. 

Título Original: Girl, 11  ✦ Autora: Amy Suiter Clarke
Páginas: 304 ✦ Tradução: Helen Pandolfi ✦ Editora: Suma
Livro recebido em parceria com a editora

29 de outubro de 2021

As Nove Vidas de Rose Napolitano | Donna Freitas

As Nove Vidas de Rose Napolitano conta a história de Rose (obviamente). Ela é uma Doutora em Sociologia e trabalha como professora. É casada com Luke, um fotógrafo e atualmente eles estão em uma crise no casamento.

Uma coisa que sempre foi acordada entre eles é que Rose não queria ter filhos, nunca quis. Luke também não queria ter filhos. Até que ele muda de ideia, seja por sua própria cabeça ou influência dos pais. Eles começam a pressionar Rose e ela tem várias possibilidades na sua frente.

Sempre que digo às pessoas que não quero filhos, que Luke e eu não planejamos ter, olham para mim de um jeito estranho. Depois dizem algo condescendente, como que só vou descobrir meu verdadeiro propósito na vida depois de virar mãe.

E são dessas possibilidades que temos o livro. Temos 9 cenários, nos quais ela diz sim, talvez, quem sabe, não, de jeito nenhum, nunca… E pra cada um deles temos consequências dessas escolhas.

Pra alguém que não quer ter filhos, assim como a protagonista, o livro foi profundo e reflexivo. São tantos cenários, tantas ramificações de uma escolha que, de qualquer maneira, pode mudar uma vida. Eu achei a história extremamente bem escrita, Donna Freitas passeia entre as Roses, entre os anos, entre os cenários de uma forma tão fluida que eu li o livro em HORAS. No mesmo dia que chegou, eu comecei e terminei.

Eu tirei conclusões sobre a leitura que são muito pessoais, então, não dou conta de explicá-las e nem quero. Mas o livro fala sobre maternidade. Fala sobre mães que não queriam ser mães, sobre mães que queriam ser mães e não puderam ser e sobre mães que sempre quiseram ser mães e foram e claro, sobre mulheres que simplesmente não querem e precisam enfrentar vários julgamentos de uma sociedade que entende a mulher como uma "mãe à espera", sem perguntar se ela quer mesmo esse papel. 

É uma história muito intrigante, que te coloca num estado de reflexão sobre possibilidades, sobre estar bem com o que você deseja até você não estar, não porque mudou de ideia, mas porque todos acreditam que você vai mudar. O que eu levo da leitura são alguns questionamentos muito interessantes… O da escolha. O da possibilidade.

O livro é narrado em primeira pessoa e nós caminhamos com Rose e todas as suas "vidas". Uma dica pra você que for ler é de escrever em algum lugar qual é o cenário de cada "vida" porque às vezes fica meio confuso acompanhar em qual a gente tá se você não se guiar por alguma referência. Não atrapalha a leitura, anotar foi só um método que me ajudou a entender melhor as vidas de Rose.

Finalizo a resenha falando sobre Rose. Uma personagem incrível de acompanhar, muito real, você ama e você pode detestar em alguma das vidas. Mas o Luke eu só não gostei mesmo 😂. A mãe de Rose é uma personagem secundária tão incrível quanto a filha e apresenta o outro lado do principal ponto da leitura. Lembrando que existe sim um alerta de conteúdo para e sobre a maternidade.

Título Original: The Nine Lives of Rose Napolitano ✦ Autora: Donna Freitas
Páginas: 344 ✦ Tradução: Lígia Azevedo ✦ Editora: Paralela
Livro recebido em parceria com a editora

30 de agosto de 2021

A Porta | Magda Szabó


A Porta, de Magda Szabó, é uma autobiografia com partes de ficção. O livro tem um tom de mistério, mas é a história de uma relação de dependência entre duas mulheres na Budapeste dos anos 50: Magda e sua governanta, Emerenc. Logo na primeira página Magda, a narradora, nos revela um segredo sombrio que serve como isca para fisgar a nós, leitores. Afinal, já sabemos desde o início o que acontece no final da trama, mas quais os caminhos levaram a ele?

