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8 de outubro de 2024

A belíssima nova edição de O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias, de Tim Burton


Acho que essa é a melhor época para falar sobre a edição bilíngue de O triste fim do pequeno Menino Ostra e outras histórias por aqui. Isso porque estamos no melhor mês do ano, mas também porque essa edição é belíssima e perfeita para o Halloween.

Para os que não sabem, Tim Burton não é apenas cineasta, produtor, animador e roteirista, mas também é escritor e ilustrador. E, aliás, grande parte das suas obras que não viraram filme roda o mundo em uma exposição chamada O Mundo de Tim Burton, onde todo seu trabalho é explorado, desde a infância, com desenhos e esculturas inclusos. Ou seja: existe muita coisa que Tim produziu durante sua vida e que o público geral passou a conhecer através da exposição. Dentre elas, o Pequeno Menino Ostra e outros personagens que já ditam o tom do que viria futuramente nos trabalhos de Burton.

Em O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra somos apresentados a poemas e histórias curtas, muito esquisitas, com personagens estranhos e que mesmo assim conseguem gerar uma identificação e calorzinho no peito. O Menino Ostra, a Garota fósforo (minha favorita) e a Rainha Alfineteira são apenas alguns dos personagens desse livro e posso dizer com tranquilidade que se não fossem eles, tudo que conhecemos de Tim Burton não existiria. 

Não quero falar muito sobre as histórias em si, pois são muito curtinhas e seriam grandes spoilers hehe você vai ter que ler pra saber dessa vez. E não se engane! Apesar de conter as ilustrações originais e parecer ser mais infantil, não é. As histórias podem parecer bobas, mas não são. Na realidade, sinto que todas as coisas produzidas por Tim Burton são bem mais profundas do que aparentam.

O sarcasmo, a genialidade, sensibilidade, estranheza e tom sombrio dessa obra conseguem tocar nosso coração, assim como outras tantas obras do autor que conhecemos. Vai dizer que você não se emocionou nem um pouquinho com Edward Mãos de Tesoura, não deu risada com Beetlejuice e Lydia e não quis entrar na Fantástica Fábrica de Chocolates? E é exatamente esse sentimento que temos ao ler esse livro, estranho e incomum, mas que ainda assim transmite aceitação e amor, do jeito que só Tim Burton consegue fazer.

E por fim eu não poderia deixar de comentar da estética desse livro né? Para nossa felicidade, a editora Seguinte nos presenteou com essa edição, pois como eu disse, ela está perfeita! O corte tem uma pintura linda, o livro tem capa dura, gramatura excelente, a diagramação ficou um xuxuzinho e digna das ilustrações (agora coloridas) de Burton. Além de tudo é bilíngue, deixou a tradutora aqui feliz pra caramba!

Enfim, mais um livro que vai ser uma joia na minha estante, não só por ser bonito, mas por mexer diretamente com meu coraçãozinho trevoso.

Título Original: The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories ✦ Autor: Tim Burton
Páginas: 144 ✦ Tradução: Márcio Suzuki ✦ Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora

3 de outubro de 2024

Top Comentarista: Outubro 2024

Oi pessoinhas, como vocês estão? Espero que estejam lendo bastante, por aqui ainda não consegui voltar ao ritmo — na realidade, tô sendo bem adolescente e fico de tititi com fanfic, acreditam? Torçam para que eu consiga ser leitora novamente... Enquanto isso, fiquem com as resenhas maravilhosas da Priscila e da Jess, deem muita força para elas! Ah, ainda sobre o Twitter: enquanto não voltar de verdade aqui no Brasil, não vou colocar aqui no formulário, tá?

Bom, as regrinhas vocês já sabem de cor, mas não custa relembrar, né? Nos primórdios do blog, era obrigatório comentar em todas as postagens para não ser desclassificado do concurso, mas agora vocês são sorteados a partir dos comentários. Isso significa que não é obrigatório comentar em todos os posts: cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia — recomendo que vocês comentem e preencham o formulário sempre que sair post novo, já que quanto mais comentários cadastrados, maior a chance de ganhar. Todos os meses um comentário será sorteado pelo aplicativo.

