Thrillers são ótimos livros para sair de ressacas literárias. Vocês concordam? Eu não sou uma leitora assídua desse gênero, mas gosto de pegá-los em momentos estratégicos: quando sinto que não estou conseguindo me envolver com nenhum livro que tento ler e preciso de algo que prenda a minha atenção rapidamente. Foi mais ou menos o que aconteceu com O Massacre da Família Hope, livro que chegou pra mim após uma sequência de leituras densas e, melhor ainda, bem durante as minhas férias. O momento perfeito pra descobrir quem matou a família Hope. E eu devorei esse livro. Comecei num dia e terminei no outro porque não consegui largar enquanto não tive todas as respostas.
O livro acompanha Kit, uma cuidadora que, recentemente, após um afastamento forçado, voltou ao trabalho. Sua nova paciente, para seu espanto, é Lenora Hope, a infame assassina que, décadas atrás, matou seus pais e sua irmã. A história do massacre é praticamente uma lenda urbana na pequena cidade onde Kit cresceu e ainda vive, recebendo inclusive uma cantiga famosa que é cantada pelas crianças.
Aos dezessete anos, Lenora Hope, alucinada,
Matou a própria irmã enforcada.
Matou o pai a facadas e, em delírios febris,
Tirou a vida da mãe, que era tão feliz.
Lenora sempre diz: "Não fui eu."
Mas é a única que não morreu.
Agora Kit terá a chance (ou talvez esteja mais pra uma punição) de conhecer pessoalmente a lenda viva Lenora Hope, que hoje não passa de uma senhorinha acamada que não fala e que perdeu quase todos os movimentos, com exceção da mão esquerda que ela ainda consegue movimentar. Num misto de medo e curiosidade, Kit aceita (ou é obrigada a aceitar) o trabalho e se muda para a decadente mansão dos Hope, uma construção grandiosa no topo de um penhasco.
A partir desse ponto, o leitor vai montando um complexo e delicioso quebra-cabeça de eventos, memórias e personagens até entender todos os mistérios dessa história. Eu ADOREI cada pequeno mistério que o livro apresentou: por que Kit foi afastada do trabalho? O que aconteceu com sua última paciente? Lenora realmente matou a família? Por que ela fez isso? E se não foi ela, quem foi? Que outros segredos essa família e essa casa escondem?
A narrativa alterna entre presente e passado e vai fornecendo, a conta-gotas, revelações e reviravoltas. É aquelas leituras que te fazem sentar se você estiver deitado e que precisam de pausas estratégicas para pensar e digerir as informações. Que leitor não ama isso, né?! A Lenora é fascinante e Kit reflete bem os sentimentos do leitor ao longo do livro, ora tendo empatia e acreditando na inocência dela, ora sentindo medo e duvidando de sua honestidade. Até que ponto dá pra confiar em alguém que pode ou não ter matado toda a sua família? E se essa pessoa se tornou uma senhorinha debilitada e acamada? E se sua inocência for uma possibilidade? Ou ainda: e se ela matou mesmo, mas com razão?
Eu achei fascinante conhecer toda a família Hope, as delicadas intrigas existentes nessa família e o quanto seus membros foram corrompidos pelo dinheiro e pelo poder. E foi ótimo ver tudo isso pelos olhos da Kit, que tem uma visão bastante crua das coisas, apesar de ainda permitir, mesmo que pontualmente, que seus sentimentos interfiram em seus julgamentos. Kit vive seus próprios dramas familiares e, em muitos momentos, os dilemas da família Hope se misturam aos seus.
Como em muitas histórias com elementos de terror, aqui a casa também é um personagem, se movendo (literalmente) pela encosta, se deteriorando, emitindo sons e sendo fantasmagórico a seu próprio modo. Eu, que amo um romance vitoriano, adorei esse elemento.
Dois pontos negativos me fizeram tirar uma estrela desse livro: o desenvolvimento poderia ter sido um pouco mais rápido e o final pecou pelo excesso. O livro tem 400 páginas e penso eu que poderia facilmente ter 300. Tiveram várias páginas sem desenvolvimento algum, apenas com a Kit revendo tudo o que ela já sabia e o que ela ainda precisava descobrir. Senti que o autor queria ficar toda hora situando o leitor dentro da história, mas sem necessidade. Tipo, querido, não ofenda a minha inteligência, eu tô entendendo, não precisa repassar tudo a cada 30 páginas.
E sobre o segundo ponto: gente, que viagem foi essa? Até uma altura eu tava amando o desfecho e as revelações, eram coerentes e chocantes ao mesmo tempo. Mas aí o autor resolveu conectar uns pontos que não faziam o menor sentido e depois ainda jogou um plot twist absurdo no final que não precisava. O livro tem 44 capítulos e, na minha opinião, poderia ter encerrado no capítulo 40 porque do 41 em diante a coisa ficou mirabolante demais (demais mesmo).
Maaaaas, mesmo com essas duas considerações, ainda foi uma leitura maravilhosa e envolvente. Um 4 estrelas de respeito sim senhoras. Recomendo fortemente.
Título Original: The Only One Left ✦ Autor: Riley Sager
Páginas: 400 ✦ Tradução: Renato Marques ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
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