Magda é uma escritora privilegiada que está virando alguém importante no seu país, enquanto Emerenc faz parte da classe mais baixa da sociedade, não possui educação, mas é extremamente esforçada no seu trabalho, mesmo com a idade avançada. Logo de cara, o leitor começa a questionar como existe uma amizade entre essas duas. Será que existe algum saldo devedor de uma com a outra? São muitos segredos e rumores sobre Emerenc circulando na comunidade delas. 

Vou ser sincera e dizer que não foi uma leitura que me pegou desde a primeira página. É uma narrativa meio rebuscada e lenta, exatamente como a gente se sente lendo uma biografia ou até mesmo um livro escrito em outra época — que é o caso de A Porta —, mas as partes fictícias vão te mantendo ali na leitura junto de Magda e Emerenc. A parte considerada "mistério" do livro é interessante, mas falhou em me cativar por causa das protagonistas.

Emerence possui uma arrogância por ser uma pessoa que faz trabalhos manuais, pesados, ignorando quem trabalha intelectualmente. Faz sentido com o contexto dela? Sim, mas tipo… Não sei explicar exatamente o que me incomodou. Nesse sentido, Magda me chamou atenção por ser quase que uma escapista na relação, tentando agradar e compreender o poço de mistério e segredos que Emerenc é, o que reverte os papéis pré-estabelecidos pela sociedade quando se fala de classes, profissões, relacionamentos. É uma crítica social bem interessante, principalmente Szabó vivenciou o comunismo na Hungria. 

A Porta possui uma ambientação obscura, muitas perguntas na cabeça do leitor que tenta entender como funciona a dinâmica entre Magda e Emerenc. Em alguns momentos a narrativa parece repetitiva, mas a história te prende, tanto quanto Magda, você precisa entender Emerenc, você quer descobrir os segredos dela. Um livro que fala sobre aceitação (mesmo que nem sempre em via dupla), amizade, dignidade do outro e envelhecer. A Porta é uma metáfora, quais são as barreiras que levantamos, as portas entre nós e o outro que nunca abrimos, por que fazemos isso e em que medida isso é positivo ou negativo?

A quem interessar, a obra já foi adaptada para o cinema em 2012: Atrás da Porta traz no elenco Helen Mirren como Emerenc e Martina Gedeck como Magda, mas não foi muito bem avaliado pela crítica e pela audiência. 

Título Original: Az Ajtó ✦ Autora: Magda Szabó
Páginas: 256 ✦ Tradução: Edith Elek ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

23 de julho de 2021

O Talentoso Ripley | Patricia Highsmith


Tom Ripley é um trambiqueiro. Não tem outra palavra pra descrever. Ele sobrevive de golpe em golpe. Forja documentos e até personalidades, um imitador A+ (se você retirar o aspecto moral e ético da equação rsrs). Num dia em um bar qualquer, um milionário aparece atrás de Ripley, chamado Greenleaf, ele acredita que Tom é melhor amigo do seu filho Dickie (não é). Tom, obviamente entra na jogada e Greenleaf oferece uma viagem toda bancada até a Europa para convencer que Dickie volte pra casa.

Quando Ripley chega na Itália encontra Dickie e Marge e os três criam um vínculo sincero de amizade (sem ironias), mas Ripley se torna completamente obcecado por Dickie, quase literalmente virando ele, lembra que eu falei que Tom é um ótimo imitador? Mas Dickie começa a rejeitar Ripley e isso gera conflitos que... Podem custar vidas.

Costumam dizer por aí que Tom Ripley é um sociopata/psicopata, ou seja, teria o transtorno antissocial. Mas ele tem emoções, ele as sente e até oscila bastante de humor durante a leitura. E ele não se encaixa nas características. Algum transtorno o personagem, com certeza, tem, mas não o que todo mundo acha que todo mundo tem. Um apelo: parem de dizer que todo mundo é psicopata.

