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30 de julho de 2023

Ninguém Quis Ver o poder da poesia feminina


"O fenômeno da poesia jovem escrita por mulheres talvez tenha sido a maior conquista da literatura hoje." É assim que Heloisa Buarque de Hollanda abre a apresentação que faz para o livro Ninguém Quis Ver, de Bruna Mitrano, e eu não poderia concordar mais. Amo poesia escrita por mulheres, de Sylvia Plath a Rupi Kaur. E as nacionais têm um espacinho especial no meu coração, pois tem tanto da nossa realidade ali retratada, poética e cruamente.

Inclusive, essa junção de beleza e feiura na poesia me encanta. Bruna Mitrano, nesse aspecto, me lembrou Aline Bei, escolhendo e selecionando palavras bonitas para retratar verdades feias. Verdades essas que a poesia escrita por homens raramente aborda (ou se importa em abordar). Porque, assim como afirma Heloisa, a poesia das mulheres dá voz às mulheres e a tudo que nós silenciamos. É a expressão pela arte.

E quanta expressão. Lendo Ninguém Quis Ver eu me senti fazendo algo errado e sujo, como se eu estivesse lendo os diários da Bruna, lendo tudo aquilo que ela não ousaria contar para ninguém, mas que, na verdade, ela ousou sim. Ousou falar da pobreza que vivenciou, dos abusos que sofreu e de todas as dores que viveu e que viu as mulheres de sua família viverem.

Bruna fala sobre sua vida, que não é muito diferente da vida de muitas outras mulheres pobres e periféricas, que dedicam seu tempo deixando limpas e impecáveis as casas de outras pessoas, que não dormem um sono profundo e tranquilo quando há um homem ao lado na cama e que não suportam mais ter que dar conta de tudo.


O primeiro poema dessa coletânea já me arrebatou, com Bruna falando sobre seu amor pelo mar e sobre não morar (tão) perto dele. No caso de Bruna, são setenta quilômetros de distância. No meu caso, são setecentos. E, sim, eu concordo com você, Bruna: só esquece do mar quem mora perto do mar.

A forma como a Bruna explora os aspectos mais sutis da pobreza é tocante: do cabelo ressecado ao calçado apertado e a sopa rala. Sua infância marcada pela preocupação em economizar e não desperdiçar. Terminei o livro com vontade de colocar a Bruna num potinho e protegê-la.


O tema da pobreza permeio o livro todo, mas os poemas vão além disso. O poema denominado 1989, por exemplo, fala sobre os abusos que a autora sofreu. Esse poema me dilacerou. Outro, denominado Nome Próprio, me revoltou, pois retrata o modo como as mulheres são sempre vistas como propriedades de alguém (na maioria das vezes, de um homem).


E quando Bruna disse: "Você é uma criança, não tem que aguentar nada disso", eu só quis deitar em posição fetal e chorar um pouquinho. Amei fazer essa leitura e me lembrarei desses poemas por muito tempo. Você é uma poetisa e tanto, Bruna.

Título Original: Ninguém Quis Ver ✦ Autora: Bruna Mitrano
Páginas: 94 ✦ Editora: Companhia das Letras
Livro recebido em parceria com a editora

24 de julho de 2023

Resumo Trimestral: Abril, Maio & Junho 2023


Vou confessar um negócio para vocês: sempre que desando nas leituras, fico desanimada com as retrospectivas que faço aqui no blog. Como vocês repararam, esse post está super atrasado e eu nem quis fazer a TAG dos 50%... Sempre acho que não vale a pena, sabem? Enfim, minha vida virou uma confusão por causa do TCC — não estou reclamando, é mais um desabafo, rs —, não estava tendo tempo e, para ser sincera, nem ânimo para nada a não ser deitar na cama e dormir. Consequentemente, as leituras ficaram em segundo plano. Mas estou voltando aos poucos. Inclusive, repararam como é difícil retomar o hábito da leitura? Será que devo falar sobre isso num futuro próximo?

