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29 de maio de 2018

O Livro do Bem — Gratidão | Ariane Freitas & Jessica Grecco


O Livro do Bem — Gratidão, é uma obra idealizada pelas meninas do Indiretas do Bem, Ariane Freitas e Jessica Grecco. O projeto deu tão certo que já tem página no Facebook, perfil no Instagram e cinco livros: O Livro do Bem, O Livro do Bem 2, O Livro do Amor, O Livro do Sossego e Recados do Bem. Este, com o tema gratidão, também já está fazendo um super sucesso é a coisa mais preciosa desse Universo, de tão lindo e inspirador. 

5 de maio de 2022

Hamnet | Maggie O'Farrell

Apesar de ser considerado um dos maiores autores e dramaturgos de todos os tempos, pouco se sabe a respeito da vida de William Shakespeare. Nascido em 1564, o poeta escreveu algumas das histórias mais conhecidas e amadas do mundo, como Romeu e Julieta, A Tempestade, Rei Lear, Macbeth, Sonho de uma Noite de Verão e Hamlet. Este último, parece ter sido inspirado em seu filho, Hamnet, que dá nome ao romance de Maggie O'Farrell, vencedor do Women's Fiction Award no Reino Unido e eleito um dos melhores livros de 2020. No Brasil, a obra foi lançada em 2021, tendo sido publicada primeiramente pelo Clube Intrínsecos.

O'Farrell preenche as lacunas na história de Shakespeare e se concentra em um dos episódios mais tristes da vida dessa família: a morte prematura de Hamnet, filho de Shakespeare e Agnes, irmão gêmeo de Judith e irmão mais novo de Susanna. Como a morte do filho pode ter influenciado Shakespeare? Como esse acontecimento trágico atingiu Agnes?

Num primeiro momento, o que mais me surpreendeu nesse livro foi a narrativa de Maggie O'Farrell, que consegue a proeza de ser poética e fluida ao mesmo tempo, profunda e rápida. As primeiras páginas ja conseguem prender o leitor pela ambientação e apresentação dos personagens. Quando Agnes é apresentada é impossível não se apaixonar por ela. Olhem que lindamente triste é esse trecho:

Ela cresce se sentindo errada, inadequada, morena demais, alta demais, demasiado indomável, demasiado obstinada, calada demais, esquisita demais. Cresce com a consciência de ser meramente tolerada, irritante, inútil, de não merecer amor, de precisar mudar de forma drástica, subjugar sua natureza, a fim de conseguir se casar. Cresce também com a lembrança do que significa ser amada de verdade, pelo que se é e não pelo que se deveria ser.

Agnes é forte, selvagem e sábia, mas sabe que essas características não eram as mais desejadas e admiradas em uma mulher. Esse livro é muito mais sobre Agnes do que sobre Shakespeare. Na verdade, o autor não é nominalmente citado nenhuma vez ao longo de todo o livro. As referências a ele são como "o pai", "o marido", "o filho" e assim por diante. E isso é incrível, pois demonstra que essa história não se apoia unicamente na fama do dramaturgo, pois realmente tem muito mais a oferecer.

O primeiro capítulo do livro mostra Hamnet procurando um adulto pela casa, pois sua irmã gêmea, Judith, não esta se sentindo bem. O tema que será pano de fundo para essa história já dá os primeiros sinais aqui: a peste bubônica. Tema este que, por si só, já é assustador. A atmosfera de tensão do livro é muito bem trabalhada através do medo das pessoas. Afinal, estar com a peste ou ver alguém que você ama com a doença era um verdadeiro pesadelo.

No segundo capítulo, voltamos alguns anos e acompanhamos Shakespeare e Agnes se conhecendo, enquanto somos apresentados aos pais e familiares de ambos também. E assim o livro segue, alternando capítulos que mostram o início do relacionamento dos pais de Hamnet e a vida do garoto já aos 10/11 anos de idade.

O leitor já sabe que o garoto que dá nome ao livro irá morrer, mas o livro demora para chegar nesse acontecimento. A princípio, isso me incomodou, mas depois eu entendi que a intenção da autora é fazer com que o leitor se afeiçoe a esse personagem, o veja nascer, crescer e se tornar o menino doce e amoroso que aparece no primeiro capítulo. Acompanhamos não apenas a vida de Hamnet, mas também o que a precede: o amor entre seus pais, as dificuldades enfrentadas por eles, as excentricidades de Agnes, a determinação de Shakespeare e o amor incondicional que eles sentem pelos filhos.

Todos os personagens desse livro são muito bem construídos, complexos e reais, mas preciso dizer que a Agnes e o Hamnet ganharam meu coração. Agnes com seus dons (que vocês só vão descobrir se lerem o livro) e Hamnet com sua delicadeza. Esse livro transborda amor em todos os momentos. E como é duro ver pessoas que se amam tanto perdendo umas às outras. O capítulo que narra a morte de Hamnet é de arrepiar. E a dor de Agnes é tão forte que deixou meu coração apertado.

Tentaria de tudo, faria de tudo. Abriria as próprias veias, rasgaram o próprio corpo e daria ao filho seu sangue, seu coração, seus órgãos, se de alguma coisa adiantasse.

O romance é dividido em duas partes e é a morte de Hamnet que marca essa divisão. A partir desse ponto, o livro passa a ser sobre luto, sobre perder um filho, um irmão, um sobrinho, um neto, sobre enterrar uma criança. E, gente, que difícil. Eu, que nunca pensei em ter filho, me peguei sentindo a dor da Agnes pela injustiça daquela situação, porque uma mãe jamais deveria ter de velar o corpo inerte de um filho.

O livro também é sobre o poder da arte. Poder capaz de trazer os mortos de volta, capaz de ressignificar tragédias e acalmar sofrimentos. Shakespeare lidou com a morte do filho do único jeito que sabia lidar com qualquer outra coisa: transformando em arte. Mas não apenas isso. Afinal, o livro explora diferentes formas de viver o luto. Cada pessoa encara esse momento de uma forma e O'Farrell soube explorar isso muito bem.

A edição da Intrínseca é um dos livros mais lindos da minha estante. A capa é lindíssima e tem uma textura diferente, áspera, como um tecido. As letras e margens grandes tornam o livro gostoso de ler. Amei que a fonte das letras é diferente. Eu nunca tinha lido um livro com essa fonte. Infelizmente, eu encontrei vários erros ao longo do livro, desde palavras escritas erradas até palavras faltando. Mas nada que prejudique a leitura e nada que não possa ser resolvido com uma revisão mais cuidadosa.

Recomendo demais esse livro. É bem o meu tipo de livro, que transborda sentimento e mexe com o leitor. Impossível fazer essa leitura e não sentir nada. Se você também ama leituras que mexem com a alma e o coração, você vai amar Hamnet.

Título Original: Hamnet ✦ Autora: Maggie O'Farrell
Páginas: 384 ✦ Tradução: Regina Lyra ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
Ajude o blog comprando o livro através do nosso link! 

29 de junho de 2018

TAG dos 50% — 2018

Apesar de não ter lido tantos livros quanto gostaria até agora — um pouco por causa da faculdade, TCC e tudo mais, mas um pouco por procrastinação também, confesso —, a tag dos 50% já é tradição aqui no Roendo Livros. Ela consiste em falar um pouco sobre as nossas leituras até a metade do ano, respondendo algumas perguntas.

A tag original foi criada pela Chami do canal Read Like Wild Fire e quem traduziu foi o booktuber Victor, do canal Geek Freak.

