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27 de agosto de 2018

O Ceifador | Neal Shusterman


A proposta de O Ceifador, de Neal Schusterman, é inusitada e interessante: uma realidade onde a humanidade já superou as doenças e a morte, já alcançou todo o conhecimento possível e a perspectiva de eternidade é quase certa. A única exceção a essa regra são os ceifadores, pessoas escolhidas e treinadas para coletar e manter o crescimento populacional em um nível razoável, que se tornam temidas e idolatradas na mesma medida. 

Essa é apenas uma síntese do enredo, que é muito mais amplo e abarca conceitos como a nimbo-cúmulo, a organização da Ceifa, regras de conduta, revivificação e tantas outras coisas que prefiro não explicar aqui, já que a graça é exatamente descobrir durante a leitura. O que realmente importa é que, nesse contexto, Citra e Rowan são escolhidos como aprendizes do ceifador Faraday e precisam aprender a matar, ainda que não gostem da ideia.

O que eu mais gostei em O Ceifador foi a crítica social construída em uma realidade que aparenta ser completamente oposta à nossa, mas na verdade não é. Se imaginarmos que os homens venham a alcançar a imortalidade, provavelmente manterão os verdadeiros males da humanidade consigo, aqueles que estão arraigados na consciência de alguns, e o livro retrata bem isso. Não estou falando aqui da violência e da desigualdade — até porque, no contexto da obra, a desigualdade e a dor foram superadas, o que desestimulou a busca incontrolável existente no sistema capitalista como o vivemos —, mas da crueldade de algumas pessoas e da gana por poder.

Na trama, a única instituição humana não coordenada pela nimbo-cúmulo é a Ceifa, e é claro que alguns se aproveitariam do privilégio de estar "acima" dos outros para se beneficiar. Por isso, há corrupção na organização e há ceifadores que agem fora da lei e matam pelo prazer de matar, com requintes de crueldade, pelo simples fato de que se acham poderosos e de saberem que não podem ser penalizados. Por mais que isso me entristeça, acho que, se a humanidade chegasse ao ponto da história do livro, algo semelhante realmente poderia acontecer; mas é claro que, como um espelho da realidade atual, também existem pessoas que lutam por uma sociedade mais justa, como é o caso de Citra e Rowan.

Ela queria lhe dizer o quanto o admirava pelo que havia feito. Escolher a compaixão em vez do dever. Havia uma lição a ser aprendida em todas as coletas, e a de hoje tinha sido inesquecível. O caráter sagrado da lei... e o bom senso de saber quando ela deve ser quebrada.

A construção da narrativa e dos personagens foi feita de uma forma instigante, e não há como esclarecer o que eu quero dizer se não citar esses dois aspectos do texto em conjunto. Sempre em terceira pessoa, o texto intercala a perspectiva dos aprendizes, inclusive com nuances psicológicas, sem, contudo, analisar outros personagens em seu íntimo. No decorrer da leitura, fica nítida a mudança que o treinamento traz a Citra e Rowan e em sua forma de pensar. Por outro lado, todos os demais personagens são um enigma e várias vezes me questionei sobre a intenção de um ou de outro até ter certeza se era possível confiar neles ou não.

O livro é envolvente e vibrante, e não se torna em nenhum momento cansativo. Não se trata apenas de trechos que contam a organização da sociedade, mas há um bom número de cenas de ação, descrições de treinamentos e até uma pitadinha de romance.

O Ceifador traz ainda algumas outras reflexões interessantes. Uma delas é a questão da imortalidade e da igualdade. Na trama, a humanidade já atingiu sua evolução máxima — não há mais uma finalidade para sair de casa todos os dias para trabalhar, não há mais a esperança de um mundo melhor — e a consequência disso é a sensação de inutilidade que atinge a todos. Num contexto normal, isso resultaria em depressão ou outras doenças psicológicas que, na história, são evitadas pela ciência e pela tecnologia avançadas.

— Você sente um pouco... mas é apenas uma sombra do que poderia sentir. Sem a ameaça do sofrimento, não temos como sentir a verdadeira alegria. O melhor que podemos conseguir é uma vida agradável.

Outro aspecto interessante a ser citado é a própria nimbo-cúmulo. Sempre que se pensa em máquinas assumindo consciência, seja nos filmes ou na literatura, imagina-se em uma guerra contra a humanidade, mas o livro traz uma outra possibilidade: a de unir-se a humanidade para solucionar os conflitos existentes, de somar esforços para uma sociedade mais igualitária. Eu, particularmente, nunca tinha pensado a partir dessa perspectiva e gostei da possibilidade.

O Ceifador é uma leitura interessante, não só pelo contexto original e inovador, pelas reviravoltas e emoções que traz, mas também pelas considerações implícitas em seu texto, que tornam um enredo juvenil em algo questionador.

