Holly Jackson ficou conhecida depois que sua trilogia, Manual de Assassinato Para Boas Garotas, explodiu nas bolhas literárias. Gostei demais da história — inclusive do desfecho, que foi considerado muito controverso para várias pessoas —, principalmente porque a autora conduz uma personagem adolescente resolvendo um mistério de forma muito legal, sem deixar pontas soltas. Tô divagando sobre isso porque achei que a Holly conseguiu repetir esse feito em Os Cincos Sobreviventes.
Aqui, conhecemos seis adolescentes que decidem viajar juntos para a praia para comemorar o fim do ensino médio. Para isso, eles alugam um trailer que, feliz ou infelizmente, nunca chegará ao destino final. No meio da noite, no meio do nada, todos os pneus do veículo furam ao mesmo tempo e ele fica sem gasolina. Como se não fosse possível ficar pior, todos eles ficam sem sinal de celular. Porém, é só quando tiros começam a atingir o trailer, que eles entendem que caíram numa emboscada. O atirador tem um alvo e ele quer uma coisa específica dele: um segredo inconfessável.
A gente acompanha essa confusão toda pelos olhos da Red, a personagem mais desajustada do grupo. Ela é órfã de mãe, tem pai é alcoólatra e digamos que ela não tem muito dinheiro sobrando, diferentemente dos seus colegas. A dinâmica dela com os outros personagens foi interessante de acompanhar. Como o próprio título do livro já diz, a gente já começa a leitura sabendo que alguém vai morrer, a expectativa é essa. A questão é que aparentemente todos os seis protagonistas guardam ao menos um segredo muito cabeludo, inclusive a narradora, então não dá para saber o que a pessoa armada tá querendo.
Toda a história se passa durante uma madrugada, então tem tensão de sobra. Parece muito aqueles filmes que passam na Sessão da Tarde, tipo O Trem Desgovernado, em que as pessoas ficam boa parte da trama tentando escapar de uma situação de risco que não parece ter escapatória, sabem? Então a primeira metade de Os Cincos Sobreviventes tem esse marasmo, o que pode desagradar alguns leitores. Eu, particularmente, acho angustiante e gosto da construção do ambiente, mas é óbvio que as coisas esquentam mesmo quando as informações começam a aparecer e conseguimos fazer conexões.
Fato é: Holly Jackson é a deusa do plot twist. Por mais que existam elementos clichês e que algumas coisas pareçam óbvias, é praticamente impossível descobrir o que ela tá preparando para o final. E não se enganem, nenhum mísero elemento é colocado na trama em vão. Uma fala "inocente" aqui, uma lembrança aparentemente boba acolá, tudo é usado para amarrar a situação em que o grupo está envolvido. Eu gostei demais, demais.
Agora, outra coisa que a Holly também é especialista é fazer a gente odiar personagens, misericórdia. Primeiro temos Max Hastings em Manual de Assassinato, odiável até o último fio de cabelo... Mas acreditem ou não, ela conseguiu se superar com o Oliver nessa história aqui. Juro, ô carinha intragável, meu Deus. Como assim o restante dos protagonistas eram amigos de um ser tão detestável e, pior, resolveram carregar ele para um passeio por livre e espontânea vontade? E olha que nem precisou ele se revelar muito pra eu querer que ele fosse de base.
Para quem gosta de um bom suspense, acho que Os Cincos Sobreviventes pode agradar bastante. Só gosto de lembrar sempre que os personagens são adolescentes, e adolescentes são inconsequentes por natureza, então não esperem uma grande maturidade ou resoluções muito complexas. Ouso dizer que um dos maiores feitos da Holly Jackson é justamente conseguir trabalhar com mentes tão voláteis e ainda assim criar tramas tão fechadinhas, que não ficam atrás dos maiores livros do gênero.