Ele é um personagem extremamente complexo, e considerando a primeira vez que o livro foi publicado, a autora foi bem ousada. Ela debate alguns assuntos que na década de 50 eram absurdos. E até hoje né. Ripley tem baixa autoestima e pouco dinheiro, mas ele tem gostos caros. Quando conhece Dickie, ele tem a oportunidade de ser alguém que ele não é. Rico, confiante, feliz, livre.

A narrativa às vezes fica bem lenta, não tem como mentir, mas como eu falei, a história é antiga, a escrita às vezes é antiga também, mas eu acredito que a tradução fez um ótimo trabalho em adaptar a linguagem que poderia ser antiquada se levada ao pé da letra da primeira edição.

Tom rouba não só identidade, vidas e dinheiro, mas a atenção do leitor que precisa entender quem é esse cara. Principalmente quando ele é uma contradição ambulante. É um livro introdutório de uma série de Patrícia Highsmith, que criou Ripley, um personagem que inspirou tantos outros "sociopatas" charmosos e sangrentos.

O Talentoso Ripley vale a pena, não desista do ritmo lento no início da leitura!

Título Original: The Talented Mr. Ripley ✦ Autora: Patricia Highsmith
Páginas: 336 ✦ Tradução: José Francisco Botelho ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

9 de julho de 2021

Sete Mentiras | Elizabeth Kay

Sete Mentiras é um thriller psicológico que trará ao leitor a história de duas melhores amigas, desde que elas tinham 12 anos de idade. Elas sempre foram inseparáveis, mas apesar do que diz a sinopse do livro, não têm absolutamente nada em comum. Jane é extremamente reservada, dependente, paranoica; Marnie é livre, confiante, independente… Elas crescem e a amizade começa a mudar, elas se apaixonam, se casam. E Jane não gosta de Charles, o marido de Marnie… E com bons motivos, diga-se de passagem.

E aí, Charles morre. E uma série de mentiras começa a aparecer nessa amizade.

A leitura é instigante, a narrativa em primeira pessoa pelo ponto de vista de Jane não é confiável, mas  só deixa o leitor preso. Engraçado que apesar de acontecer pouco na história, a sensação é que de fato existem muitas reviravoltas nas páginas de Sete Mentiras, e acredito que isso seja dado pelo estilo de narrativa. Os capítulos são divididos pelas mentiras que Jane conta. É muito interessante acompanhar um pensamento aparentemente linear que ela possui.

Não diria que ele é um livro surpreendente em quesito de plot twists ou coisas do tipo, chega a ser extremamente óbvio o que vai acontecer, mas o leitor continua lendo só pra confirmar se vai ser isso mesmo. Pra mim, essa foi a parte mais impressionante da escrita de Elizabeth Kay.

Sete Mentiras traz um enredo sobre amizades, relacionamentos tóxicos, crises familiares e tragédia. E claro, sobre como uma mentira cria várias outras. Possessividade e rejeição também são assuntos muito abordados aqui.

As personagens principais são muito bem desenvolvidas, mas não tanto quanto eu queria. Quer dizer, eu ainda queria saber um pouco mais sobre elas... E se vocês lerem, vão entender o motivo disso. É tudo uma névoa… Em contrapartida, os personagens secundários não são muito explorados, adoraria saber mais sobre Emma, por exemplo, mas não temos tempo, ela é só mais alguém.

No final, achei Sete Mentiras bom. Nem incrível, nem péssimo. O livro pode parecer arrastado se você não se prender na narrativa duvidosa de Jane. E talvez o final não te surpreenda, ou talvez ele te surpreenda pelo mesmo motivo que me surpreendeu. A minha sensação foi: isso é verdade? Fica aí o questionamento.