Atenção: só preencha o formulário nos dias em que comentar no blog. Por exemplo, se em determinado mês tiverem 13 posts, o número máximo de entradas que cada participante pode ter no formulário é 13! Outra coisinha: já tem alguns anos que o Rafflecopter não é mais responsivo, então acho que no computador a visualização fica melhor! Até pensei em fazer o formulário pelo Google, mas o sorteio é mais trabalhoso para mim. Quaisquer dúvidas, podem entrar em contato comigo no Instagram! 💖

O prêmio é um vale de trinta reais na Amazon! Ah, as chances extras continuam: comentar nos posts do Instagram e tweetar sobre o top todos os dias em que tiver postagem nova por aqui, então aproveitem! Caso tenha restado alguma dúvida, podem me procurar nas redes sociais, tá bom?

Observações
- O período de validade desse top comentarista é de 01/10/2024 à 31/10/2024. Cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia.
Não serão computados comentários genéricos, só aqueles que exprimem a opinião do leitor e mostram que ele realmente leu o post. Comentários plagiados de outras plataformas (lembrem-se que plágio é crime) ou que se repetem em outros blogs não serão considerados. Comentários do tipo serão excluídos sem aviso prévio e o participante será automaticamente desclassificado;
- É permitido apenas um comentário por post;
- É obrigatório seguir o Roendo Livros via GFC e seguir o perfil @anadoroendo no Instagram para validar a participação;
- Após o término do top, o Roendo Livros tem até 15 dias para divulgar o resultado;
- O ganhador tem 48h para responder o e-mail com os dados de envio, caso contrário o sorteio será refeito. O livro escolhido (na faixa de preço estabelecida) deverá ser informado no corpo do e-mail;
- Após feito o contato, o prêmio será enviado dentro de até 60 dias úteis;
- Para o livro ser enviado, é necessário que o ganhador passe o número do CPF para a Ana, já que agora os Correios solicitam uma declaração de conteúdo (saiba mais aqui) Só participe do sorteio se estiver de acordo;
- O Roendo Livros não se responsabiliza por extravio ou atraso na entrega dos Correios, bem como danos causados no livro. Assim como não se responsabiliza por entrega não efetuada por motivos de endereço incorreto, fornecido pelo próprio ganhador, e ausência de recebedor. O livro não será enviado novamente;
- O Roendo Livros se reserva o direito de dirimir questões não previstas neste regulamento.
- Este concurso é de caráter recreativo/cultural, conforme item II do artigo 3º da Lei 5.768 de 20/12/71 e dispensa autorização do Ministério da Fazenda e da Justiça, não está vinculada à compra e/ou aquisição de produtos e serviços e a participação é gratuita.
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24 de setembro de 2024

Uma Janela Sombria, um baralho mágico e um monstro vivendo dentro da mente da mocinha

Uma Janela Sombria me ganhou na sinopse e eu nem precisei abrir o livro pra saber que eu ia amar essa leitura. Afinal, para uma entusiasta do Tarot, um livro de fantasia com um sistema de magia que gira em torno de um baralho de cartas mágico era tudo que eu poderia desejar. E a leitura não decepcionou. Pelo contrário, eu fui esperando gostar e terminei amando. Fazia muito tempo que uma fantasia não me fisgava assim. Alô, editora Alt, preciso do segundo volume, já estou tendo sintomas de abstinência.

Ok, deixa eu contar pra vocês mais sobre esse livro. Nem vou me aprofundar demais pra não privar vocês do prazer de fazer essa leitura e irem, página após página, montando esse quebra-cabeça fascinante. Mas aqui está o que vocês precisam saber: Blunder é um reino mágico cercado por uma misteriosa Bruma que deixa as pessoas que entram em contato com ela doentes. Após esse quadro que a população chama de Febre, o infectado passa a manifestar habilidades mágicas. Porém, a única forma legal de praticar magia neste reino é através das cartas mágicas, as chamadas Cartas da Providência. Logo, quem desenvolve magia através da Febre é perseguido e morto pela Coroa. Cada uma das 12 cartas da Providência tem um nome e cada uma concede ao seu portador um poder específico, mas há consequências.

Elspeth, nossa protagonista, é uma infectada que conseguiu escapar ilesa (até agora). Seu grande objetivo sempre foi se manter discreta e longe da atenção alheia, principalmente do rei, de seus Corcéis (seu exército) e de seus Clínicos, que são os médicos que diagnosticam a infecção. Porém, ela (e o monstro que vive dentro de sua cabeça) está com seus dias de paz contados. Afinal, não dá pra continuar anônima ficando tão próxima do capitão dos Corcéis.