Leia também:

Obviamente, em comparação com o primeiro trimestre, eu li bem pouco. Sabemos que não é pouco de verdade, mas a gente vive se sentindo mal pelos momentos "menos leitores"... Não vou entrar nesse mérito agora porque isso é assunto para um outro post. Bom, no segundo trimestre eu li 14 obras literárias: 05 em abril, 04 em maio e 05 em junho, um total de 4659 páginas! Não tive nenhuma grande decepção, mas os meus queridinhos foram Lady Malícia, Rainha Charlotte e De Férias Com Você!


Já publiquei resenha de vários dos títulos acima... E pensei em fazer um post ranqueando os livros da Emily Henry quando eu terminar todos, o que vocês acham? Adoro esse tipo de conteúdo, particularmente... 

Leiam as resenhas:

Nem só de Ana do Roendo é feito o Roendo Livros, é claro. Não deixem de dar um biscoitinho para as meninas que tanto me salvam nos meus momentos de crise:


Jess:

Priscila: 

Ah, para quem gosta, a Jess também fez um post hiper legal sobre o TUDUM, que aconteceu em Junho de 2023 e trouxe várias notícias legais para nós, obcecados por adaptações! Por favor, não desistam do Roendinho, que logo tudo volta ao normal. Ah, e torçam por mim dia 27, pelo amor de Deus. Preciso muito de oração porque fico muito ansiosa e acabo me embananando inteira. É isso, logo volto com mais novidades!

21 de julho de 2023

Match Perfeito, de Lauren Forsythe: um livro sobre as dificuldades da vida da mulher adulta


Recentemente a Intrínseca convidou todos os parceiros para lerem Match Perfeito, uma "comédia romântica" da autora Lauren Forsythe. Foi muito divertido, porque lemos juntos e depois nos encontramos para falar dos pontos que mais gostamos (ou não) da história — já estou no aguardo de novas leituras coletivas, Intrín, pelo amor de Deus! Decidi fazer essa resenha depois do encontrinho porque sabia que teriam várias coisas para discutir com vocês, e eu não estava errada.

Mas antes, vou apresentar um pouquinho da trama: Aly, depois de um encontro repentino com um cara que namorou por muitos anos antes de perceber que ele não tinha pespectiva nenhuma de futuro, percebe que tem o dom de consertar a vida das pessoas. Amigos, colegas de trabalho e principalmente seus ex-namorados parecem ter chegado lá de alguma forma, enquanto ela não conseguiu atingir nem 1/3 dos seus objetivos. Após essa constatação, Aly cria, junto com seus amigos, a Match Perfeito, uma agência secreta exclusiva para mulheres cansadas de tentar mudar a vida dos namorados.

No início, tudo não passava de um hobby. Aly usava seus dons para incentivar os homens a tomar algumas decições envolvendo crescimento profissional, família, relacionamentos... Até que uma influencer super famosa contrata os serviços da Match Perfeito para dar uma ajeitadinha no boy dela. Mas é óbio que essa missão não seria tão fácil, uma vez que o namoradinho em questão é o ex-melhor amigo de infância da Aly, mais especificamente seu primeiro amor. 

Eu adorei essa sinopse, ainda mais porque tô muito na vibe de comédias românticas. Mas confesso para vocês que fiquei um tanto decepcionada com o desenrolar dessa história. Para mim, ela é vendida de forma errada, visto que esse livro é sobre tudo, menos romance. Eu estava esperando um livro de romance, mas na minha concepção Match Perfeito está muito mais para um chick lit, com foco no desenvolvimento pessoal da protagonista, o que não é necessariamente ruim... Dependendo do ponto de vista!

Por exemplo, eu adorei a forma como outras áreas da vida da Aly foram retratadas, principalmente o instável relacionamento dela com a mãe e as questões envolvendo seu ambiente de trabalho. Esses dois pontos me pegaram muito porque foi onde consegui me conectar com a personagem. Assim como eu, Aly tem muita dificuldade de dizer não e está sempre fazendo tudo para todo mundo, mesmo que isso não faça bem para ela. Afinal, é melhor evitar conflitos, né?

