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3 de julho de 2025

Phantasma, de Kaylie Smith, entrega o que promete ou é apenas mais uma romantasia?

Phantasma tinha tudo pra dar certo pra mim: fantasia com elementos sombrios, fantasmas, demônios, uma família de mulheres Necromantes e inteligentes, relação entre irmãs e, de brinde, um hotzinho. E será que conseguiu entregar o que prometeu? Vou fazer esse mistério e dar minha resposta no final da resenha. 👀

A história já começa com a morte da senhora Grimm, mãe de Genevieve e Ophelia, nossa protagonista, deixando as filhas com uma dívida financeira e uma herança mágica que mais parece uma maldição. As coisas se desenrolam de tal forma que ambas as irmãs vão parar em Phantasma, a mansão do diabo onde acontecem competições macabras e sangrentas que podem resultar em prêmios mágicos.

Na mansão, Ophelia conhece Blackwell, um fantasma metido e galanteador que lhe propõe um pacto. Em se tratando de uma romantasia, nós já sabemos que Ophelia e Blackwell viverão um romance. Romance este que renderá muitas cenas picantes ao longo do livro. Algumas muito boas, outras nem tanto.

A maior parte do livro consiste em Ophelia vivendo seus dias em Phantasma, passando pelas fases e pelos desafios que a mansão apresenta, desenvolvendo sua relação com Blackwell, buscando pela irmã e desvendando mistérios. Há questões envolvendo sua própria história e família e também mistérios sobre quem é Blackwell e o que ele precisa para se libertar.

Uma coisa interessante, e que a autora nos alerta logo no início do livro, é que Ophelia apresenta comportamentos obsessivo-compulsivos com muitos pensamentos intrusivos perturbadores. Essa, pra mim, foi uma das partes mais interessantes do livro. Poucas vezes eu vi um romance retratar tão bem o TOC. Ao final, entendemos que esse retrato fiel é decorrente da própria autora ter esse diagnóstico.

Ophelia lida com os demônios de Phantasma e com seus próprios demônios internos, o que faz dela uma personagem bem complexa que, em alguns momentos, cai em alguns clichês dos livros de fantasia, mas nada que tenha atrapalhado a leitura.

Não é a fantasia mais inovadora que eu já li, mas é muuuuito envolvente. O lance da competição é bem batido em livros desse gênero, mas o fato de ser entre demônios e assombrações conseguiu trazer algo de novo. Outro ponto a se considerar é que o livro tem um tom bem juvenil, que não era exatamente o que eu estava esperando.

O que eu mais senti falta foi ver mais do universo fantástico e do sistema de magia. Sinto que passar o livro todo dentro da mansão foi um pouco limitante. Mas, como sabemos que não se trata de um livro único, tenho esperança de ver mais sobre isso na(s) sequência(s).

No início do livro tem uma Hierarquia de Seres Paranormais que inclui Diabo, Demônios, Assombrações, Vampiros, Metamorfos, Familiares, Espíritos, Videntes, Feiticeiras e Espectros, mas quase nada disso é apresentado ou explorado no livro.

Mas, então: valeu a pena? Pra mim, valeu sim. Eu fiquei super envolvida com a história, as competições são interessantes e seguem uma lógica bem definida, o desenrolar da história surpreende, Blackwell é um gostoso querido, os poderes da Ophelia ainda têm muito a entregar e tem uma revelação no final do livro que a gente descobre, mas os personagens não e eu estou super curiosa pra saber como será feita essa revelação pra eles.

Essa leitura era exatamente o que eu estava precisando, uma fantasia simples que serviu entretenimento. Se é isso que você está procurando: recomendo fortemente.

Título Original: Phantasma ✦ Autora: Kaylie Smith
Páginas: 368 ✦ Tradução: Helen Pandolfi ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
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14 de junho de 2025

Imagens Estranhas, um suspense perturbador de Uketsu

Uketsu, fenômeno do terror japonês, chegou ao Brasil por duas editoras diferentes: Casas Estranhas, que eu já li e já resenhei, foi lançado pela Intrínseca, enquanto Imagens Estranhas veio pela Suma. Decidi pegar os dois pra ler no mesmo mês porque queria conhecer logo esse autor que tem feito tanto sucesso, tanto pela qualidade de suas obras, quanto pelo mistério de sua própria identidade, já que ninguém sabe quem ele é, pois sempre que ele aparece, ele está usando uma máscara branca sinistra.