Eu não me apaixono por um personagem literário há anos, mas preciso admitir que Ravyn é o meu tipo ideal. Low profile, discreto, cordial e gentil. Ah, que refresco em meio a tanta fantasia com mocinhos que fazem o tipo badboy, marrento, frio e emocionalmente indisponível.

Uma Janela Sombria não é grandioso e nem pretende ser, mas é original em tantos aspectos. E o fato de eu ter feito essa leitura logo depois de ter lido outra fantasia que está muito famosa atualmente (não vou dizer qual é, mas o título começa com um número ordinal kkkk') foi tão satisfatório. Particularmente, não aguento mais a história da mocinha frágil e desengonçada que se descobre poderosa de uma hora pra outra, sem nenhuma justificativa e que atrai justamente o cara mais gostoso e ogro que existe no mundo. Uma Janela Sombria até se aproxima desses clichês, mas consegue contornar isso e criar algo um pouco menos batido.

Pra mim, Uma Janela Sombria conseguiu ser clichê na medida certa. Tem um romance bem óbvio, um slow burn delicioso e algumas reviravoltas bem previsíveis que só surpreenderam a protagonista. Mas também tem personagens interessantes, um sistema de magia original e analogias complexas sobre religião, fé e espiritualidade.

O monstro que vive na cabeça de Elspeth é fascinante. Ele fala através de rimas e charadas e vai dando ao leitor dicas do que está por vir. É como se todas as respostas estivessem ali, disponíveis desde o começo da história, mas é preciso atenção pra conseguir decifrá-las. E quando as peças vão se encaixando, a história só fica mais e mais interessante. Quem é o monstro? Porque ele está na cabeça da Elspeth? Que segredos Ravyn esconde? Por que a Bruma existe e como dissipá-la? Onde está a décima segunda carta e por que ela é tão importante?

Eu até poderia escrever uma resenha mais detalhada pra vocês, falando sobre cada Carta da Providência e suas características, mas essa foi uma das partes mais legais dessa leitura pra mim e acho que faz muito mais sentido descobrir essas coisas aos poucos ao longo da leitura. Eu li com um caderno ao lado pra ir anotando tudo.

Vamos falar da narrativa. Ler Uma Janela Sombria é como entrar na floresta num dia úmido. O livro tem uma atmosfera densa e ao mesmo tempo refrescante. A escrita é poética e parece que a autora pensou cuidadosamente em como escrever cada frase. Eu adoro fantasias assim, poéticas. Me lembrou A Garota que Bebeu a Lua e O Mistério dos Cavalos Alados.

O único ponto negativo é que eu achei a edição difícil de manusear. O livro não é maleável e, se você quiser ler com mais conforto, vai ser preciso quebrar a lombada. Mas, tirando isso, é maravilhoso. Vou ficar de olho nos lançamentos da Editora Alt daqui pra frente, pois essa é a segunda fantasia deles que eu amo. A primeira foi Divinos Rivais. Minha edição de Uma Janela Sombria ficou cheia de marcações e anotações nas margens e eu me forcei a ler o livro devagar porque eu queria que durasse mais tempo. Preciso dizer que recomendo?




Ah, e a primeira tiragem do livro veio com alguns brindes que eu amei. Entre eles: as doze Cartas da Providência. Vale super a pena e, da última vez que eu conferi, os brindes ainda estavam disponíveis na Amazon.

Título Original: One Dark Window ✦ Autora: Rachel Gillig
Páginas: 424 ✦ Tradução: Sofia Soter ✦ Editora: Alt
Ajude o blog comprando os livros através do nosso link!

17 de setembro de 2024

A Amiga Maldita, de Beatrice Salvioni: uma amizade improvável na Itália Fascista


"É difícil se livrar de um corpo que está em cima de você. Foi o que descobri aos 12 anos, enquanto escorria sangue do meu nariz e da minha boca e tinha a calcinha enrolada nos tornozelos." Assim começa A Amiga Maldita, primeiro romance da italiana Beatrice Salvioni. A história, narrada em primeira pessoa por uma menina chamada Francesca, se passa em 1935, numa Itália dominada pelo fascismo. Francesca narra o período de sua vida em que se tornou amiga de Maddalena, uma criança que fascina a protagonista por sua liberdade e autenticidade. 

