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29 de outubro de 2022

Conheça Christophe Chabouté

Esse post é para te apresentar um dos meus autores favoritos. Caso você ainda não o conheça, Christophe Chabouté é um quadrinista francês publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim.

Meu primeiro contato com esse artista foi em 2018. Ao decidir fazer a leitura do clássico Moby Dick, eu descobri que existia uma HQ que adaptava a história de Herman Melville e decidi fazer a leitura de ambos, romance e história em quadrinhos. A experiência foi maravilhosa, pois a HQ ilustrava muito bem não só a história, mas as emoções, os mistérios e os anseios dos personagens. Desde esse primeiro contato, eu fiquei impressionada com as habilidades do quadrinista.

Depois disso, a Pipoca & Nanquim publicou Um Pedaço de Madeira e Aço. E foi aqui que eu me rendi, pois descobri que além de ótimo artista e quadrinista, Chabouté é um excelente criador de histórias, principalmente por seu olhar cuidadoso e sua sensibilidade.

Um Pedaço de Madeira e Aço é a história de um banco de praça e de tudo o que ele viu (ou veria, se bancos de praça pudessem enxergar). Pessoas indo e vindo, àsvezes parando, estações mudando e o tempo passando. Tocante e singela, essa HQ nos faz pensar sobre a passagem do tempo e sobre tudo o que muda (e o que não muda também).

Em seguida, veio a minha favorita: Solitário, sobre um senhor que mora num farol. Essa HQ tem um plot twist no final que só pessoas sem coração não vão se emocionar. Fiz todo mundo que eu conheço ler essa HQ e não teve uma pessoa que não se emocionou.

Henri Desiré Landru foi o lançamento seguinte e conta a história real de um serial killer francês, demonstrando a capacidade que Chabouté tem de criar histórias de diferentes tipos, sejam roteiros originais, adaptados de outras histórias ou baseados em histórias reais.

Yellow Cab veio quase como lançamento simultâneo (arrasou Pipoca & Nanquim) em 2021 e traz aquele mesmo tom reflexivo sobre a vida que eu encontrei em Um Pedaço de Madeira e Aço, já que aqui o autor decide mostrar o dia a dia de um taxista e todas as histórias que passam por ele ao longo das corridas que ele faz. Yellow Cab é a adaptação de um livro autobiográfico.

Por fim, em 2022, a Pipoca & Nanquim trouxe Purgatório, HQ mais pedida pelos fãs do quadrinista no Brasil. E é fácil entender porque essa era a história mais pedida do autor. Como o próprio nome já diz, Purgatório nos apresenta o purgatório imaginado por Chabouté. Apenas sensacional.

O traço do Chabouté é super marcante e, pra quem conhece suas artes, é fácil reconhecer um quadrinho seu. Ao mesmo tempo que seu traço é bastante específico e identitário, suas histórias carregam muita versatilidade. Chabouté é capaz de falar sobre um assassino com a mesma maestria que é capaz de falar sobre um casal apaixonado.

Espero ter conseguido despertar em você a vontade de conhecer esse quadrinista (caso você já não conhecesse). Me conta: qual história mais te interessou? Ou, se você já conhece: qual a sua HQ favorita do Chabouté?

25 de outubro de 2022

As músicas que embalam a trilogia Para Todos os Garotos


Recentemente a Intrínseca me enviou o segundo volume da trilogia Para Todos os Garotos, o P. S.: Ainda Amo Você. Não é exatamente o meu preferido entre os três, mas acredito que é o livro em que a Lara Jean mais consegue se conectar com ela mesma, o que é muito importante, principalmente quando somos adolescentes e entender nossos sentimentos é uma coisa muito complicada. 

Nessa trama, Lara Jean conseguiu superar toda aquela problemática das suas cartas de amor enviadas aos destinatários sem sua permissão e, de quebra, está feliz ao lado do nosso amado Peter K... Até que John Ambrose surge para abalar ainda mais a relação que já estava um pouco estremecida por questões envolvendo a Genevieve, a ex-namorada de Peter da qual Lara Jean não se dá muito bem. Eu sei, é um enredo bem clichê, mas acabou funcionando muito bem, principalmente na adaptação. 

A escrita da Jenny Han é deveras encantadora, vocês têm que concordar comigo. Existe alguma coisa mágica na narrativa dela que traz um sentimento de nostalgia muito gostoso. Eu me senti como uma adolescente, torcendo por Lara Jean e Peter, ao mesmo tempo em que entedia as dúvidas da protagonista em relação ao amor pelo simples fato de ter vivido aquilo também. 