Título Original: Seven Lies ✦ Autora: Elizabeth Kay ✦ Páginas: 383
Tradução: Regiane Winarski ✦ Editora: Suma
Livro recebido em parceria com a editora

14 de junho de 2021

Cercado de Psicopatas | Thomas Erikson

Cercado de Psicopatas é um livro que promete ensinar quem o lê a reconhecer e evitar pessoas que se aproveitam das outras, seja no trabalho ou na vida pessoa. Contudo, na minha opinião, traz mais uma divisão de personalidades que se baseia só em comportamentos superficiais ao invés de se importar com as motivações que geram esses comportamentos.

Thomas Erikson se utiliza do método DISA, que divide as pessoas por cores: Vermelho — Comportamento Dominante, Amarelo — Comportamento Influente, Verde — Comportamento Estável; Azul — Comportamento Analítico. O autor deixa claro que as pessoas têm pelo menos duas cores na sua "composição". No livro, ele junta o método DISA para ser mais fácil identificar "psicopatas" e mais uma vez, são comportamentos estereotipados para reconhecer quem são os tais psicopatas.

Cercado de Psicopatas traz uma série de apontamentos para saber como lidar com as manipulações dos ditos psicopatas do dia a dia, baseado na sua cor do DISA. O autor também explica como cada cor funciona, principalmente (quase exclusivamente) no ambiente de trabalho. Assim, ele explica como um manipulador pode se aproveitar das cores, ou seja, personalidades, e coisas do tipo. Resumindo, ele foca bastante na característica "manipulação".

Para a minha pessoa, uma graduanda de Psicologia que conhece o Eneagrama (uma ferramenta de autoconhecimento que se preocupa com motivação e não comportamentos soltos), o livro não foi bom. Erikson se demora muito em justificativas (porque sabe que o método é fraco) e a parte que realmente é vendida pelo autor só começa na metade da leitura.

Talvez para alguém que não sabe absolutamente nada sobre como os comportamentos realmente funcionam, pra alguém que quer um conteúdo superficial, é um livro ok. Mas não se baseie só no que esse livro diz para absolutamente nada na sua vida. Fui pega pela curiosidade pra ver que tipo de conteúdo tem sido consumido sobre tipos de personalidade ao decidir ler esse livro, e foi até menos do que eu esperava.

Título Original: Surrounded by Psychopaths ✦ Autor: Thomas Erikson ✦ Páginas: 288
Tradução: Alexandre Raposo ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

13 de maio de 2020

Todo Dia a Mesma Noite | Daniela Arbex


Todo dia a Mesma Noite é um livro difícil de ser lido.

Eu tenho lembranças de alguns casos brasileiros na minha memória, sendo eles o Caso Isabella Oliveira (Nardoni); Eloá (até hoje eu sinto um frio na espinha porque o prédio de onde ela saiu morta eram iguais ao do vizinho ao que eu morava na época) e o da Boate Kiss. É muito assustador você acordar e ligar a TV e ver todos os canais falando de uma coisa, porque isso sempre indica tragédia. E a verdade é que ninguém tinha a menor noção do nível de tragédia da Kiss.

Os aparelhos tocavam juntos e cada telefone tinha um som diferente. Muitos tocavam conhecidas músicas sertanejas, outros, forró e até o repertório tradicional gaúcho. Na maioria dos casos, porém, o visor indicava a mesma legenda: "mãe", "mamãe", "vó","casa", "pai", "mana" (...) quando finalmente amanheceu em Santa Maria, um dos celulares contabilizava quase 150 ligações não atendidas. (...) O protocolo de urgências e emergências impede de qualquer pessoa no local de um acidente atenda ao celular dos envolvidos.

O incêndio na boate é considerado o segundo maior na história do Brasil, com 242 vítimas fatais e 680 feridos na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 em Santa Maria no Rio Grande do Sul. A maioria das vítimas não morreu queimada, mas sim intoxicada/asfixiada, já que a fumaça que se espalhou na boate era extremamente tóxica. E o pior é que demoraram pra descobrir isso, afetando também a vida dos sobreviventes que ficaram com problemas respiratórios.