27 de janeiro de 2020

O Amante de Lady Chatterley | D. H. Lawrence


O Amante de Lady Chatterley é um clássico que entra naquela categoria dos romances polêmicos. Lançado em 1928, a obra teve sua publicação impedida por falar abertamente sobre sexo e adultério. Sendo um livro que fala abertamente sobre sexo, essa resenha vai, inevitavelmente, precisar abordar o assunto. E já adianto que algumas questões bem problemáticas são discutidas, incluindo abuso sexual. Então, se você não se sente totalmente confortável, sugiro que não leia essa resenha. 💜

A história começa com o marido de Constance, Clifford, voltando da guerra com a parte inferior de seu corpo paralisada, o que o impede de ter relações sexuais e, consequentemente, de ter filhos. Eu já sabia que essa é uma história sobre adultério, bem no estilo de Madame Bovary. O início da história até me deu a impressão de que o livro se aprofundaria na questão dos efeitos da guerra na vida de um jovem casal, mas eu estava enganada. Acontece que O Amante de Lady Chatterley é essencialmente um livro sobre sexo.

O que me fez ter interesse nessa leitura foi um contato que tive com os primeiros parágrafos da história. Esse livro tem um daqueles começos memoráveis e que nos chamam a atenção imediatamente, como acontece com Anna Karienina, O Apanhador no Campo de Centeio e A Assombração da Casa da Colina, por exemplo. Infelizmente, após essa parte inicial, a história perde o ritmo, apostando em um enredo muito repetitivo, cheio de personagens que não nos cativam e páginas e mais páginas com descrições desinteressantes. Porém, o livro volta a ficar bom depois da metade. Eu vivi uma relação de amor e ódio com essa leitura. Me vi lendo obstinadamente e sem parar, ao mesmo tempo que me vi indignada em muitos momentos.

Vamos começar falando sobre os personagens insuportáveis desse livro. Não pensem que eu estou dizendo que não gostei da obra porque os personagens são detestáveis. Afinal, isso não é motivo para não gostar de um livro. O Morro dos Ventos Uivantes é meu livro favorito da vida e os personagens são completamente intragáveis. A diferença está na definição do personagem. Em O Morro dos Ventos Uivantes, a gente sabe o que os personagens sentem, a gente os entende mesmo eles sendo confusos e maldosos. Há uma identificação, há empatia, há compreensão. Nada disso acontece com O Amante de Lady Chatterley. Eu passei quase o romance inteiro sem saber o que os personagens sentiam, o que pensavam, se gostavam uns dos outros ou se apenas se toleravam. Isso fez com que eu visse todos como extremamente superficiais e rasos. Emoções rasas, conexões rasas e relacionamentos rasos.

Não é segredo para ninguém que a Lady Chatterley terá um amante na história. Afinal, está no título da obra. E diferente do que acontece em Madame Bovary, outra história de adultério, aqui o leitor não entende essa relação com o amante. Pelo menos não até a metade do livro. É amor? Apenas atração sexual? Uma fuga de sua vida tediosa? Ela gosta dele?

Como vocês podem perceber, há uma diferença clara entre a primeira e a segunda metade do livro. Pelo menos na minha experiência de leitura, eu senti que o livro melhorou muito na segunda metade, foi quando eu consegui entender os personagens e quando o livro se tornou realmente mais interessante. Então, sim, valeu insistir na leitura, mas, mesmo assim, não sei se valeu tanto.

O livro trabalha várias questões paralelas, mas o ponto central é certamente o sexo. É uma história sobre sexo, sobre se descobrir no ato sexual. A relação de Constance com seu amante é quase que totalmente sexual e o sexo é exaustivamente colocado como a máxima de estar vivo. Entre os temas paralelos, que para mim foram infinitamente mais interessantes, estão industrialização, desigualdades sociais e econômicas, o poder de uma classe sobre a outra e a oposição entre existência física e espiritual. Porém, nenhum desses temas é tão explorado como o tema da sexualidade.

Acontece que, apesar da protagonista ser uma mulher, o livro foi escrito por um homem. Então, é tudo muito do ponto de vista masculino. E de um masculino bem problemático, a propósito. Constance "permite" que seu amante faça o que bem entender. Em alguns momentos, relações sexuais que não me pareceram totalmente consensuais foram praticadas e a narrativa deu a entender que Constance gostava de ser forçada. O tempo todo, o livro reforça a ideia de que há poucos "homens de verdade" no mundo, como se ser homem de verdade significasse ser sexualmente ativo e dominante. Toda essa masculidade tóxica é extremamente exaltada no livro.

Sabemos que os livros da Penguin são um primor, com muitos conteúdos complementares e matérias de apoio. Aqui não é diferente. A edição conta com um texto do próprio autor, muitas notas e diversos outros complementos. Confesso que a introdução me desagradou porque acho que não cumpriu seu papel de introdução. A autora da introdução fica falando sobre a sua interpretação da obra e parece atacar "as feministas" que problematizam o livro e que "não entenderam" o que o autor quis dizer. Haja paciência, né?! Sinto muito, mas, vou ser essa feminista que problematiza sim. Porque pra mim não é aceitável um livro que faz referência a estupro como uma coisa normal e que usa o termo "homossexual" como sendo sinônimo de "menos homem". Pelo menos a introdução serviu para apresentar o autor, que tinha uma relação muito estranha com o sexo, o que explica muita coisa.

Tem muitos outros problemas nessa história, incluindo o pai e o amante de Constance conversando sobre as relações sexuais da filha e o pai dizendo que sente inveja do amante. Gente, sou eu que estou louca ou esse livro é extremamente bizarro? Por isso, vale reforçar que esse é um livro não indicado para todas as idades. As descrições das relações sexuais são bem explícitas e o vocabulário é bem direto.

Esse é um livro que eu acho que nunca vou conseguir digerir totalmente. Algumas cenas ficaram na minha cabeça e eu achei o livro todo muito esquisito e repulsivo. Parece que o tempo todo o autor defende que mulheres precisam de homens que as dominem, que sejam brutos e animalescos. E, aiiiiii gente, o pior é que minhas expectativas estavam bem altas, porque o começo é realmente bom. O tombo foi grande. Por favor, conversem comigo nos comentários. Preciso saber a opinião de vocês.

Título Original: Lady Chatterley's Lover  ✦ Autor: D. H. Lawrence
Tradução: Sergio Flaksman Páginas: 560 ✦ Editora: Penguin Companhia
Livro recebido em parceria com a editora
Ajude o blog comprando o livro através do nosso link! 

6 de julho de 2018

A Escola do Bem e do Mal + Um Mundo Sem Príncipes | Soman Chainani


Quando eu era mais nova, eu amava Contos de Fada, principalmente a história da Branca de Neve. Eu tinha uma fita de vídeo que assistia pelo menos duas vezes na semana. Hoje em dia, apesar de ainda gostar dessas histórias e reconhecer a importância delas, existem várias coisas das quais eu não concordo mais — como, por exemplo, um príncipe beijar uma princesa enquanto ela está dormindo... Para ser sincera, o que chamou minha atenção na série A Escola do Bem e do Mal, em primeiro lugar, foi o fato de ser indicada para o público infanto-juvenil, e eu amo o gênero; mas, além disso, o próprio enredo é de encher os olhos.

23 de dezembro de 2022

Continência ao Amor: Livro vs. Filme


Eu raramente assisto adaptações literárias antes de ler os livros que as inspiraram, mas fiz isso com Continência ao Amor. Primeiro porque eu estava muito curiosa, uma vez que o filme ficou durante semanas nos mais assistidos da Netflix, e segundo porque eu não tinha pretensão de ler o livro. Mas aí a dona Intrínseca me aparece com esse lançamento e eu não resisti, ainda mais porque as pessoas estavam falando muito que a obra original era inferior. Realmente o filme é melhor, mas vamos entender o porquê?

