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4 de julho de 2022

A Sociedade de Atlas | Olivie Blake

Dark Academia é o novo queridinho dentre os gêneros literários. Assim como acontece na música e no cinema, o TikTok é responsável por esse hype. Com uma estética colegial sombria, cheia de tons terrosos e outonais e uma vibe culta, o Dark Academia vem conquistando os jovens leitores. E a estética é realmente linda: mocassim, tweed, xadrez, camisa social, boina, blazer, sobretudo e tudo que pareça vintage e aparente inteligência. Quando se trata de literatura, os livros Dark Academia se passam em ambientes acadêmicos e possuem uma atmosfera sombria e misteriosa, o que pode ser composto por enredos que envolvam investigações, assassinatos e magia.

Me interessei pelo gênero por gostar da estética. Pessoas introvertidas e que amam estudar certamente são as mais atraídas por essa sobriedade. Porém, na minha experiência, a estética prometeu muito e os livros entregaram pouco. Três leituras foram o suficiente para me mostrar que esse gênero não é pra mim.

Comecei com um livro que é considera um dos primeiros do gênero: A História Secreta. Depois, fui para um sucesso russo: Vita Nostra. E finalizo essa jornada com A Sociedade de Atlas, um grande hit do TikTok internacional e que chega ao Brasil pela editora Intrínseca. E eu preciso dizer: que edição belíssima. A editora se dedicou e entregou uma edição que dá gosto de ter na estante, ilustrada e lindamente diagramada.

Mas vamos lá: A Sociedade de Atlas é sobre uma sociedade secreta que seleciona, a cada 10 anos, 6 jovens adultos mágicos para competirem entre si pela permanência na Sociedade Alexandrina, que abriga o conhecimento perdido das grandes civilizações da Antiguidade. Dos 6 selecionados, 5 permanecerão.

Os competidores que iremos acompanhar ao longo do livro são: os físicos Libby e Nico, a naturalista Reina, a telepata Parisa, o empata e manipulador emocional Callum, e Tristan, que consegue ver através das ilusões. E é aqui que o problema começa: Todos os personagens são chatos, chatos mesmo. E não me entendam mal, porque eu adoro personagens controversos, defeituosos, ambíguos e maus. Mas os personagens desse livro são apenas chatos. E o pior: eles não sabem que são chatos. Eles se acham incríveis, mas são todos mesquinhos, prepotentes e hipócritas. Nota 0 em carisma e personalidade.

Os personagens não tem personalidade própria e voz própria. São todo iguais, com as mesmas ambições e a mesma falta de profundidade. Os primeiros capítulos do livro, que supostamente servem pra apresentar os personagens, são terrivelmente cansativos, porque não tem nada que diferencie os personagens. Parece que a autora copiou e colou os capítulos um depois do outro e só mudou algumas palavras. Além de chatos, os personagens são superficiais. Apesar de serem jovens adultos, todos com mais de 20 anos, os personagens se comportam como adolescentes antipáticos, se recusando a colaborar uns com os outros e reproduzindo o tempo todo o discurso de "Eu sou mais forte que você" e bla bla bla.

O sistema de magia é interessante e bem diferente de tudo que eu já li. Mas o livro demora muito pra mostrar essa magia acontecendo. Os personagens só ficam dizendo: "Eu sou muito poderoso. Eu sou mais forte que todo mundo. Minha magia é incrível". E eu tipo: "Ok, então me mostra".

E o livro é leeeeeento (o que parece ser um ponto em comem entre os livros Dark Academia). Nada acontece. É aquele livro que conta muito e mostra pouco. E, para piorar, está lotado de frases de efeito e reflexões óbvias ditas como se fossem grandes descobertas. Querem um exemplo? Um personagem pergunta o que eles estão comemorando e o outro responde: "Nossa mortalidade frágil. A inevitabilidade de nos reduzirmos a caos e poeira." Ai não, gente, sério?

