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25 de maio de 2020

Lolita | Vladimir Nabokov


Lolita é um desses casos em que um livro transcende a barreira da literatura e se torna um elemento cultural com vida própria. Quem nunca ouviu falar de Lolita? O romance de Nabokov é, com certeza, uma das obras mais polêmicas e debatidas da literatura. Afinal, é impossível terminar de ler Lolita e não se sentir inclinado a conversar com alguém sobre o livro. E é isso que vim fazer aqui. 

Minha primeira leitura de Lolita foi há muitos anos, e sempre me deixou com aquele sensação de que eu não tinha absorvido tudo que essa história tem a oferecer. Então, decidi reler e, realmente, quanta coisa há nesse livro e quanta coisa precisa ser debatida.

Lolita já foi descrita como uma história de amor, de pedofilia e de obsessão. Os debates que o livro levanta são intermináveis e sempre rendem muito. Quero começar dizendo que não existe história de amor se uma das partes envolvidas tiver 12 anos. Eu concordo totalmente que Lolita é uma história sobre pedofilia e sobre obsessão, mas também acho que não para por aí. Tem muita mais coisa nessa obra.

Mas vamos do início. O básico a maioria das pessoas já deve saber: o livro é narrado por Humbert Humbert e se trata, na verdade, de uma confissão. No início do livro, o leitor já descobre que Humbert morreu na prisão enquanto aguardava julgamento por um crime, crime este que o leitor não sabe do que se trata, e deixou o livro pronto para ser publicado. Então, H. H. nos conta sua história pelo seu ponto de vista, é claro. E aqui nós temos a primeira grande questão desse livro: Humbert é, muito provavelmente, o narrador não confiável mais conhecido da história da literatura. Ele nos conta toda a sua história e narra como se tornou um pedófilo. E ele sabe que é um pedófilo. Porém, ele tem uma teoria bizarra sobre ninfetas: demônios que assumem a forma de meninas para seduzir homens mais velhos. E essas ninfetas costumam ter entre 9 e 14 anos. Olhem esse trecho:

[...] precisa haver uma lacuna de muitos anos, nunca menos de dez, eu diria, geralmente trinta ou quarenta, até noventa em raros casos, entre donzela e homem para que este possa ser vitimado pelo feitiço de uma ninfeta.

E é em cima dessa ideia que Humbert elabora seu depoimento, sempre argumentando que as ninfetas provocam os homens. E em determinado momento de sua vida, Humbert conhece Dolores, que ele chama de Lolita, a filha da sra. Haze, que aluga um quarto para Humbert. A partir daí, o leitor acompanha a obsessão de H. H. por essa garota e como esse ser maligno seduz o coitado do homem (contém ironia).

A coisa toda vai tomando uma proporção tão grande e tão assustadora que eu precisei ler essa história em pequenas doses. Minha revolta e meu nojo eram tão grandes que era difícil ler sem parar por muito tempo. Como eu disse, Humbert é um narrador não confiável, mas ele, em vários momentos, deixa escapar algumas informações que permitem que o leitor perceba (e só não vê quem não quer) que a menina está completamente desconfortável e infeliz.

Além disso, Humbert tem algumas falas que são de enlouquecer o leitor. Ele fala de si mesmo na terceira pessoa, se define como um homem muito bonito, que chama a atenção de mulheres e de ninfetas e discorre o tempo todo sobre como ele é um homem bom, que respeita as "crianças comuns" e que jamais agiria se não fosse provocado.

A escrita do Nabokov é realmente diferenciada e ele escreve de forma muito poética. O livro não é narrado de forma explícita, não se trata de um livro erótico como muitos pensam. Inclusive, algumas partes eu precisei reler várias vezes pra conferir se eu tinha entendido certo. Então, é realmente um livro que requer atenção. Eu não diria que é um livro de narrativa difícil, a narrativa é rebuscada sim, mas não difícil. Difícil é o conteúdo.

O livro tem quase 400 páginas e se manteve interessante do início ao fim. Eu não lembrava o desfecho da história, então, minha releitura foi empolgante como uma primeira leitura. No entanto, senti que o ritmo da história caiu um pouco no final e não foi tão interessante como o restante do livro pra mim.

Acompanhar os pensamentos de Humbert é torturante, e ver as coisas pelo ponto de vista dele chega a confundir a cabeça do leitor. É muito sutil a forma como a narrativa nos confunde. E tudo isso faz parte da genialidade dessa obra. O autor quer te confundir, quer fazer você sentir empatia por Humbert e, principalmente, quer fazer você colocar a culpa na Dolores. Por isso é um livro cansativo, , porque força o leitor a pensar, porque o leitor precisa parar a leitura a todo momento pra poder refletir sobre o que leu, e refletir de forma crítica e atenta, não basta apenas absorver o que o narrador diz.

Recomendo, mas com cautela. Se você é sensível a temas como pedofilia e abuso sexual, eu não acho que seja um boa escolha de leitura. Certamente, Lolita é um livro que marca a vida do leitor, então, se você está preparado e disposto a mergulhar na mente perturbada de Humbert Humbert, se joga!