O enredo aposto que todos vocês conhecem: Cassandra Salazar é uma musicista que trabalha durante a noite em um bar enquanto corre atrás do seu sonho, que é fazer sucesso com sua banda, a The Loyal. Acontece que Cassie acabou de descobrir que tem diabetes e o tratamento nos Estados Unidos é caríssimo. Além das dívidas que já tem, ela não consegue comprar os medicamentos que precisa para se manter saudável — e tem gente que tem a audácia de criticar o SUS... Ao se reencontrar com Frankie, um amigo de infância que se alistou ao Exército, ela propõe que eles se casem para que ela possa ser incluída no plano de saúde, e dividiriam o dinheiro a mais que ele receberia por ter uma família. 

E é aí que Luke Morrow entra na história. Frankie recusa a proposta de Cassie, então ele se oferece para ocupar o lugar do amigo nesse casamento de fachada. A protagonista não sabe que Luke tem um passado conturbado, envolvendo abuso de drogas e dívidas altíssimas, e que justamente por causa disso precisa do dinheiro. Ou ele paga seu ex-traficante, ou ele morre. Simples assim. O desespero dos dois é tão grande que selam o acordo poucos dias antes do soldado partir para o exterior, mesmo sabendo das consequências se forem descobertos. E tudo ia muito bem, obrigada, até Luke sofrer um acidente grave em uma das suas missões e precisar voltar para casa. 


De início, o plano era que Cassie e Luke se divorciassem quando o mocinho retornasse para os Estados Unidos, mas um acidente muda tudo! Principalmente porque as pessoas estão de olho neles, incluindo a família de Luke, que não confia nada nele depois do seu problema com drogas. Dessa forma, os dois são obrigados a conviver para manter as aparências. E é aí que eu acredito que esteja o maior pecado da história: o livro promete que a convivência entre os protagonistas origine um sentimento verdadeiro, mas não é isso o que acontece na minha opinião.

Para que vocês entendam esse posicionamento, preciso dar um spoiler da narrativa. Enquanto Luke está servindo no exterior, Cassie começa um relacionamento com o baterista da banda. O problema para mim não é nem ela ter um namorado, afinal, o casamento é de fachada... Mas tinha mesmo necessidade? O casamento não precisa parecer real? Me incomodou o fato de Cassie ficar de rolê com o cara na vista de todo mundo, coisa que poderia trazer problemas tanto para ela quanto para Luke. Sem contar que, como ela vai se apaixonar por uma pessoa estando o tempo inteiro com outra? Não acho que Cassie e Luke conviveram tempo suficiente para se apaixonarem, sabem?

A narrativa de Continência ao Amor alterna os pontos de vista entre os protagonistas, e nas partes narradas por Cassie dá para perceber que ela não está nem aí para Luke... Luke, por sua vez, ainda demonstra sentir algo por ela, mas está tão chapado de medicamento para dor o tempo inteiro que também não me convenceu muito. Então como acreditar que eles estão apaixonados se passaram, sei lá, 90% do livro apenas se suportando? Ainda assim, não acho que o livro é essa mediocridade toda que tantos estão pintando. 


Nesse sentido, o filme homônimo ganha destaque. Ele faz justamente o que o livro não faz, que é desenvolver um pouco mais o relacionamento entre Luke e Cassie. É claro que a química entre Sofia Carson e Nicholas Galitzine ajudou bastante, mas o fato desse relacionamento paralelo não existir na adaptação fez toda a diferença. Quando Luke volta para os Estados Unidos e passa a morar com ela, realmente existe uma preocupação da Cassie com o bem-estar dele, eles realmente dividem um ambiente e não apenas coexistem nele, e não existe um outro alguém para empatar a convivência entre os protagonistas. Dessa forma é bem mais fácil acreditar que eles se apaixonam de verdade.

Existem outros detalhes que fizeram toda a diferença. Apesar do enredo geral ser bem semelhante, o filme dispensou o que eu considerei desnecessário no livro, fazendo a história ficar muito mais dinâmica. Por exemplo, além do que eu citei no parágrafo anterior, diferentemente do Luke do livro, o Luke do filme não abusa dos medicamentos e faz fisioterapia direitinho, então a cura não vem como um passe de mágica. Além disso, teve uma parte em específico que me chateou bastante no livro que foi a morte de um personagem muito importante. Ela existe no filme também, mas é tratada com muito mais emoção e delicadeza. 

Outro ponto que me ganhou demais no filme foi o relacionamento da Cassie com a mãe dela. São muito mais unidas e apesar da preocupação, Marisol não fica criticando constantemente as escolhas da filha como acontece no livro. Muitos dos embates acontecem porque Cassie quer ser uma cantora famosa e faz de tudo para que isso aconteça de verdade. Aliás, o ponto alto do filme está justamente nessa carreira da Cassie, tanto que o longa conta com quatro canções originais escritas por Sofia Carson. Eu não sou nenhuma crítica musical, mas achei bem fofinhas e elas ficam na cabeça demais — não paro de cantarolar Come Back Home desde que assisti a adaptação, rs.

Ah, dito tudo isso, queria deixar bem claro que essa não é a história de amor mais fantástica que já existiu. É um romancezinho bem água com açúcar, sem muitos altos e baixos e pouco profundo, para falar a verdade. Muitos dizem que é até um pouco fora da realidade, porque como acreditar que uma cantora feminista se apaixonaria profundamente por um jovem fuzileiro de direita? A grande questão é que para o bem ou para o mal, Continência ao Amor conquistou o coração do público. Eu, por exemplo, sou uma romântica incurável, então falou sobre qualquer clichezinho em que os personagens ficam juntos mesmo com todas as adversidades eu tô curtindo. Reafirmo que não sou parâmetro para nada, mas gostei a ponto de ignorar que muitas vezes Luke é um completo babaca, então não me julguem. Netfliz mais uma vez servindo a população com um filminho bem de boas, tá de parabéns.


Título Original: Purple Hearts ✦ Autora: Tess Wakefield
Páginas: 336 ✦ Tradução: Gabriela Araújo, Isadora Prospero, Laura Pohl & Sofia Soter 
Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

5 de julho de 2020

TAG dos 50% — 2020


Apesar de 2020 não estar sendo um ano comum por causa do coronavírus, pelo menos em uma coisa ele ajudou: com tanto tempo ocioso, consegui ler bastante mesmo com a ansiedade e quanto mais livros lidos mais legal de responder é a TAG dos 50%. A tag foi criada Chami do canal Read Like Wild Fire e traduzida pelo Victor Almeida do Geek Freak, e consiste em falar um pouco sobre os livros lidos até o mês julho, a metade do ano. 

Inclusive, se você é novo leitor aqui no Roendo Livros, não deixem de conferir os posts anteriores dessa "série":


01. O melhor livro que você leu até agora, em 2020

   
Stepsister tem tudo o que eu gosto em uma fantasia: muita ação e reviravoltas, vilões bem desenvolvidos, uma pitada de romance e o melhor, personagens femininas fortes. Nesse livro conhecemos a história das meias-irmãs da Cinderella, mas de uma forma bem diferente da passada na história original, em que elas são muito cruéis. Além disso, o que eu mais gosto aqui é que a autora conseguiu criar uma atmosfera bem feminista, chegando a questionar o papel da mulher na sociedade mesmo que o enredo se passe em um século diferente do atual. 

02. A melhor continuação que você leu até agora, em 2020


Em 2019 essa questão ficou em branco, porque eu passei realmente um bom tempo lendo só livros únicos. Inclusive, a única série que eu li em 2020 foi Para Todos os Garotos e decidi colocar Agora e Para Sempre, Lara Jean porque foi uma ótima conclusão para essa trilogia que tanto amo — btw BEM LOUCA pra Netflix lançar o filme logo, pai amado. 