Me peguei brava com ela em vários momentos, porque todo mundo faz ela de gato e sapato, justamente porque sabiam que sempre estaria disponível para tudo. A mãe cobra dela coisas inimagináveis, num ponto em que elas invertem os papéis; no serviço, ela tenta agradar ao máximo, faz o trabalho de dez pessoas porque quer mostrar que é a melhor e merece uma promoção... Mas esse avanço na carreira nunca chega porque, na verdade, estão todos se aproveitando dela. Agora me digam, por que eu fiquei tão brava? Porque eu sou igualzinha a Aly! Mas é muito mais fácil enxergar a solução quando é com outra pessoa, né?

Conversamos muito sobre isso no encontrinho da Intrínseca, sobretudo como nos fazem de trouxa no ambiente de trabalho. Que coleguinha homem nunca roubou sua ideia? Que mulher nunca falou uma coisa que ninguém levou a sério até um homem dizer a mesma coisa? Quantas mulheres estão inegavelmente sobrecarregadas em seus trabalhos porque têm que fazer as funções de homens incompetentes? Quem aí não foi taxada de maluca por ter explodido depois de aguentar um milhão de desaforos? Um monte de menina contou situações semelhantes com as que a Aly passava, o que é extremamente triste. 

E aí, pra mim, entra um ponto muito relevante que é: a gente precisa consertar os homens? Quer dizer, se a gente sente que eles tão "quebrados" de alguma forma, ou se não são exatamente como queríamos que fossem, ou se são babacas, machistas, sexistas e tudo mais... Não seria melhor abrir mão do relacionamento? Aliás, será que homens podem ser consertados, no fim das contas? Fica aí o questionamento...

Match Perfeito também é um livro que fala muito sobre a imagem que influencers passam para nós, meros mortais. Quando a gente entra no Instagram, ou em qualquer outra rede social, somos bombardeados por conteúdos de pessoas com a vida perfeita, né? Totalmente inalcansáveis. Mas até que ponto isso é verdade? Isso é muito retratado pela personagem da Nicki, que sempre tem que aparecer impecável, que não pode mostrar suas vunerabilidades, que tem que agir como seus fãs esperam que ela aja. É um troço bem triste, para ser sincera... Por isso eu tento sempre ter em mente que tudo o que vemos na internet são recortes da vida das pessoas, nada é totalmente real.

Como puderam ver, nós falamos sobre várias coisas legais que foram abordadas no livro, tanto que chegamos a conclusão que, de fato, o romance foi deixado de lado. Nesse assunto em específico a história deixa muito a desejar, essencialmente no desenvolvimento dos personagens enquanto casal. Nossa, achei a Aly e o Dylan muito insossos, credo. E nada acontece... As páginas iam passando e nada deles se reconectarem. Eu não tenho nada contra slow burn, muito pelo contrário, mas não precisa ser tão devagar assim, minha gente. 

Outra questão que me incomodou foi o motivo deles terem se distanciado. Coisa boba, de adolescente mesmo, e eu não estou julgando os personagens enquanto adolescentes. Porque assim, a gente sabe que adolescente faz tempestade em copo d'água... Mas continuar agindo com infantilidade depois de adultos? Não dá para mim, sinceramente. Chega um momento que a gente tem que sentar, conversar, assumir nossos B. O.'s, e não ficar de intriguinha. Não tenho mais paciência pra isso. 

Como eu disse anteriormente, minhas expectativas não foram 100% supridas porque ele não me entregou o que eu queria... Mas é um problema meu, no fim das contas. Então, recapitulando... Acredito que Match Perfeito vai conquistar muito mais aquelas pessoas que estão procurando um livro sobre os dilemas da vida de uma mulher, desde que não estejam esperando um romance arrebatador. 

Título Original: The Fixer Upper ✦ Autora: Lauren Forsythe
Páginas: 368 ✦ Tradução: Mayumi Aibe ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

18 de julho de 2023

O Avesso da Pele, premiado romance de Jeferson Tenório, mostra como é ser negro em um país racista


O Avesso da Pele é um romance nacional escrito por Jeferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti 2021. Ambientado no Sul do Brasil, evidencia as nuances de ser negro em um país de maioria preta e parda, mas contraditoriamente racista.

O livro é dividido em quatro partes, sagazmente nomeadas e com cadência de leitura que engaja. Capítulos curtos sem perder o poder de contar a história de vários personagens em paralelo. Escrito em primeira pessoa para uma segunda, é uma espécie de carta aberta de filho para pai

Esta história é ainda a história de uma ferida aberta.