Os filmes da Netflix também têm essa atmosfera e, na minha opinião, foram todos muito bem adaptados. Lana Condor e Noah Centineo cumpriram com maestria seus respectivos papeis e outra característica que se destacou bastante em toda a trilogia foi a trilha sonora. As músicas desempenham um papel fundamental em qualquer trama cinematográfica porque, de uma forma ou de outra, acabam ajudando a ilustrar o que está acontecendo nas cenas. Mas, ao que parece, a trilha sonora de Para Todos os Garotos foi um pouco além, estourando tanto quanto os filmes. 

Segundo dados do Spotify, no início de 2021 existiam aproximadamente 60.000 playlists geradas por usuários com base na trilogia. A própria Editora Intrínseca criou playlists maravilhosas inspiradas nos livros, mas foi a playlist original da Netflix, com 85 músicas e com direito a canções inéditas de vários artistas que decolou de verdade. A canção de Laura Webb que fechou a trilogia na cena final de Agora e Para SempreBeginning Middle End — Começo Meio Fim, em tradução para o Português  marcou demais por representar exatamente a história de Lara Jean e Peter:
Sometimes, you get what you've always been wishing for
And most times, it's not on your deadline, but that's alright
I was worn out and jaded from trying on people to love
But you fit so well


Às vezes, você consegue o que sempre desejou
E, na maioria das vezes, não é no prazo esperado, mas tudo bem
Eu estava exausta e cansada de tentar o amor das pessoas
Mas você se encaixa tão bem
Além de Leah Nobel, outros artistas como The Greeting Committee, Ashe, Jordan Suaste e FLETCHER também fizeram músicas inéditas, e não podemos por nada nos esquecer da contribuição das meninas do BLACKPINK, Cherry BulletGirls' Generation: achei muito legal e importante trazerem essas referências do k-pop, principalmente porque a Lara Jean tem origem coreana. 

Confiram a playlist oficial criada pela Netflix:


Caso tenham ficado curiosos, vou deixar também o link para vocês acessarem as playlists criadas pela Intrínseca, que eu também amo demais!
Playlist Intrínseca: Para Todos os Garotos que Já Amei
Playlist Intrínseca: P. S.: Ainda Amo Você
Playlist Intrínseca: Agora e Para Sempre, Lara Jean

21 de outubro de 2022

Como o autismo interfere nos relacionamentos? O Teste do Casamento, de Helen Hoang

O Teste do Casamento vai trazer a história de Khai e Esme. Khai é autista e, depois de uma perda muito significativa na infância, ele acredita racionalmente que é incapaz de sentir qualquer coisa e para se relacionar, é preciso ter sentimentos. Essa é a conexão que ele faz, e assim ele vive por 10 anos, sem ter relacionamentos vão além da sua mãe e irmão.

Acontece que sua mãe se cansa de ver o filho sozinho e decide encontrar alguém pra ele. E assim, acidentalmente, que ela encontra My (Esme) no Vietnã: ela é humilde, trabalha com faxinas pra tentar dar um futuro bom pra sua filha Jade, que teve na juventude. Esme é muito bonita e depois de um acordo estranho, vai para os Estados Unidos com a mãe de Khai para conhecê-lo. Khai que ama sua rotina, de repente, vê sua casa invadida por Esme com sua beleza, cuidado e tantos sentimentos que o sobrecarregam.

O livro é muito curto, ele narrado em terceira pessoa, mas intercala o ponto de vista dos nossos personagens principais. Eu já li Números do Amor e o que os dois têm em comum são personagens dentro de espectro. Como alguém se descobrindo dentro desse espectro, é sempre bom ver personagens assim — principalmente em romances. Eu gostei de O Teste do Casamento, mas eu senti a história muito acelerada. Tem um contexto, mas ainda achei tudo muito rápido.

Eu gostei muito de Khai, ele me garantiu boas risadas e até umas lágrimas. Ele descobrindo as emoções que — obviamente — existem dentro dele é uma jornada extremamente interessante. Esme também se destaca por descobrir um sonho novo ao ir para os Estados Unidos e pensar como pode realizá-lo. Uma imigrante vietnamita querendo uma vida acadêmica? É incrível! Ela é uma personagem muito doce, muitas vezes até inocente demais, mas muito cativante.

