SOCIAL MEDIA

31 de dezembro de 2016

Lobo por Lobo | Ryan Graudin


Como seria o mundo se a Alemanha tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial? É com essa pergunta que Ryan Graudin desenha a trama de Lobo por Lobo e reinventa a realidade a partir de um dos maiores "E se..." da história da humanidade. Sua ousadia literária resultou em um enredo original, extremamente envolvente e repleto de reflexões sobre o que poderia ter sido.

Yael, protagonista do livro, havia sido submetida a experimentos em um campo de concentração quando criança, em uma tentativa de fazer seus traços semelhantes aos dos alemães. O experimento, entretanto, permitiu que seus traços se transformassem a tal ponto que ela podia assumir qualquer fisionomia que desejasse. Como membro da resistência, ela assume a identidade de Adele Wolfe, com a missão de vencer o Tour do Eixo, se aproximar do führer e matá-lo.

_ Estamos fazendo progresso. - O sorriso do dr. Geyer aumentou, como se seus lábios fossem abertos por um pé de cabra. Ele devolvia a prancheta para a enfermeira, rolava o banquinho até a mesinha prateada onde as agulhas ficavam organizadas em fileira. Dentes de prata, querendo enfiar veneno na pele de Yael. Enchê-la de mais dois dias de ardor e agonia. Mudá-la de dentro para fora. Tirar todas as cores, os sentimentos e a humanidade de dentro dela. Drenar, drenar, drenar, até não sobrar nada.
Só o fantasma de uma menina. Uma casca oca.

Progresso.

Lobo por Lobo traz em suas páginas um enredo eletrizante. Grande parte da trama se desenrola no decorrer do Tour do Eixo, uma corrida de motos na qual vida e morte estão em jogo, e cujo percurso perpassa toda a Europa, parte da África e Ásia. Não sou grande fã de corridas, então deduzi que ficaria entediada com essas cenas, mas a autora consegue narrar esses trechos com tanta paixão e intensidade que é difícil não ficar grudada a cada palavra. Além disso, o perigo está em cada quilômetro, e a tensão deixa o tédio bem longe.

E não é só Yael que se destaca durante o livro. Fiquei centenas de vezes com o coração dividido entre Luka e Felix, tão doces por trás de toda a carranca e briga por posições. Esses rapazes tocaram meu coração apesar de tudo, e eu fiquei muito curiosa para saber mais do passado entre eles e a verdadeira Adele, e também se em algum momento eles reencontrarão Yael.

O mais interessante da história é que Ryan Graudin utilizou aspectos verídicos do governo de Adolf Hitler para embasar sua trama. A cruz de ferro, a Gestapo, as operações militares e a ideia de construção da "capital do mundo", a Germânia, são apenas alguns dos elementos reais que estão presentes no livro. A própria autora comenta, em uma nota ao final do livro, sobre a origem de alguns detalhes de seu texto. Tudo isso misturado, é claro, a uma boa dose de liberdade criativa.

A maior liberdade criativa do livro, aliás, é a metamorfia de Yael. Claro que isso é fantasioso e muito improvável de acontecer, mas os experimentos dos alemães de fato ocorriam naquela época e a autora explica que optou por incluir esse elemento fantástico para fazer os leitores refletir sobre a real importância da aparência. Yael pode se transformar em qualquer pessoa, mas não lembra sua própria aparência, então é difícil dizer em que padrões ela se enquadraria. Provavelmente, em nenhum deles, porque ela não reflete o que é de verdade, Yael só existe por trás de cada rosto que assume.

[...] Às vezes (muitas vezes) não restava nada para o luto se alimentar. Yael era uma tela em branco. Um cabide com uma pele bonita pendurada nele.
Quem é você? (Por dentro?)
A resposta para aquela pergunta era algo por que ela precisava lutar. Seu reflexo não era reflexo nenhum. Era um espelho estilhaçado. Algo cujas peças precisava juntar, várias e várias vezes. Memória por memória. Perda por perda. Lobo por lobo.

O livro termina com uma grande reviravolta, daquelas de deixar qualquer leitor doente de ansiedade pelo próximo livro. Para quem gosta de uma história repleta de adrenalina, ou se interessa por possibilidades históricas, Lobo por Lobo é uma ótima opção. Gostei muito da trama criada por Graudin e, agora, além da expectativa pelo próximo livro da série, fiquei curiosa para ler A Cidade Murada, também escrito pela autora.