O livro de Arbex traz relatos desde as famílias que perderam seus filhos até da bombeira Liliane Dutra que estava no Centro Esportivo de Santa Maria coordenando a identificação dos corpos sob condições que deixavam o ar com mal cheiro e o espaço muito abafado. Jovens que planejavam celebrar aniversários, conclusões de cursos — já que Santa Maria é uma cidade universitária — ou simplesmente dançar em um sábado a noite.

Na prática, os frequentadores da Kiss foram envenenados pelo mesmo gás letal usado nas câmaras de gás construídas nos campos de concentração nazistas, entre eles Auschwitz, na Polônia, durante a segunda guerra mundial. A associação do cianeto com o monóxido de carbono potencializou o efeito do envenenamento, que resultou em alteração no estado mental dos frequentadores da boate, perda de consciência, colapso cardiovascular seguido por chique, edema pulmonar e morte.

Foi quase impossível não soltar uma lágrima ou duas entre os capítulos. A autora fez um trabalho excelente ao mostrar as emoções e a humanidade de quem sofreu com a irresponsabilidade do homem.

Também temos partes enfurecedoras quando Arbex entra na questão dos processos criminais que hoje, 2020, ainda não aconteceram. Na época do incêndio, em 2013, a culpa era jogada pra todos os lados, sobrando processo de difamação e calúnia até para os pais — sim, que perderam seus filhos na tragédia — vindas do Ministério Público que se sentiu ofendido por ouvirem que eles não estavam fazendo um trabalho justo e digno. O dono da boate e seus sócios até hoje tentam empurrar a culpa pra cima dos bombeiros e pro MP. O MP joga pros pais e os bombeiros sofrem por terem sido acusados de coisas inimagináveis.

Quando a casa noturna incendiou, mas de três depois da abertura do inquérito (pra investigar poluição sonora), ele ainda estava em andamento. Com o incêndio, acabou sendo arquivado em função da perda do objeto da ação. O fato é que só em 2009, a Kiss foi multava cinco vezes por descumprimento de exigências legais. Apesar disso, continuou aberta.

Um bola de neve cheia de faltas governamentais, funcionamento da boate sem regulamentações obrigatórias — que escaparam nos processos burocráticos? — e a cobiça de empresários que estavam funcionando naquela noite muito, mas muito acima mesmo da capacidade do prédio físico. Tudo isso transformou o incêndio na Kiss em uma tragédia nacional e internacional que traz feridas abertas até hoje que não se cicatrizam.

Sinceramente, eu não sei como escrever essa resenha. Da parte literária, eu aplaudo de pé o trabalho de Arbex feito com respeito e apuração dos fatos. É um livro pesado pelo tema, mas de leitura fácil. E quem tem o protagonismo aqui é quem merece.

Meu coração ficou pesado com a realidade da injustiça. O responsável por acender o fogo de artifício que deu início ao incêndio iria ao tribunal do júri em março, mas com a pandemia do Coronavírus foi movido para o segundo semestre.

Na prática, a Kiss ficou aberta durante 42 meses e 27 dias. Nesse período, por 31 meses, funcionou sem o alvará sanitário, incluindo o dia da tragédia. Por vinte meses, funcionou sem a licença de operação ambiental. Por dezessete meses, funcionou sem o alvará de prevenção e proteção contra incêndio. Por sete meses funcionou sem o alvará de localização.

Os outros réus no processo, que incluem o dono da boate e sócios, irão também a julgamento, mas sem data prevista. Todos são indiciados por dolo eventual (quando o réu imputado não queria cometer crime/gerar o resultado criminoso, mas assumiu o risco de), homicídio doloso das 242 vítimas fatais. Acho que só quem ler vai conseguir entender a dificuldade de me expressar na resenha.