Pedro é o filho. Um jovem universitário, futuro arquiteto, tímido e claramente ainda buscando um lugar no mundo. Um lugar como homem preto em Porto Alegre. Henrique é o pai. Professor secundarista desacreditado no poder da educação, carrega um amor pela literatura que permeia passagens do romance. 

A história comum contada no livro ganha sua autenticidade ao costurar em uma linearidade que prende. A temporalidade das histórias de pai e filho, além da mãe e outros personagens relacionados, às vezes é alternada entre capítulos. Um vai e vem na linha do tempo dessas vidas entrelaçadas.

À medida que as histórias são contadas, sobressaem-se as nuances da negritude. Questões como colorismo, condições sociais, aparência e gêneros são decisivas para determinar a vivência de uma pessoa negra no Brasil. Pedro observa esses detalhes nos personagens e traz suas observações na narrativa, de uma maneira muito natural, uma relação com os temas que apenas outra pessoa preta poderia ter. 

Além dos temas relevantes à negritude, as estratégias de sobrevivência de cada uma dessas personagens, certamente foram pontos de identificação para mim. Ser constantemente abordado pela polícia, nunca ser notado nas festas, ver as pessoas recolhendo pertences com sua chegada. Como negra, não passei por todas as situações abordadas, mas também foi importante ter a consciência dos outros recortes de negritude, através de um romance, com seu viés literário porém muito conectado da realidade. 

Outro recorte que particulariza O Avesso da Pele é a ambientação. A história acontece no Sul do país, onde a maior parte da população é branca e ser negro pode ser desafiador. E com esse delineamento, fica mais claro que ser negro pode ser muito diferente dependendo do espaço que ocupamos

Ao caminhar por Porto Alegre, você se sentia sem lugar. Porque, toda vez que você saía para caminhar, tinha a impressão de estar invadindo um espaço. Bastava dar uma olhada para perceber que você não podia pertencer àquilo, mas acontece que você insistiu. Permaneceu. Porto Alegre era um lugar que você construiu fora de si. Você nunca esteve dentro dela.

Outro aspecto que me identifiquei no livro foi o papel do educador, o quão exaustivo e transformador é ser professor do ensino público. As passagens do livro que Henrique democratiza o entendimento de Crime e Castigo e como o impacto em apenas um aluno já é satisfatório, revelam a importância desse papel. 

Com todas as questões sociais trabalhadas, ainda sobra espaço para brever análises psicológicas e de sentimentos. É um romance completo, um retrato muito fiel de como é ser negro no Sul do Brasil, como é lidar com o ódio gratuito de racistas e ainda assim, seguir em frente com a força de filhos de Ogum como Henrique.

Lembro o dia em que você me disse que sua cabeça era de Ogum, e que isso era ter sorte, porque Ogum era o único orixá que sabia lidar com abismos.

Título Original: O Avesso da Pele
Autor: Jeferson Tenório ✦ Páginas: 192 ✦ Editora: Companhia das Letras
Livro recebido em parceria com a editora

15 de julho de 2023

O que é autocuidado de verdade? Uma visão profissional e pessoal da psiquiatra Pooja Lakshmin


Quando eu vi a premissa do livro Autocuidado de Verdade, eu achei a autora ousada (e até um pouco arrogante). Com um subtítulo provocador que diz "sem cristais, purificações ou banhos de espuma", Pooja Lakshmin afirma que irá ensinar aos leitores o que é autocuidado de verdade e nos alertar sobre os perigos do que ela chama de falso autocuidado.

Já fiz parte da maioria esmagadora de leitores que repudia literatura de autoajuda, mas superei o preconceito recorrendo a livros de autoajuda escritos por profissionais de saúde mental com conhecimento científico e experiências práticas. Em minha prática profissional, frequentemente me é solicitada a recomendação de livros de desenvolvimento pessoal e, portanto, para ter boas indicações para minhas pacientes, resolvi me abrir para essas leituras. As experiências têm me rendido de péssimas a excelentes leituras, como em qualquer outro gênero.