Já quero começar falando sobre a edição brasileira de Imagens Estranhas que está impecável: a capa é linda e tem detalhes em verniz localizado, a parte interna da capa é ilustrada, assim como todo o livro e a diagramação está perfeita. Foi um prazer fazer essa leitura, ao mesmo tempo que eu observava as ilustrações.

A história começa com uma psicóloga e professora universitária mostrando aos alunos um desenho feito por uma criança que matou a própria mãe. Em seguida, somos apresentados a quatro histórias diferentes e todas envolvem desenhos que parecem normais, mas que revelam, aos olhos mais atentos, detalhes obscuros e segredos chocantes.

Um homem posta em seu blog os desenhos que sua mulher fez durante sua gravidez, uma professora mostra a uma mãe o estranho desenho que seu filho fez na escola, um professor de artes deixa um último desenho antes de morrer misteriosamente e uma garotinha pede ao pai um passarinho de estimação.

Essas quatro histórias se ligam paras formar uma única e completa história. E aqui vai o primeiro ponto positivo: normalmente, em livros com histórias que se ligam, essa ligação só fica realmente clara no fim da leitura. Porém, em Imagens Estranhas, isso vai ficando evidente capítulo a capítulo, permitindo que nós, leitores, possamos ligar os pontos aos poucos e de forma constante.

Assim como aconteceu em Casas Estranhas, aqui também a investigação beira o mirabolante em vários momentos e é preciso fazer certa suspensão de descrença e apenas aceitar os caminhos que o autor decide trilhar. Na verdade, essa característica das histórias de Uketsu me lembra muitos os livros de Sherlock Holmes, em que o personagem possui habilidades dedutivas brilhantes e, por vezes, não muito criveis. 

Uma curiosidade é que esse personagem em questão (que faz deduções inacreditáveis) também aparece em Casas Estranhas. Essa é uma tendência forte em livros de investigação e mistério: Agatha Christie tinha seu Poirot, Arthur Conan Doile tinha Sherlock Holmes e Uketsu tem Kurihara.

Eu gostei da leitura, mas o mistério por trás dos desenhos não me prendeu tanto assim. Já próximo do fim do livro eu percebi que não me importava tanto com o desfecho, que a jornada em si é que estava sendo interessante e divertida: observar os desenhos e tentar encontrar as respostas antes delas serem reveladas me manteve na leitura mais do que a resolução em si

Foi uma leitura rápida, mas não tão rápida quanto Casas Estranhas, que é menor e, na minha opinião, um pouco mais fluido. Uma coisa curiosa sobre a esmagadora maioria dos livros japoneses que eu já li é que suas narrativas são muito mais diretas do que a literatura com a qual estamos habituados (livros da América e da Europa, principalmente). Um bom exemplo disso é que, mesmo após ler dois livros com o Kurihara eu sigo sem saber nada sobre ele, apenas que ele tem boas habilidades dedutivas.

Ou seja, Uketsu não nos dá muito contexto e background. Ele vem, conta a história que quer contar e nada além disso. Se você gosta de histórias direto ao ponto, provavelmente você vai gostar. Eu gostei de conhecer o trabalho desse autor, foram leituras intrigantes, rápidas e bem diferentes do que eu estou acostumada.

Uma coisa que eu já havia dito na resenha de Casas Estranhas e que aqui se repetiu foi a questão de eu ter ido esperando terror quando, na verdade, encontrei mistério e investigação. Em Imagens Estranhas isso se repete: apesar da capa e de algumas imagens serem bem perturbadoras, é um livro de investigação para que o leitor brinque de detetive.

No geral, gostei das minhas experiências com Uketsu, mas nada muito memorável. E você, já leu alguma coisa do mascarado?