Título Original: Wolf by wolf
Autora:
Ryan Graudin
Tradução: Guilherme Miranda
Páginas: 360
Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora

12 comentários :

  1. Faz um tempo que estou querendo ler este livro, a história parece ser incrível e estou com as expectativas altas.

    ResponderExcluir
  2. Desde quando vi o livro já fiquei querendo ler, mesmo sem saber qual era o tema. E, após ler sua resenha, vejo que não estava enganada. É interessante ver como o autor imaginou como seria se o Eixo tivesse ganhado a Segunda Guerra. E ainda tem essa corrida! Deve ser uma tensão e emoção danada, já que nunca se sabe o que vai acontecer logo em seguida. Com relação à Luka e Felix, bem que a autora podia escrever um livro centrado neles e em sua história de vida, seu passado, e até mesmo no que aconteceu a eles depois dessa corrida. Yael parece ser uma ótima protagonista e o que mais gostei foi o fato de a autora criá-la sendo capaz de se metamorfosear, já que por trás disso há uma lição.

    ResponderExcluir
  3. Oi!
    Já tinha visto esse livro em algumas prateleiras mas não tinha dado atenção a ele e me arrependi no momento em que li sua resenha, adoro histórias que se passam na segunda guerra mundial pois a maioria delas são tocantes e comoventes, achei a premissa do livro muito interessante, e estou curiosa para descobrir o que vai acontecer com a protagonista.
    Beijos Squad Of Readers

    ResponderExcluir
  4. Ju!
    Ideia sensacional da autora em mistura símbolos da época nazista com fantasia, o que torna o livro até crível e nos mostra que a criatividade pode ser cada vez aprimorada.
    Gostaria de acompanhar essa corrida e acompanhar todas as reviravoltas do livro.
    “Não existem sonhos impossíveis para aqueles que realmente acreditam que o poder realizador reside no interior de cada ser humano. Sempre que alguém descobre esse poder, algo antes considerado impossível, se torna realidade.” (Albert Einstein)
    FELIZ 2017!
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  5. Oi Ju, tudo bem?
    Eu sou apaixonada nessa capa, mas não tinha lido nada sobre o livro ainda, fiquei surpreendida de se tratar de um grande 'E SE...", ansiosa para saber tudo o que acontece, e achei bem diferente isso de se transformar em várias pessoas, já vai pra minha listinha de próximas leituras *-*
    Beijos!
    Lost Words

    ResponderExcluir
  6. Oi Ju! Eu não gosto nem de pensar como seria o mundo se a Alemanha, Hitler e seus nazistas tivessem vencido a Segunda Guerra! Mas, achei super genial a premissa desse livro, com certeza irá para minhas metade de leitura para 2017! É sempre bom ler livros que mesmo fantasiosos trazem um fundo histórico verídico, e esse ainda por cima tem um toque de aventura! Amei a resenha, fiquei megafone ansiosa para tê-lo! Bjos!

    ResponderExcluir
  7. eu não conhecia esse livro
    mas ele entrou na minha lista do preciso ler ontem!
    eu adoro essas teorias "e se", em especial com uma coisa tão grande como essa, se os nazistas tivessem ganhando e juntando reviravoltas fiquei super curiosa
    além do toque de "fantasia" se bem que a parte do ocultismo dos nazistas e as experiências...

    ResponderExcluir
  8. Nunca fui muito fã de história mas as Guerras Mundiais me fascinam (não sei porque). O livro parece muito interessante, não é o tipo de leitura que costumo ler mas realmente me chamou atenção!

    ResponderExcluir
  9. Oi!
    Ainda não conhecia esse livro, mas achei a historia dele bem diferente, gostei muito desse mistura de ficção com aspectos verídicos que o livro trás, a escrita da autora parece conquista e envolver o leitor e se tiver oportunidade com certeza irei ler esse livro !!

    ResponderExcluir
  10. Achei o tema abordado muito bom, poder trocar de fisionomia para atingir os objetivos é até interessante desde que usado para o bem, mas fiquei com dó da personagem que depois de tantos rostos, não saber qual o seu próprio é triste.

    ResponderExcluir
  11. Tenho muita curiosidade em ler A Cidade murada da autora, e depois dessa lançamento fiquei até indecisa quanto a qual obra começar.
    Recentemente li um livro sobre a Segunda guerra mundial, então acho que seria bacana ler um livro que mostra como seria se o ganhador tivesse sido a Alemanha. Imagino o quanto essa trama deve ser criativa e impactante. Fiquei sabendo por essa resenha que o livro tem continuação, o que me desanimou, mas mesmo assim vou dar uma chance muito em breve.

    ResponderExcluir
  12. Recebi este livro na caixa da Turista Literário, mas ainda não li. Quero muito ler em 2017 e sua resenha só me fez ter mais vontade de ler.

    ResponderExcluir