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12 de fevereiro de 2023

Táticas do Amor, de Sarah Adams: a enorme diferença entre histórias clichês e enredos mal desenvolvidos


Sarah Adams é uma autora que vem fazendo muito sucesso no TikTok com suas histórias levinhas e engraçadas. Como a minha meta para 2023 é ler o maior número possível de comédias românticas, não pensei duas vezes antes de solicitar Táticas do Amor para a Intrínseca. Apesar de unir dois recursos narrativos que amo demais, o namoro de mentira e o famoso friends to lovers, não tive uma experiência muito legal com esse livro. 

Aqui, acompanhamos os personagens Bree Camden e Nathan Donelson, melhores amigos de longa data que obviamente são caídos um pelo outro mas têm medo de externalizar seus sentimentos. Os dois vivem em universos completamente distintos: ele é jogador profissional de futebol americano, o melhor quarterback de todos os tempos; ela, por sua vez, é uma professora de balé que mantem um estúdio para alunas quem sonham em ser bailarinas, mas não têm condições de arcar com os custos elevados das aulas em outros lugares. 

Para mim, o primeiro ponto negativo do livro começa aí. A história real da Bree não é desenvolvida da forma que merece. Vemos o tempo inteiro grandes momentos do Nathan como jogador de futebol americano em ascensão, enquanto a protagonista é simplesmente resumida em "melhor amiga apaixonada", tendo seu lado profissional totalmente apagado. Por exemplo, sabemos desde o começo que ela sofreu um acidente que comprometeu sua carreira como bailarina profissional, mas como isso aconteceu de fato? Como ela lidou com isso? Ela abriu um estúdio de dança e pronto? Cadê mais detalhes sobre essa reviravolta, essa vida de professora, a conquista de um espaço digno para continuar mudando a vida dessas meninas, uma relação mais aprofundada com as alunas? Uma história com tanto potencial que foi totalmente jogada para escanteio! 

Nesse sentido, já entra o segundo e maior ponto negativo de Táticas do Amor. Para mim, não existe romance, e olha que eles são obrigados a embarcar num relacionamento de mentira — que, spoiler, não tem química nenhuma, nadica de nada daquelas cenas de interação que faltam matar a gente do coração. Das 304 páginas, pelo menos 250 são uma lavação de roupa suja de "ai meu Deus, nós somos apenas amigos, nunca vai rolar nada mais que amizade" sendo que é bastante óbvio para todo mundo que eles gostam um do outro e só precisavam sentar e conversar um pouco! E mais, depois que finalmente se declaram, as coisas acontecem tão rápido que eu fiquei extremamente incrédula com tanta besteira. 

Lógico que ambos têm medo de perder a amizade e isso acontece de verdade, mas precisava enrolar tanto? É uma coisa muito estranha, porque a Bree não tem coragem de se declarar e, tudo bem, eu entendo, mas também não deixa nenhuma outra mulher se aproximar do Nathan. Inclusive, fiquei deveras incomodada com essas cenas narradas sob a pespectiva dela, principalmente porque é muito escroto ler uma mulher se referir a outras mulheres por nomes pejorativos. 

Acho que dos dois personagens, o melhor desenvolvido foi Nathan, simplesmente por ser o centro das atenções o tempo inteiro. Apesar de tudo ser sobre ele, houve um lado do protagonista que foi pessimamente trabalhado: em determinado ponto da história, Nathan desenvolve crises de pânico sem nenhum histórico de ansiedade ter sido retratado anteriormente. A sensação que tive foi que o tema foi introduzido só para acrescentar uma certa profundidade — que não existe em momento algum — na história. É como se a autora quisesse colocar o assunto em pauta só porque muitos livros atuais retratam transtornos psicológicos e ela não poderia ficar de fora. Acabou ficando extremamente forçado, sabem? 

Além do mais, acho que a intenção da Sarah Adams era criar aquele personagem clássico das comédias românticas que a gente tanto ama: um cara lindo, alto, forte, musculoso, pose de machão, mas que na real é uma manteiguinha derretida. Nathan tem essas características sim, mas ao mesmo tempo tem umas coisas à la Travis Maddox de Belo Desastre, bem abusivo e machista. O cara simplesmente compra um prédio inteiro pra Bree não precisar pagar aluguel. Não é romântico e bonitinho gente, é extremamente controlador. Também não acho fofo falar que só vai transar com ela depois do casamento porque com ela é diferente. Mó discursinho de homem cis-hétero babaca, credo.  

Resumindo, achei o livro ridicurlamente bobo. E tudo bem, eu de fato esperava uma coisa boba, mas não precisava ser estilo as fanfics que eu escrevia com 12 anos de idade, em que os personagens começavam a namorar em uma semana e na outra já estavam casando — e não vou nem entrar no mérito do casamento supresa, outra atitude controladora pra c*r*lho. Quando eu tinha essa idade, meus ideais de relacionamento perfeito eram totalmente deturpados e, do fundo do meu coração, não acho que podemos continuar normalizando certas atitudes dos homens, como as que eu citei anteriormente.