Título Original: Henna E ✦ Autor: Uketsu
Páginas: 184 ✦ Tradução: Maria Luísa Vanik ✦ Editora: Suma
Livro recebido em parceria com a editora

9 de junho de 2025

Romantasia: a nova obsessão da comunidade literária


Romantasia, como o próprio nome indica, é a fusão entre romance e fantasia. Essa junção é crucial para a narrativa. Não se trata apenas de adicionar amor a uma história fantástica, mas de integrar os elementos de ambos, criando um subgênero que oferece o melhor de dois mundos. Leitores se perdem em universos mágicos, acompanhando histórias de amor profundas e complexas, tornando a leitura única e envolvente.

Embora a mistura de amor e sobrenatural não seja nova, a popularização e formalização da romantasia como gênero distinto são fenômenos recentes. Isso foi impulsionado por comunidades de leitores online e pela demanda por narrativas que ofereçam escapismo e emoção — muitas vezes figurando entre os melhores livros de fantasia para você ler quando o assunto é literatura envolvente e cativante. O gênero se consolidou com características e expectativas bem definidas.

Assim, é crucial diferenciar a romantasia da "fantasia romântica". Na fantasia romântica, o foco principal é a fantasia, com o romance secundário. Na romantasia, romance e fantasia compartilham o protagonismo, desenvolvidos com igual profundidade. A remoção de um comprometeria a história, pois ambos os pilares são interdependentes. 

A ascensão da romantasia

A romantasia reside na capacidade de oferecer uma fuga da realidade para mundos fantásticos, ao mesmo tempo em que satisfaz o desejo por narrativas focadas em relacionamentos e emoções humanas. Essa combinação única de elementos permite que os leitores se conectem com personagens complexos e torçam por seus desfechos românticos em cenários extraordinários, tornando o gênero altamente atrativo.


O sucesso da romantasia é impulsionado por fatores como as redes sociais, especialmente TikTok (BookTok) e Instagram. Essas plataformas divulgam e recomendam livros, criando comunidades de fãs que compartilham leituras e entusiasmo. A facilidade de acesso a informações e a formação de grupos de discussão online aumentam a visibilidade de novas obras e autores.

Embora estatísticas de vendas globais específicas sejam difíceis de isolar, a constante menção em artigos e o sucesso de títulos indicam a força da romantasia no mercado editorial. Especialistas preveem crescimento contínuo em 2025, solidificando o gênero como um dos mais vendidos e influentes. A demanda por histórias que equilibram aventura fantástica com paixão e romance continua a impulsionar a produção e o consumo de obras de romantasia, garantindo sua relevância.

Elementos essenciais da romantasia

As histórias se passam em universos com sistemas de magia complexos, criaturas fantásticas, diferentes raças e geografias elaboradas. Este cenário detalhado não é apenas um pano de fundo, mas interage diretamente com a trama romântica e as jornadas dos personagens. As regras da magia, dinâmicas políticas ou ameaças sobrenaturais podem criar obstáculos ou fornecer meios para o relacionamento florescer em meio ao perigo e à aventura. O desenvolvimento de personagens é crucial, com foco nos protagonistas do romance. Os leitores torcem por eles, acompanhando suas lutas, crescimento pessoal e jornada romântica.

Arquétipos comuns incluem heróis relutantes, heroínas fortes, vilões complexos ou figuras misteriosas. A química entre o casal, seus diálogos, conflitos e a evolução do relacionamento são centrais, prendendo a atenção do leitor e tornando o aspecto romântico tão vital quanto a trama de fantasia. A interligação entre o enredo romântico e a trama de fantasia é a essência da romantasia, está intrinsecamente ligado aos eventos fantásticos. O destino do mundo pode depender do sucesso do relacionamento dos protagonistas, ou desafios mágicos podem ser superados pela força de seu vínculo.

Exemplos notáveis e autores de destaque

A romantasia é impulsionada por obras de sucesso que se tornaram referências. Quarta Asa (Fourth Wing) de Rebecca Yarros exemplifica a força do gênero, combinando fantasia envolvente com romance intenso. Corte de Espinhos e Rosas (ACOTAR) de Sarah J. Maas é outro pilar, com rica construção de mundo e personagens complexos que se apaixonam em meio a conflitos épicos.

