SOCIAL MEDIA

29 de dezembro de 2022

Os desafios da mulher no esporte em Carrie Soto Está de Volta, de Taylor Jenkins Reid

Carrie Soto Está de Volta traz a história de Carrie, uma tenista que se aposentou no auge da carreira, quando conseguiu o recorde de vinte grand slams. Ela é a GOAT (greatest of all time, ou "melhor de todos os tempos"), como a Serena Williams, por exemplo.

Só que 5 anos depois dessa aposentadoria, uma outra tenista, Nicki Chan, simplesmente bate o recorde de Carrie e ela não sabe lidar muito com isso. Ela sente que perdeu o seu legado no esporte. Com 37 anos, Carrie decide voltar para o tênis, com intuito de ter seu recorde de volta.

Eu vou ser honesta com vocês, nunca li Daisy Jones & The Six e nem Malibu Renasce — a Carrie é mencionada nesse segundo livro como a amante do marido da protagonista, Nina Riva, que por sua vez é filha do Mick Riva, que é citado em Daisy Jones e Evelyn Hugo. É o Taylorverso, mores. Os outros trabalhos de Taylor, sim, esses eu li. E parte de eu ter uma certa trava com a autora é o medo da decepção hahaha. 

Mas Taylor conseguiu o mesmo efeito de Os Sete Maridos de Evelyn Hugo com Carrie Soto em mim. Ela tem uma habilidade de escrever personagens que não são queridas dentro dos livros — muitas vezes por cenários misóginos, já que ela escreve mulheres ambiciosas (que não é uma coisa ruim) e que sabem o que querem — mas que o leitor decide abraçar. Isso é algo muito complicado, a maioria dos autores acaba apenas criando personagens insuportáveis que você gostaria de dar um tapa.

Carrie não é assim.

No meio do esporte, ela tem fãs, mas tem dificuldade de interagir com eles. Ela não sabe perder, ela fala mais que a boca... E aí ela vê uma competidora mais nova e precisa ser a melhor novamente pra conseguir seu recorde de volta, mas tudo na mentalidade dela diz "eu não me sinto mais a melhor". É interessantíssimo acompanhar essa jornada de Carrie em ser treinada pelo pai, como "nos velhos tempos" e até ser encarada com um treinamento vindo de alguém que ela tentou confiar no passado. 

É uma história muito bonita sobre a relação entre uma filha e um pai e também sobre como é difícil ser mulher no esporte. Eu não sou uma pessoa que acompanha esporte, o único que eu sigo religiosamente é a Fórmula 1 e toda santa semana algo misógino acontece (a primeira delas é simplesmente não aceitarem mulheres na categoria). Somos questionadas trabalhando com esporte e até gostando de esportes, então, sim, nós passamos raiva nesse livro porque os recordes e conquistas de Carrie são constantemente diminuídos em relação aos dos homens. E claro, existe toda a questão de "ela é capaz de voltar a ser a melhor?" e os próprios questionamentos de Carrie sobre sua capacidade de superação e resistência que são colocados em cheque

A ficção abraça a realidade aqui porque se você conhece um pouco de Serena Williams, sabe que ela, que é literalmente a melhor tenista do Universo, teve seu comportamento milimetricamente analisado em toda partida. Ela olhava feio pra alguém? Não sabe controlar emoções, ela celebrou sua vitória? "Noooooossa que metida". Mas vamos ignorar O tenista que quase quebrou a cara do juiz em uma competição, isso aí é só viver o esporte intensamente.

Enfim, eu indico a escrita da Taylor Jenkins Reid de olhos fechados, mesmo precisando ler Daisy Jones e Malibu Renasce, rs. Ela escreve mulheres com profundidade, coisa que falta e muito no mundo literário.

Título Original: Carrie Soto is Back ✦ Autora: Taylor Jenkins Reid
Páginas: 352 ✦ Tradução: Alexandre Boide ✦ Editora: Paralela
Livro recebido em parceria com a editora

27 de dezembro de 2022

O que você faria se encontrasse um portal para outro mundo? Conto de Fadas, de Stephen King

Charlie Reade é um garoto normal: é um filho atencioso, tira notas razoáveis na escola e até tenta praticar esportes, nada fora do comum. Mas as coisas para ele nunca foram muito fáceis. Depois de ter perdido a mãe aos dez anos de idade em um acidente horrível, Charlie teve que aprender a se virar e a cuidar também do pai, que procurou acalento na bebida, se afundando dia após dia. 

