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23 de dezembro de 2020

Não Era Você Que Eu Esperava | Fabien Toulmé

Quando finalizei o primeiro volume de A Odisseia de Hakim, que conta a jornada de um refugiado, eu já sabia que estava apaixonada por Fabien Toulmé: o modo como ele usa as palavras me conquistou por completo. Foi por isso que fiquei tão curiosa para ler Não Era Você Que Eu Esperava, porque queria saber como ele usaria as palavras para contar um pedaço da sua própria jornada... E nossa, como me emocionei com esse relato, vocês não têm ideia... Chego a sentir que minhas palavras não serão suficientes para explicar!

Meu Deus, como esse autor é sensível e sincero. O título do livro já diz tudo, já que Não Era Você Que Eu Esperava narra o nascimento da filha caçula do autor, Julia, portadora da Síndrome da Down, algo que ele literalmente não esperava. Obviamente é um baque ter um filho com deficiência, né, principalmente quando essa deficiência não é sinalizada durante a gravidez, como aconteceu com Fabien Toulmé.

Acho que o que mais me marcou foi a dificuldade de Toulmé em aceitar a filha, aceitar que ela nasceu com a trissomia e as consequências que isso traria par ele e para sua família. Ele não escondeu, inclusive, o preconceito que permeava seus pensamentos sem nem mesmo imaginar que futuramente teria que aprender a lidar com pessoas preconceituosas também. A gente pode se achar a pessoa mais desconstruída do mundo, mas hora ou outra teremos pensamentos capacitistas em relação à pessoas com deficiência, verdade seja dita. 

Eu digo que essa parte da história em específico me marcou porque é difícil imaginar um pai que acha que não ama a filha por causa de uma deficiência, sabe? Por causa de preconceitos que a gente traz desde sempre dentro de nós. Ainda mais se levarmos em consideração que para a esposa dele foi muito mais compreensiva desde o início — obviamente ela tinha medo, mas para ela, amar Julia foi fácil, entendem? A filha mais velha então, sequer imaginava que a irmãzinha era portadora de uma condição especial. 

Ainda assim, quem somos nós para julgar? Qual seria nossa reação caso nossos fossem portadores da trissomia? Como eu já disse, todos nós nascemos preconceituosos, nos restando quebrar essas barreiras, mesmo que seja aos poucos. Fabien Toulmé aprendeu a amar Julia e entender as condições impostas pela síndrome de Down foi de suma importância para que isso acontece. Afinal, o que de fato é a síndrome de Down? O que isso implica para o desenvolvimento da criança? Foi só quando ele entendeu que Julia é uma criança como qualquer outra que conseguiu se abrir para ela.

Não Era Você Que Eu Esperava é uma narrativa corajosa, acima de tudo. Falar abertamente sobre sentimentos ruins e admitir preconceitos requer uma dose de coragem muito grande e admiro isso em Toulmé. Acho que justamente por isso — mesmo ficando injuriada com várias atitudes e acontecimentos, o que julgo ser normal numa situação em que estou sendo espectadora — senti uma empatia muito grande pelo autor e consegui entender sua dor, consegui entender que ele é, afinal de contas, humano, um ser capaz de aprender e amar.

"Não era você que eu esperava... Mas estou feliz por você ter vindo".

Título Original: Ce n'est pas toi que j'attendais ✦ Autor: Fabien Toulmé 
Páginas: 256 ✦ Tradução: Fernando Scheibe Editora: Nemo
Livro recebido em parceria com a editora

13 comentários :

  1. Ana! Imagino a jornada desse pai, até poder superar seu próprio preconceito e simplesmente amar sua filha.
    Síndrome de Down hoje em dia já não é mais uma deficiência tão grave. Na minha época de faculdade, há uns 35 anos atrás, era como se fosse uma 'aberração' para as pessoas, entretanto são crianças como outras e se tornam adultos bem funcionais se forem bem orientados...e tiverem muito amor.
    cherinhos
    Rudy

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  2. Amei a dica. Esse livro parece bem necessário e um pouco pesado. Acho que em um primeiro momento todo mundo sente medo ou vários sentimentos quando é pego de surpresa. Que bom que o autor superou tudo
    beijos
    https://www.dearlytay.com.br/

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    1. Oi Tayane!
      Que bom que gostou! Mas é bem leve, juro! Só é um tema difícil, mas o autor fala de forma muito singela!

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  3. Eu consegui entrar um pouquinho no universo dos quadrinhos nesse ano e estou doida para comprar tudo. Pena que a maioria esteja custando um rim e como só tenho um, fica complicado rs
    Mesmo não tendo lido A Odisséia, eu quero demais conhecer as letrinhas desse autor e claro, ver e sentir as ilustrações, ainda mais com um tema tão pesado, triste, mas real,muito real!!!
    Quero aprender!!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  4. Conheci Fabien aqui no blog e mesmo sem ter lido uma HQ/GN (Ainda não sei qual a diferença entre as duas 😬), sei o quão os traços e escrita deles são sensíveis e nos tocam de diversas formas.
    Realmente, só vivendo a situação para saber como reagir.

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  5. Essa história parece tão bonita! Uma coisa difícil, uma situação que ninguém espera acontecer, mas o depoimento de quem passa por algo assim, o aceitar e entender e se adaptar e mesmo o jeito ruim de ver as coisas, a realidade do que é passar por isso, com preconceitos e dificuldades e as coisas que pensa, todos os sentimentos, é uma coisa importante de se ver. Não pintar o quadro de tudo são flores. Mostrar a crueldade por trás e toda a jornada da situação. Isso me chama atenção nele. O ser sincero com tudo isso. Mas no fim é uma história que deixa reflexão. Empatia. Parece bonita pelo que a gente pode aprender.

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  6. Olá! Que livrão hein, concordo que o autor foi muito corajoso em expor assim suas imperfeições, realmente por mais que achemos que estamos preparados para determinada situação, só saberemos como vamos reagir, vivenciando-as né!

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    1. Coragem é pouco, né? Num é todo mundo que dá a cara a tapa desse jeito, porque com certeza ele sabia que seria julgado!

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  7. Ola
    Que resenha completa .acho que nem ha muito o que comentar a náo ser o quanto eu admiro esse pai que foi táo sincero ao mostrar tudo o que sentiu perante a deficiencia da filha e o mais importante e bonito disso tudo .como ele superou e aceitou sua filha e a amou .Isso é o suficiente Amor

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  8. Amei! É um livro que nos abre os olhos para a dura realidade dos pais que têm um filho com algum tipo de deficiência. Interessante saber que lida com o preconceito e a intolerância de alguns. Quero muito ler.

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  9. Oi, Ana
    Ainda não tive oportunidade de ler nada do autor, mas por essa HQ já o admiro muito ter essa coragem expondo sua vida, seus sentimentos. E claro enfrentando pessoas preconceituosas, assim como ele ou até pior.
    Quero muito poder ler, beijos.

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  10. Que fofura!!! Eu já li muitas coisas boas sobre o livro. Realmente deve ser uma história bem sincera, até porque nunca vi nada do tipo sendo tratado desta forma. Eu quero muito poder ter a oportunidade de conferir a leitura. Tenho certeza que irei amar.

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    1. É uma graça! Também nunca tinha visto um livro com uma história tratada com tanta naturalidade, sabe? Lindo demais!

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