Todos a chamavam de Maldita e ninguém gostava dela. Dizer o nome dela trazia azar. Era um bruxa, uma daquelas que grudam o hálito da morte no corpo da pessoa. Tinha o demônio dentro de si, e eu não deveria falar com ela.

Maddalena é, de fato, fascinante, até para nós, leitores adultos. Selvagem e destemina, a Maldita é tudo que Francesca gostaria de ser. De família abastada, Francesca teve uma criação mais rígida, precisa se vestir adequadamente, se comportar e ser delicada. Maddalena, por outro lado, é uma criança pobre, mau comportada, vestida com roupas inadequadas para uma garota e brincando com os meninos. Correm boatos na cidade de que Maddalena faz coisas ruins acontecerem, inclusive a morte de seu irmão mais novo.

A Amiga Maldita é um livro fascinante, que brinca com elementos do realismo mágico enquanto retrata problemas bem reais, como a guerra, o machismo e as desigualdades sociais. Maddalena e sua família ensinam Francesca a ser destemida, mas também a ensinam que nem tudo é o que parece e que talvez o perigo venha de onde menos se espera.

O período narrado no livro cobre menos de um ano e explora os altos e baixos da vida, Francesca realizada por ter um grupo de amigos e se sentindo a pessoa mais feliz do mundo, as descobertas da juventude, a guerra, as decepções, os erros e os perigos de ser uma menina com um corpo que começa a ganhar formas de mulher.

É lindo ver Francesca crescendo ao lado de Maddalena, seus sentimentos pela amiga, por vezes românticos e confusos, suas dúvidas sobre o real caráter da Maldita, sua primeira menstruação, seu primeiro beijo e tudo que ela vai aprendendo com a amiga que tanto a inspira. As coisas que Maddalena diz viram mantras para Francesca, como as frases "Eu não tenho medo de nada" e "Chorar era para os idiotas".

As certezas que Francesca possui também vão sendo desconstruídas. A família de Maddalena é mais crítica e questionadora do que a família da protagonista e isso permite que Francesca veja o outro lado da moeda, o lado sombrio e injusto da guerra, do fascismo e das regras de gênero. A família de Maddalena, mesmo não tendo boas condições financeiras, acolhe a menina e compartilha tudo com ela, principalmente o afeto. E é incrível assistir o mundo de Francesca se expandindo.

A Amiga Maldita lembra bastante outro livro de título semelhante e também de origem italiana, A Amiga Genial, de Elena Ferrante. Eu gostei até mais de A Amiga Maldita do que de A Amiga Genial. O livro também tem uma vibe semelhante com A Casa dos Espíritos (Isabel Allende) e A Sombra do Vento (Carlos Ruiz Zafón), histórias que brincam com elementos fantásticos e fazem com que a história tenha uma atmosfera onírica.

A autora soube muito bem provocar o leitor, fazendo a gente se questionar se certas coisas estão mesmo acontecendo, se são apenas coincidências ou se há uma relação de causa e efeito. Há uma cena muito boa em que algo acontece e Francesca tem sua confiança na amiga colocada a prova. Não vou contar exatamente o que acontece nem o desfecho, mas juro que senti tudo junto com a narradora, a dúvida, a insegurança, o medo e a culpa.

— Você a empurrou? — perguntei de um fôlego.
Aquela pergunta que não era minha me subiu à garganta, um sibilo temeroso que não me pertencia, como se, atrás de mim, houvesse outra pessoa a me guiar, como uma marionete, assustada e com medo, uma pessoa mesquinha - alguém que eu jamais desejaria ser.
O rosto dela relaxou e, de repente, a segurança se dissolveu.
— Está mesmo me perguntando isso?

Há tanto ódio no livro, de diferentes direções. O ódio da população pela Maldita, de sua mãe, que a culpa pela morte do filho mais novo, o ódio vindo da guerra, mas também há tanto amor. A família de Francesca tem uma empregada, Carla, que eu adoraria ter conhecido melhor. Carla é bondosa e gentil e sua presença na casa alivia o clima. O amor entre Maddalena e seus irmãos também é lindo de acompanhar e é devastador quando seu irmão é enviado para a guerra.