Acredito que o grande impasse desse livro é a imaturidade de ambos os protagonistas. Todas as atitudes e falas deles parecem de dois adolescentes de 16 anos e não de pessoas adultas, quase na casa dos 30! Justamente por isso preciso dizer que não compreendo muito bem toda essa fama em torno de Táticas do Amor. Entendo que todo mundo ama um clichezinho desses que deixam o coração quentinho, mas na minha concepção há abismos entre um clichê, que pode ser muito bem escrito — com bons protagonistas, personagens bem descritos como casal e também como pessoas individuais, aprofundamentos embasados além dos tropos e outras coisas nesse sentido —, e um livro com romance mal desenvolvido, personagens enfadonhos e enredo caricato. 

Título Original: The Cheat Sheet ✦ Autora: Sarah Adams
Páginas: 304 ✦ Tradução: Sofia Soter ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

18 comentários :

  1. Personagens com 30 anos se prestando a isso? Eu jurava até ler quase até o final da resenha de que era um casal de adolescentes.
    Ah..não curto isso de uma mulher falar de outra mulher, ainda mais usando termos ruins. Afsss!
    Eu não sabia muita coisa sobre o livro e nem sei se quero saber, depois de tudo que li acima rs
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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    1. Ai amiga, fiquei deveras decepcionada com esse livro viu. Só Jesus.

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    2. Qual o problema de ter 30 anos ? As pessoas acham que só porque uma pessoa de 30 anos sabe muito da vida, tenho 35 anos d não sei nada orem de achar que 30 anos são pessoas sábias.

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    3. Então, em momento algum eu disse que uma pessoa de 30 anos sabe tudo da vida. Eu também tenho quase 30 e sinto que não sei nada. Mas fato é: sou bem mais madura que o meu eu de 15 ou 16 anos, e isso é o esperado. Uma coisa é na coisa, outra coisa é outra coisa, né?

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  2. Aí Ana... Táticas é um dos livros mais desejados.....
    Eu amo comédias românticas bobinhas.
    Mas se tiver a oportunidade de ler vou preparada com baixas expectativas

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  3. Eu vi que esse livro ficou famosinho, mas esse detalhe da Bree sabotar as relações eu vi muita review gringa comentando, mas quase nenhuma do povo br falando... eu desisti de ler esse livro, ainda bem se não eu ia passar era raiva!
    https://www.balaiodebabados.com.br/

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    1. E assim, o pior de tudo ela sempre falando no livro coisas sobre como ela é melhor e mais importante do que qualquer outra mulher na vida dele, sabe? Sem saco pra essas coisas.

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  4. Acredito que seja um romance leve só para passar o tempo mesmo .Uma pena os personagens não terem química .Acho isso fundamental em um romance.Mas se tiver oportunidade lerei assim mesmo até porque creio que é a intenção da autora foi construir um livro leve somente para passar o tempo mesmo.E romance é um dos meus gêneros favoritos.

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  5. Ana!
    Já achando que seria uma daquelas comédias românticas bem gostosinhas, mesmo que clichê, daí você mostrar as barbaridades que acontecem com a escrita e o enredo, daí fiquei desgostosa, principalemnte pela falta de maturidade.
    cheirinhos
    Rudy

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  6. Eu já nao sou taaao fã de friends to lovers, quase sempre cai nesse assunto "de nao quero, mas quero, mas vai acabar nossa amizade" enfim... rs. Tem pouco que gostei muito alias, mas uns n foi pra mim. Esse livro eu to curiosa, mas ultimamente to vendo mais resenha opostas umas com as outras do que a galera curtindo muito, ta bem 8 ou 80. Sera que vou curtir rsrs

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  7. Tentou algum a moda antiga que não colou muito bem! Algumas coisas apontadas são bastante irritante de ler. Se as coisas não são desenvolvidas e não tem um pingo de química ai não tem jeito mesmo.

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  8. Ainda bem que li essa resenha, hahaha Estava pensando seriamente em ler, mas tudo que você pontuou é exatamente o que eu fujo de um livro.

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  9. Oieee, Fiquei até murchinha com sua resenha em relação ao livro.. Queria tanto ler que agora fiquei com medo.. haha
    Eu quero ler o outro da autora que muitos falam bem.. espero que não seja como esse

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  10. Embora não tenha lido o livro, entendo seus sentimentos em relação à leitura. Também não tenho nada contra bons enredos que partam de um clichê, mas que conseguem um bom desenvolvimento e nos conquistando por serem bem escritos. Esse é apenas um dos fenômenos criados pelas redes sociais.

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  11. Olá! Por isso meu receio com esses livros que bombam no tiktok, sempre fico com um pé atrás, e esse pelo visto tem bastantes pontos negativos, uma pena, pois adoro enredos com jogadores da NFL.

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  12. Oi,
    Ai esses sucessos do tiktok são bem duvidosos kkkk
    Os que tentei ler, não gostei
    Esse parece ser beeeeem mais do mesmo, e pela sua resenha deu pra ver que é mal desenvolvido e esse Nathan ainda é bem controlador e chatão.
    Não lerei.
    Bjs

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