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9 de maio de 2024

Perfeita (na Teoria), de Sophie Gonzales, e a bifobia internalizada de pessoas queer

Parece que a leitura de livros YA está se tornando recorrente na minha vida, e é claro que Perfeita (na Teoria) da Sophie Gonzales estava na minha lista. Sinceramente, não quis saber nada sobre ele antes de começar, e eu acho que quanto mais me mantenho assim, mais gosto da leitura. Mas vou falar sobre ele hoje, já que virou um dos favoritos do ano!

Darcy Phillips tem dezesseis anos e de alguma forma conseguiu a senha do Armário 89. Desde então, começou a oferecer conselhos de relacionamentos — de forma anônima — na sua escola. Para receber o serviço era simples: você escrevia uma carta com sua dúvida, junto de um endereço de e-mail e uma nota de dez dólares e colocava no armário. Pronto, em breve você teria uma resposta. De imediato foi um sucesso, afinal ela era boa nisso e adolescentes estão sempre precisando de conselhos.

Mas é claro que, com tanta experiência, Darcy estaria com seus próprios relacionamentos em dia né? Muito pelo contrário! Sua paixão pela melhor amiga Brooke a consome e ela não sabe nem por onde começar a resolver a situação.

Não fosse por esse pequeno probleminha, tudo estava correndo perfeitamente bem, até que Alexander Brougham resolve contratar os serviços do armário para ajudá-lo. Só que ele não queria que fosse de forma anônima, pois achou que seu problema era muito complexo e precisaria de mais do que um conselho por e-mail. É então que ele pega Darcy no flagra depois da hora na escola, recolhendo as cartas, e oferece muito dinheiro para que ela o ajude. Em troca ele não contará seu segredo (além dele ser riquinho, então ela ficaria com zero remorso de receber 50 dólares pelo coaching em relacionamentos).

Ambos se detestam. Brougham por precisar dos serviços de Darcy, e ela por ter que falar com um menino tão metido e insuportável. Mas até que ele é bem bonitinho, ela só não entende qual é a dele e nem onde isso vai parar. Com o tempo as coisas vão ficando estranhas, a situação sai do controle de Darcy e tudo explode de uma só vez.

Acho que o que fez eu gostar tanto de Perfeita (na Teoria) foi o fato de me identificar com ela. Às vezes nos entender como parte da comunidade LGBTQIAP+ é muito complexo. Ser bissexual, então... Porque assim, somos invalidados o tempo inteiro, independente da configuração do relacionamento: se estamos com uma menina é um eterno "não sabia que fulana era lésbica", se estamos com um menino, por outro lado, não acreditam na nossa bissexualidade, e isso é muito cansativo. 

Então, acaba que o livro trata da bifobia internalizada de pessoas queer, porque os questionamentos da sociedade e até mesmo da comunidade, de certa forma, são tantos que a gente começa a se questionar. Vejam bem, Darcy é apaixonada pela melhor amiga há séculos, e tudo bem, mas não conseguia aceitar que estava nutrindo sentimentos por Alexander. Tipo assim, que bissexual é essa que tá se apaixonando por um cara cis-hétero-aparentemente-babaca, né? Gostei muito de acompanhar essa dinâmica e fazia tempos que procurava por um livro assim.

— Isso. É quando bissexuais começam a acreditar na bifobia que nos cerca. Ouvimos que nossa sexualidade não existe, ou que somos héteros se estamos com alguém de outro gênero, e que nossos sentimentos não valem se nunca namorados alguém de determinado gênero, esse tipo de baboseira. Aí a gente escuta isso tanto que acaba duvidando de si — p. 298

Além da representatividade LGBTQIAP+, Perfeita (na Teoria) fala sobre relacionamentos famíliares, amizade, apego, amadurecimento. Inclusive acho que vale salientar que a sensação que eu tive lendo ele, foi a mesma de Para Todos os Garotos Que Já Amei da Jenny Han. Me fez sentir eufórica, ansiosa, nervosa e feliz com o rumo da história. Enfim, é um livro ótimo e muito amorzinho.

Antes de ir embora, queria deixar essa fala que está nos agradecimentos da Sophie Gonzales, em que ela fala um pouquinho sobre o objetivo dela com Perfeita (na Teoria) e o quão especial ele é:

Pela primeira vez, a primeiríssima vez, eu acreditei neles de verdade. Que meus relacionamentos não mudavam quem eu era. E que, mesmo se outras pessoas não concordassem, todo mundo naquela saia me apoiaria sem pensar duas vezes. Eu estava com eles, eles estavam comigo, e estávamos todos juntos. Uma comunidade dentro de uma comunidade dentro de uma comunidade. Sem perguntas. Sem provas. Sem documentos comprovatórios.
A gente pertencia ao grupo por pertencer — p. 345

P.s.: até agora não acredito que o título desse livro não é Querido Armário 89 ou algo do tipo! Agora eu vou de verdade!

Título Original: Perfect on Paper: A Novel ✦ Autor: Sophie Gonzales
Páginas: 352 ✦ Tradução: Sofia Soter ✦ Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora
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5 comentários :

  1. oi amiga (jess), eu amei demais essa leitura, li assim que saiu e concordo contigo que devia ser outro título kk imagina que tudo querido armário 89 <3
    foi uma leitura muito boa, me senti representada tbm, pq como vc citou dependendo de com quem a gente ficar o pessoal já muda nossa sexualidade.
    foi uma leitura muito rápida, envolvente e eu não imaginava que amaria tanto

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  2. O Clube de leitores de YA agradece sua inscrição rsrsrs. É um caminho sem volta!.
    Já conhecia o livro e está na minha wishlist.
    Darcy (é referência a O&P?) é o tipo de personagem que conquista o meu coração.
    E sinto que vou passar pano para Alexander

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  3. Eu só sabia da existência do livro pela capa que é uma fofura só. Mas não fazia ideia do conteúdo, aliás, que conteúdo necessário e que sana sim, dúvidas, medos e traz algumas certezas ao nosso coração!
    Não é muito meu estilo de leitura nos últimos anos, mas admito que fiquei bem curiosa!!!
    Listinha de desejados né?
    beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  4. Ola
    Que bom que curtiu o romance e ele se tornou um favorito seu . Não faz o meu estilo de leitura.,dessa vez deixo passar a dica

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  5. Acho que foram poucos os livros com personagens bissexuais que li, se me lembro, o que é bizarro né. Essa historia aí parece ser interessante. Acho a capa bem bonita tb.

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