A cena que abre o livro é chocante, mas o livro não é linear. Na verdade, só vamos entender o contexto dessa cena já no final do livro, quase como um livro circular, que termina como começa. Infelizmente, o final de A Amiga Maldita me decepcionou. Fiquei com a impressão de que a autora estava com pressa de finalizar o romance e o final me pareceu corrido, incompleto e com bem menos qualidade que o restante da história. No geral, não me importo com final abertos, mas aqui isso me incomodou.

O mundo era feito de regras que não deviam ser quebradas. Era feito de coisas de adulto, enormes e perigosas, de erros irremediáveis que podiam levar você a morrer ou a ir parar na prisão. Era um lugar assustador, cheio de coisas proibidas, no qual você devia andar devagar e na ponta dos pés, tomando cuidado para não encostar em nada. Sobretudo se fosse mulher.

A Amiga Maldita foi uma grata surpresa para mim, um livro que me prendeu do início ao fim e que me garantiu boas reflexões e muitas marcações. Na orelha do livro, consta que o romance já está sendo adaptado para série televisiva. Não encontrei mais informações sobre a adaptação, mas fiquei feliz com a informação e tenho certeza que essa livro rendará uma adaptação igualmente excelente.

Título Original: La Malnata ✦ Autora: Beatrice Salvioni
  Páginas: 256 ✦ Tradução: Marcello Lino ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

13 de setembro de 2024

Impostora: sobre Yellowface e a genialidade de R. F. Kuang

Depois de ter me apaixonado pela escrita e pela criatividade de R. F. Kuang com Babel, eu prometi pra mim mesma que não deixaria nenhuma lançamento dessa autora passar. A sua mais nova publicação no Brasil é Impostosa, um livro sobre plágio no meio literário, cujo título original é bastante explicativo. Yellowface é quando uma pessoa branca se passa por uma pessoa amarela. Essa prática já foi muito utilizada no cinema, onde atores brancos se caracterizavam e interpretavam personagens amarelos. Outra prática semelhante é o blackface, quando pessoas brancas interpretam pessoas pretas. A consequência mais óbvia dessas práticas é a estereotipação de pessoas não-brancas, assim como seu apagamento e exclusão.

Em Impostora, conhecemos Athena Liu pelos olhos de sua "amiga" e também narradora, June. O livro já começa impactante: "A noite em que presencio a morte de Athena Liu é a mesma em que comemoramos seu contrato de direitos audiovisuais com a Netflix." June nos fala sobre Athena e sua inveja fica evidente. Ambas são escritoras, mas o sucesso de Athena é esmagador e faz com que June sinta uma inveja sufocante.

A Athena é de fato perfeita. Perfeita até demais. Ela é rica, talentosa, bem-sucedida, bonita, culta e atraente. Até eu, enquanto leitora, senti uma pontada de inveja dela. Porém, June é bem maldosa e ácida em sua inveja, de uma forma desnecessária. Desnecessariamente cruel e mesquinha. Por outro lado, Athena parece sentir um afeto sincero por ela, mesmo que June não veja sentido nisso, já que não há nada que ela possa oferecer à Athena.

A morte da Athena é o que dá início aos eventos que serão narrados no livro. Athena morre de uma forma bem perturbadora, na frente de June que, mesmo apavorada, tem a frieza de pegar roubar o mais novo manuscrito da "amiga", que ela edita, complementa, modifica e publica como se fosse seu.

[...] trocamos um dos brancos malvados por um personagem chinês, e um dos trabalhadores chineses com mais falas por um fazendeiro branco que simpatiza com os imigrantes. Isso acrescenta a complexidade e a nuance humanista que talvez Athena não conseguisse enxergar por estar próxima demais do tema.

O Último Front, que June publica utilizando seu segundo e ambíguo nome, Song (intencionalmente querendo passar a impressão de ter descendência asiática,  apesar de ela negar que seja intencional), é um sucesso estrondoso, tanto com o público, quanto com a crítica. O romance aborda a participação da China na Primeira Guerra Mundial. June finalmente encontra o sucesso que tanto desejou e invejou. Mas até quando essa estratégia desonesta vai dar certo?