03. Algum lançamento do primeiro semestre que você ainda não leu, mas quer muito


Gente, sempre me dá um branco nesse tipo de pergunta, isso acontece com vocês também? O único que consegui pensar foi Daqui a Cinco Anos, lançamento em e-book da editora Paralela do finalzinho do semestre passado. A história é basicamente a seguinte: a protagonista tem um sonho em que se enxerga a cinco anos no futuro, com um noivo diferente do que tem no presente. Ela decide acreditar que foi só um sonho mesmo, até que, quatro anos e meio depois, se encontra com o homem do sonho. Fiquei bem curiosa, e vocês?

04. O livro mais aguardado do segundo semestre 


Sou muito, mas muito Crepusculete mesmo, então nem preciso explicar o porquê de eu estar esperando tanto por esse livro, né? Pois bem. 

05. O livro que mais te decepcionou esse ano


Deus que me perdoe, mas misericórdia, que livro ruim. Nossa, pensem num livro ruim... Uma Dor Tão Doce consegue ser pior. Narrativa extremamente cansativa, não acontece nada hora nenhuma e de verdade, acho que uns 70% da história é dispensável, não faz um pingo de falta. Pai amado viu...

06. O livro que mais te surpreendeu esse ano


Apesar de ter me incomodado com uma coisinha ou outra, O Amor Não é Óbvio me surpreendeu positivamente. Fico muito feliz de saber que temos autores nacionais tão incríveis que escrevem histórias tão especiais quanto essa. Mais feliz ainda por ser um romance lésbico com direito a final feliz e tudo. 

07. Novo autor favorito (que lançou seu primeiro livro nesse semestre, ou que você conheceu recentemente)


Li Fique Comigo da autora Ayòbámi Adébáyò recentemente e me apaixonei pela escrita dela. Mais que apaixonada, fiquei admirada, principalmente porque é o primeiro livro dela. Adébáyò é nigeriana e mestre em Escrita Criativa Universidade de East Anglia, na Inglaterra. Dada a qualidade do seu primeiro livro, em que discorre sobre o patriarcalismo na sociedade nigeriana ao falar sobre a impossibilidade que um casal encontra de ter filhos, eu com certeza acompanharei sua trajetória como escritora. 

08. A sua quedinha por personagem fictício mais recente


Sendo obrigada a repetir livro porque a forma como Íris, de O Amor Não é Óbvio, descreve a personagem Édra Norr é de derreter qualquer coração. Tanto que, obviamente, também me apaixonei por ela.

09. Seu personagem favorito mais recente 
  

Achei bem difícil escolher um personagem só, então resolvi escolher meu casal preferido mais recente, que é obviamente Lara Jean & Peter K, de Para Todos os Garotos que Já Amei. Ai, só de lembrar dos dois já me dá aquele quentinho coração. Sim, sou BEM ADOLESCENTE mesmo, foi mal.

10. Um livro que te fez chorar nesse primeiro semestre 


Nossa, mas chorei igual uma condenada em O Diário de Nisha. A história da personagem se passa durante a Partição da Índia em 1947. Nisha e o irmão gêmeo são filhos de um hindu com uma muçulmana, e ela não entende o porquê dessa tensão religiosa. Com a divisão da Índia em Paquistão e Índia, Nisha e a família se veem obrigados a abandonar o lar que tanto amam para continuarem seguros. Chorei muito primeiro porque Nisha escreve para a mãe que nunca conheceu no diário, e segundo porque o conflito em si é muito triste. Vale a pena ser lido, é realmente um livro muito bom.

11. Um livro que te deixou feliz nesse primeiro semestre 


Euzinha + livros feministas com escrita acessível para crianças = felicidade na certa. O segundo volume da duologia Ousadas: Mulheres Que Só Fazem o Que Querem é tudo para mim. Em Ousadas #2 a autora e ilustradora Pénélope Bagieu nos apresenta mais personalidades incríveis que não mediram esforços para causar uma revolução.

12. Melhor adaptação cinematográfica de um livro que você assistiu até agora, em 2020


Sempre que chega nessa parte da tag eu fico horas pensando, porque não sou muito de assistir filmes. Aí coloquei a única adaptação cinematográfica que vi pela primeira vez em 2020 — e que foi lançada nesse ano também, né: Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você . Mas por exemplo, eu reassisti várias adaptações, como O Senhor dos Anéis, por exemplo, mas já vi tantas vezes que não seria justo colocar aqui.

13. Sua resenha favorita desse primeiro semestre (escrita ou em vídeo)


Minha Sombria Vanessa foi um livro muito difícil, pois é uma narrativa sobre pedofilia pela visão da vítima. Muitos trechos foram difíceis de engolir, mas a escrita é muito boa e me rendeu uma resenha bem reflexiva. Espero que vocês tenham gostado dela tanto quanto eu.

14. O livro mais bonito que você comprou ou ganhou esse ano, até agora 


Simplesmente apaixonada por essa edição de Coraline que a editora Intrínseca lançou recentemente, com capa dura, pintura trilateral roxinha — a coisa mais linda do mundo —, ilustrações muito maravilhosas de Chris Riddell e vários outros detalhes incríveis. Perfeita, sem defeitos.

15. Quais livros você precisa ou quer muito ler até o final do ano?

Eu tô sempre precisando ler pelo menos 2834392752837 livros até o fim do ano, mas em 2020 resolvi dar uma prioridade para livros esquecidos na minha estante:

Yaqui Delgado Quer Quebrar a Sua Cara, Meg Medina 
Confissões do Crematório, Caitlin Doughty
Em Algum Lugar nas Estrelas, Clare Vanderpool
Minha Vida Fora dos Trilhos, Clare Vanderpool
Longa Pétala de Mar, Isabel Allende
Bruxa Akata, Nnedi Okorafor
Recursão, Blake Crouch
The Heart of Betrayal, Mary E. Pearson
The Beauty of Darkness, Mary E. Pearson
O Mapa Que Me Leva Até Você, J.P. Monninger

Se tiverem interesse em comprar qualquer um dos livros citados nesse post, utilizem o link de compra da Amazon do Roendo Livros. Vocês não pagam nada a mais por isso e ajudam muito no crescimento do blog.

4 de julho de 2022

A Sociedade de Atlas | Olivie Blake

Dark Academia é o novo queridinho dentre os gêneros literários. Assim como acontece na música e no cinema, o TikTok é responsável por esse hype. Com uma estética colegial sombria, cheia de tons terrosos e outonais e uma vibe culta, o Dark Academia vem conquistando os jovens leitores. E a estética é realmente linda: mocassim, tweed, xadrez, camisa social, boina, blazer, sobretudo e tudo que pareça vintage e aparente inteligência. Quando se trata de literatura, os livros Dark Academia se passam em ambientes acadêmicos e possuem uma atmosfera sombria e misteriosa, o que pode ser composto por enredos que envolvam investigações, assassinatos e magia.

Me interessei pelo gênero por gostar da estética. Pessoas introvertidas e que amam estudar certamente são as mais atraídas por essa sobriedade. Porém, na minha experiência, a estética prometeu muito e os livros entregaram pouco. Três leituras foram o suficiente para me mostrar que esse gênero não é pra mim.

Comecei com um livro que é considera um dos primeiros do gênero: A História Secreta. Depois, fui para um sucesso russo: Vita Nostra. E finalizo essa jornada com A Sociedade de Atlas, um grande hit do TikTok internacional e que chega ao Brasil pela editora Intrínseca. E eu preciso dizer: que edição belíssima. A editora se dedicou e entregou uma edição que dá gosto de ter na estante, ilustrada e lindamente diagramada.

Mas vamos lá: A Sociedade de Atlas é sobre uma sociedade secreta que seleciona, a cada 10 anos, 6 jovens adultos mágicos para competirem entre si pela permanência na Sociedade Alexandrina, que abriga o conhecimento perdido das grandes civilizações da Antiguidade. Dos 6 selecionados, 5 permanecerão.