Além de Yarros e Maas, autores como Jennifer L. Armentrout, com De Sangue e Cinzas, Rachel Gillig e seu maravilhoso Uma Janela Sombria e Rebecca Ross com o sucesso Divinos Rivais, destacam-se. Suas narrativas misturam romance proibido, criaturas sobrenaturais e intrigas políticas. Essas autoras criam mundos imersivos e personagens que ressoam com os leitores, garantindo que o elemento romântico seja tão empolgante quanto as aventuras fantásticas.


O impacto cultural da romantasia é inegável, influenciando o mercado editorial e a cultura pop. O sucesso de vendas e a paixão dos fãs geram discussões sobre adaptações para TV ou cinema, ampliando o alcance das histórias. Além disso, a romantasia é um terreno fértil para a criatividade, inspirando fanarts, fanfics e possui uma comunidade literária muito engajada, solidificando seu lugar como fenômeno cultural relevante.

O futuro da romantasia

O futuro da romantasia é promissor, com o gênero evoluindo e se diversificando. Autores exploram essa fusão, e novas abordagens narrativas surgem. Podemos esperar histórias com elementos de mistério, suspense ou ficção científica, mantendo o equilíbrio entre romance e fantasia. Essa capacidade de adaptação e inovação garante que o gênero continue relevante e atraente para um público, ávido por narrativas emocionantes que desafiem as convenções.

O papel da romantasia na literatura contemporânea é cada vez mais significativo. Longe de ser uma moda, o gênero aborda temas complexos através de suas lentes. Questões de identidade, poder, escolha, sacrifício e a natureza do amor são exploradas em profundidade em mundos onde magia e perigo são reais. A romantasia oferece uma plataforma única para discutir a condição humana e os relacionamentos em contextos extraordinários, provando que histórias populares podem ser divertidas e instigantes.

A paixão de sua base de fãs, a proliferação de novas vozes e a contínua exploração de suas possibilidades narrativas indicam que o gênero continuará a encantar leitores. Seja em sagas épicas com romances proibidos ou histórias intimistas em reinos encantados, a romantasia oferece uma rica tapeçaria de narrativas que celebram a imaginação, a emoção e a poderosa conexão entre os seres.

Conclusão

A ascensão meteórica da romantasia, impulsionada por comunidades online e o apelo por escapismo e aventura, reflete uma demanda crescente por histórias que ofereçam tanto a emoção de um grande amor quanto a maravilha de mundos inexplorados. Os elementos essenciais, do worldbuilding ao desenvolvimento de personagens e a interligação intrínseca entre romance e fantasia, são a base de seu sucesso.

O impacto e a relevância da romantasia na literatura contemporânea são inegáveis. Obras de autores como Jennifer L. Armentrout e Sarah J. Maas definiram o gênero e abriram portas para novos escritores e leitores. A romantasia provou ser mais que uma tendência, oferecendo um espaço para explorar temas universais em contextos fantásticos e promovendo uma comunidade global de fãs.

3 de junho de 2025

Casas Estranhas, um sucesso do misterioso autor japonês Uketsu


Se você gosta de livros de terror e mistério, talvez já tenha ouvido falar em Uketsu, um dos maiores autores de horror do Japão, que também é YouTuber. Uketsu desperta curiosidade entre os leitores, principalmente porque ninguém sabe quem ele é, já que ele sempre aparece com roupas pretas, uma máscara branca e usa efeito para distorcer a voz.

Um de seus maiores sucessos é seu primeiro livro, Casas Estranhas, que chega ao Brasil pela Intrínseca e que eu tive o prazer de ler. A primeira coisa que posso dizer é que foi uma leitura muito rápida. Eu comecei e terminei no mesmo dia. A história contada pelo autor é pontual, com começo, meio e fim e sem contextualizações desnecessárias ou digressões. A gente não sabe praticamente nada sobre os personagens: eles são apenas meios para contar a história que o autor quer contar.

