SOCIAL MEDIA

Mostrando postagens com marcador sil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador sil. Mostrar todas as postagens

15 de março de 2020

Caetés | Graciliano Ramos


Recentemente tive meu primeiro contato com a escrita de Graciliano Ramos, com o livro Caetés, e que curiosamente também foi o primeiro livro que ele escreveu e publicou em sua vida. Eu tenho certeza que essa primeira experiência deve ter causado diferentes sensações em cada um de nós dois. Não sei e nunca saberei como ele se sentiu ao escrever esse livro, mas falo com certeza que, como leitora, eu tive uma experiência muito diferente de todas as leituras que já fiz em minha vida, isso porque eu não sou uma leitora assídua de livros clássicos nacionais e não estou habituada com a abordagem desses autores para contar suas histórias. 

Caetés pode ser analisado de duas formas diferentes: 
1. A história em si, com a premissa do personagem com seus objetivos e a sua jornada; 
2. As entrelinhas, uma história por trás da história.
Aí que começa o problema para mim, pois eu não acredito que tenha entendido de verdade o que o autor estava querendo contar com essa história, se realmente existe algo escondido em suas páginas. Talvez isso seja problemático e mostre que eu não tenha uma bagagem literária tão culta? Talvez. Mas a minha experiência não foi ruim só por causa disso, já que achei a história até que interessante.

Então , analisando a parte de Caetés que é um romance, vou falar do personagem João Valério, um homem que pretende escrever um romance histórico que fale sobre os índios Caetés e se sente frustrado por nunca sair do lugar ou por não saber tantos fatos históricos — ou seja, só quer escrever para ser reconhecido, se sentir importante. Além disso, ele está apaixonado por Luísa, uma moça que é casada com um dos homens mais poderosos da cidade interiorana de Alagoas. Daí que eu penso que o livro fala muito a respeito da cobiça, o que pode ser uma crítica dentre tantas outras que o autor deve ter colocado na obra e eu não consegui enxergar.

De forma geral, João Valério foi, para mim, um personagem odiável. Desde início ele demonstra um amor incontrolável por Luísa, mas quando estava prestes a conseguir realizar todos os desejos, tudo o que imaginou para eles dois, começa a desprezá-la — sabe aquela história de que quando as pessoas conseguem algo param de dar valor à conquista? Pois é. Além de tudo, li algumas criticas sobre o fato do João Valério querer ser um escritor e ok, concordo, porém durante toda a história o que o personagem menos foca é nisso, então será que era realmente algo que ele queria?

Também há personagens peculiares no livro, que representam bastante essa atmosfera de interior, como a senhora dona da pensão que ele mora, uma jovem que precisa casar, o farmacêutico que todos odeiam, dentre outros. Eu fiquei um pouco confusa com alguns personagens que ora eram chamados pelo primeiro nome e ora pelo sobrenome, entretanto até a escolha feita pelo autor a respeito dos tratamentos faz sentido com o que entendi do livro, algo como mostrar uma sociedade que vive apenas de aparências, talvez. 

É claro que Caetés é um bom livro, o talento de Graciliano Ramos é incontestável. Diferente de outros clássicos que vemos por aí, esse tem a escrita fácil, mesmo com algumas palavras diferentes das que usamos nos dias atuais. A leitura em si é super fluída, todo o contexto é dado para quem consigamos entender o que os personagens dizem, mas acredito que para quem está acostumado com outros livros dessa época, a leitura será muito mais proveitosa.

Título Original: Caetés ✦ Autora: Graciliano Ramos 
 Páginas: 336 Editora: Rosa dos Tempos
Livro recebido em parceria com a editora 

4 de março de 2020

Todas as Suas (Im)perfeições | Colleen Hoover


É um fato que pelo menos uma vez ao ano preciso ler algo da Colleen Hoover. Ela é uma autora que tem a capacidade de me tirar de qualquer zona de conforto ou ressaca literária que eu esteja e sempre, sempre, sempre me faz sofrer com seus personagens. Muito me surpreende eu ficar assim com Quinn, que tem o desejo de engravidar, que todos os meses sofre quando sua menstruação desce. Eu nunca penso em filhos e definitivamente maternidade não é algo que eu quero para mim, então eu tinha tudo para não sentir empatia nenhuma por essa mulher que estava usando o seu marido para apenas um fim. Mas como não se solidarizar com ela? Quinn está representando neste livro todas as mulheres que sonham em ter filhos e não podem, todas as mulheres que estão sofrendo neste momento pois sabem que nunca irão poder gerar uma criança e, mesmo eu não querendo ter filhos, tipo nunca, eu sofri com ela em todos os momentos, pois eu tenho opção e ela nunca terá.