Título Original: Todo Dia a Mesma Noite ✦ Autora: Daniela Arbex
Páginas: 248 ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
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26 de março de 2020

Uma Surpresa na Primavera | Carrie Elks


Uma Surpresa na Primavera é oficialmente o terceiro livro da série das Irmãs Shakespeare. Por algum motivo que eu não consegui compreender, a sinopse da edição brasileira diz que ele é o último, o não é verdade, já ainda tem mais uma irmã, cuja história será contada em Uma Luz no Outono!

Esse volume traz a história de Lucy, a irmã mais velha das Shakespeare. Ela vive em Edimburgo, é uma advogada workaholic que acredita que tem o dever de cuidar de tudo e todos. Isso vem do fato de ter perdido a mãe cedo e pairar um sentimento de culpa sob ela. Ela acaba cuidando de todas as irmãs, ou seja, sua vida pessoal não existe.

Porém há uma reviravolta em sua vida causada pelo caso de Lachlan MacLeish. Ele precisa defender sua herança de terras escocesas de um pai distante pra evitar continuar sendo tratado como filho ilegítimo, mesmo sendo tão bem sucedido quando o meio irmão Duncan. Em Glencarraig suas memórias da infância são felizes e ele não vai desistir do lugar tão fácil. Só que obviamente a atração que Lucy e Lachlan sentem um pelo outro vão aumentar — e muito — por conta do clima frio da Escócia né.

A minha lista de preferência dos três livros da série que li é:
1. Uma Surpresa na Primavera
3. Um Verão na Itália
O quarto e último volume, Uma Luz no Outono, acabou de ser lançado no Brasil pela editora Verus.

Gostei muito de Kitty e Adam, mas Lucy e Lachlan conseguiram tomar o lugar de casal preferido. Acho que o pano de fundo dos personagens me conquistou mais. Ambos tiveram infâncias complicadas, mas isso não os impediu de serem bem sucedidos e pessoas boas. Lachlan é podre de rico, mas, mesmo assim, não se mostrou arrogante em momento nenhum da história, o que me surpreendeu, porque a maioria dos personagens homens ricos são uns playboyzinhos metidos a besta que tem sua redenção com a garotinha pelos quais se apaixonam. Aqui a gente tem um personagem homem, que apesar de rico, sempre foi legal e cuidadoso.

Lucy, por sua vez, passou por um trauma bem grande com a mãe, mas mesmo assim a autora não usou isso para ela sair "de boa" da situação. E ela é tão dona de si… Eu amei porque também foge desse tipo que tem em 400 histórias por aí que encontraram um cara rico arrogante e são reabilitação para eles.

Mais uma vez eu repito que os livros das Irmãs Shakespeare são dignos de filme da Sessão da Tarde. O romance é automático apesar de alguns impedimentos, que só são pensados depois de os personagens já se envolverem; isso pode frustrar pessoas que não gostam desse tipo de relacionamento. Mas eu sou arriada por histórias assim, porque de vida amorosa difícil e enrolada já basta a minha sabe?! Hahahahaha.

A narrativa da história é feita na terceira pessoa, mas mostra claramente em qual dos dois protagonistas vai focar em cada momento. Aqui vemos os laços entre as irmãs ficarem mais firmes, principalmente por conta de um segredo que Lucy guarda. A leitura é muito fluida e a escrita de Carrie Elks continua sendo bem gostosa de acompanhar.

Eu gostei muito do jeito que a história é finalizada, porque a verdade é que quase nada fica decidido, a gente tem uma certeza, mas o resto fica "a combinar". Ah, é importante ler os livros na ordem: Verão na Itália, Um Amor de Inverno e Uma Surpresa na Primavera, porque se não você pega pequenos spoilers do que rola na vida da outra irmã. Se você não se importar com isso, leia do jeito que quiser. Inclusive estou bastante ansiosa pro livro da Juliet!

