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11 de junho de 2020

Pequenos Incêndios Por Toda Parte | Celeste Ng


Depois de ler e amar Tudo o que Nunca Contei, de Celeste Ng, eu não pude deixar de me interessar por Pequenos Incêndios por Toda Parte, afinal, eu estava curiosa para saber se a autora tinha conseguido repetir a qualidade de seu primeiro livro. Logo no início dessa leitura, já pude notar que algumas características narrativas se repetem. Ambas as histórias começam em momentos importantes e depois vão flutuando no tempo para mostrar de que forma se chegou a esse ponto. Esse parece ser o estilo da autora, iniciar pelo clímax da história e depois recapitular para mostrar como se chegou ali.

Aqui, a história já começa com um incêndio na casa dos Richardson. Em seguida, a autora, de forma muito natural e fluida, nos apresenta os personagens e a forma de apresentá-los também se parece com seu primeiro romance. Os personagens vão sendo delineados aos poucos e o leitor vai conhecendo e entendendo cada um. Acho que a forma como a autora cria seus personagens é uma das coisas mais legais da escrita dela, ela não precisa dizer "esse personagem é assim", ela vai mostrando ao leitor como o personagem é, sem precisar defini-lo com adjetivos prontos.

E assim como em Tudo o que Nunca Contei, em Pequenos Incêndios por Toda Parte também temos uma família grande. O começo pode até parecer confuso, mas, como eu disse, a autora sabe muito bem definir e delinear seus personagens. Então, muito naturalmente, o leitor aprende a reconhecer e diferenciar cada um. Nessa obra, temos ainda uma segunda família, que se contrasta com a primeira. Enquanto que os Richardson são ricos e muito tradicionais, a família que se muda para a casa que os Richardson alugam é pobre e formada apenas por uma mãe solo e sua filha de 15 anos que é muito inteligente.

Como eu disse, a história começa com um incêndio na casa dos Richardson. Essa família é formada pelo Sr. e pela Sra. Richardson e seus quatro filhos: Izzy, Moody, Trip e Lexie, estudantes do nono, primeiro, segundo e terceiro ano, respectivamente. No momento do incêndio, apenas a Sra. Richardson estava em casa a quase todos atribuem a responsabilidade pelo incêndio à filha mais nova dos Richardson, a "ovelha negra da família". Vale mencionar que o que move essa história não é mistério em torno do incêndio. O que temos no livro é um drama familiar e social.

A partir daí, a narrativa se volta para o passado e mostra Mia e Pearl chegando em Shaker Heights, um lugar com valores tradicionais, famílias ricas e muitas regras, ou seja, um lugar em que elas se destacam, pois mãe e filha levam uma vida nômade, simples, colorida, livre e sem muitas regras. O choque cultural entre essas duas famílias é evidenciado e a forma como essas diferenças afetam a todos, mas principalmente a Sra. Richardson, é muito interessante de acompanhar.

Ao mostrar as relações que vão se constituindo entre os membros dessas duas famílias, Celeste Ng traz reflexões pertinentes sobre diversos temas, como a iniciação da vida sexual, racismo, diferenças de classe, a importância da arte e outros assuntos. Eu diria que esse livro não tem um tema ou plot central, não há nenhuma grande questão pra ser desenrolada ou esclarecida ao longo de todo o livro. O que temos são pequenos conflitos e questões que são inseridas durante a trama e talvez por isso a leitura não tenha sido tão boa pra mim. Eu senti falta de algo que movesse a história e me deixasse intrigada do início ao fim. De forma alguma dá pra dizer que o livro é ruim. É muito bom, na verdade, mas eu senti que faltou algo. Houve momentos em que eu fiquei super envolvida e interessada, mas também momentos que eu me senti tentada a pular algumas páginas até que o livro ficasse bom de novo. Então, posso dizer que essa história tem altos e baixos.

Já afirmei isso: um dos maiores méritos da autora é definir muito bem a personalidade de cada personagem. Isso fez com que cada um fosse ganhando vida ao longo da leitura, a ponto de eu sentir que conseguiria imaginar uma conversa com eles, imaginar o que eles diriam e como agiriam em determinadas situações. A narrativa em terceira pessoa permite que a autora flutue de um ponto de vista a outro sem perder a profundidade e a individualidade de cada personagem. Muitas vezes, narrativa em terceira pessoa significa uma narrativa mais impessoal e superficial, mas, definitivamente, não é o caso da narrativa da Celeste Ng. Ela consegue nos colocar na mente dos personagens sem que haja necessidade de inserir uma narrativa em primeira pessoa.