E é em mais um dia como qualquer outro que as coisas começam a mudar de verdade para ele. Charlie ouve um pedido de socorro de um dos seus vizinhos e prontamente age. Howard Bowditch, que tem a fama de ser não só um senhor solitário mas também bem rabugento, se machuca gravemente e precisa de ajuda.

Radar, a pastor alemão do senhorzinho, guia Charlie até seu dono e assim surge uma amizade bonita entre os três. Conforme Bowditch se recupera, o garoto o ajuda com tarefas da casa. Mas é claro que se fosse simples assim, não teríamos história. Então, após perder mais uma vida preciosa para ele, Charlie se depara com uma fita cassete que revela um segredo de seu amigo: existe um portal para outro mundo no quintal da casa de Howard. O que você faria se fosse o garoto?

Parece que já escrevi sobre isso antes né? E eu escrevi mesmo hahaha :P lembram do conto O Telefone do Sr. Harrigan, que aparece no livro Com Sangue? A relação entre um garoto e seu amigo muito mais velho é um tema que King repete aqui. Não sei se ele achou que funcionaria duas vezes, e eu particularmente acho que funcionou sim. As histórias coincidem nessa parte, mas depois ficam bem diferentes uma da outra.

Além da parte fofa da amizade, gosto também da personalidade do Charlie. Não é um personagem perfeito, ele tem defeitos sim e deixa isso claro. Como a narrativa é em primeira pessoa sob o ponto de vista do protagonista, conhecemos até mesmo seus pensamentos mais sombrios. Acho que no fim das contas é o que faz a história ficar um pouco mais palpável — ao menos à parte da fantasia, algo que é importante para livro também, afinal, não seria King se não tivessem alguma coisas esquisitas.

E se vocês conhecem um pouquinho do King já podem imaginar que esse é mais um dos livros que ele descreve tudo nos mínimos detalhes. Sei que tem gente que se perde e não curte muito esse tipo de narrativa, mas é uma das coisas que me faz gostar do autor. Ainda assim, achei o enredo diferente mesmo do que ele costuma mostrar, sem deixar de ser ele, não sei se me fiz entender.

Para os que devem pensar que só indico terror por aqui, eis uma exceção. Por ser um livro de fantasia acho que pode "espantar" algumas pessoas (e chamar outras), mas de todo modo recomendo esse livro sim! O foco principal está nessa atmosfera de descoberta, tomada de decisões e amadurecimento, algo que, de uma forma ou de outra, todos nós passamos. Não é um dos meus favoritos da vida, mas é bem bonito, não é forçado e deixa um vaziozinho quando a gente termina.

Título Original: Fairy Tale ✦ Autor: Stephen King
Páginas: 624 ✦ Tradução: Regiane Winarski ✦ Editora: Suma
Livros recebidos em parceria com a editora
Ajude o blog comprando o livro através do nosso link!

23 de dezembro de 2022

Continência ao Amor: Livro vs. Filme


Eu raramente assisto adaptações literárias antes de ler os livros que as inspiraram, mas fiz isso com Continência ao Amor. Primeiro porque eu estava muito curiosa, uma vez que o filme ficou durante semanas nos mais assistidos da Netflix, e segundo porque eu não tinha pretensão de ler o livro. Mas aí a dona Intrínseca me aparece com esse lançamento e eu não resisti, ainda mais porque as pessoas estavam falando muito que a obra original era inferior. Realmente o filme é melhor, mas vamos entender o porquê?

O enredo aposto que todos vocês conhecem: Cassandra Salazar é uma musicista que trabalha durante a noite em um bar enquanto corre atrás do seu sonho, que é fazer sucesso com sua banda, a The Loyal. Acontece que Cassie acabou de descobrir que tem diabetes e o tratamento nos Estados Unidos é caríssimo. Além das dívidas que já tem, ela não consegue comprar os medicamentos que precisa para se manter saudável — e tem gente que tem a audácia de criticar o SUS... Ao se reencontrar com Frankie, um amigo de infância que se alistou ao Exército, ela propõe que eles se casem para que ela possa ser incluída no plano de saúde, e dividiriam o dinheiro a mais que ele receberia por ter uma família. 

E é aí que Luke Morrow entra na história. