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25 de novembro de 2025

Lapso, de Ren Nolasco e Márcio Moreira: Uma HQ belíssima, mas muito confusa


Lapso é uma HQ linda. Visualmente, é de encher os olhos. As cores são vibrantes, intensas, e criam uma atmosfera outonal que combina perfeitamente com o tom misterioso da história. O laranja e o azul dominam as páginas, e juntos criam um contraste que é, ao mesmo tempo, aconchegante e desconcertante. É o tipo de arte que dá vontade de folhear devagar, só pra apreciar cada quadro.

A protagonista é a Verônica, uma bruxa desempregada que vive na companhia de seu bichinho de estimação, Cocota, e que está determinada a alavancar a sua carreira como vidente, inclusive comprando uma estrela. Um dia, Verônica está dirigindo até o mercado e acaba atropelando uma pessoa. A partir daí, tudo começa a se fragmentar. Lapsos de tempo, aguá, uma floresta, um gato preto, um alienígena e uma narrativa que vai se embaralhando de propósito. Verônica está perdida entre tempos e espaços, e o leitor também. A confusão é parte da experiência, já que o roteiro quer que a gente sinta o mesmo desencaixe que ela sente.

Mas, sinceramente, achei Lapso confusa DEMAIS. É aquele tipo de história que só dá pra entender o todo lá no final, e aí vem aquela sensação de “agora até que faz sentido.. eu poderia reler e, dessa vez, eu compreenderia". Mas, foi uma leitura tão cansativa (apesar de curta) que eu não quis ler de novo. A estrutura circular, as repetições de cenas e os saltos temporais criam um efeito interessante, mas também cansativo.

Eu também preciso dizer que, pessoalmente, já tenho uma certa dificuldade com a linguagem das histórias em quadrinhos. Acho que é um formato naturalmente mais abstrato, que exige um tipo de leitura diferente, mais visual e simbólica, e isso, pra mim, sempre foi um desafio. Então, como Lapso já é uma HQ sobre lapsos temporais, essa complexidade toda acabou tornando a experiência ainda mais difícil. Talvez essa sensação de confusão que tive tenha mais a ver comigo do que com a própria obra.

Apesar de toda a confusão temporal, Lapso tem um humor muito gostoso. É uma história leve, com personagens modernos, que falam e agem de um jeito bem jovem, quase adolescente. As interações têm aquele toque irônico e divertido, que quebra o clima misterioso e deixa tudo mais dinâmico. Talvez por isso a HQ funcione especialmente bem com um público mais jovem, que vai se identificar com o ritmo rápido, o humor inteligente e a linguagem contemporânea dos personagens.

Mas Lapso não é só humor e confusão temporal. No fundo, essa HQ é também uma história sobre autodescoberta. Verônica está tentando se encontrar, entender quem ela é e qual caminho quer seguir. Ela trabalha como bruxa vidente e busca se firmar nessa profissão pouco convencional, enquanto lida com a pressão de fazer algo mais “seguro”, como prestar o Enem e seguir uma carreira tradicional. Esse conflito entre o que o mundo espera de você e o que você realmente quer ser é algo muito humano, especialmente na juventude. Por isso, reforço que, na minha opinião, Lapso acaba conversando melhor com quem está nesse processo de se descobrir, de se aceitar e de escolher seu próprio caminho.

Pra mim, Lapso é uma HQ que vale a pena pela estética. A arte é lindíssima, a paleta de cores é deslumbrante, e o clima de mistério prende. É uma leitura rápida, dá pra terminar em 30 ou 40 minutos, mas que deixa a mente girando um pouco depois. Não sei se amei, mas certamente não vou esquecer.

Título Original: Lapso ✦ Autores: Ren Nolasco e Márcio Moreira
Páginas: 144 ✦ Editora: Suma HQ
Livro recebido em parceria com editora

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