Todas as Suas (Im)perfeições é narrado em duas linhas do tempo: 
1. Antes, onde temos Quinn noiva de um cara muito rico, mas alheia às suas traições até conhecer Graham no corredor do prédio onde seu noivo morava; 
2. Agora, onde Quinn já esta casada com Graham há sete anos e sabe há pelo menos uns cinco que sua chance de ter uma família com sua alma gêmea é nula. Não é a primeira vez que CoHo nos mostra situações diferentes de uma mesma personagem em fazes diferentes da vida dela. A autora sempre consegue fazer isso tão bem que, mesmo se você estiver lendo distraidamente e não perceber que são duas linhas do tempo diferentes, é muito fácil notar mudança drástica de comportamento da protagonista.

Quinn, mesmo após descobrir a traição do tal ex-noivo, ainda tinha uma coisa dentro dela que fazia com que ela não se abalasse. Seus diálogos são sempre alegres e ela sempre vê o lado positivo de tudo. A Quinn do Agora é amarga, ressentida consigo mesma e não demonstra mais nenhum sentimento pelo seu esposo, mesmo que o ame muito. É muito fácil odiar a protagonista quando não nos colocamos em seu lugar, pois ela é uma personagem que incomoda, que não transmite coisas boas. Dá até vontade de deixar o livro de lado e ler algo mais feliz, mesmo sabendo que não podemos abandonáa-la naquele estado, sabe?

Graham é aquele personagem perfeito — eu amo os homens perfeitos que a CoHo cria. Por exemplo, não é difícil imaginar que Quinn traiu o ex-noivo para ficar com ele e, quando ele descobriu, tudo o que conseguiu fazer foi ser gentil com ela, ajudá-la a passar pela situação como se ele mesmo não estivesse sofrendo. Graham é tão altruísta que eu sentia raiva, me perguntava o tempo todo o porquê de ele não ser um cuzão como tantos homens que vemos por ai, mas como ele seria amando tanto Quinn? Ele sempre acreditou, desde o Antes, que eles são alma gêmeas, que todas as coisas culminaram para que eles se encontrassem exatamente naquele momento no corredor e depois de alguns meses em um restaurante. Gente, é tudo tão lindo que eu até renovo minha fé nessas coincidências.

Obviamente, o maior desejo de Grahamé fazer Quinn feliz, então se sente arrasado ao vê-la passando por tantas coisas terríveis sem fazer nada. Suas tentativas de agradá-la, de demonstrar seu amor acabaram comigo todas as vezes, pois é impossível qualquer pessoa fazer algo para amenizar a dor dela quando só há um objetivo. Mesmo no momento em que ele vacilou eu não consegui odiá-lo por completo, pois existem causas e consequências para tudo e naquela situação toda ninguém é culpado de nada a não ser a própria natureza.

Todas as Suas (Im)perfeições é sensível ao mostrar o relacionamento dos personagens antes do casamento e como tudo era tão lindo e perfeito. Porém, fique extremamente mexida ao ver como tudo ficou no passado. Acredito que nunca vou deixar de gostar desses personagens que tanto me ensinaram em poucas páginas. Prometi a mim mesma, como leitora, de que nunca deixarei de me colocar no lugar das personagens antes de julgá-los por suas atitudes: só quem está passando por situações extremas sabe realmente o que sentir.

Título Original: All Your Perfects ✦ Autor: David Wallace-Wells ✦ Páginas: 304
Tradução: Adriana Fidalgo ✦ Editora: Galera
Livro recebido em parceria com a editora
Ajude o blog comprando o livro aqui!