Título Original: Scythe #1
Autor: Neal Shusterman
Páginas: 448
Tradução: Guilherme Miranda
Editora: Seguinte

14 comentários :

  1. Oi Ju,
    A ideia de um mundo perfeito é desejo de muitos, mas algo inalcançável na nossa realidade. O que eu gosto ou gostava (já que não tenho lido muitos livros do gênero) das distopias é essa exploração de um mundo que se tornou corruptível em algum momento da história e, a partir daí, a sociedade precisa descobrir uma nova dinâmica de convívio e funcionamento deste mundo. Falando sobre o tema desta trama a minha ideia de ceifadores sempre esteve relacionada a algo ruim que vinha com a morte de um indivíduo, pois foi o que aprendi em outras leituras (e aí me vem aquela imagem do barquinho com um ceifador vindo em busca da alma da pessoa que acabou de morrer), mas Neal Shusterman explorou uma outra maneira de aplicar este "conceito" e achei isso muito interessante. Recentemente conheci a escrita do autor através de outra obra e fui fisgada por sua narrativa (um pouco difícil, mas prazerosa), por isso quero muito ler O Ceifador.

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  2. A Seguinte fala sempre de O Ceifador em suas redes sociais e nas lives que promove no Facebook.
    Achei a premissa interessante e me deixou pensando como seria viver em uma realidade como na do livro.

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  3. Quando este livro foi lançado há um tempinho, fiquei olhando ele por um bom tempo e imaginando toda aquela situação. Assustador, diria eu. Pelo fato da humanidade ter superado seus males, só por isso, já seria algo fantástico, mas também pelos ceifadores de fato, muitas vezes, pensei eu, parecerem estas pessoas "normais" que vivem no meio de nós, se achando sempre no direito de se acharem melhores que muitos. Nojo!
    Acredito que um livro deste porte, seja uma leitura única, tipo, para leitores escolhidos e com a mente aberta ao que pode ser apenas um sonho!
    Beijo

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  4. Olá Ju!!
    Li algumas resenhas sobre o livro e gostei bastante, espero quando surgir oportunidade a leitura me agrade...gosto mto de livros do gênero.
    Bjs!

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  5. Oi, Ju,

    A fórmula utilizada e a ambientação criada pelo autor, desperta o interesse do leitor. É um processo bem intrigante ficar por dentro de um mundo evoluído, ficar por dentro das novas normas e acompanhar todo o desenvolvimento da história.

    O importante do livro, com certeza é a mensagem que o autor quis passar. E, eu preciso lê-lo!

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  6. Eu o li (em breve desejo ler a sequência). Achei o livro bem construído. A escrita do autor é leve, bem humorada, os personagens são tão "vivos" e a ideia de enredo nos faz refletir. É realmente um livro que merece ser lido.

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  7. Gostei da ideia desse livro exatamente pela crítica que tem por trás da história. É bem louco isso de superar a morte e doenças e esse sistema que parece ser o melhor que humanidade já viu. Mas o legal é ver tudo que tem por trás disso, que não mudou tanto assim, que o poder e a maldade ainda estão ali pra estragar as coisas. Tem uma ótima premissa, umas críticas interessantes e coisas pra fazer pensar e parece ser bem escrito, envolvente. Quero muito conhecer essa história. Acho que vou adorar.

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  8. Confesso que não tenho vontade de ler esse livro, mas realmente acho esse enredo bem original e é interessante abordar os Ceifadores.

    Beijos

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  9. Ju!
    Achei a distopia bem elaborada, toda ideia de ter uma
    sociedade saudável, sem doença e sem mortes é um tanto utópico, mas quando chega os ceifadores, contrabalanceia isso.
    Pois é, o maior defeito de uma sociedade tão perfeita, é não ter a ambição, no sentido
    bom da palavra, não haverá mais crescimento, nem estímulo para fazer nada de útil.
    Deve mesmo ser um ótimo livro.
    cheirinhos
    Rudy

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  10. Achei o livro bem diferente e bem escrito mas eu vou esperar lançar em os outros livros da série para voltar a ler ele a ideia da sociedade utópica sim doenças em mortes e criminalidade bem interessante e audacioso de se abordar

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  11. Quero muito ler esse livro, achei bem interessante e não tem como não pensar e sr fosse na vida real, sem mortes e doenças seris muito bom, mas tem suas consequências, o excesso de pessoas, deve rolar muita corrupção e poder por trás disso, uma verdadeira máfia rs.

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  12. Olá, Ju
    Li algumas resenhas sobre esse livro e a cada uma aumenta mais minha curiosidade para ler esse livro.
    O autor trouxe uma ideia diferente do já temos nos livros que fala sobre como será a humanidade no futuro.
    Beijos

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  13. Oi, Ju!!
    O ceifador está na minha lista de desejados desde que foi lançado, e achei essa distopia muito interessante principalmente por que é uma história onde não existe fome, mortes, guerras e doenças e o único pode de morrer e receber a visita dos ceifadores.
    Bjos

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  14. Oi Ju,
    também quero muitoooooo ler O Ceifador.
    Achei muito legal a premissa, e pela sua resenha deu pra ver que é um livro bem criativo, cheio de reflexões e críticas sociais.
    Ai tô empolgada, queria ler agora!! kkk
    bjsss

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