Outro ponto interessante é a forma que a autora mostra o relacinamento em que uma das pessoas é autista. Apesar de ser desafiador, principalmente por causa das dificuldades envolvendo interações sociais e rotinas rigorosas, pessoas no expectro conseguem sim manter relacionamentos amorosos caso seja desejo deles. Foi bem legal acompanhar o desenvolvimento de Khai, como ele passou a lidar com Esme e tudo mais.

Os personagens secundários não ficam pra trás. A mãe de Khai e Quan, seu irmão, são pessoas incríveis e uma das cenas mais engraçadas e a outra mais emocionante incluem Quan, então é impossível não gostar dele.

Eu dei 4 estrelas pro livro porque eu realmente senti ele andando muito rápido, mas os personagens compensam essa rapidez por serem todos maravilhosos. Stella e Michael de Os Números do Amor fazem uma aparição nesse volume e Michael participa da cena engraçada que eu citei com o Quan.

O livro tem cenas hot, então ele não é para todas as idades e é bom se atentar a isso. Eu gostei da representação do autismo com Khai porque existiu um desenvolvimento do aspecto emocional que acontece em vários casos. Eu recomendo muito a leitura se você quer um livro leve, que te rende risadas e lágrimas em poucas páginas.

Título Original: The Bride Test ✦ Autora: Helen Hoang
Páginas: 280 ✦ Tradução: Alexandre Boide ✦ Editora: Paralela
Livro recebido em parceria com a editora

16 de outubro de 2022

Uma Jornada Sem Fim | R. J. Palacio


R. J. Palacio é mundialmente conhecida por seu livro Extraordinário, que foi adptado para as telas de cinema em 2017 com Jacob Tremblay no papel de Auggie Pullman. Depois disso, o sucesso da história do menininho que nos ensina muito sobre empatia e amor só cresceu, dando mais visibilidade, também, para sua autora. Ela escreveu outros livros derivados do mesmo universo, como Auggie & Eu365 Dias Extraordinários e até mesmo Pássaro Branco, um romance em quadrinhos maravilhoso que narra a história da avó de Julian, um dos personagens de Extraordinário, durante a Segunda Guerra Mundial.

Dessa vez, Palacio lançou uma história com personagens totalmente desconhecidos, em uma época bem diferente da nossa, mas sem deixar sua essência de lado: o protagonista de Uma Jornada Sem Fim é uma criança e o livro, na minha opinião, também é voltado para o público infantojuvenil, mesmo com o tom misterioso que carrega. Aqui, acompanhamos Silas Bird, um menino de 12 anos, órfão de mãe, cujo melhor amigo, Mittenwool, é um fantasma. 

Silas e seu pai vivem sozinhos em uma casa humilde em uma cidadezinha do interior. O Pai, além de sapateiro, manda muito bem na fotografia, mas utilizando processos bem diferentes dos que conhecemos hoje. Estamos falando de meados de 1860, época em que as tecnologias eram muitíssimo limitadas. Para vocês terem ideia, a primeira fotografia de que se tem registro foi tirada em 1826 pelo francês Joseph Niépce, poucas décadas antes dos acontecimentos de Uma Jornada Sem Fim. Por causa desse conhecimento na área da fotografia, que pode ser aplicada na arte de imprimir dinheiro, o Pai foi sequestrado em uma madrugada, deixando um Silas desesperado para trás. 

Apesar de ter sido orientado pelo Pai a ficar em casa, Silas sentia em seu coração que devia procurá-lo. E convenhamos, não devemos ignorar nunca um pedido do nosso coração, né? Essa certeza só aumentou quando um enigmático pônei preto de rosto branco apareceu para ajudá-lo, parecendo saber exatamente para onde ir. A partir daí, Silas desbrava as perigosas paisagens do Centro-Oeste americano na companhia de um contrariado Mittenwool. Embora sua maior vontade fosse simplesmente alcançar o Pai, Silas acaba encontrando muito mais coisas pelo caminho, algumas inimagináveis. 

Eu gosto muito da forma como R. J. Palacio retrata assuntos mais sérios visando um público mais jovem. Desde o começo ficou muito claro para mim que Silas, na verdade, tinha uma mediunidade muito bem desenvolvida. Além de ver, ele podia ouvir e falar com os espíritos. É possível que, quando mais novinho, fosse difícil para ele diferenciar as pessoas reais, em carne em osso, dos fantasmas. Prova disso é Mittenwool, que o acompanha desde bebezinho: Silas não entendia porque só ele conseguia notar a presença do amigo, e sofreu muito quando compreendeu que essa característica o tornava diferente das outras pessoas. 