Os competidores que iremos acompanhar ao longo do livro são: os físicos Libby e Nico, a naturalista Reina, a telepata Parisa, o empata e manipulador emocional Callum, e Tristan, que consegue ver através das ilusões. E é aqui que o problema começa: Todos os personagens são chatos, chatos mesmo. E não me entendam mal, porque eu adoro personagens controversos, defeituosos, ambíguos e maus. Mas os personagens desse livro são apenas chatos. E o pior: eles não sabem que são chatos. Eles se acham incríveis, mas são todos mesquinhos, prepotentes e hipócritas. Nota 0 em carisma e personalidade.

Os personagens não tem personalidade própria e voz própria. São todo iguais, com as mesmas ambições e a mesma falta de profundidade. Os primeiros capítulos do livro, que supostamente servem pra apresentar os personagens, são terrivelmente cansativos, porque não tem nada que diferencie os personagens. Parece que a autora copiou e colou os capítulos um depois do outro e só mudou algumas palavras. Além de chatos, os personagens são superficiais. Apesar de serem jovens adultos, todos com mais de 20 anos, os personagens se comportam como adolescentes antipáticos, se recusando a colaborar uns com os outros e reproduzindo o tempo todo o discurso de "Eu sou mais forte que você" e bla bla bla.

O sistema de magia é interessante e bem diferente de tudo que eu já li. Mas o livro demora muito pra mostrar essa magia acontecendo. Os personagens só ficam dizendo: "Eu sou muito poderoso. Eu sou mais forte que todo mundo. Minha magia é incrível". E eu tipo: "Ok, então me mostra".

E o livro é leeeeeento (o que parece ser um ponto em comem entre os livros Dark Academia). Nada acontece. É aquele livro que conta muito e mostra pouco. E, para piorar, está lotado de frases de efeito e reflexões óbvias ditas como se fossem grandes descobertas. Querem um exemplo? Um personagem pergunta o que eles estão comemorando e o outro responde: "Nossa mortalidade frágil. A inevitabilidade de nos reduzirmos a caos e poeira." Ai não, gente, sério?

Tem uma coisa (extremamente óbvia) que os personagens descobrem e o livro passa muitas e muitas e muitas páginas focado nesse fato óbvio, que nem é interessante, mostrando os personagens contando uns aos outros sobre isso e sempre tendo as mesmas reações ("não, não é possível"). Poderosos? Talvez. Mas inteligentes? Definitivamente não.

Os personagens passam boa parte do livro tentando convencer uns aos outros que eles não se importam com nada, que eles não ligam pra ninguém, que são super seguros, indiferentes, inabaláveis e exaustivamente presunçosos. Uma espécie de niilismo soturno exagerado e cansativo. Perdi a conta de quantas vezes eu revirei os olhos. Querem outro exemplo? Olha essa fala do personagem: "Eu? Eu nunca me desespero. Estou perpetuamente indiferente." Aiiiiii a vergonha alheia que eu sinto.

Reina foi a única personagem com quem eu consegui (um pouco, bem pouco mesmo) simpatizar. Apesar de ela ser egoísta e amargurada, a disputa de ego não é tão evidente da parte dela e eu gostei muito dos momentos em que as plantas se comunicavam com ela.

Mas, continuando: O homem que recruta esses jovens é Atlas. Fiquei curiosa e fui pesquisar um pouco mais sobre o Atlas da Mitologia Grega. Atlas (o da mitologia) desejava o poder supremo. Ele travou uma guerra contra os deuses em busca disso, mas foi derrotado e condenado a segurar o planeta nas costas. A busca pelo poder condiz bastante com o que o Atlas (do livro) e a Sociedade Alexandrina desejam e buscam. Inclusive, essa sociedade guarda e protege o conhecimento e acredita que ele não deve ser distribuído livremente. Essa questão de como eles lidam com o conhecimento é um debate bem interessante que o livro traz. O conhecimento deve ser distribuído livremente ou nem todos conseguem lidar com ele?

O livro também tem um toque bastante sexual em algumas passagens, o que foge totalmente do tom geral do livro, deixando esses momentos esdrúxulos e forçados. Eu senti que a autora queria provar como sua história era madura e adulta, mas a forma como os personagens se comportam o resto do tempo não convence o leitor disso.

Em alguns momentos, a sensação era de que o livro era tão ruim que chegava a ser bom. Eu lia porque achava engraçado e tosco. Mas depois, pasmem: até que começou a ficar bom mesmo. Lá pela metade do livro, algumas coisas realmente começam a acontecer, os personagens finalmente começam a usar e mostrar seus poderes e mistérios são inseridos na trama. Não que o livro fique ótimo, mas melhora. A maior parte do livro é composta por diálogos. Eita povo que conversa. Eles parecem estar no caminho para algo, mas é difícil entender e acompanhar porque, como ninguém confia em ninguém, eles não conseguem se comunicar abertamente e com sinceridade. Esses diálogos são, em sua maioria, sobre quem deve ser o eliminado entre eles.

Enquanto isso, alguns deles lidam com problemas particulares. Dos dilemas particulares dos personagens, o que mais me interessou foi a questão envolvendo Gideon, amigo não humano de Nico.

Enfim, posso dizer que minha experiência de leitura foi mais negativa do que positiva. O livro é prepotente, os personagens beiram o insuportável e os debates que o livro propõe, apesar de serem interessantes, não compensam todo o resto. Acho que essa história pode funcionar melhor com os mais jovens (o que explica seu sucesso no TikTok).

Título Original: The Atlas Six ✦ Autora: Olivie Blake
Páginas: 448 ✦ Tradução: Karine Ribeiro ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

13 de agosto de 2022

A Guerra da Papoula | R. F. Kuang

Se você acompanha o universo dos livros de fantasia, você provavelmente já ouviu falar em The Poppy War. A Guerra da Papoula é o primeiro volume de uma trilogia que se inspira na história militar da China. Kuang é uma grande estudiosa da China e, atualmente, está fazendo seu doutorado em Literatura e Línguas do Oeste da Ásia pela Universidade de Yale. O livro marca a estreia da autora e é um excelente indicativo de seu talento para a escrita e a criação de universos fantásticos bem construídos.

Nossa protagonista é Rin, uma órfã da Segunda Guerra da Papoula que vive com uma família adotiva em um vilarejo humilde. A família de Rin não guarda nenhum afeto por ela e, quando ela completa 14 anos de idade, eles lhe arranjam um casamento com um homem muito mais velho. Rin se recusa a aceitar esse destino e decide entrar na Academia Militar de Sinegard, a instituição mais prestigiosa do Império, cujo ingresso é quase impossível de tão difícil. Mas é a única alternativa que Rin possui.

Assim começa a história contada nesse primeiro volume da trilogia. É difícil falar sobre esse livro porque ele parece vários livros em um. Não vou entrar em detalhes, mas posso dizer que todo o plot que envolve Rin tentando entrar em Sinegard dura algumas poucas páginas. Em seguida, o livro se torna quase um Dark Academia para, em seguida, mudar de novo e se tornar muito mais sombrio, pesado e doloroso, justificando os vários alertas de gatilho apontados no início do livro.

A tensão envolvendo a ameaça de uma Terceira Guerra da Papoula é palpável e, quando esse momento chega, a autora não economiza nas descrições das batalhas. Eu me senti assistindo algum filme ou série de guerra, tipo Game Of Thrones, com muitos detalhes gráficos, sangue, tortura, ferimentos, abusos e mortes grotescas. Posso dizer que é um dos livros mais pesados que eu já li, porque as descrições das atrocidades cometidas são detalhadas. Além de toda essa violência e sofrimento, a autora também debate o vício em drogas, mais especificamente no ópio, substancia encontrada na papoula.