June é detestável e eu já odiava ela nas primeiras páginas. Mas ela também é interessantíssima enquanto narradora. Maldosa, manipuladora e invejosa, June está o tempo todo se dirigindo ao leitor para se explicar e justificar, ao mesmo tempo que diz coisas absurdas como "O mercado editorial escolhe um queridinho (alguém bonito o bastante, alguém descolado e jovem e, ah, qual é, vamos admitir que estamos todos pensando a mesma coisa, alguém “diverso” o suficiente) e então enche a pessoa de dinheiro e recursos." ou então: "Sei o que você está pensando. Ladra plagiadora. E talvez, já que tudo de ruim sempre tem que envolver raça, racista." Ou ainda: "É a internet que é problemática, não eu. É esse contingente de militantezinhos, esses brancos “aliados” querendo aparecer e os ativistas asiáticos procurando atenção; são eles que estão fazendo cena. Eu não sou a malvada. Eu sou a vítima."

Eu, que amo odiar um personagem, adorei essa narradora que é uma desgraçada consciente, ou seja, ela sabe que ela é escrota (palavra que ela mesma usa pra se descrever). June quer que o leitor a compreenda, mas não precisa que gostemos dela.

Inclusive, essa narradora que, em muitos momentos atua como uma narradora não confiável, me lembrou muito outro narrador que comete um crime e conta aos leitores as consequências disso: Raskólnikov de Crime e Castigo. Eu senti emoções semelhantes durante a leitura de Impostora ao que eu senti lendo Crime e Castigo do Dostoievski: o conflito entre querer que o crime seja descoberto e a ansiedade quando isso parece se aproximar.

Há um mistério que nos é apresentado logo no início do livro também. Isso, além do óbvio desenrolar dos fatos envolvendo o roubo do livro de Athena, me manteve interessada nessa leitura do início ao fim. A ousadia de Kuang, uma asiática dando voz a uma personagem branca que pratica yellowface, é subversiva. Kuang gosta de ser polêmica e já demonstrou isso em suas outras obras. Mas, arrisco dizer que, aqui, Kuang se superou.

O livro se desenrola de forma extremamente envolvente, explorando o passado das personagens e trazendo profundidade para a narradora, provocando o leitor a compreendê-la e passar pano pra ela. Outra provocação que Kuang faz é mostrar o lado sujo do mercado literário, o favorecimento de determinados autores, a arrogância, a visão de que o lucro está acima de tudo e de que não importa se o autor é uma boa pessoa, afinal, quanto mais polêmico, mais dinheiro ele trará para as editoras.

Eu devorei esse livro, li de madrugada, nos intervalos do trabalho, almoçando. Só não li no banho porque não queria estragar o livro. Eu senti tudo, o medo, a ansiedade, a raiva. E terminei aplaudindo a autora. O final é angustiante e flerta com a metalinguagem. Kuang é realmente fantástica. Estou até tentada a reler A Guerra da Papoula que, na época, eu não gostei tanto. Recomendo! Recomendo! Recomendo! LEIAM IMPOSTORA. FANTÁSTICO e REVOLUCIONÁRIO são as palavras que eu usaria pra definir esse livro.

E, pra complementar, vou anexar um vídeo aqui do criador de conteúdo Leo Hwan onde ele fala sobre o livro e também dá mais informações sobre a prática de yellowface.


Título Original: Yellowface ✦ Autora: R. F. Kuang
Páginas: 352 ✦ Tradução: Yonghui Qio ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
Ajude o blog comprando os livros através do nosso link!

11 de setembro de 2024

Top Comentarista: Setembro 2024


Oi pessoal, como vocês estão? Aqui está a maior correria, para variar só um pouquinho, mas não consigo deixar esse cantinho de lado por muito tempo — muito menos deixar vocês sem um premiozinho. Gente, e o Twitter, hein? Parece que foi de arrasta mesmo! Então, pelo menos por enquanto, eu retirei as entradas dele aqui do formulário. Caso retorne, volto com elas.

Bom, as regrinhas vocês já sabem de cor, mas não custa relembrar, né? Nos primórdios do blog, era obrigatório comentar em todas as postagens para não ser desclassificado do concurso, mas agora vocês são sorteados a partir dos comentários. Isso significa que não é obrigatório comentar em todos os posts: cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia — recomendo que vocês comentem e preencham o formulário sempre que sair post novo, já que quanto mais comentários cadastrados, maior a chance de ganhar. Todos os meses um comentário será sorteado pelo aplicativo.

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