E qual seria essa história? Em Casas Estranhas, um escritor com forte interesse em temas ocultos e um especialista em arquitetura analisam a planta de uma estranha casa. Entre as peculiaridades dessa residência estão: um pequeno espaço entre um cômodo e outro e um quarto infantil sem janelas que só pode ser acessado através do quarto dos pais e só depois de passar por duas portas.

O que essas peculiaridades revelam sobre a casa e sobre seus habitantes? Por que a criança parece estar escondida em um quarto sem janelas? O que realmente há naquele espaço misterioso entre cômodos? É isso que o escritor e o arquiteto tentam investigar e entender, ao maior estilo Sherlock Holmes: com deduções perspicazes e que beiram a adivinhação.

A maior parte do livro são diálogos e isso tornou a leitura muito rápida. Eu me senti sentada na mesa de um café com os personagens, ouvindo eles criarem teorias malucas que explicassem a estranheza das casas e ficando boquiaberta a cada vez que uma teoria insana se mostrava verdadeira.

Eu adorei a fluidez da leitura e a agilidade com que o autor conduz a história, sem enrolações e sem falsas pistas. Bem diferente dos suspenses convencionais onde, a cada página, tudo muda: quem parecia mocinho vira vilão e a gente fica desconfiado até da própria sombra. Se você curte histórias mais lineares, que não ficam tentando te fazer de besta, você vai amar.

Eu confesso que fui esperando um pouco mais de terror, com elementos um pouco mais sobrenaturais. Mas não é bem isso. Então se você não gosta de sentir medo e levar susto, fique tranquilo. Casas Estranhas é aquele tipo de horror que incomoda e gera estranheza, mesmo que a gente não entenda bem o porquê, e não o tipo de horror que dá medo.

A edição da Intrínseca está lindíssima. O livro é todo ilustrado com plantas de casa e uma coisa que eu gostei é que a planta de uma mesma casa reaparece sempre que os personagens estão falando sobre ela. Ou seja, você não vai precisar ficar voltando as páginas a cada vez que um personagem falar sobre algum aspecto da casa (igual mapa em começo de livro). Tem até uma parte da história em que os personagens estão riscando a planta e fazendo modificações e, a cada modificação, a planta reaparece com a alteração, tornando tudo muito fácil de visualizar.

A leitura é realmente rápida, até porque o livro ter cerca de 170 páginas. Gostei e fiquei com vontade de ler mais coisas do autor.

Título Original: Henna Ie ✦ Autor: Uketsu
Páginas: 176 ✦ Tradução: Jefferson José Teixeira ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

9 de maio de 2025

Tudo que eu aprendi atendendo mulheres ansiosas

Oii meninas. Tudo bem?

Eu me chamo Priscila Gatti, sou psicóloga e resenhista aqui do blog desde 2017. Se vocês acompanham o bloguinho, vocês já devem ter visto algumas resenhas minhas por aqui. Inclusive, já resenhei alguns livros de Psicologia.

Mas hoje eu vim divulgar o meu livro. Eu acabei de lançar um e-book onde eu compartilho tudo que eu aprendi atendendo mulheres ansiosas ao longo de 8 anos de Psicologia Clínica. Eu sou uma mulher ansiosa que atende mulheres ansiosas e, ao longo dos anos, aprendi muito sobre a nossa ansiedade.

Você já se sentiu sobrecarregada mesmo quando tudo parecia “em ordem”? Já teve a sensação de que, não importa o quanto se esforce, nunca é suficiente? Já percebeu que sua mente parece nunca parar, como se estivesse sempre tentando antecipar problemas, resolver pendências, agradar todo mundo? Já se sentiu travada frente a tantas demandas e preocupações? Ou já sentiu dificuldade em ficar parada tamanha inquietação causada pela ansiedade?

Tudo isso pode ser ansiedade, em diferentes formas de manifestação. Porque ansiedade não é só aquele nervosismo antes de uma prova ou reunião importante.

E vocês sabiam que mulheres tem quase o dobro de chance de desenvolver transtornos de ansiedade em relação aos homens? No meu e-book, eu exploro os porquês disso, incluindo causas como: pressão social e estética, violência de gênero, jornada dupla, entre outros fatores.