Título Original: Absent in the Spring ✦ Autora: Carrie Elks 
 Páginas: 308Tradução: Andréia Barboza Editora: Verus
Livro recebido em parceria com a editora 

3 de janeiro de 2020

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo | Taylor Jenkins Reid


Este é com certeza o melhor livro que li em 2019. Os Sete Maridos de Evelyn Hugo traz a história de — obviamente — Evelyn Hugo, mas não só ela, também temos Monique Grant. Evelyn é uma ousada atriz de Hollywood, que fez sucesso nas décadas de 50 até mais ou menos 80. Ela, como qualquer celebridade, foi retratada na mídia como polêmica e claro, pelos seus vários casamentos. Mas acreditem em mim, ela é MUITO mais do que isso.

Eu estou bem com o fato de que às vezes fazer a coisa certa deixa as coisas ruins. E também, eu tenho compaixão comigo mesma. Eu acredito em mim.

Monique Grant é uma jornalista que atualmente trabalha na revista Vivant em uma posição que pouco a agrada e que está infeliz tanto por isso, quanto pelo divórcio eminente que surge em sua vida. Enquanto isso, Evelyn está afastada dos holofotes vivendo uma vida tranquila, mas recentemente marcada pela morte de sua filha por conta de um câncer. Ela é envolvida com caridade, e decide fazer um leilão de seus vestidos mais luxuosos. O que surpreende aqui é que ela decide que chegou a hora de dar uma entrevista, e a revista escolhida? Vivant. Mas ela só aceita se quem escrever for Monique. Então, Monique percebe que aquela é a sua oportunidade, mas ela não tem a menor noção de como esses dias com Evelyn Hugo vão mudar sua vida.

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo
é extremamente bem escrito. Achei que fosse um romance ou algo do tipo, mas logo nos primeiros capítulos percebi que na-na-ni-na-não, era algo bem maior e bem mais profundo. O leitor vai descobrir Evelyn Hugo junto com Monique. Na verdade, nossa jornalista não vai simplesmente escrever uma matéria sobre a artista, Evelyn quer que ela seja responsável por sua biografia. O que mais me fisgou nessa leitura é que fisicamente Evelyn me lembrou muito ícones como Marylin Monroe e Elizabeth Taylor, até nas questões envolvendo sexualidade e polêmicas. Eu AMO quando um personagem fictício me acende para pessoas reais.

Eu nunca pensei que eu era uma força a ser reconhecida. Talvez eu deva começar a pensar em mim mesma desse jeito, talvez eu mereça…

A escrita de Taylor é absolutamente de tirar o fôlego. E a história que ela criou para Evelyn Hugo é tanto de deixar o coração quente quanto para parti-lo em 4000 mil pedacinhos. O livro é dividido em partes, cada uma indicando um dos maridos de Evelyn, mas não espere grandes romances ou amores intensos com eles. Não mesmo. E apesar de basicamente todo o livro ser sobre Evelyn, Monique não fica sobrando, todos os personagens citados tem uma parte importante dentro dessas histórias e isso é de tirar o chapéu.

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo vai trazer a Hollywood antiga e até a nova, no modo de representar artistas, os segredos que eles guardam em nome da carreira, os altos e baixos de uma celebridade e toda a parte obscura de um. Eu gostei muito disso. Eu como admiradora de muitos artistas, consigo ter uma mínima ideia de como essa indústria é e não deve nem chegar perto da realidade. O livro também trata de um assunto extremamente importante no quesito representatividade, mas isso aí eu deixo pra você ter a experiência de ler.

Ninguém é só uma vítima ou o vencedor. Todo mundo está em algum lugar no meio. As pessoas que falam por ai que são um ou outro não estão apenas mentindo pra eles mesmos, mas são ridiculamente sem originalidade.

O livro é forte, profundo, cru e sincero. Claro, vão existir exageros em prol da ficção, mas não ache que pelo menos 70% dessas situações poderiam realmente ocorrer com uma celebridade. A história tem alguns gatilhos envolvendo abandono, sexualização, machismo, aborto e suicídio. Fiquei impressionada com as caracterizações dos personagens, nenhum deles é raso ou está ali só por uma questão de encher linguiça. Finalizei a leitura chorando e eu nem sei explicar porque, raiva, compaixão, ressentimento? Uma leitura rica e que me deixou de queixo caído com as reviravoltas existentes. Estou aplaudindo Taylor Jenkins.