A decisão de fazer a leitura de Autocuidado de Verdade veio daí. Lakshmin é psiquiatra e seu atendimento é focado em mulheres. A médica fala sobre como nós, mulheres, somos facilmente seduzidas pela ideia de autocuidado e de como o termo se tornou tendência nas redes sociais. Porém, segunda Pooja, esse autocuidado instagramável pode ser mais um caminho para a autocobrança e a culpa, já que deposita no indivíduo a responsabilidade por um mal-estar que é muito mais social do que individual.

O falso autocuidado como solução para as aflições das mulheres é uma forma de exonerar o sistema da culpa.

Além de sua experiência profissional, Lakshmin também utiliza de sua história pessoal para elaborar seu raciocínio. A autora, que numa época de sua vida marcada pela sobrecarga acabou recorrendo a um retiro, problematiza essa busca pelo bem-estar que acontece de fora para dentro. Segundo ela, o verdadeiro autocuidado deve acontecer de dentro para fora.

Ao longo de 272 páginas, Lakshmin aborda os motivos que nos levam a buscar métodos de falso autocuidado e traça o caminho do verdadeiro autocuidado, que envolve estabelecer limites, ter autocompaixão, se conectar consigo mesma e com seus valores e afirmar e exercer seu poder sobre si mesma.

A perspectiva defendida pela psiquiatra é interessante e pode até ser capaz de explicar porque algumas pessoas possuem uma gama de estratégias de autocuidado (bebem muita água, tomam suco verde, treinam todos os dias, fazem skincare, vão ao salão de beleza uma vez por semana, fazem procedimentos estéticos, etc) e, mesmo assim, seguem se sentindo sobrecarregadas e infelizes. Seguir roteiros pré-estabelecidos de autocuidado nem sempre vai funcionar pra todo mundo.

No entanto, esse ressentimento para com as estratégias mais clichês de autocuidado não me parece justo. Tomar sol, beber água, se exercitar e fazer skincare são estratégias válidas quando buscamos saúde mental e bem-estar. Além disso, algumas das estratégias criticadas pela autora não são sequer acessíveis para a maioria das mulheres (fazer uma viagem de uma semana para um retiro ou passar o dia num spa, por exemplo). Desculpa, mas, eu nunca pude fazer nada disso e adoraria poder fazer.

A ideia defendida por Lakshmin é de que essas estratégias são apenas fugas e não resolvem o problema. E, sim, de fato não resolvem. Mas é um privilégio poder fugir um pouco. E fica fácil menosprezar um privilégio ao qual você tem acesso. Quantas pessoas não se beneficiariam de uma semana de férias em um retiro?

O falso autocuidado é um método - sair para correr pode melhorar seu humor na hora -, mas não faz nada para mudar as circunstâncias da sua vida que levaram você a se sentir esgotada, sem energia, para baixo.

Até mesmo no tratamento de uma questão mais grave de saúde mental, como a depressão, profissionais de saúde mental farão recomendações como "pratique atividade física" ou "coma frutas todos os dias". Agora imagine uma pessoa deprimida lendo esse livro e pensando "porque estou me esforçando tanto para fazer atividade física quatro vezes na semana? Isso não muda a sociedade em que vivo e, portanto, não resolve o meu problema". No mínimo, perigoso.

Não que a autora diga para não praticarmos esse autocuidado mais básico, mas ela problematiza tanto esses métodos que eu fiquei até com vergonha de todos os produtos de skincare que eu tenho no meu banheiro.

Esse autocuidado defendido pela autora é algo que eu trabalho muito com minhas pacientes inclusive. Esse olhar para si com mais carinho e consideração, se respeitar e respeitar seus limites. Gostei da forma como a autora trouxe conceitos da Psicologia, da Terapia de Aceitação e Compromisso, propôs reflexões e atividades práticas. De fato, foi uma leitura muito prazerosa. Quando Lakshmin falou sobre Desfusão Cognitiva, eu pensei "Ok, essa gata sabe do que está falando". Não é um livro com conselhos vazios, mas sim, fundamentado em teorias psicológicas com validade científica.

O capítulo sobre valores foi um dos meus preferidos e eu adorei as atividades propostas. É um exercício de autoconhecimento selecionar os valores que são mais importantes pra mim e como eles permeiam os diferentes âmbitos da minha vida.