Ao longo desses 8 anos atendendo mulheres, eu identifiquei 6 perfis de mulheres ansiosas e, no meu e-book, eu explico cada um desses perfis e proponho técnicas e estratégias para cada tipo. São mais de 40 técnicas.

Se quiserem saber mais ou tiverem interesse em adquirir, me encontrem no Instagram: @psicologapriscilagatti 

Espero vocês lá. 💛

26 de abril de 2025

A Menina e a Pipa (& a salvadora branca), de Laetitia Colombani


Aceitas uma resenha bem problematizadora hoje? Pois é o que teremos. Prontas? Eu poderia resumir A Menina e a Pipa assim: uma professora francesa de luto resolve fazer algo que os europeus ricos adoram: ir para um país considerado de terceiro mundo para "se curar". No processo, ela descobre que pode, com seu dinheiro e seu conhecimento, ajudar os mais necessitados. O que é ótimo, claro, mas ela faz isso ao estilo europeu: se sentindo a pessoa mais incrível e altruísta do mundo.

Mas vamos começar do começo. A tal francesa se chama Léna e ela passou por uma experiência traumática. De início, o leitor não sabe exatamente o que aconteceu, mas entendemos que Léna perdeu o marido. Abalada e buscando se curar e se reconectar consigo mesma, ela decide passar um tempo vivendo no Golfo de Bengala, na Índia.

Um dia, Léna quase se afoga no mar e é salva por uma menina e uma mulher. Mais tarde, Léna descobre que a mulher em questão é a líder de um grupo local que se intitula Brigada Vermelha: um grupo de mulheres que praticam defesa pessoal e cuidam da segurança das mulheres da região. Toda a parte envolvendo a Brigada Vermelha é muito interessante. Se o livro fosse só sobre isso seria ótimo, mas a europeia não ia aceitar não ser o centro das atenções, né?!

Inclusive, a tal Brigada Vermelha existe mesmo e, pelo que pude checar, todas as informações contidas no livro são reais, incluindo a história de sua fundadora, Usha Vishwakarma, que, em 2016, foi reconhecida como uma das 100 mulheres de maior sucesso da Índia pelo Presidente do país. Segue uma explicação impactante apresentada no livro:

Aqui, o estupro é um esporte nacional, declara a chefe. E os criminosos nunca são castigados: as denúncias raramente levam a investigações, menos ainda quando as vítimas são de classes baixas. Diante da inércia das autoridades, as mulheres precisaram se organizar para garantir a própria segurança.

Léna acaba se aproximando dessas mulheres, que são muito mal vistas pelos locais, e da menina, Lalita, que não fala, mas demonstra um profundo interesse por Léna. Aos poucos, Léna percebe que não só Lalita, mas muitas meninas da região são analfabetas.

Bem-vinda à Índia, murmura. Ali, as meninas não estudam, ou se estudam é por pouco tempo. Não se considera útil educá-las. É preferível mantê-las em casa e ocupá-las com tarefas domésticas, antes de casá-las com alguém assim que atinjam a puberdade.

Léna decide mudar essa triste realidade dando aula para as meninas da região: "Em uma noite mais agitada do que as outras, Léna tem uma ideia. Uma ideia singular, surreal. Construir uma escola em Mahabalipuram."

Tudo muito legal, né?! Mulheres unidas, aprendendo a ler, escrever e lutar. No entanto, na versão de Laetitia, esse grupo de mulheres é liderado, organizado e coordenado por uma francesa bondosa. Quero deixar claro que não há nenhum problema na atitude da personagem. Espero que, na vida real, existam muitas Lénas fazendo coisas parecidas. Mas muito me incomoda a prepotência de criar uma personagem europeia e a retratar de forma quase angelical levando educação a crianças indianas tal qual uma grande salvadora branca.

"Salvador Branco" é um termo sarcástico e crítico que define uma pessoa branca que é descrita como libertadora, salvadora ou edificante para as pessoas não-brancas. Muito retratado na mídia, o salvador branco geralmente surge para resgatar pessoas não-brancas de uma situação de violência ou injustiça, normalmente impondo seus valores e vontades de forma vertical. Também é frequente que o salvador branco seja um branco viajando para um local "exótico".