Tem uma coisa (extremamente óbvia) que os personagens descobrem e o livro passa muitas e muitas e muitas páginas focado nesse fato óbvio, que nem é interessante, mostrando os personagens contando uns aos outros sobre isso e sempre tendo as mesmas reações ("não, não é possível"). Poderosos? Talvez. Mas inteligentes? Definitivamente não.

Os personagens passam boa parte do livro tentando convencer uns aos outros que eles não se importam com nada, que eles não ligam pra ninguém, que são super seguros, indiferentes, inabaláveis e exaustivamente presunçosos. Uma espécie de niilismo soturno exagerado e cansativo. Perdi a conta de quantas vezes eu revirei os olhos. Querem outro exemplo? Olha essa fala do personagem: "Eu? Eu nunca me desespero. Estou perpetuamente indiferente." Aiiiiii a vergonha alheia que eu sinto.

Reina foi a única personagem com quem eu consegui (um pouco, bem pouco mesmo) simpatizar. Apesar de ela ser egoísta e amargurada, a disputa de ego não é tão evidente da parte dela e eu gostei muito dos momentos em que as plantas se comunicavam com ela.

Mas, continuando: O homem que recruta esses jovens é Atlas. Fiquei curiosa e fui pesquisar um pouco mais sobre o Atlas da Mitologia Grega. Atlas (o da mitologia) desejava o poder supremo. Ele travou uma guerra contra os deuses em busca disso, mas foi derrotado e condenado a segurar o planeta nas costas. A busca pelo poder condiz bastante com o que o Atlas (do livro) e a Sociedade Alexandrina desejam e buscam. Inclusive, essa sociedade guarda e protege o conhecimento e acredita que ele não deve ser distribuído livremente. Essa questão de como eles lidam com o conhecimento é um debate bem interessante que o livro traz. O conhecimento deve ser distribuído livremente ou nem todos conseguem lidar com ele?

O livro também tem um toque bastante sexual em algumas passagens, o que foge totalmente do tom geral do livro, deixando esses momentos esdrúxulos e forçados. Eu senti que a autora queria provar como sua história era madura e adulta, mas a forma como os personagens se comportam o resto do tempo não convence o leitor disso.

Em alguns momentos, a sensação era de que o livro era tão ruim que chegava a ser bom. Eu lia porque achava engraçado e tosco. Mas depois, pasmem: até que começou a ficar bom mesmo. Lá pela metade do livro, algumas coisas realmente começam a acontecer, os personagens finalmente começam a usar e mostrar seus poderes e mistérios são inseridos na trama. Não que o livro fique ótimo, mas melhora. A maior parte do livro é composta por diálogos. Eita povo que conversa. Eles parecem estar no caminho para algo, mas é difícil entender e acompanhar porque, como ninguém confia em ninguém, eles não conseguem se comunicar abertamente e com sinceridade. Esses diálogos são, em sua maioria, sobre quem deve ser o eliminado entre eles.

Enquanto isso, alguns deles lidam com problemas particulares. Dos dilemas particulares dos personagens, o que mais me interessou foi a questão envolvendo Gideon, amigo não humano de Nico.

Enfim, posso dizer que minha experiência de leitura foi mais negativa do que positiva. O livro é prepotente, os personagens beiram o insuportável e os debates que o livro propõe, apesar de serem interessantes, não compensam todo o resto. Acho que essa história pode funcionar melhor com os mais jovens (o que explica seu sucesso no TikTok).

Título Original: The Atlas Six ✦ Autora: Olivie Blake
Páginas: 448 ✦ Tradução: Karine Ribeiro ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

12 comentários :

  1. Ainda não comecei nenhum dark academia, mas provavelmente não vai ser por esse pelo motivo de personagens chatos kk vc não é a primeira pessoa que fala q os personagens são chatos e com desenvolvimento lento então dificulta pra caramba minha vontade de ler.
    Uma pena q não deu certo pra vc e pelo pouco que vc falou eu teria abandonado, talvez um dia eu tente, mas no momento eu passo.

    http://www.seguindoocoelhobrancoo.com.br/

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  2. é o tipo de livro que eu teria amado ler no ensino médio, agora acho que já passei um pouco da idade. Mas, como sou teimosa, se encontrar por ai capaz de ler, viu?! bjks

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  3. Eu não tenho tik tok e não pretendo ter .
    Não fiquei com vontade de ler esse livro pelos motivos citados por você Não curto esses livros com personagens chatos prepotentes e com uma narrativa lenta.
    Já começo a ficar desconfiada de livros que fazem sucesso nesse tik tok.