Num primeiro momento, eu achei o livro bastante juvenil e até pensei que eu pudesse me decepcionar, mas faz sentido esse tom mais jovem, afinal, Rin é apenas uma adolescente no início da história. Porém, conforme Rin cresce e amadurece, o livro amadurece junto com ela, se tornando cada vez mais profundo. Alguns acontecimentos do primeiro 1/3 do livro são bem previsíveis e eu senti que a autora gastou tempo demais para chegar onde o leitor já sabia que ela chegaria. Pra mim, o livro começou a ficar ótimo a partir da página 159, quando entramos no capítulo 8. Mas isso é apenas uma percepção minha, pois sei que muitas pessoas amaram essa primeira parte do romance.

Tem alguns saltos temporais no livro que me frustraram um pouco, pois continham avanços que eu gostaria de ter visto mais detalhadamente. Por outro lado, tem capítulos que poderiam tranquilamente serem omitidos. Esses pequenos "defeitos" são realmente pequenos demais para diminuir a qualidade geral do livro. Mesmo assim, achei que mereciam ser mencionados.

Rin é o tipo de protagonista que a gente adora, com sede de poder e desejo de vingança. Isso é ótimo, porque não tem nada pior do que ler um livro grande com protagonista chato. Durante todo o livro, eu gostei de acompanhá-la. Apesar de nem sempre concordar com as escolhas dela, eu queria saber qual seria seu próximo passo, porque ela é ousada, curiosa e até um pouco imprudente. Terminei esse primeiro volume curiosa para saber onde essa personagem vai chegar e o que ela vai se tornar. Rin é imprevisível porque o que a move não pode ser facilmente controlado.

Não quero deixar de mencionar Kitay nessa resenha. Que personagem adorável. Toda vez que ele aparecia eu ficava felizinha. Tem muitos personagens interessantes nessa história, mas Kitay tem uma doçura e uma pureza que me encantaram.

Os trechos que focam nos aspectos sociais, históricos e políticos dessa sociedade são muito interessantes. No quesito construção de mundo, a autora arrasou. Toda a história do Império é contada em detalhes, mas sem parecer uma aula chata de história, porque a autora soube dosar as explicações e contextualizações com os acontecimentos do presente.

E é claro: os elementos fantásticos. Afinal, estamos falando de um livro de fantasia. A cereja do bolo está aqui e o que já era bom fica ainda melhor. Magia, mitologia, deuses, xamãs e fé são termos que aparecem frequentemente ao longo do livro e que tornam esse universo ainda mais incrível. As criaturas mágicas me lembraram um pouco de ACOTAR, o que eu adorei. E adorei também as críticas feitas ao excesso de racionalidade e ceticismo e a forma como a autora relacionou isso com a perda de contato com a magia. Inclusive, um trecho que me chamou muito a atenção diz o seguinte:

Você vai descobrir que o mesmo aconteceu em todas as grandes potências deste planeta que entraram numa suposta era civilizada. Mugen não tem xamãs. Hesperia não tem xamãs. Eles adoram homens que acreditam ser deuses, mas não os próprios deuses.
Ler esse livro (pelo menos a primeira metade dele) me deu vontade de acender um incenso, embaralhar meu tarot e me conectar com a jovem mística que habita em mim. Inclusive, a editora Intrínseca sabia muito bem que o livro causaria essa sensação porque, no press kit, além de pôster, mapa, broche e postal, eles também enviaram incensos e um incensario de bambu lindo. Não me canso de enaltecer o trabalho dessa editora.

O livro é dividido em 3 partes e a última é onde os acontecimentos mais chocantes acontecem. Eu até precisei dar uma respirada entre os capítulos para me recuperar. A leitura é muito envolvente e, apesar de sufocante, é difícil deixar o livro de lado por muito tempo. A história é dolorosamente real, explorando os piores aspectos do ser humano, ao mesmo tempo que é fantástica, com criaturas místicas, monstros e elementos mágicos. A raiva e a vingança são temas que permeiam todo o livro e a autora faz ótimas reflexões psicológicas.

O livro termina com um excelente gancho e, com certeza, conseguiu me deixar curiosa para o próximo volume. A Guerra da Papoula tem meu selo de Valeu o Hype!

Título Original: The Poppy War ✦ Autora: R. F. Kuang
Páginas: 512 ✦ Tradução: Ulisses Teixeira ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

5 de dezembro de 2024

Intermezzo, de Sally Rooney, e tudo que acontece no interlúdio da vida


Intermezzo significa intervalo, interlúdio ou entreato. É uma palavra italiana muito utilizada no teatro e representa o intervalo entre dois atos. O termo também é utilizado no xadrez e pode indicar um movimento inesperado feito entre duas jogadas esperadas. Com base nisso, é possível fazer alguns inferências sobre o novo livro da Sally Rooney: não é um livro sobre grandes acontecimentos, mas um livro sobre o que acontece no meio, entre os atos principais. E isso fica claro quando descobrimos que o livro se inicia logo após a morte do pai dos protagonistas.

Peter e Ivan são irmãos, mas não se dão bem. Peter é um advogado de 32 anos, bem-sucedido, popular e que se encontra numa situação incomum: tem uma ex-mulher com quem mantém uma amizade próxima e uma ficante que é muito mais jovem do que ele. Ivan, por outro lado, é um jovem de 22 anos, prodígio no xadrez, introvertido e, nas palavras de seu irmão mais velho, "meio autista". Em um dos campeonatos de xadrez que participa, Ivan conhece Margaret, uma mulher bem mais velha com quem ele acaba se envolvendo.

O livro é narrado em terceira pessoa, alternando perspectivas diferentes. E, mais uma vez, assim como acontece em Pessoas Normais, Sally Rooney impressiona por seu estilo narrativo. Muitos acham o estilo de escrita de Rooney soberbo e pedante. Eu compreendo, mas discordo. É tão natural a forma como ela narra que eu não consigo acreditar que seja intencionalmente forçado. Sua narrativa me lembra Proust, com seus parágrafos enormes (alguns com mais de 7 páginas) e descritivos, e Virgínia Woolf, com seu fluxo de consciência que radicaliza o monólogo interior.

Sally narra tudo de uma vez, tudo junto, descrições de cena, pensamentos, sentimentos e diálogos. Seus diálogos, principalmente, geram opiniões divergentes. Sem parágrafo, travessão, sem aspas, nada que indique que aquilo seja uma fala de um personagem. E mesmo assim, tão fácil de compreender. Tão intuitivo. Foi o mesmo que eu senti em Pessoas Normais, que ela não precisava sinalizar os diálogos, pois eles se sinalizavam por conta própria.

Dizer que o livro é narrado em terceira pessoa pode causar uma impressão errada. Normalmente, livros narrados em terceira pessoa são mais impessoais e objetivos. Em Intermezzo, essa narrativa em terceira pessoa se mescla aos pensamentos dos personagens, fazendo com que a narrativa, em alguns momentos, seja em primeira pessoa.

Isso acontece principalmente nos capítulos do Peter. A narrativa traduz com maestria o estado emocional do personagem, confuso, perdido e caótico. Mais do que isso, a narrativa parece incorporar diferentes vozes presentes na mente de Peter, com pensamentos que se contradizem e ideias que são em seguida confrontadas. Os capítulos do Ivan são um pouco mais objetivos, ainda que também carreguem carga emocional.


A história se desenrola assim: Ivan e Peter, vivendo suas vidas, tendo poucas interações diretas, mas pensando e falando um do outro com frequência. De certa forma, a autora se utilizou de um recurso que ela já havia usado em Pessoas Normais: a falta de diálogo como base dos conflitos interpessoais. No entanto, eu achei que em Intermezzo isso ficou ainda mais realista, porque além de faltar diálogo, quando ele ocorre ele é atravessado, atropelado e acidentado. Há tanta mágoa, rancor, raiva, vergonha, arrependimento e ainda o luto pela perda do pai que, mesmo quando Peter e Ivan conversam, o que sai de suas bocas é improdutivo e conflituoso. Também é curioso que os irmãos interajam tão pouco ao longo do livro e que, mesmo assim, estejam tão presentes na vida um do outro.