Poder se comunicar com os espíritos foi o que salvou Silas, principalmente durante essa jornada. Não posso dizer exatamente o papel deles, mas acredito que foram eles que guiaram o personagem. E eu acredito que, de uma forma ou de outra, mesmo depois de partirem, as pessoas que amamos ou que estão ligadas a nós de alguma forma também estão por aqui guiando nossos passos, cuidado de nós. Para mim, essa é a principal mensagem que R. J. Palacio quis passar com esse livro. 

Eu tive apenas uma questão com essa história: expectativa. É muito bonita, o livro também é muito bonito com sua diagramação diferenciada e as fotografias antigas na abertura dos capítulos, mas a verdade é que eu esperava me emocionar demais e esse sentimento não foi correspondido. É claro que é emocionante, afinal, estamos falando sobre a jornada de uma criança de 12 anos, mas eu queria ter sido tocada de uma forma mais profunda. Acho que queria algo que me fizesse chorar, me fizesse pensar naquilo por muito tempo, e não foi assim que eu me senti. E aí volta aquela questão do público alvo: acho que se a autora tivesse se aprofundado mais, tornado a história mais dramática, talvez não pudesse ser indicada para crianças com a mesma faixa etária do protagonista. 

Ainda assim, gostei muto de Uma Jornada Sem Fim, não só pela narrativa encantadora, mas por ser uma forma de mostrar que o amor transpõe barreiras espiriturais. Além disso, foi esse livro que me fez ficar com vontade de ler as outras obras da autora, então podem esperar comentários sobre elas por aqui!

Título Original: Pony ✦ Autora: R. J. Palacio
Páginas: 336 ✦ Tradução: Giu Alonso e Ulisses Teixeira ✦ Editora: Intrínseca 
Livro recebido em parceria com a editora

12 de outubro de 2022

Eu Beijei Shara Wheeler, de Casey McQuiston, e as dificuldades de ser uma pessoa LGBTQIAP+ em um ambiente conservador

Comecei a ler Eu Beijei Shara Wheeler sem a mínima noção do que esperar da história. Não sou muito de ler sinopses, vocês sabem, mas acho esperava algo diferente, ainda que eu não saiba explicar exatamente o quê. No fim das contas fui surpreendida, porque apesar de ser um clichê digno de Sessão da Tarde, Casey McQuiston abordou um tema importantíssimo e muito corriqueiro na comunidade LGBTQIAP+: coexistir em um ambiente conservador. 

Na trama, os personagens, incluindo a protagonista Chloe Green, vivem em False Beach, uma cidadezinha no interior do Alabama. O grande problema é que toda a cultura do lugar é proveniente de um fanatismo religioso extremo, então tudo o que foge do padrão "família tradicional" é condenado. Quem cresceu no lugar apenas aceita as "regras" impostas, mesmo sem concordar com elas... Mas imaginem só ser uma pessoa assumidamente bissexual, filha de um casal lésbico, e ter que lidar com tudo isso? É o caso de Chloe Green.

É justamente por causa disso que o que ela mais deseja na vida é terminar o Ensino Médio em Willowgrove — que é, inclusive, um colégio influenciado pela Igreja — com maestria e dar no pé. Aqui no Brasil isso não é assim tão comum, pelo menos nas escolas onde eu estudei, mas nos Estados Unidos o melhor aluno do último ano se torna orador da turma durante a cerimônia de formatura, e esse é o principal objetivo de Chloe. A questão é que a protagonista tem uma candidata à altura: Shara Wheeler, linda, inteligente, popular e filha do diretor, o cara mais crente de False Beach.

Mas eis que acontece algo muito inesperado: faltando pouco mais de um mês para a formatura, Shara simplesmente desaparece. Todo mundo fica surpreso porque Shara é certinha demais para fazer esse tipo de coisa, mas Chloe tem um motivo a mais para ficar desconfiada: exatamente no dia anterior ao sumiço, Shara a beijou do nada. E não só a beijou como parece querer ser encontrada por ela, uma vez que deixou cartões pela cidade inteira dando pistas sobre o seu paradeiro. 

