SOCIAL MEDIA

14 de outubro de 2025

Katábasis, nova fantasia dark academia de R. F. Kuang, é um "passeio" pelo Inferno

Um dos lançamentos mais aguardados do ano, de uma das autoras mais elogiadas dessa geração, chegou. Eu estava ansiosíssima para ler Katábasis e para vir dar a minha opinião pra vocês. Kuang já é conhecida pela escrita envolvente, pelas histórias complexas e por suas críticas ferozes e, com Katábasis, ela prometeu mais uma história no estilo dark academia, só que, dessa vez, o cenário é o inferno. E eu, como uma apaixonada por A Dívina Comédia de Dante Alighieri, fiquei imediatamente animada.

Katábasis já começa frenético e envolvente: "Cambridge, primeiro trimestre letivo, outubro. [...] Alice Law partiu para resgatar a alma de seu orientador dos Oito Tribunais do Interno." Mas Alice não irá sozinha nessa busca. Junto dela está Peter Murdoch, seu colega, também orientando de Jacob Grimes, com quem ela tem uma relação conturbada e, por vezes, hostil.

Minha obra favorita da Kuang é Babel e foi uma grata surpresa perceber que Katábasis e Babel guardam muitas semelhanças. Ambos se passam no ambiente acadêmico e tratam da magia como uma ciência, ensinada e aprendida em universidades de elite.

Também da autora:
✦ Babel

Em Katábasis, o desenvolvimento da história é lento, mas menos difícil que Babel. Enquanto Babel era recheado de termos complexos e explicações densas, tornando-o uma leitura quase técnica, como um livro acadêmico, Katábasis é como... veja só... caminhar pelo inferno. Denso de uma forma mais emocional, Katábasis nos mergulha nas sensações e na confusão dos personagens, nos sentimentos contraditórios que eles têm um pelo outro e pelo professor Grimes, enquanto encontram pessoas, entidades e sombras pelo inferno, revivem episódios do passado, sofrem ameaças às suas vidas e lidam com a confusão de estar num território que parece não querer que eles avancem ou vão embora.

Mais uma vez, Kuang repete uma de suas fórmulas que eu mais amo: transformar ficção em realidade dentro de seus universos. Em Katábasis, obras que descrevem o inferno se transformam em relatos reais de viajantes, através dos quais os personagens se guiam em sua própria jornada. Dante, Vírgilio e muitos outros autores que escreveram sobre o Inferno se tornam referências bibliográficas. A intertextualidade de Kuang é fascinante. Incontáveis obras e autores são citados ao longo do livro, assim como acontece em Babel. E, para mim, uma das partes mais interessantes é justamente ir pegando essas referências, destacando-as no texto e posteriormente pesquisando sobre aquelas que eu não conhecia.

Aqui, as críticas de Kuang se direcionam principalmente ao ambiente acadêmico e às figuras de autoridade nesse cenário. O professor Jacob Grimes é um grandessíssimo idiota e a relação dele com seus orientandos é bastante explorada. Apesar disso, eu achei que faltou aprofundamento nessas questões, principalmente em como a Alice evolui (ou não) em suas opiniões e percepções. Não senti que houve uma progressão gradual e visível na forma como ela enxerga tudo que aconteceu com ela. Mesmo quando o livro terminou, eu fiquei me perguntando se ela tinha entendido certos acontecimentos e gostaria de ter visto isso de forma mais clara. O mesmo acontece com a relação de Alice e Peter. Eu gostaria de ter visto mais dos dois. Mas isso é só uma pequena frustração particular.

Eu também senti variações no ritmo da leitura que não foram tão agradáveis. Katábasis começa bem, depois parece se perder no meio, fica lento e um pouco desinteressante, se prendendo a aspectos pouco relevantes ao invés de focar no que realmente importa e, no fim, acelera demais impedindo o leitor de acompanhar alguns dos pontos mais interessantes da história. Eu terminei sentindo que uma história que se passa no Inferno poderia ter entregado mais. O livro está longe de ser ruim, é claro. Mas, para mim, poderia ter sido ainda melhor

Meses antes do lançamento de Katábasis, muito se falou sobre as muitas referências que Kuang utilizou e sobre a necessidade de possíveis leituras prévias. Não pela primeira vez, Kuang foi acusada de elitismo literário e de intencionalmente tornar seus livros difíceis e inacessíveis para uma grande parcela dos leitores. Só o que posso dizer é que: você não precisa ter lido nada para ler e compreender Katábasis. As leituras "complementares" tornam alguns pontos da história realmente mais interessantes, mas não são essenciais para a compreensão do livro. Na verdade, não apenas nesse, mas em todos os seus livros, Kuang mantém uma narrativa bastante didática, mesmo quando fala sobre assuntos complexos.

As referências são nada além de divertidas. Quando, por exemplo, é mencionado que a leitura do Inferno de Dante seria mais útil se o autor não tivesse dedicado tanto tempo alfinetando pessoas de quem ele não gostava, eu genuinamente dei uma risadinha. De fato, Dante passa boa parte de seu relato infernal, falando sobre todas as pessoas que ele não gosta e que ele encontra sofrendo no Inferno. Também é igualmente divertido quando os personagens debatem sobre qual foi a real punição de Raskolnikov em Crime e Castigo. Ou seja, dá sim para ler e compreender a obra sem nenhuma outra leitura prévia, mas as leituras prévias deixam Katábasis mais divertido. E só. Reitero: Babel é uma leitura muito mais densa nesse sentido. Não tenham medo de Katábasis.

Segue sendo uma honra estar viva ao mesmo tempo que R. F. Kuang. Suas obras são sempre mais profundas e robustas que a maioria dos livros atuais. Não que eu ache que a literatura tenha a obrigação de ser mais do que puro entretenimento, mas é enriquecedor ter uma autora tão empenhada nisso, que notavelmente investe muito tempo, pesquisa e dedicação em suas obras.

Título Original: Katabasis ✦ Autora: R. F. Kuang
Páginas: 480 ✦ Tradução: Marina Vargas ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com editora
Ajude o blog comprando os livros através do nosso link!

Nenhum comentário :

Postar um comentário