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  4. Olá! Olha confesso que não confio muito nas dicas do TikTok não (risos), e embora a resenha pontue alguns (poucos) pontos positivos no enredo do livro, acredito que essa não é uma história para mim.

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  5. Acho que moro em uma caverna pois não conhecia essa vertente... dark academia... e olha que tenho tik tok kkkkk.
    Gosto dessa estética também, retrô, vintage, mas livros muito parados, explicativos demais não são pra mim

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  6. Tem dias que entro no tal Tik Tok e fico lá me perguntando o que estou fazendo ali rs
    Só olho os de amigos que sigo, mas até então, tudo bem. Mas é uma rede que não me atrai não rs aliás, as dancinhas me irritam e muito.
    Mas...juro que não fazia ideia desse gênero,mas lendo sua resenha, senti que é melhor pra mim, continuar sem conhecer rs
    Acho que não vou perder muita coisa não rs
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  7. Que pena que o formato não te agradou tanto.
    Fiquei interessada em experimentar esse estilo para ver se funciona comigo, mas certamente já pularia A sociedade de Atlas, ninguém merece todos os personagens principais chatos e ainda por cima uma narrativa lenta, aí nada salva.

    Danielle Medeiros de Souza
    danibsb030501@yahoo.com.br

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  8. Priscila!
    Confesso que não conhecia o estilo Dark Academia e fiquei aqui pensando que "estética" seria essa, só de aparência ou teria algo mais?
    Fato é que a questão da magia é muito interessante, mas com personagens chatas e se sentindo superiores, e a morosidade na escrita, acredito que no momento não me interesso, vamos ver mais para frente.
    cheirinhos
    Rudy

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  9. Tenho evitado um pouquinho o tiktok nos últimos meses, pois ele estava sugando bastante do meu tempo que já andava curto; contudo já tinha visto uma divulgação desse livro com a sinopse e fiquei muito interessado. Entendo perfeitamente que leituras assim se tornam cansativas, pois parece que nunca nada sai do lugar. Mesmo que depois até melhore um pouco, a experiência em si se torna desconfortável pra mim, pois às vezes perco até meu ritmo de leitura por insistir em uma obra que não rende.

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  10. Eu acho que ainda nao li nenhum livro dark academia mas a proposta de subgenero eu gosto muito. Nao é a primeira resenha negativa q vejo desse livro, mas ainda assim fico curiosa pra saber da historia. Confesso que qdo falou dos personagens me de um cansaço ja em pensar em ler, mas gostei de ooutras coisas q comentou da historia.

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  11. Livros com capas lindas assim me chamam muito a atenção!! Nunca li nada desse gênero e estou muito por fora do TikTok. Pela resenha já vi que eu não iria gostar, odeio quando as coisas demoram a desenrolar e esse tipo de personalidade dos personagens as vezes me irrita um pouco. Pude sentir a vergonha alheia só com essas poucas falas. Mas quem sabe um dia eu não dê uma chance ao gênero e consiga ler ao menos três livros, como você? hahah acho interessante testar coisas novas.
    Beijos

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  12. Sua resenha é a melhor descrição para esse, sei lá, não consigo nem nomear o tipo de leitura que fiz. Eu comecei a ler para curar uma ressaca literária e foi indo, foi indo (eu esperando melhorar), foi indo...mas chegou um momento que eu já estava "empurrando com a barriga", como já havia comprado os dois volumes da série, decidi tentar chegar até o final para ver se valeria a pena ler o segundo livro. Conclusão : O segundo vai ficar guardado na estante como enfeite.

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