Título Original: The Seven Husbands of Evelyn Hugo
 Autor: Taylor Jenkins Reid ✦ Páginas: 360
 Tradução: Alexandre Boide ✦ Editora: Paralela
Livro recebido em parceria com a editora

27 de dezembro de 2019

Nocturna | Maya Motayne



Nocturna é o primeiro livro de uma trilogia com raízes latinas. Logo de cara conhecemos Príncipe Alfie, que passou três meses em processo de luto pelo irmão Dezmin. Dez era o herdeiro do trono e era perfeito pra isso, mas acabou morto deixando tudo para Alfie e ele não aceita nem a morte e nem ser o dono do trono de seu irmão mais velho.

Como toda boa fantasia, Nocturna é cercado de magia, todos de Castellan possuem afinidade com algum dos elementos, o de Alfie é a água. Além dessa proximidade com algum dos elementos, também podem ter seu próprio poder, e Alfie tem. Essa é uma magia mais profunda que deve ser trabalhada. Alfie tem algo que é muito poderoso, já que ele vê o poder dos outros como cores e, com isso, ele pode manipular e até transformar o seu poder no da outra pessoa por meio das cores. Essa parte foi um dos pontos positivos da história, essa mitologia que a autora utiliza das cores é muito interessante!

Enquanto estava no período de luto, Alfie não ficou se afundando em tristeza. Na verdade, ele recebe uma informação que o dá esperança e decide investigá-la. Ele decide que quer salvar o irmão, já que não acredita em sua morte. Isso é uma parte intrigante da história, que abre inúmeras teorias pro leitor dependendo de como ele interpreta os fatos que são apresentados, você decide no que acredita, haha.

Também conhecemos Finn, uma personagem cativante que perdeu os pais cedo e foi "salva" — essa não é bem a palavra, acredite — por um homem chamado Ignacio. Ele tem o poder de controlar outra pessoa e é isso que faz com Finn (se você já assistiu Jessica Jones é tipo um Killgrave). Ele acredita que por ela ser sua "filha" não importa como ele a controle, ela sempre vai o amar. Mas Finn foge dele, então pense a confusão.

Os caminhos de Alfie e Finn vão se cruzar, obviamente, na base do desespero. Existe um poder capaz de trazer a noite pra terra, e eles tem que lutar contra isso. E esse poder é de um deus. É o poder Nocturna, e aparentemente a culpa de ele ter sido liberto é de Alfie!

Nocturna foi um livro de leitura mais lenta, mas não ruim. Acho que a lentidão se deu por eu não ser muito acostumada a ler fantasias, mas a leitura me cativou de uma forma surpreendente. A construção da mitologia e universo é muito bem feita, mas acredito que a autora deixou a desejar quando constrói os personagens.

Assim como em The Vampire Diaries (desculpa a referência, é que eu tô assistindo no momento, haha), a história de amor aqui no livro não é amor romântico. O foco da autora é o amor fraternal entre Dez e Alfie — sabe Damon e Stefan? Pois é, hahaha, mas os personagens em si não tem nada em comum, ok?

A cultura latina está presente em nomes, uso do casteliano e espanhol e até críticas sociais sobre dificuldade de sobrevivência e coisa do tipo. Nocturna é uma ótima leitura, apesar de eu ter sentido falta de um desenvolvimento melhor dos personagens, mas eu não vou criticar muito isso, já que é o primeiro livro de uma trilogia, ou seja, dá pra trabalhar. Assim como a finalização do livro que te dá um choque porque parece que realmente acabou ali, mas é só pegadinha e ainda deixa alguns pontos em abertos para a continuidade da história.

Título Original: A Forgery of Magic Autora: Maya Motayne
Tradução: Flávia Souto Maior ✦ Páginas: 480 ✦ Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora
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