Uketsu, fenômeno do terror japonês, chegou ao Brasil por duas editoras diferentes: Casas Estranhas, que eu já li e já resenhei, foi lançado pela Intrínseca, enquanto Imagens Estranhas veio pela Suma. Decidi pegar os dois pra ler no mesmo mês porque queria conhecer logo esse autor que tem feito tanto sucesso, tanto pela qualidade de suas obras, quanto pelo mistério de sua própria identidade, já que ninguém sabe quem ele é, pois sempre que ele aparece, ele está usando uma máscara branca sinistra.
Já quero começar falando sobre a edição brasileira de Imagens Estranhas que está impecável: a capa é linda e tem detalhes em verniz localizado, a parte interna da capa é ilustrada, assim como todo o livro e a diagramação está perfeita. Foi um prazer fazer essa leitura, ao mesmo tempo que eu observava as ilustrações.
A história começa com uma psicóloga e professora universitária mostrando aos alunos um desenho feito por uma criança que matou a própria mãe. Em seguida, somos apresentados a quatro histórias diferentes e todas envolvem desenhos que parecem normais, mas que revelam, aos olhos mais atentos, detalhes obscuros e segredos chocantes.
Um homem posta em seu blog os desenhos que sua mulher fez durante sua gravidez, uma professora mostra a uma mãe o estranho desenho que seu filho fez na escola, um professor de artes deixa um último desenho antes de morrer misteriosamente e uma garotinha pede ao pai um passarinho de estimação.
Essas quatro histórias se ligam paras formar uma única e completa história. E aqui vai o primeiro ponto positivo: normalmente, em livros com histórias que se ligam, essa ligação só fica realmente clara no fim da leitura. Porém, em Imagens Estranhas, isso vai ficando evidente capítulo a capítulo, permitindo que nós, leitores, possamos ligar os pontos aos poucos e de forma constante.
Assim como aconteceu em Casas Estranhas, aqui também a investigação beira o mirabolante em vários momentos e é preciso fazer certa suspensão de descrença e apenas aceitar os caminhos que o autor decide trilhar. Na verdade, essa característica das histórias de Uketsu me lembra muitos os livros de Sherlock Holmes, em que o personagem possui habilidades dedutivas brilhantes e, por vezes, não muito criveis.
Uma curiosidade é que esse personagem em questão (que faz deduções inacreditáveis) também aparece em Casas Estranhas. Essa é uma tendência forte em livros de investigação e mistério: Agatha Christie tinha seu Poirot, Arthur Conan Doile tinha Sherlock Holmes e Uketsu tem Kurihara.
Eu gostei da leitura, mas o mistério por trás dos desenhos não me prendeu tanto assim. Já próximo do fim do livro eu percebi que não me importava tanto com o desfecho, que a jornada em si é que estava sendo interessante e divertida: observar os desenhos e tentar encontrar as respostas antes delas serem reveladas me manteve na leitura mais do que a resolução em si.
Foi uma leitura rápida, mas não tão rápida quanto Casas Estranhas, que é menor e, na minha opinião, um pouco mais fluido. Uma coisa curiosa sobre a esmagadora maioria dos livros japoneses que eu já li é que suas narrativas são muito mais diretas do que a literatura com a qual estamos habituados (livros da América e da Europa, principalmente). Um bom exemplo disso é que, mesmo após ler dois livros com o Kurihara eu sigo sem saber nada sobre ele, apenas que ele tem boas habilidades dedutivas.
Ou seja, Uketsu não nos dá muito contexto e background. Ele vem, conta a história que quer contar e nada além disso. Se você gosta de histórias direto ao ponto, provavelmente você vai gostar. Eu gostei de conhecer o trabalho desse autor, foram leituras intrigantes, rápidas e bem diferentes do que eu estou acostumada.
Uma coisa que eu já havia dito na resenha de Casas Estranhas e que aqui se repetiu foi a questão de eu ter ido esperando terror quando, na verdade, encontrei mistério e investigação. Em Imagens Estranhas isso se repete: apesar da capa e de algumas imagens serem bem perturbadoras, é um livro de investigação para que o leitor brinque de detetive.
No geral, gostei das minhas experiências com Uketsu, mas nada muito memorável. E você, já leu alguma coisa do mascarado?
Priscila e Ana,
ResponderExcluirJá diria Glória Perez: "pobre de quem não sabe voar"..... então voemos com Uketsu e embarquemos nessa kkk
A premissa é interessante e fiquei curiosa pra saber como essas histórias se conectam