7 de fevereiro de 2020

Ela Disse: Os Bastidores da Reportagem que Impulsionou o #MeToo | Jodi Kantor & Megan Twohey

Livro sobre reportagem do #MeToo

Terminei a leitura deste livro por volta de uma hora da manhã do dia 04/01/2019 — justamente dois antes de darem inicio ao julgamento de Harvey Weinstein, produtor de Hollywood que foi acusado por cerca de 80 mulheres por abuso e assédio sexual. Havia um sentimento de ódio em mim, um sentimento de incapacidade e de coragem ao mesmo tempo. Muitas vezes vemos mulheres acusando homens de assédio e/ou abuso e nos sentimos orgulhosas da coragem delas, mas nunca sabemos como foi para elas o caminho até a denuncia. Com Ela Disse essa perspectiva muda ao sabermos que para fazer a denúncia, as mulheres precisaram muito mais do que só coragem.

O livro é um relato das jornalistas Jodi Kantor e Megan Twohey sobre como foi o processo até a matéria do NYT, em outubro de 2017, com a denuncia dos assédios de Harvey Weinstein. Para quem ama jornalismo o livro é um prato cheio, com vários detalhes da investigação, assim como algumas "regras" de jornalismo que eu, particularmente, não conhecia. Ele não é um livro pesado, por mais que as histórias ali sejam pesadas. Mesmo nas partes que há relatos das vitimas da forma como foram contadas às jornalistas, ainda há uma certa leveza para não nos fazer passar mal com tanta barbaridade. É claro que essas histórias podem ser um gatilho para algumas leitoras e não estou falando em forma de meme: com certeza se alguém que estiver lendo já tiver passado por aquilo ou por algo semelhante irá ter reações negativas.

"Faz tempo que nós mulheres falamos sobre Harvey entre nós mesmas, e já é mais do que hora de ter essa conversa publicamente”. Naquela noite, tinham uma nova versão do artigo, com o nome de Ashley Judd.

É incrível a determinação delas em fazer essa matéria acontecer. Ao longo das entrevistas e buscas por novas testemunhas elas se depararam com muitas dificuldades, principalmente pelo fato de terem que fazer com a máxima discrição para que ele não descobrisse a respeito da matéria e acabasse botando tudo a perder com sua influencia e dinheiro. Por exemplo, o pior de tudo eram os vários acordos de confidencialidade feitos por Weinstein ao longo das décadas com várias mulheres que, em alguns casos, foram incentivadas por seus advogados a simplesmente aceitarem o acordo e a indenização e seguir com a vida. Por muitos anos simplesmente a menção do nome Harvey Weinstein desmotivava as mulheres com suas denuncias e poucas que tiveram coragem foram retaliadas por isso ao longo da vida (leiam um pouco da história de Rose McGowan).

O livro ainda cita uma investigação a respeito de Trump, que ocorreu antes, e de um juiz da Suprema Corte americana, que ocorreu após as denuncias do NYT e o movimento #MeToo. Essas outras duas investigações, apesar de não terem relação direta com a principal contada no livro, é um paralelo que podemos usar como comparativo entre repercussão e sobre como é importante as pessoas denunciarem o abuso o quanto antes. Outra questão importante que o livro acaba trazendo em sua conclusão é a respeito do #MeToo em si e como ele pode afetar as mulheres que não estão na vida "glamurosa" de Hollywood, onde seus abusadores são protegidos pelo anonimato.

Mas era o que todo mundo na sala, e mais pessoas fora dela, agora compreendiam: se a história não fosse contada, nada mudaria. Problemas que não são vistos não podem ser enfrentados. No nosso mundo jornalistico, a matéria era o fim, o resultado, o produto final.

Eu não poderia iniciar meu ano lendo um livro melhor e que me mostrasse tantas coisas que ignoro no meu dia a dia, mas que podem acontecer comigo a qualquer momento. Infelizmente nenhuma mulher está salva de assediadores e abusadores e é importante saber que temos sim o poder de denunciar esses predadores, pois quando isso é feito estamos também ajudando outras mulheres a não passarem por isso. Este livro é uma leitura necessária e atual.

Título Original: She Said ✦ Autoras: Jodi Kantor & Megan Twohey ✦ Páginas: 376  Tradução:  Denise Bottmann, Isa Mara Lando, Julia Romeu e Débora Landsberg 
 Editora: Companhia das Letras
Livro recebido em parceria com a editora
Ajude o blog comprando o livro através do nosso link!