Enfim, eu concordo com visão de autocuidado da autora, concordo com a importância de sermos mais gentis conosco, de saber impor limites e de sermos coerentes com nossos valores e vontades. Só acho que se tudo isso vier acompanhado de uma rotina de atividade física e skincare fica ainda melhor. Recomendo a leitura pra quem deseja ampliar seu conceito de autocuidado a partir de saberes cientificamente embasados. Que nossa rotina de skincare venha acompanhada de saber dizer Não e de saber respeitar nossos limites e vontades.

Título Original: Real Self-Care: A Transformative Program for Redefining Wellness
Autora: Pooja Lakshmin ✦ Páginas: 272 ✦ Tradução: Lígia Azevedo ✦ Editora: Fontanar
Livro recebido em parceria com a editora

7 de julho de 2023

O Primeiro a Morrer no Final, de Adam Silvera, ou a história de como a Central da Morte começou


Oi pessoal do Roendo Livros, tudo bem? Aqui é o Alisson, do blog Eita Já Li, cantinho em que falo sobre literatura com foco em livros Young Adult e Representatividade LGBTQIA+! Estou aqui a convite da Ana para falar um pouquinho sobre O Primeiro a Morrer no Final,  prequel de Os Dois Morrem no Final, mais um sucesso do autor Adam Silvera publicado pela Intrínseca. Vamos nessa?

A Central da Morte está prestes a ser lançada. Esse serviço será capaz de informar a seus usuários que eles irão morrer nas próximas 24 horas. As pessoas decidem se reunir na Time Square para conferir o lançamento e é lá onde Orion Pagan e Valentino Prince se conhecem, cada um deles com seus motivos para querer que o serviço seja real. A conexão entre os garotos é instantânea, mas, à meia-noite a Central da Morte liga para um deles anunciando que em 24 horas horas sua vida chegará ao fim.

Lembro bem quando esse livro foi divulgado... Eu já tinha lido Os Dois Morrem no Final, que na época causou um reboliço danado ao apresentar as últimas 24 horas de vida de Mateo Torrez e Rufus Emeterio, muitos anos depois do lançamento da Central da Morte. Sem dúvidas foi uma leitura muito boa, mas que não me tocou tanto o quanto eu esperava, não tanto quanto outros livros do autor que eu já havia lido. Então, não fui com muita sede ao pote na leitura desse livro.

Leia também:
✦ Resenha: Os Dois Morrem no Final

Não vou negar, eu gosto muito da escrita do Adam Silvera, gosto da forma como ele desenvolve os seus personagens e história. Mesmo quando o livro não é cinco estrelas para mim, a leitura é sempre muito gostosa e fluida, ainda que os leitores vivam em apreensão sem saber a que momento o autor pretende quebrar nosso coração em mil pedacinhos com os acontecimentos de seus livros.

É de partir o coração perceber como viver custa caro quando se está sempre morrendo.

Por mais que apresente semelhanças com Os Dois Morrem no Final, afinal, se passam no mesmo Universo, não se enganem: essa história é completamente diferente, com novas histórias de vida inspiradoras e novas discussões igualmente representativas. 

Eu criei uma conexão muito gostosa com os protagonistas desse livro. Orion e Valentino são personagens que vou pensar por muito tempo. Orion já passou por tantas coisas na vida dele, tantas perdas e tantas dificuldades, mas ele se mostra um personagem extremamente vivo, que emana uma energia boa. Já Valentino é aquele personagem que a gente gosta de cara. Também teve suas dificuldades na vida, mas não se deixa abater, segue em frente é corajoso, altruísta e humilde, sempre correndo atrás de seus sonhos. Adam Silvera também reserva partes do livro para nos apresentar novos personagens para nos apegarmos, é claro. 

A vida não deveria estar prestes a acabar para alguém começar a viver.

O Primeiro a Morrer no Final me surpreendeu, não vou mentir. Como disse, eu adorei os protagonistas, mas indo além disso, eu adorei a forma como o Adam desenvolveu a criação da Central da Morte. Ele foi muito certeiro nessa prequel, porque não fica com sensação de desnecessária, o sentimento é que ela acrescenta e muito ao universo. Também temos a presença de Rufus e Mateo no livro, temos uma pequena amostra do passado dos garotos e não vou mentir isso mexeu comigo, tendo em vista o que esperar deles no futuro. 