O livro praticamente inteiro é essa busca incessante por Shara. Apesar de ser liderada por Chloe, vários outros alunos de Willowgrove acabam se envolvendo por terem certa ligação com Wheeler. Quem já leu Cidades de Papel vai encontrar diversas semelhanças entre os enredos, mas ainda assim acho que Casey McQuiston inovou, principalmente por causa dos personagens que são praticamente todos LGBTQIAP+.

Acho que esse é o momento que vocês pensam: "Uai, mas a cidade não é inteira controlada pelo conservadorismo relegioso? Como assim praticamente todos os personagens de destaque são LGBTQIAP+?" Por motivos óbvios, gente: pessoas LGBTQIAP+ simplesmente existem! A diferença é que a maior parte acaba tendo que se esconder quando vive em ambientes hostis, que basicamente é o que acontece em Eu Beijei Shara Wheeler.

Em False Beach, Chloe é o ponto fora da curva, mas é porque veio de fora. Ela sempre teve o apoio de suas mães, nunca precisou se esconder de fato, e também não sentiu vontade de "voltar para o armário" ao se mudar para estudar em um colégio religioso... Mas o mesmo não pode ser aplicado aos amigos dela, que são obrigados a manter as aparências. Às vezes temos que escolher nossas batalhas para ter um pingo de paz, e muitas vezes isso significa viver nas sombras. 

Acho que o principal ponto levantado por Casey McQuiston é como a religiosidade cega as pessoas. Não só os fanáticos, que usam a palavra de Deus para justificar a homofobia, racismo ou qualquer outro preconceito que têm. Shara Wheeler, por exemplo, precisou beijar Chloe Green por um motivo deveras idiota para entender quem ela era, entendem? De uma forma ou de outra, quando a gente cresce vendo esse tipo de coisa, acaba achando que tem algo errado de verdade com a gente, o que é muito triste. 

Eu gostei muito do livro por se sentir representada de todas as formas possíveis. Não que eu precise sair por aí dizendo que sou bissexual, mas por muito tempo tive que manter essa informação só para mim por causa de fanatismo religioso. E por mais que as coisas tenham melhorado, acho que aqui no Brasil, por exemplo, a gente sofre demais e perde demais por ter energúmeno em posição de poder que legitima a todo momento usar a palavra de Deus para nos condenar, como se ele mesmo fosse Deus para saber o que é "certo ou errado".

Acabei de perceber que esse texto ficou comprido demais, mas eu ainda quero deixar uns apontamentos sobre a história em si antes de me despedir de vocês. Não esperem um grande mistério envolvendo o sumiço de Shara, se não a decepção vai ser bem forte. Na verdade, acho que os motivos dela foram até banais demais para a grandiosidade da mensagem do livro, mas ao mesmo tempo não dá para esperar muito de adolescente privilegiado, né? Também achei que o romance entre Chloe e Shara acabou deixando a desejar por causa da caçada, que durou tempo demais... E por esse mesmo motivo, achei que os personagens secundários ficaram muito apagados. Queria ter lido mais sobre eles, seus anseios, descobertas, como lidavam com as situações envolvendo sexualidade e identidade, enfim.

Eu Beijei Shara Wheeler foi meu primeiro contato com Casey McQuiston, mas já consegui entender porque todo mundo gosta tanto dela: ela ajudou a tornar nossos sonhos reais ao trazer para o nosso universo esses clichês impossíveis que só víamos com pessoas heterossexuais, e sou muito grata por isso.

Título Original: I Kissed Shara Wheeler ✦ Autora: Casey McQuiston
Páginas: 352 ✦ Tradução: Guilherme Miranda ✦ Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora

8 de outubro de 2022

Clareza & Conexão | Yung Pueblo


Eu adoro livros de textos curtos. Adoro ler umas poucas palavras e tirar uma grande reflexão daquilo. Foi com essa expectativa que eu peguei Clareza & Conexão para ler.

Vamos começar falando sobre o autor. Yung Pueblo é, na verdade, o pseudônimo adotado por Diego Perez, jovem equatoriano que se mudou para os Estados Unidos ainda na infância e que formulou muitas de suas reflexões enquanto esteve num retiro de silêncio e meditação. 

Em seu livro, Yung Pueblo fala sobre autoconhecimento, crescimento pessoal e relações humanas. O volume está dividido em cinco partes, denominadas: Autoconsciência, Desatar, O amor que nos une, Crescer e Uma nova vida.