Tanto as flutuações nos diferentes pontos de vista como as flutuações no tempo são feitas de forma muito natural. Não há quebra da narrativa. Definitivamente, Celeste Ng é uma das autoras contemporâneas que mais me surpreendem pela qualidade da escrita. Como no primeiro livro da autora, aqui ela também insere alguns capítulos que servem para contextualizar o leitor em alguma questão, mas que não necessariamente possuem alguma importância para o desenvolvimento da história em si. Porém, em Tudo o que Nunca Contei eu gostei desses capítulos, porque senti que eles eram importantes, fosse para o desenvolvimento da história, fosse para o delineamento dos personagens. Já aqui eu não vi muita utilidade.

A história também acaba com muitas questões em aberto e, por mais que eu entenda que isso pode ter sido intencional, algumas me deixaram bastante frustrada. E minha última reclamação é que eu achei alguns acontecimentos extremamente inverossímeis, realmente não consegui acreditar que algumas das coisas que a autora estava descrevendo realmente pudessem acontecer na vida real. Apesar disso, quero reforçar que eu gostei do livro. Pra mim foi uma experiência boa, longe de ser ótima, mas também longe de ser horrível.

Apesar de os personagens serem todos muito imperfeitos e cheios de falhas, eu consegui sentir empatia por todos eles, até pela Sra. Richardson que chega a ser quase insuportável. E mesmo em seus erros, era fácil entendê-los. Também foi muito interessante acompanhar a força magnética de Mia e Pearl e como os membros da família Richardson se sentiam atraídos pela liberdade delas. Me fez sentir o quanto aqueles jovens estavam precisando de uma realidade mais leve.

Izzi, com certeza, é a Richardson mais intrigante e com uma trajetória mais coerente. A autora conseguiu amarrar todos os pontos para compor essa personagem. É incrível como essa autora elabora os laços familiares de tal forma que um membro da família influencia o outro e todos são um resultado de suas interações afetivas. Aliás, dentre os vários acontecimentos que marcam essa história, o evento que envolve a Lexie foi o que mais me comoveu. Não vou dizer qual foi, mas, quem leu, certamente sabe do que estou falando.

Pequenos Incêndios por Toda Parte me lembrou outro livro de nome parecido: Pequenas Grandes Mentiras. Ambas as histórias foram adaptadas para séries de TV e ambas protagonizadas por Reese Witherspoon. Estou curiosa para ver a série, porque acredito que essa história vai funcionar melhor no audiovisual.

Por fim, vale dizer que a Intrínseca caprichou na edição, que contém jacket com a capa da série e me arrisco dizer que ela é ainda mais bonita que a capa original.

Título Original: Little Fires Everywhere ✦ Autora: Celeste Ng
Páginas: 416 ✦ Tradução: Julia Sobral Campos ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
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21 comentários :

  1. Li recentemente em uma leitura coletiva e apesar de fugir bastante do que gosto de ler, foi uma leitura interessante.
    Realmente cada personagem teve sua "hora de brilhar ", todos foram muito bem aproveitados. Inclusive os coadjuvantes.
    As vezes achei os capítulos um pouco longo demais e bem descritivos mas era necessário para a história.
    No fim do livro percebemos que houve realmente pequenos incêndios por toda parte.
    Agora preciso assistir a série.

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  2. Olha, acabei de ver umas fotos bem legais no instagram com esse livro e me chamaram a atenção, ainda pensei comigo, depois vou dar uma pesquisada sobre o livro e antes disso passei por aqui. Como eu comentei, a capa eu já gostei e para mim é bem importante ler sobre questões sociais como a desigualdade e racismo. Uma coisa que eu não gosto é isso de não ter só uma linha do tempo. Não que seja ruim, é um problema comigo mesma pois eu me perco muito fácil, sou muito atrapalhada, não sei se não iria me perder aí...

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  3. ola
    que resenha maravilhosa .voce pontua os fatos aponta pontos positivos e negativos sem entregar toda a estoria
    particularmente não gosto de livros narrados em primeira pessoa ,então esse livro já ganha pontos comigo
    é muito importante isso que voce resenhou de os personagens não serem perfeitos e mesmo assim voce sentiu empatia para com eles ,merito da autora e tambem de quem está lendo ,pois as vezes queremos personagens perfeitos .
    dica anotada e desejo ver a serie tambem

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  4. Priscila!
    Ver as personalidades bem definidas, é um grande diferencial para o livro.
    Fiquei bem intrigada com esse enredo diferenciado, com possibilidade de descobertas do passado que podem interferir no relacionamento no presente das famílias.
    cheirinhos
    Rudy