A leitura me pegou muito desprevenido porque eu não esperava muito dela e a finalizei chorando de soluçar, tinha muito tempo que eu não me sentia tão conectado a uma história e personagens a ponto de me fazer chorar tanto. Eu me rendi por completo a esse livro, sem dúvidas O Primeiro a Morrer no Final se tornou o meu livro favorito do Adam Silvera.

Título Original: The First to Die at the End ✦ Autor: Adam Silvera
Páginas: 544 ✦ Tradução: Carlos César da Silva & João Pedroso ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

4 de julho de 2023

Top Comentarista: Julho 2023


Antes tarde do que mais tarde, cá estou eu para apresentar o top comentarista do mês e contar uma novidade: finalmente a data de defesa do meu TCC foi marcada, será no dia 27 de julho! Isso significa que, além de poder dizer oficalmente que sou geóloga, as postagens no Roendo Livros voltarão a sair com mais frequência. Gente, simplesmente não vejo a hora de poder ler em paz, vocês não tem noção. Livros, me aguardem!  

Indo ao ponto que interessa, as regrinhas do top vocês já sabem de cor, mas não custa relembrar: antes era obrigatório comentar em todas as postagens para não ser desclassificado do concurso, mas a partir de agora vocês serão sorteados a partir dos comentários. Isso significa que não é obrigatório comentar em todos os posts: cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia — recomendo que vocês comentem e preencham o formulário sempre que sair post novo, já que quanto mais comentários cadastrados, maior a chance de ganhar. Todos os meses um comentário será sorteado pelo aplicativo.

Atenção: só preencha o formulário nos dias em que comentar no blog. Por exemplo, se em determinado mês tiverem 13 posts, o número máximo de entradas que cada participante pode ter no formulário é 13!

O prêmio é um vale de trinta reais na Amazon! Ah, as chances extras continuam: comentar nos posts do Instagram e tweetar sobre o top todos os dias em que tiver postagem nova por aqui, então aproveitem! Caso tenha restado alguma dúvida, podem me procurar nas redes sociais, tá bom?

Observações
- O período de validade desse top comentarista é de 04/07/2023 à 31/07/2023. Cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia.
Não serão computados comentários genéricos, só aqueles que exprimem a opinião do leitor e mostram que ele realmente leu o post. Comentários plagiados de outras plataformas (lembrem-se que plágio é crime) ou que se repetem em outros blogs não serão considerados. Comentários do tipo serão excluídos sem aviso prévio e o participante será automaticamente desclassificado;
- É permitido apenas um comentário por post;
- É obrigatório seguir o Roendo Livros via GFC e seguir o perfil @anadoroendo no Instagram para validar a participação;
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- Após o término do top, o Roendo Livros tem até 15 dias para divulgar o resultado;
- O ganhador tem 48h para responder o e-mail com os dados de envio, caso contrário o sorteio será refeito. O livro escolhido (na faixa de preço estabelecida) deverá ser informado no corpo do e-mail;
- Após feito o contato, o prêmio será enviado dentro de até 60 dias úteis;
- Para o livro ser enviado, é necessário que o ganhador passe o número do CPF para a Ana, já que agora os Correios solicitam uma declaração de conteúdo (saiba mais aqui) Só participe do sorteio se estiver de acordo;
- O Roendo Livros não se responsabiliza por extravio ou atraso na entrega dos Correios, bem como danos causados no livro. Assim como não se responsabiliza por entrega não efetuada por motivos de endereço incorreto, fornecido pelo próprio ganhador, e ausência de recebedor. O livro não será enviado novamente;
- O Roendo Livros se reserva o direito de dirimir questões não previstas neste regulamento.
- Este concurso é de caráter recreativo/cultural, conforme item II do artigo 3º da Lei 5.768 de 20/12/71 e dispensa autorização do Ministério da Fazenda e da Justiça, não está vinculada à compra e/ou aquisição de produtos e serviços e a participação é gratuita.
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