Cada parte guarda semelhanças e diferenças em relação às demais. Por exemplo, um tema presente ao longo de todas as partes é Cura. Segue um texto que se destacou pra mim nesse assunto:

a meta não é se curar
e só então começar a viver.
a meta é abraçar a cura como uma
jornada para a vida inteira e permitir que,
ao longo do caminho,
surjam conexões genuínas
de forma orgânica.

Os textos também falam muito sobre como reproduzimos antigos padrões comportamentais e de pensamento baseados em nossas vivências e traumas do passado. Achei essa perspectiva interessante. Inclusive, muito do que o autor escreve é bastante científico (no sentido de que já foi reconhecido como verdadeiro pela ciência). Gostei disso, pois ao mesmo tempo que o livro se propõe a trazer um lado mais espiritual, ele não se desprende totalmente da ciência.

Assuntos do campo da saúde mental estão muito presentes nos textos e alguns dos temas que eu gostei de ver abordados são: vulnerabilidade, resiliência, crenças e maturidade emocional.

A terceira parte, O amor que nos une, fala muito sobre relacionamentos amorosos e de amizade. Fiquei tocada com as reflexões dessa parte. Por exemplo:

atributos de um bom relacionamento:
ouvir generosamente
comunicar-se com calma
oferecer um espaço seguro para o outro
confiança sólida, não há necessidade de controle
autenticidade, não há necessidade de fingimento
descanso, risadas e aventuras juntos
amor entre os dois é fortalecedor
o compromisso dos dois é nítido
flexibilidade, não há necessidade de estar sempre juntos,
espaço para crescer e mudar

Por fim, quero dizer que a última parte, Uma nova vida, me surpreendeu positivamente por trazer textos mais voltados para o coletivo, se distanciando um pouco do âmbito pessoal. Adorei os textos dessa última parte. Um exemplo:

nossa tarefa é pensar e agir de forma com coletiva
ao mesmo tempo que apoiamos a liberdade individual.
padronizar o tratamento humanitário a todas as pessoas.
expandir nossa ideia de direitos humanos para nela incluir
o fortalecimento econômico. sonhar alto é agir de acordo.
sermos os líderes que queríamos que existissem.
temos a força para reorganizar o mundo e
tornar estrutural a compaixão.

Foi uma delícia fazer essa leitura. É o tipo de livro que merece estar na cabeceira da cama pra ser lido aos poucos ou consultado de vez em quando. É inovador e revolucionário? Não! Mas deixa o coração quentinho e a mente ativa. Então vale a pena.

Título Original: Clarity & Connection ✦ Autor: Yung Pueblo
Páginas: 256 ✦ Tradução: Jaime Biaggio ✦ Editora: Intrínseca 
Livro recebido em parceria com a editora

3 de outubro de 2022

O Exorcismo da Minha Melhor Amiga: Livro vs. Filme

A adaptação de O Exorcismo da Minha Melhor Amiga, romance de Grady Hendrix, foi uma das que eu mais aguardei. Desde que li o livro, que me fez rir, chorar e refletir muito, eu criei expectativas para o filme da Amazon Prime Vídeo, que estreou em 30 de setembro de 2022. Assisti no mesmo dia e estou aqui para contar o que achei.

A trama é basicamente a mesma do livro, é claro: Abby e Gretchen são melhores amigas desde que se entendem por gente. Porém, a personalidade de Gretchen muda drasticamente após uma noite bem traumática. Por querer sua amiga de volta, Abby resolve investigar o que aconteceu e, por mais aterrorizante que as respostam sejam, não desiste de salvar Gretchen.

Leia a resenha completa do livro publicado pela Intrínseca
✦ O Exorcismo da Minha Melhor Amiga

Nós, leitores, já entendemos que uma adaptação não é uma cópia audiovisual dos livros que amamos, certo?! Mesmo assim, é impossível não criar algumas expectativas específicas quando uma história que gostamos se torna filme ou série. Então, quero começar dizendo que eu senti sim falta de algumas coisas.

Pra mim, as maiores diferenças são: o começo, o final e o peso da história. O livro tem uma profundidade que o filme não tem. Na verdade, eu sinto que o filme nem tinha essa intenção. A adaptação se propôs a ser mais uma comédia e, de fato, atingiu seu objetivo. Eu dei boas risadas em várias cenas.