Cada um tem uma opinião sobre o que acha que o outro pensa e a gente, que conhece os dois lados, fica numa ânsia de fazê-los entender que "SEU IRMÃO NÃO PENSA ISSO DE VOCÊ", ansiando pelo momento em que eles irão cair na real. Isso se der tempo de eles caírem na real. O livro todo carrega uma tensão sobre o que vai acontecer. Isso se dá principalmente porque Peter tem muitos pensamentos suicidas, desde o início do livro e a constante ameaça de um suicídio faz o leitor se perguntar quanto tempo ainda existe para que os irmãos se acertem.


Eu sou o tipo de leitora que adora odiar personagens, enquanto a Sally Rooney é o tipo de autora que adora criar personagens detestáveis. Então a gente combina bem. Todos os personagens aqui são fáceis de odiar, ao mesmo tempo que é fácil se identificar com eles. É fácil se identificar com a soberba do Peter e com o egoísmo do Ivan. As mulheres dessa história, por outro lado, são incríveis, mesmo que também tenham defeitos. Sylvia, ex-mulher de Peter, é doce e inteligente. Naomi, sua namorada, é vivaz e selvagem. Mas a minha favorita foi a Margaret, centrada e compreensiva. Nas palavras de Ivan: "ela entende tudo".

Particularmente, eu gostei mais do Ivan. Sua personalidade introspectiva e inocente me conquistou. No entanto, os capítulos do Peter foram os meus preferidos, pois tinham uma carga psicológica maior. Eu confesso que comprei um lado nessa história desde o começo, mas Sally foi capaz de me surpreender ao me provar que, na maioria das vezes, não existe certo ou errado quando estamos falando de relações humanas. Ambos, Peter e Ivan, erraram. Alguns erros foram piores que outros, mas não deixam de ser erros. Eu me emocionei em muitos momentos do livro. As reflexões sobre o sentido da vida (ou a ausência dele) foram muito tocantes pra mim. O final também foi muito comovente e até me arrancou uma lágrima discreta. 

Mas não pensem que o livro é só reflexão e filosofia, pois tem muito mais do que isso, tem romance, inclusive com cenas hot, tem brigas, inclusive com pancadaria, tem muita discussão, ofensa, "vai se f...." e tudo mais. Eu amei amei amei, de verdade. Vou sentir falta dos personagens, que pareceram tão reais. Ao final do livro, a autora incluiu uma lista de citações e referências que ela utilizou em seu texto. Fica evidente que Sally tem uma bagagem grande de leituras e conhecimento. Terminei essa leitura com vontade de ler outro livro da Sally, já que, antes desse, eu só havia lido Pessoas Normais. Estou realmente apaixonada pela escrita da autora.

Por fim, gostaria de enaltecer o trabalho da equipe editorial da Companhia das Letras, especialmente da tradutora, Débora Landsberg. Eu imagino que traduzir um texto com tanto fluxo de consciência não deva ser uma tarefa fácil.

Título Original: Intermezzo ✦ Autora: Sally Rooney
Páginas: 456 ✦ Tradução: Débora Landsberg ✦ Editora: Companhia das Letras
Livro recebido em parceria com a editora

6 de julho de 2017

O Bom do Amor | Chris Melo & Laís Soares


O Bom do Amor, antes de virar esse livrinho fofo, começou sendo uma webcomic produzida pela Editora Rocco, com novas postagens às segundas e quintas-feiras. As ilustrações em aquarela são da talentosíssima Laís Soares, com texto de Chris Melo, autora dos livros Sob a Luz dos Seus Olhos e Sob Um Milhão de Estrelas.

11 de abril de 2022

Última Parada | Casey McQuiston

Quando eu me interessei por Última Parada, eu estava buscando um livro leve, fofo e que deixasse meu coração quentinho. A sinopse, apresentando uma história de amor entre duas jovens mulheres de tempos diferentes, me prometia exatamente isso (e um pouco mais). Posso dizer que Última Parada foi uma excelente leitura, apesar de não ter sido perfeita e de possuir altos e baixos.

No livro, conhecemos August, uma jovem que acaba de se mudar para Nova York para estudar. August está em busca da solidão das grandes cidades. Porém, o que ela encontra são colegas de moradia excêntricos e dispostos a torná-la parte do grupo. August vai se encaixando nesse ambiente e se adaptando a nova rotina, que envolve as aulas da faculdade e um trabalho na Casa de Panquecas de Billy Panqueca.

O plot do livro começa quando August conhece Jane no trem a caminho da faculdade. Jane é uma jovem linda e estilosa, vestindo camiseta branca e jaqueta de couro e usando fones de ouvido retrô. A atração entre elas é instantânea e, daí em diante, elas passam a se encontrar constantemente, sempre no trem da linha Q, o que surpreende August, afinal, em uma cidade tão grande e com tanta gente, quais as chances de sempre encontrar a mesma pessoa? As duas vão se conhecendo e August vai ficando cada vez mais encantada pelo charme e autenticidade de Jane, que parece fascinar todas as pessoas que a conhecem.

Muitas coisas acontecem, mas, o fato é que August descobre que Jane está presa no tempo (e no trem). Isso é algo que a sinopse nos conta. Porém, o livro demora para chegar nesse ponto. E esse, pra mim, é o primeiro ponto negativo do livro. Não que tudo antes disso seja desimportante. É nesse início que conhecemos melhor os amigos de August, ficamos sabendo mais sobre o seu passado, entendemos um pouco da sua relação com sua mãe e compreendemos quem é a nossa protagonista. Porém, o tempo que a história leva para chegar naquilo que já era revelado pela sinopse é mais longo do que precisava. Junto com essa demora para o enredo se desenvolver, há o fato de os capítulos serem muito grandes, tornando o ritmo do livro um pouco mais lento do que eu imaginava, apesar de sua narrativa fluida e sem muitos floreios.

Após a descoberta de que Jane pertence, na verdade, aos anos 70, ela e August começam a colher pistas e informações e investigar quem realmente é Jane, de onde ela veio e o que pode ter acontecido para deixá-la presa ali. A investigação é interessante e é muito divertido ir seguindo as pistas junto com as personagens. Apesar disso, parte dessa investigação é bem estranha e me incomodou, principalmente uma estratégia que elas têm para ajudar Jane a acessar suas memórias. Me senti incomodada pela August e senti que ela estava sendo usada.

Outro problema é que as personagens não se comunicam e isso é tão irritante, porque é um jeito tosco de construir um problema para a história. Boa parte do problema existe porque elas não conversam e não são sinceras. No entanto, a segunda metade do livro traz uma mudança bem agradável para a história, pois Jane e August enfim se abrem uma para a outra. E isso faz o livro mudar quase que completamente o tom e o ritmo. A investigação acelera, pontas soltas são conectadas e o romance entre elas fica cada vez mais fofo. Me peguei sorrindo feito boba durante alguns momentos.

Algo que eu não esperava foram as passagens mais adultas do romance, pois o relacionamento entre August e Jane é bem quente e as descrições das relações sexuais entre elas são detalhadas.

Jane e August são incríveis, cada uma à sua maneira. Eu adorei como a Jane traz esse ponto de vista dos anos 70, quando os direitos da comunidade LGBTQIAP+ estavam sendo conquistados com muita dificuldade. Jane é uma punk, asiática e sapatão (como ela mesma se descreve) vivendo nos anos 70, participando de protestos anti guerra, lutando por seus direitos, batendo cabeça em shows de rock e beijando meninas na chuva. Ela é forte, ousada e, ao mesmo tempo, doce. Acho que o livro poderia até ter explorado mais essa personagem. August, por outro lado, tem uma personalidade mais sombria, principalmente baseada em sua relação com sua mãe, que passou boa parte da vida tentando desvendar o desaparecimento do irmão (tio de August).