Muitos filmes já foram criticados por retratarem e enaltecerem salvadores brancos. Entre eles: 12 Anos de Escravidão, Django Livre, Diamante de Sangue, Avatar, Duna, Gran Torino, O Último Samurai e A Grande Muralha. Sobre este último, a atriz Constance Wu fez o seguinte comentário"Temos que parar de perpetuar o mito racista de que apenas um homem branco pode salvar o mundo. Não é baseado em fatos reais. Nossos heróis não se parecem com Matt Damon."

Ouso dizer que os heróis indianos também não se parecem com uma professora francesa traumatizada.

No livro, Léna está constantemente dando ordens às outras mulheres, dizendo o que elas devem ou não fazer. Um trecho específico que me incomodou bastante é quando Léna percebe que as meninas faltam às aulas quando estão menstruadas. O livro explica muito brevemente sobre como a menstruação é um tabu na Índia, mas a resolução é basicamente Léna fazendo as meninas prometerem que não faltarão às aulas quando estiverem menstruadas. Ah, ela também faz um discurso sobre a importância de os panos (que as meninas usam para se limpar e para absorver a menstruação) estarem sempre "cuidadosamente" lavados. Isso tudo logo depois de explicar que "No campo, as escolas não têm banheiro; as meninas precisam se afastar e se esconder na mata para fazer o procedimento. Elas têm vergonha e medo de ser descobertas, até agredidas." Ou seja, um problema complexo sendo solucionado de uma forma simples. A Salvadora Branca ataca novamente.

Não vou mentir: eu não acho que o plot de "encontrar a cura ajudando os outros" seja ruim. É de fato muito poético e tocante ver alguém se curando enquanto ajuda outras pessoas. Mas a forma messiânica como isso é feito é profundamente perturbadora e é difícil acreditar que histórias assim continuam sendo escritas. Vejam esse trecho:

As garotas com quem convive não terão nenhuma outra oportunidade de se educar: a escola é a única escapatória possível da prisão invisível na qual a sociedade deseja trancafiá-las. Léna terá que lutar contra essas correntes. Será preciso enfrentar os perigos, opor-se aos adversários com toda a sua inteligência e a sua determinação. O combate promete ser demorado.

A Léna sendo descrita como uma guerreira solitária lutando sozinha contra os costumes milenares de um país "com toda a sua inteligência e a sua determinação" chega a me dar vergonha.

Pra além de toda essa questão problemática, vale dizer também que o livro carece de profundidade. Em vários momentos, eu achei a narrativa um tanto quanto jornalística: sem emoção, apenas descrições. As intenções da protagonista não ficam claras, porque o livro não se importa em esclarecer seus sentimentos e pensamentos ao leitor.

Antes da metade do livro eu já estava completamente desinteressada e irritada com toda a importância que Léna dá a si mesma e às suas ideias geniais. Mesmo assim, insisti. O final não é de todo ruim. Na verdade, o final traz um tom levemente diferente, mais pessoal, focado na transformação que Léna teve e não na que supostamente causou. Se todo o livro tivesse tido esse tom mais pessoal, de uma pessoa se encontrando e se curando, teria sido muito melhor. O problema foi a insistência em transformar Léna numa heroína branca salvando pessoas não-brancas ao invés de focar apenas no fato de ela ser uma mulher em luto buscando se reconectar consigo mesma e se curar enquanto explora um país novo.

Enfim, se você não for uma chata problematizadora como eu, provavelmente você vai apreciar bem mais essa leitura. Acredito que, se você focar no aspecto pessoal do processo de cura da Léna, a leitura funcionará muito bem. Todo o trabalho de diagramação e tradução da Intrínseca está impecável, como sempre. A capa é linda, a leitura é confortável e eu não encontrei um errinho sequer. 

Título Original: Le cerf-volant ✦ Autora: Laetitia Colombani
Páginas: 192 ✦ Tradução: Sofia Soter ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora