Howard Phillips Lovecraft (1890–1937) foi um escritor norte-americano considerado o grande nome do terror cósmico, um subgênero que ele praticamente criou. A proposta central de sua obra é a de que o medo mais profundo do ser humano é o medo do desconhecido e de tudo aquilo que está além da compreensão humana.
Enquanto autores como Edgar Allan Poe exploravam o terror psicológico e o horror íntimo, Lovecraft ampliou o olhar: seus personagens se deparam com forças cósmicas tão vastas e indiferentes que a simples percepção delas pode levar à loucura. São deuses ancestrais, criaturas abissais e realidades que desafiam a lógica. Entre os contos mais famosos estão O Chamado de Cthulhu, Nas Montanhas da Loucura e A Cor que Caiu do Espaço, histórias que combinam ficção científica, mitologia e filosofia.
Por outro lado, a obra de Lovecraft também carrega o peso de suas visões racistas e elitistas, algo amplamente discutido hoje em dia. Ele viveu em uma época de forte segregação racial nos Estados Unidos e expressou, em cartas e até em alguns textos, ideias preconceituosas. Pra você: dá pra separar o escritor de sua obra?
Diversas editoras já publicaram obras isoladas ou coletâneas com textos do autor. Mais recentemente, foi a vez da Penguin Companhia, uma das minhas editoras favoritas, que publicou um box com a ficção completa de H. P. Lovecraft, e eu achei que seria a oportunidade perfeita para revisitar esse autor que, embora não seja o meu favorito no gênero, é impossível ignorar.
Quando li Lovecraft pela primeira vez, eu não sabia nada sobre as polêmicas em torno dele. Entrei em sua obra completamente às cegas, movida apenas pela curiosidade e pela fama de seu terror cósmico. Eu já era uma grande fã de Edgar Allan Poe e as comparações que constantemente são feitas entre eles me deixaram curiosa. Lembro de ter lido Nas Montanhas da Loucura e ficado absolutamente fascinada pela forma como ele descrevia o desconhecido, já que tudo parecia tão vívido e impossível ao mesmo tempo. Era uma sensação física, uma ansiedade, como se eu realmente estivesse vendo aquelas coisas diante de mim e tentando compreender algo que a mente humana não deveria compreender.
Lovecraft tem esse poder: ele desperta um medo que não é apenas de monstros, mas do imensurável, do inominável, daquilo que existe além dos limites da razão. É o tipo de leitura que faz a gente se sentir pequeno, impotente, como se o universo fosse vasto demais e hostil demais para caber dentro da nossa compreensão. E mesmo que esse medo não seja confortável, ele é profundamente fascinante.
Tive uma experiência parecida lendo A Cor que Caiu do Espaço. É uma história que me deixou completamente confusa, tentando entender o que exatamente estava acontecendo, o que era aquela cor e como algo tão abstrato podia ser tão aterrorizante. Ao mesmo tempo, fiquei muito impressionada com o quanto Lovecraft escreve de forma quase cinematográfica. É uma narrativa estranha, densa, mas visualmente poderosa, que me deixou pensando o quanto seria incrível ver aquilo adaptado para o cinema.
O primeiro conto apresentado nessa coletânea da Penguin, Dagon, já prende e impressiona ao falar sobre um trauma tão profundo e doloroso que faz o narrador desejar a morte. Fica estabelecido ali o tom de toda a leitura que está por vir: sombrio, denso e perturbador. Essa coletânea também me colocou em contato com textos do autor que eu ainda não conhecia como, por exemplo, o pequeno conto denominado O Velho Terrível, que consegue ser surpreendende e assombroso em apenas 4 páginas. Ou ainda, Azathoth, que me surpreendeu pela linguagem poética e pelo belo e inesperado desfecho.
Então, afinal, vale a pena investir na nova coletânea de Lovecraft publicada pela Penguin? Na minha opinião, sim, e muito. Eu sou suspeita pra falar, porque sou realmente fã da editora, mas acho que o trabalho que eles fazem é incomparável. As edições da Penguin são simples, não têm nem orelha, nem aquele acabamento chamativo, mas são bem diagramadas e extremamente confortáveis.
Mas o principal: a tradução e a revisão são de qualidade, o que faz toda a diferença em um autor tão denso quanto Lovecraft. São livros feitos para serem lidos, não apenas exibidos na estante. Claro que existem outras edições mais bonitas, como a da DarkSide, que é lindíssima e até brilha no escuro, mas quando o assunto é qualidade editorial e experiência de leitura, a Penguin continua imbatível. Então, se você quer se aventurar pelo terror cósmico de Lovecraft, essa coletânea é, sem dúvidas, uma ótima escolha.
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