Gosto muito de narrativas que fogem do convencional. Recentemente li Evidências de Uma Traição, da Taylor Jenkins Reid, totalmente narrado em forma de cartas. Logo depois resolvi ler Me Leve Com Você, parceria entre dois nomes da literatura juvenil contemporânea que fazem muito sucesso, David Levithan & Jennifer Niven. Supreendentemente, a estrutura desse livro é semelhante a do que citei anteriormente: a diferença principal é que a narrativa se dá através de uma troca de e-mails entre irmãos ao invés de cartas de amor entre amantes. Essa estrutura é muito atrativa para mim, porque é muito fluida e, consequentemente, a leitura é bem rápida.
Aqui, conhecemos a história dos irmãos Ezra e Beatriz. Acho que a única coisa que posso contar sobre o enredo sem dar muitos spoilers é que Bea parte na calada da noite, largando sua vida inteira para trás. O e-mail, portanto, é a única coisa que a garota deixa para se comunicar com o irmão. Fato é que Bea foi atrás de respostas e que não quer ser encontrada, ao mesmo tempo que não consegue abrir mão do laço com o irmão. Ela sabe muito bem que ela é a única pessoa que Ezra tem na vida, no fim das contas.
Mas Me Leve Com Você não tão simples como parece. Não é apenas uma adolescente fujona e Ezra não é simplesmente um garoto que não sabe viver sem a irmã mais velha. A sinopse em momento algum conta a real situação em que os irmãos vivem e o que, na minha opinião, foi o motivo de Bea ter ido embora: ambos são abusados psicologicamente pelas pessoas que os criam, a mãe e o padrasto. Eu sei que muitas pessoas acham que devemos algo para nossos pais pelo simples fato de termos nascido deles e por eles nos criarem e, por isso, temos que aceitar desaforos e humilhações, mas não é bem assim. Então, de certa forma, gostei muito de como o assunto foi retratado.
Então o que eu aprendi foi o seguinte. Um: Não tem motivo para esconder o que aconteceu com você, porque esses maus-tratos que você sofreu são vergonha para eles, que te agrediram, não para vocês. Dois: Fazemos parte de um grupo que nunca quisemos estar, o grupo das pessoas que quase foram destruídas e que descobriram que têm força para sobreviver. Temos de estender a mão uns para os outros sempre que pudermos. E três: Sempre que você estiver no fundo poço, tem como sair. Seu agressor não vai querer que você saiba disso, mas outras pessoas podem te ajudar a sair.
Apesar de fluir extremamente bem, não me apeguei de fato à história e aos personagens. Eu sei que Bea foi muito corajosa por deixar tudo pra trás e ir em busca de uma vida melhor, mas em diversos momentos achei ela muito egoísta. Não exatamente por ter deixado o Ezra, mas pelas coisas que ela falava com ele e pelas informações que omitia. Para ser sincera, gostei muito mais do Ezra e a identificação com ele foi desde os primeiros e-mails. Também achei ele muito corajoso, mas corajoso por ficar, sabem? Não que eu acho que Bea era obrigada a ficar e passar pelos perrengues que ele passou, mas a decisão de ficar também requer muita coragem. Não sei se me fiz entender, enfim.
Não é que eu não tenha gostado, mas confesso que esperava um pouco mais do livro e principalmente do plot twist. Não estava exatamente esperando pelo o que aconteceu, mas não me emocionei porque achei bem forçado. Na minha concepção, faltou um pouquinho mais de polícia no caso, e não posso dizer mais nada. Então, de forma geral, a narrativa é muito boa, mas a história em si não convence tanto.
Uma coisa é certa, David Levithan & Jennifer Niven escreveram de forma que qualquer pessoa que tenha sofrido ou ainda sofra abuso psicológico em casa se identifique. É uma situação realmente dolorosa, porque ser abusado por quem deveria ser um ponto de apoio não é fácil. Me Leve Com Você, então, dá um sopro de esperança, mostra que por mais que as coisas não saiam conforme esperamos, é possível fugir do caos.
Só pra finalzar, queria demais exaltar essa capa que é a coisa mais linda do Universo e vocês são obrigados a concordar comigo! Não podia deixar de falar nela, já que se tornou uma das minhas favoritas da estante. Apaixonadíssima!