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  5. Eu ainda não consegui ler este livro da autora, mas penso por tudo que li acima, que a parte visual irá funcionar melhor. Tá,eu sou fã de um bom drama familiar e ao ler a resenha, o enredo me lembrou muito This Is Us, uma série familiar que eu amo de paixão.
    Pelo que pude perceber, a autora se aprofundou muito bem em cada personagem, trazendo suas qualidades e defeitos muito bem trabalhados e isso é maravilhoso.
    Claro que se puder, irei ler. Mas oh, eu acho que verei primeiro a série!rs
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  6. Que legal o cuidado da editora, assim você pode ter as duas "capas" (também achei a da série tão bonita quanto a original)! Não li nada sobre a autora ainda, mas queria muito ler esse livro antes de assistir a série (alguém que gosta muito da autora chegou a falar que a série é até melhor que o livro, fiquei boba e muito curiosa). Achei interessante o fato de ela começar pelo clímax, não deve ser aquela enrolação toda então.

    Beijos,
    Amanda Almeida

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  7. Li e amei. E, claro, estou doido para ver a adaptação. Fiquei muito surpreso com o estilo de escrita da Celeste Ng que, apesar de lento, é muito arrebatador. Gostei bastante de como ela inclui assuntos diversos e constrói as personalidades dos personagns também. Mia e Izzy perfeitas! Ansioso para a leitura de Tudo o que nunca contei.

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  8. Oii, com toda certeza um autor que mostra como o personagem é ou está se sentindo sem que tenha que elaborar diálogos falando isso é outro nível hahaha as vezes me pego fazendo algumas coisas e lembro de x personagem e penso "com toda certeza ele faria isso", vício de leitora.
    Nunca li nada dessa autora, com toda certeza me animei para saber mais.

    Beijos!

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  9. Olá Priscila!
    Celeste Ng é MARAVILHOSA. A autora consegue abordar tantos temas importantes nessa obra, e tudo de forma bem estruturada para prender o leitor, que fica louco para entender o que de fato levou ao incêndio.
    E eu já tenho até noção desses acontecimentos inverossímeis. Realmente algumas coisas foram difíceis de engolir, mas sabe quando você está adorando o circo pegar fogo (desculpe o trocadilho rs) e nem se incomoda muito com isso? Foi exatamente assim a minha experiência, ficava tipo “pode mandar mais Celeste, estou amando”.
    Mas eu fiquei com muita raiva da família Richardson, principalmente da Lexie.
    A adaptação é sensacional, o que não poderia ser diferente com duas atrizes talentosíssimas no elenco.
    Em nenhum momento eu achei o livro similar à obra magna da Liane, mas por ambas terem um contexto “familiar”, comparações são inevitáveis, ainda mais agora que a mesma atriz protagonizou as duas adaptações.
    Beijos.

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  10. Oiii ❤ Achei bem legal que a autora não pré-define a personalidade dos personagens, o leitor que vai descobrindo sobre cada um durante a leitura. Gostei também que ela começa com o clímax da história e depois volta pra descrever tudo que aconteceu até aí. E que temas importantes são abordados.
    É uma pena que a autora não tenha resolvido certas situações que acontecem na trama, pois gosto muito mais de finais fechados, onde de tudo é bem resolvido.
    Mesmo assim, parece uma história bem escrita e que vale a pena ser lida.
    Beijos

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  11. Lendo a resenha, percebi uma semelhança com a escrita da Liane; bom saber que também sentiu isso.
    Estou começando a me interessar pela escrita da Celeste, mas acho que o anterior me chama mais atenção.
    Essas pontas soltas me incomodam, confesso, mas acho que posso gostar das obras dela. Gosto de dramas familiares.

    Beijos

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  12. Oi, Priscila!!!
    Já tinha lido uma resenha sobre Pequenos Incêndios Por Toda Parte mas essa foi bem mais detalhada e consegui captar mais características da história.
    O que me chamou a atenção e seria o motivo para eu ler foi os personagens terem suas características bem definidas! Gosto quando os autores expõem bem a personalidade de cada um deles, presto bastante atenção nisso e fico mais conectada com a história.
    Uma pena que algumas questões do livro ficam em aberto, sou muito curiosa e mentalmente ficaria implorando para ter uma continuação, só para que essas questões sejam resolvidas. Kkkk
    Beijos!!