Título Original: Lolita ✦ Autor: Vladimir Nabokov
Páginas: 392 ✦ Tradução: Sergio Flaksman ✦ Editora: Alfaguara
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15 comentários :

  1. Nossa! Eu já li o grande clássico faz muito tempo e agora me perguntei como tudo terminou. Não me lembro também..rs
    Por isso, rever a história acima, me encheu os olhos de vontade ler novamente.
    Edição linda,mas deve dar um meio asco sim..rs
    Preciso!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  2. Olá Priscila!
    Essa obra exige que o leitor esteja preparado psicologicamente para ingressar na leitura, visto que aborda um tema extremamente delicado e contém detalhes subjetivos que precisam ser absorvidos com calma.
    E realmente não tem como não elogiar Nabokov por conseguir nos confundir e fazer a nossa mente trabalhar para entender o que de fato caracterizava o abuso sexual.
    Os pensamentos e descrições de Humbert enojam qualquer pessoa minimamente sensata, ainda mais pelo personagem colocar a vítima como vilã da história. E aqui o autor acerta em cheio com sua crítica, os homens sempre tentam culpar as mulheres pela maneira que se portam, pela forma como se vestem, numa tentativa de justificar uma violação sexual.
    Beijos.

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  3. Lolita já está tão inserida na nossa sociedade que muitos usam a expressão mesmo sem ter lido o livro.
    Realmente Humbert não é um narrador confiável.
    E sim é pedofilia sim. Por mais que tentem justificar. Não há justificativa.
    É um clássico da literatura

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  4. Olá! Definitivamente um livro bem difícil, confesso que ainda não me aventurei nessa leitura, apesar de conhecer por cima a história, não tive a coragem necessária para enfim começar. A edição está lindíssima e espero um dia poder conferir sim, mas acho que agora não é o momento.

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  5. Oiii!
    Então, sou bastante sensível com relação a livros com esse tema.. provavelmente abandonaria pela metade. Mas apesar de que é um livro interessante ver que quem conta a historia e o culpado e procurando tentar engana o leitor de que é inocente. Talvez leia, só talvez!

    Meu blog:
    Tempos Literários

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  6. Olá, Priscila
    A edição está linda!
    Já vi muitos comentários a respeito do livro mas não li.
    É uma leitura difícil, dolorosa para o leitor que tem que ser digerida aos poucos. Mesmo que o narrador não é confiável, o que ele fez é estupro.
    Quando tiver chance lerei, beijos.

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  7. Priscila!
    Tive oportunidade de ler esse livro há muitos anos atrás e tive a mesma sensação que a sua: nojo, principalmente porque ele justificava seu distúrbio tentando culpar a vítima, inaceitável.
    cheirinhos
    Rudy

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  8. Olá Priscila!
    Eu fiquei muito chocada quando soube da existência desse livro pela primeira vez, e lendo a resenha a sensação de horror foi a mesma. Sei que a leitura tem diversas funções, não só entretenimento, mas eu não consigo nem cogitar a possibilidade de ler livros desse tipo. É necessário um amadurecimento intelectual muito grande para não se deixar enganar pelo narrador, como você bem disse. A justificativa de Humbert de que foi seduzido por uma menina "possuíada" de doze anos é extremamente revoltante, o que só revela o quão doente sua mente era.
    Beijos

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  9. Eu comprei esse livro num dos debates fervorosos sobre seu conteúdo na internet, mas não o peguei pra ler até hoje. Tenho muita vontade, mas também certo receio, e não sei como existem defensores do romantismo desse livro nos dias atuais? Fico muito agoniado. Acompanhar os pensamentos do personagem dever ser, de fato, uma tortura. Quero ler ele em breve.

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  10. Que bizarro!
    Sério que as vezes ele se trata na 3° pessoas? Gente com certeza eu não me sentiria a vontade lendo este livro, mas acho muito significante e necessário este livro para abrir campos de discussões sobre a mente de pessoas assim. Eu nem li o livro e já senti uma raia quando ele fala de ninfetas como demônios (e pesquisando o termo ninfeta, do qual sempre achei meio pejorativo, não é que a palavra foi criada pelo Nabokov! E a palavra em si não tem nada de pejorativa, mas caiu no senso comum de forma não muito bonita).
    Enfim! Ótima resenha.

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  11. Tá aí um livro que queria ler mas sei que iria passar muita raiva lendo. Legal poder reler algo assim e ver melhor a experiencia, reparar numas coisas. Mas eita coragem...
    Parece prender bem, só que o tema dele...ai não, nem consigo pensar em ler sem fazer careta. Só que bate a curiosidade porque são aquelas quase 400 páginas de muito a ser dito e que deve ter algum motivo pra ter virado um clássico. Duvidoso, mas alguma coisa deve ter aí pra ter tanto impacto na gente. Ler ou não ler...acho que é dessas leituras pra se pegar num momento onde a gente só quer brigar com um livro xD

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  12. Resenha sensacional!
    Lembro que peguei esse livro emprestado na adolescência, não sabia nem do que se tratava, mas acabei devolvendo sem ler. Não fiquei instigada.
    Suas palavras me ajudaram a entender melhor essa história, ainda mais sabendo que, apesar do tema, não entra em um caminho erótico ou até vulgar. Gostei de saber da escrita poética do autor e da dica para ler com cautela.

    Beijos

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  13. Nunca li Lolita, mas já conhecia a história. É um tema bastante delicado, que precisa ser interpretado da forma correta, de que era sim pedofilia. Adorei sua resenha, principalmente a parte esclarecedora sobre o tema!

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  14. eu nunca li esse livro
    deve ser uma leitura bem tensa ainda não sei se tenho vontade de ler ,mas quem sabe futuramente

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  15. Oi,
    Aii menina, sou muito sensível a temas como abusos e pedofilia, e só de imaginar o que esse louco eo H. H. narra já me dá nojo e raiva.
    Uma angustia, sabe? Acho que deve ser uma tortura mesmo.
    Não lerei.
    Bjs

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