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18 de junho de 2021

Querida Konbini | Sayaka Murata

Li Querida Konbini através de um clube do livro que organizo em parceria com minha amiga Amanda, na cidade onde moro, Diamantina. Essa informação é importante porque muito provavelmente nem saberia da existência da obra de Murata não fosse o nosso clubinho. Justamente por ser uma leitura diferente, resolvi trazer minhas opiniões sobre ela para vocês. 

Keiko Furukura, personagem principal da nossa história, é uma mulher de 36 anos que, além de não possuir muitas habilidades sociais, trabalha em uma konbini — é assim que são chamadas as lojas de conveniência no Japão. Para ela isso não é um problema, afinal, é o que ela gosta de fazer, mas é duramente criticada não só pelos seus familiares, mas pela sociedade como um todo. Afinal, como uma mulher de 36 anos ainda não encontrou um marido e trabalha em uma konbini?

Ao que parece, lá no Japão, esses empregos são considerados temporários. Isso significa que são lugares onde as pessoas trabalham por pouco tempo, geralmente quando são jovens e ainda estão no colegial. Mas Keiko fez faculdade, trabalha e paga suas contas sem ajuda de ninguém, não teria que ser suficiente? A questão é que sempre tem alguém para apontar algum defeito na vida da protagonista, algo que acontece constantemente na sociedade como um todo. 

Murata faz reflexões muito interessantes durante o seu texto, sobre como nós devemos seguir um padrão para sermos aceitos. E isso acontece o tempo inteiro, né? Se você não estuda, trabalha, se casa, constitui uma família, algo está errado com você. Se você tem 26 anos e ainda não se formou na faculdade, "está passando de hora", algo está errado com você. Não quer casar, ser mãe? Deus nos livre. E é assim que somos, culturalmente falando. 

Acredito que Querida Konbini pode causar certa estranheza aos leitores. Por mais que tenha sido proposital, já que estamos falando de uma personagem que foge às "regras" da sociedade, a apatia de Keiko não é algo que agrada. Estamos acostumados com personagens "humanos", com sentimentos e preocupações, e Keiko parece ser um robô, programada para fazer o que as pessoas mandam ela fazer, sem se atentar de fato com suas ações.

Para ser sincera, por ser um livro de uma escritora japonesa, esperava ter um pouco mais de contato com a cultura do país. Porém, como eu já deveria ter suspeitado desde o início, o cenário principal é a konbini, então não esperem muito além disso. Também já aviso que é, de certa forma, um livro desconfortável: os personagens não têm vergonha de dar palpites na vida alheia, na cara dura. Cada um afirma o que é melhor para o outro, mas talvez se esqueçam de olhar para os próprios problemas. E o pior é que não é uma coisa exclusiva dos japoneses, né? Nós, brasileiros, não temos essa mesma mania? Fica aí essa reflexão.

Se as pessoas acham que alguma coisa é estranha, sentem-se no direito de invadir essa coisa para descobrir o motivos de suas esquisitices.

Título Original: Konbini Ningen ✦ Autora: Sayaka Murata ✦ Páginas: 152
Tradução: Rita Kohl ✦ Editora: Estação Liberdade

10 comentários :

  1. E eu com certeza nunca conheceria este livro se não viesse aqui no cantinho! Puxa, tá, mesmo com isso de não ter tanto sobre a cultura japonesa, entendi que ao mesmo tempo, tem muito da cultura japonesa rs
    Isso da mulher precisar se casar, ter um marido e mesmo ter sim, um trabalho e a fonte do seu próprio sustento,ainda ser julgada e condenada sim, por uma sociedade.
    Com certeza, amei a escolhas de vocês para esse clubinho e se puder, é um livro que quero ler um dia!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  2. Olá Ana Clara!
    Meu lado feminista grita depois de ler essa resenha. Sei que em muitas culturas o casamento e a dependência do marido são muito impostas às mulheres, respeito isso mas me revolto às vezes com tanto pitaco que as pessoas dão na vida alheia. Realmente é muito pertinente a reflexão que a autora traz para o leitor. Embora a protagonista não suscite muita simpatia fiquei com vontade de ler o livro.
    Beijos

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  3. Ana!
    Duas coisas importantes: aprendermos um pouco mais sobre a cultura japonesa e ver que em qualquer lugar do mundo, as pessoas que agem ou são de forma diferente, são vistos como párias em sua sociedade e são tratados de uma forma preconceituosa.
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Que legal esse seu clube, queria muito que tivesse um aqui na minha cidade. O melhor é justamente conhecer novos livros e poder falar outros, ne?
    É aqui que descobrimos que se meter na vida dos outros é universal, pelo jeito. Vejo muuito isso na minha realidade!

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  5. Pra nós é sempre chocante ler livros assim, onde vemos o como a mulher é vista e tratada por algumas sociedades.
    Mesmo com o não aprofundamento na cultura japonesa, acredito que seja uma leitura bem impactante e intensa

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  6. Quero muito ler esse livro ja faz um tempo, mas ainda nao tive a oportunidade.
    Acho o assunto bem necessario, mesmo sendo de uma cultura diferente, e alias, n acho que o proposta da autora seria mostrar a cultura aí neh, mas mostrar que a sociedade se mete na vida do outro mesmo quando nao é pedido, falando dos padroes da sociedade também. Gosto de assunto!

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  7. Olá Ana
    Esse livro parece ser mesmo um retrato bem cru de uma sociedade que quer mandar nas pessoas.
    Que chato isso da personagem parecer ser um robô que aceita tudo sem questionar .
    Mas de qualquer forma mesmo a autora colocando como tema central a Konbini outras coisas ficaram bem evidentes como o fato das pessoas ficarem se intromentendo na vida alheia .E isso é tão chato .
    Não gosto disso não kkk

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  8. Olá, Ana

    Primeira vez que vejo algo desse livro, e tenho que confessar que não lembro de ter lido nada sobre a cultura japonesa.
    É muito real isso de se você não casa/tem filhos/estuda é uma fracassada, e não importa em nada o que você quer para sua vida.
    Obrigada pela indicação.

    Beijos

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  9. Oiiie, Amiga...
    Vi muitas pessoas falarem desse livro, porém não fui procura para saber de sua historia. Ao ler agora um pouco sobre ele, fiquei um pouco interessada. Talvez eu consiga ler em algum momento. Essa questão de que nós mulheres deveríamos seguir o padrão da regra, já deveria ser esquecido. Nós decidimos se queremos casar, ter filhos e tal, sabe.. Eu mesma já sofri com essa questão, mas eu acabo dando uma resposta que a pessoa para de pergunta. Então, deveríamos decidir o que queremos na nossa vida sem se importar com a opinião alheia.

    Beijocas:
    Tempos Literários

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  10. Olá! Apesar de parecer ser uma leitura diferente, achei muito interessante, até porque mesmo a história acontecendo em um país que possui uma cultura bem diferente da nossa, é possível perceber bastantes semelhanças com a nossa sociedade.

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