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  13. Olá Priscila!
    Estão fala do muito desse livro agora que a série foi lançada, mas ainda não tive a oportunidade de conhecer o livro nem a adaptação. Eu adoro dramas familiares, Pequenas Grandes Mentiras, Liane é realmente sensacional, e se as histórias são similares acho que vou gostar, embora PGM tenha um plot central bem interessante. Eu imagino como o choque de realidade entre as famílias deve render boas risadas hahaha. Esse modo de escrita da autora deve ser mesmo ótimo, de introduzir os personagens com leveza. A única coisa que me deixou com o pé atrás foi esse final em aberto, ODEIO não saber exatamente o que aconteceu.
    Beijos

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  14. Ainda não tive a oportunidade de led nenhum dos livros citados, mas pela resenha me parece que ambos são ótimos! O que mais me fisgou foi o fato da autora descrever bem seus personagens, tornando a leitura mais fácil. Nunca li Pequenas Grandes Mentiras, mas AMO a série demaisss <3 Então sei que já vou amar Pequenos Incendios Por Toda Parte.

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  15. Olá! Ainda não conhecia esse livro e apesar de seus altos e baixos, gostaria de dar uma chance ao mesmo e conhecer a escrita da Celeste Ng, que parece maravilhosa.
    Achei interessante a autora iniciar a história pelo clímax, não costumo ler muitos livros que se utilizam desse artifício, mas acho bem bacana quando ele é utilizado, pois eu fico muitoooo curiosa para saber quais foram os acontecimentos que culminaram nesse clímax.
    Adorei a forma que Celeste apresenta seus personagens aos leitores, aos poucos e conforme a história vai se desenvolvendo.
    O que mais me interessou pelo livro além do que já citei anteriormente, são os temas que o mesmo aborda, todos muito importantes!
    Enfim, o livro parece pecar em alguns aspectos, mas parece acertar em muitos outros. Se tiver a oportunidade, adoraria conferir ♡
    Beijos!

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  16. Oi Priscila,
    Ainda não tive contato com a escrita de Celeste Ng, mas confesso que curiosidade não falta. Suas obras são sempre bem recomendadas e recebem boas críticas. Pequenos incêndios por toda parte já havia me interessado logo após o lançamento, mas só fiquei curiosa mesmo quando soube da adaptação. Acompanhando as resenhas das obras da autora consigo ver uma peculiaridade em sua escrita. Sua forma de criar as histórias chama atenção, pois ela trás dramas familiares com aquela pontinha de mistério e esse é bem o tipo de trama que adoro ler. E me lembra, também, os livros da Liane Moriarty.
    Vejo que Celeste sabe como criar seus personagens, pois a forma como você fala deles aqui na resenha me faz crer que a autora busca por características reais, o que faz com que o leitor se sinta mais próximo deles. O livro tem tudo para me agradar, mesmo com os pontos negativos que você apontou. Acredito que alguns autores cativam mais pela escrita do que pela história em si e acho que Celeste Ng é um deles.

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  17. Olá, Priscila
    Não li o livro ainda, mas cada resenha que leio dele só aumenta minha curiosidade para ler.
    Pude perceber que a autora constrói personagens bem reais e nos mostra seus problemas, como é a relação familiar. E o título do livro é bem significativo na trama.
    Vi falar sobre a série mas só vou assistir depois que ler o livro, beijos.

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  18. Esse livro parece mesmo muito bom. A principio pensei que se tratasse de um livro que falasse de incêndio, mas nao, pelo contrário é um drama e eu gostei bastante.

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  19. Olá! Estou curiosa em conhecer a escrita da autora e pelo jeito o difícil é saber por qual dos seus trabalhos começar, já estava empolgada com o livro anterior e agora fiquei ainda mais, se bem que algumas ressalvas me deixaram um tanto quanto receosas, mas tenho certeza que não atrapalhará minha leitura, a história parece trazer muito do dia-a-dia de muitas famílias, por isso, acho que vai ser fácil se identificar com algumas passagens.

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  20. Tô devendo leitura dessa autora, ela parece ser boa mesmo e gosto de como os livros dela estão bem falados. Essa parece outra história que iria gostar muito. Adoro esse clima de confusão, família grande e muito pra entender das pessoas. A trama do incêndio que vira pano de fundo pra tanto a contar. Mostrar passado, traçar essas linhas que levaram ao hoje e como todo mundo se relaciona...gosto desse clima, das reflexões e coisas pra se tirar de tudo isso. Desanima um pouco é final aberto, coisas sem respostas e tal, tenho birra...mas também gosto por fazer você ficar pensando na história. No geral parece um livro que gostaria de ler.

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  21. Oi, Priscila
    Aii morro de vontade de ler os livros dessa autora.
    Esse parece ser cheio de reviravoltas e muita reflexão.
    Os personagens parecem nos conquistar, mesmo alguns sendo mais chatinhos.
    Assim que der lerei.
    Bjs

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