Já no livro, apesar de também ter me divertido muito, eu senti que o autor foi para um outro lado, mais reflexivo. Como eu disse na minha resenha, a história do livro funciona muito bem como uma metáfora para estupro e transtorno de estresse pós-traumático. No filme, isso até é mencionado, mas a ideia é esquecida logo depois e ninguém toca mais no assunto.

Eu amo o começo do livro, quando acompanhamos Abby e Gretchen se tornando amigas. Infelizmente, essa cena não entrou na adaptação. E tudo bem, pois não fez nenhuma diferença para o desenvolvimento da história. É só algo que eu gostaria de ter visto.

O final do livro me fez chorar, porque o autor demonstrou uma delicadeza tão grande ao refletir sobre os laços de amizade que unem as pessoas e que tendem a se tornar mais fracos com o passar do tempo. Essa reflexão também não tem relevância para o plot principal, mas eu também senti falta.

No geral, o filme é divertido e gostosinho de assistir. Tem pouco mais de 90 minutos e com certeza vai te tirar algumas risadas. A vibe anos 80, os figurinos e a trilha sonora são uma delícia e é impossível não associar com Stranger Things.

Os efeitos especiais deixam a desejar, mas nem acho que tenha havido grande esforço nessa área. Sinto que o filme foi feito para ser trash e cabe ao espectador saber apreciar. Então, se você busca uma comédia adolescente com referências aos filmes de terror trash e gore dos anos 80, esse filme é pra você.

1 de outubro de 2022

Top Comentarista: Outubro 2022

Gente, vocês também adoram o mês de outubro? Apesar de não gostar de terror de forma alguma, eu adoro essa vibe de halloween que toma conta de todos os produtores de conteúdo, indepentende de qual seguimento for. E podem esperar que com certeza teremos conteúdo desse tipo por aqui, viu? Agora, falando de uma coisa muito séria, é nesse mês que decidiremos o futuro do nosso país nos próximos quatro anos. Pelo amor de Deus, votem com consciência — e vocês sabem muito bem do que eu estou falando, mas caso não tenha ficado claríssimo, nesse blog não apoiamos genocidas!

Voltando para o top comentarista... As regrinhas vocês já sabem de cor, mas não custa relembrar: antes era obrigatório comentar em todas as postagens para não ser desclassificado do concurso, mas a partir de agora vocês serão sorteados a partir dos comentários. Isso significa que não é obrigatório comentar em todos os posts: cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia — recomendo que vocês comentem e preencham o formulário sempre que sair post novo, já que quanto mais comentários cadastrados, maior a chance de ganhar. Todos os meses um comentário será sorteado pelo aplicativo.

Atenção: só preencha o formulário nos dias em que comentar no blog. Por exemplo, se em determinado mês tiverem 13 posts, o número máximo de entradas que cada participante pode ter no formulário é 13!

O prêmio é um vale de trinta reais na Amazon! Ah, as chances extras continuam: comentar nos posts do Instagram e tweetar sobre o top todos os dias em que tiver postagem nova por aqui, então aproveitem! Caso tenha restado alguma dúvida, podem me procurar nas redes sociais, tá bom?

Observações
- O período de validade desse top comentarista é de 01/10/2022 à 31/10/2022. Cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia.
Não serão computados comentários genéricos, só aqueles que exprimem a opinião do leitor e mostram que ele realmente leu o post. Comentários plagiados de outras plataformas (lembrem-se que plágio é crime) ou que se repetem em outros blogs não serão considerados. Comentários do tipo serão excluídos sem aviso prévio e o participante será automaticamente desclassificado;
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- Após feito o contato, o prêmio será enviado dentro de até 60 dias úteis;
- Para o livro ser enviado, é necessário que o ganhador passe o número do CPF para a Ana, já que agora os Correios solicitam uma declaração de conteúdo (saiba mais aqui) Só participe do sorteio se estiver de acordo;
- O Roendo Livros não se responsabiliza por extravio ou atraso na entrega dos Correios, bem como danos causados no livro. Assim como não se responsabiliza por entrega não efetuada por motivos de endereço incorreto, fornecido pelo próprio ganhador, e ausência de recebedor. O livro não será enviado novamente;
- O Roendo Livros se reserva o direito de dirimir questões não previstas neste regulamento.
- Este concurso é de caráter recreativo/cultural, conforme item II do artigo 3º da Lei 5.768 de 20/12/71 e dispensa autorização do Ministério da Fazenda e da Justiça, não está vinculada à compra e/ou aquisição de produtos e serviços e a participação é gratuita.

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