11 de janeiro de 2020

As Sombras de Outubro | Søren Sveistrup


Eu amo livros de suspense, ainda mais quando há uma investigação policial por trás da coisa toda. Li alguns títulos do gênero ao longo do ano e então quando vi a sinopse de As Sombras de Outubro fiquei ansiosa a respeito dele, principalmente por ter uma detetive mulher, uma ministra, e que claramente os crimes estão relacionados ao feminicídio; Além do detalhe da história se passar na Dinamarca, um local totalmente fora dos cenários literários.

Apesar de ter adorado toda essa premissa do livro, infelizmente, a história em si não me agradou. Ocorrem crimes horrendos e claro que é isso que eu espero de um livro de suspense onde há mortes. Se você gosta desse gênero saiba que aqui irá encontrar membros amputados de mulheres que foram mortas sem um motivo aparente, assim como crianças traumatizadas pelos piores motivos que podemos imaginar. Sim, nesse aspecto o livro é pesado, mas não tão descritivo — o que é ótimo, pois com o pouco que é falado ali já fiquei enojada. Entretanto o que o autor soube inserir bem em relação aos crimes, ele pecou totalmente com os seus detetives.

Eu esperava que Thullin seria a detetive mais incrível e girl power da coisa toda, mas acaba que ela é apenas mediana, cética demais para correr atrás de pistas, até mesmo submissa em sua função. Os seus melhores momentos se dão por algo que Hess, seu parceiro, faz ou fala e ainda assim ela bate o pé em não ver o óbvio. Isso me deixou um pouco irritada, porque por mais que eu seja apenas uma espectadora dessa história, é óbvio que existem coisas que precisam ser investigadas e é cansativo ter que ler o tempo todo somente um personagem insistindo nisso e sendo taxado como chato por todos ali. 

Talvez por eu ser leitora de suspense eu tenha a impressão de que já vi de tudo, então até uns 70% do livro parece que nada novo foi escrito. Cenas de perseguição que dão para um falso suspeito, assim como o clichê do assassino que se esconde nas sombras, além de missões que provam que os policias estão cada vez mais longe do real assassino. É clara a intenção do autor em colocar pequenos plot twists, e talvez isso se deva ao fato de ele ser roteirista para uma série de TV, onde precisa dessas reviravoltas para entreter os espectadores a cada episódio, mas sua tentativa no livro foi falha, já que só passou a impressão de estar enrolando a investigação e deixando os detetives mais burros. 

Claro que nem tudo está perdido, já que o livro tem uma ótima reviravolta com a revelação do assassino. Admito que eu nunca imaginei ser a pessoa que o autor escolheu e em nenhum momento ele nos deu pistas. A resolução do caso acabou sendo muito bem elaborada e crível; Ao contrário de muitos outros livros, não foi um final onde tudo aconteceu rápido, pelo contrário, ele usou uns bons 30% do livro se dedicado às revelações finais, simultaneamente com três personagens, e isso me deixou um pouco ansiosa para saber o que iria acontecer. Tudo o que me desagradou durante o livro me deixou contente ao final da leitura.

As Sombras de Outubro é a aposta da Editora Suma para deixar o seu Natal um pouco mais sombrio e, mesmo com as minhas impressões não sendo 100% positivas, é um livro que indico para quem procura um suspense mais pesado e surpreendente no final.

Título Original: The Chestnut Man ✦ Autor: Søren Sveistrup
Páginas: 416 ✦ Tradução: Natalie Gerhardt ✦ Editora: Suma
Livro recebido em parceria com a editora
Ajude o blog comprando o livro através do nosso link!

5 de novembro de 2019

Vermelho, Branco e Sangue Azul | Casey McQuiston


Vermelho, Branco e Sangue Azul será, provavelmente, o romance LGBT mais fofo que você lerá este ano. Isso porque os protagonistas da história são ninguém mais, ninguém menos, do que o filho da presidente dos EUA e o Príncipe Herdeiro da Inglaterra. Já é possível saber que, além de um romance, o livro também tem uma pegada política que deixa o leitor mais ansioso para saber o desfecho do namoro proibido.