As amizades de August são maravilhosas, mas não consegui vê-las acontecendo. Foi como se num dia eles estivessem se conhecendo e, no outro, já se amassem. Esse desenvolvimento das relações interpessoais poderia ter sido melhor trabalhado. Por outro lado, as amizades descritas no livro são tão reais e autênticas que eu fiquei querendo fazer parte daquele grupo de amigos. Os diálogos são naturais, as piadas são engraçadas e o livro é cheio de referências divertidas.

Apesar dos pequenos problemas que eu encontrei, essa leitura foi muito agradável. É um livro gostosinho pra passar o tempo. Vá sem muitas expectativas e apenas curta a leitura. Em muitos momentos, essa história me lembrou as fanfics, com aquela atmosfera de romance intenso e parcialmente platônico e temas fantásticos como pano de fundo. E como uma boa amante de fanfics, eu amei isso.

O mistério conseguiu me manter interessada. É o tipo de livro que não dá para abandonar, porque não dá pra ficar sem saber o final. Como o problema vai ser resolvido? Jane vai voltar para os anos 70, retomando sua vida normal e desfazendo esse casal pelo qual a gente se apaixonou? Ou vai ficar no presente, perdendo de vez tudo o que lhe era conhecido, mas podendo, finalmente, viver um romance de verdade com August, fora dos vagões de trem? Ou há uma terceira opção? E se algo der ainda mais errado? Enfim, essas e outras perguntas rondavam a minha mente durante a leitura e me fizeram querer chegar ao final o mais rápido possível. As últimas 100 páginas foram deliciosas de ler e eu até me emocionei um pouquinho.

A explicação do que aconteceu com Jane flerta com conceitos científicos e preciso dizer que eu gostei. Consegui imaginar perfeitamente a cena em um filme e acho que seria bem legal, no estilo dos super-heróis do cinema.

Um dos maiores méritos do livro, com certeza, é a representatividade queer. A história nos apresenta a personagens incríveis, carismáticos e de todos os tipos. Representar personagens LGBTQIAP+ com tanta naturalidade e segurança só poderia vir de alguém como Casey McQuiston, bissexual e não-binária.

O saldo final, para mim, é positivo. Minha dica é: resista à primeira metade do livro, que é um pouco mais lenta, pois a segunda metade apresenta uma melhora gigante, tanto no ritmo quando no desenvolvimento da história. A edição da editora Seguinte está belíssima. A capa é muito fofa e transmite bem a vibe do livro (inclusive, parece capa de fanfic kkkkk). Diagramação e tradução ótimas. Recomendo pra quem, assim como eu, está em busca de uma leitura leve, fofa e cheia de representatividade.

Para finalizar, quero deixar esse trecho que Casey incluiu em seus agradecimentos e que eu acho importantíssimo:

A todos os leitores, sou uma das muitíssimas vozes queer na ficção, mas, embora sejam muitas, ainda não é suficiente. Cada um de nós merece ser ouvido. Quando fechar este livro, busque um autor queer de quem você nunca ouviu falar e compre o seu livro. Não pare com uma obra só. Existem muitos para amar, e apoiá-los cria um espaço para outros autores queer publicarem também.

Título Original: One Last Stop ✦ Autora: Casey McQuiston 
Páginas: 400 ✦ Tradução: Guilherme Miranda ✦ Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora 
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13 de março de 2023

O Melhor Livro de Autoajuda do Mundo, de Gabriel Paciornik: uma crítica ácida e divertida sobre um dos gêneros literários mais vendidos da atualidade

Muito provavelmente vocês abriram esse post pensando: "meu Deus do céu, mas que c4r4lh0 é esse que a Ana tá lendo livro de autoajuda??" E sim, vocês me conhecem muito bem, porque não é muito comum eu ler esse gênero. Nada contra, é claro, só não tenho muita paciência pras lições de moral e a positividade tóxica, e está tudo bem quem gosta. O que vocês não sabem é que, apesar do título ser O Melhor Livro de Autoajuda do Mundo, a obra de Gabriel Paciornik é, na verdade, uma ficção muito divertida e sarcástica. 

A história acompanha o personagem Geraldo Pereira durante seu processo criativo para a escrita de um livro de autoajuda, cujo título é, obviamente, O Melhor Livro de Autoajuda do Mundo. Em dado momento, o protagonista explica o porquê de ter escolhido esse título, mas acredito eu que a grande sacada foi do próprio Gabriel Paciornik ao mantê-lo no nome do romance, uma vez que, como ele mesmo pontua, apela para a provocação, o que tem tudo a ver com o enredo. 

Geraldo é um homem de uns trinta e poucos anos, mas ranzinza e azedo igualzinho um idoso de setenta. Não tem paciência com nada, odeia sair de casa e prefere sua própria companhia pelo simples fato de não querer lidar com pessoas — claramente eu, num é à toa que tô sempre falando que não gosto de gente, rs. A grande questão é que até o mais mal-humorado dos homens precisa de dinheiro para sobreviver. Quando Aloísio, seu quase-amigo e agente, aparece com a ideia de escrever um livro de autoajuda, Geraldo aceita a proposta, mesmo sabendo que tem de tudo para dar errado. Um cara como ele escrever uma coisa para ajudar outras pessoas? Confusão na certa, não é mesmo? 

Boas ideias ficam nos observando, de longe, checando se estamos prontos para anotá-las. Se percebem que estamos com as mãos molhadas ou dirigindo, aparecem, rebolam na nossa frente e mostram a língua. Daí vão embora, sem nunca mais aparecer de novo — p. 77

O Melhor Livro de Autoajuda do Mundo é, provavelmente, um dos livros mais originais que li até hoje. Acho que isso de dá justamente pela controvésia do homem pessimista, que não acredita em nada e nem em si mesmo, escrevendo um livro desse gênero. Para vocês terem ideia, até as questões filosóficas são engraçadas! Até porque, ao meu ver, é uma obra que usa do humor ácido para fazer uma crítica ao gênero autoajuda, que vende igual água porque tenta a todo custo fornecer uma solução rápida para problemas que, na maior parte das vezes, não têm solução ou são simplesmente indícios de situações muito maiores e complexas que só podem ser resolvidas com ajuda profissional. 

Outra coisa que gostei bastante nessa história é que, muitas vezes, ela acaba sendo um pouco fantasiosa. Tem um personagem, que é muito importante, aliás, que é o diabinho engarrafado que ajuda o Geraldo a escrever o livro. Apesar de ser uma figura mitológica, no livro ele existe de verdade. Eu simplesmente adorei essa questão da representação do "diabinho", que nada mais é do que nossa própria consciência cochichando as coisas no ouvido da gente, rs. Mas cá para nós, quisera eu ter um desses pra me ajudar com minha dissertação de mestrado, ai, ai...

Além de Azazel, o diabinho, adorei os outros personagens secundários. São bem construídos e introduzidos em momentos oportunos e de forma bastante natural, isto é, não existem só para tapar um buraco, para ter um diálogo ou uma solução conveniente para as situações que surgem no decorrer das páginas. 

O Melhor Livro de Autoajuda do Mundo é bem curtinho e, por ter uma narrativa fluida, dá pra ler em um dia. Só demorei um pouco mais porque estava dividindo a leitura com outros quatro livros. Além disso, a diagramação está impecável, incluindo ilustrações muito bacanas, que super conversam com a história, no início de cada capítulo. Indico demais para quem está procurando algo leve e engraçado para mesclar com uma leitura mais densa — e que definitivamente não tenha problema com palavrões, hehehehe!

Título Original: O Melhor Livro de Autoajuda do Mundo ✦ Autor: Gabriel Paciornik
Páginas: 208 ✦ Editora: Labrador
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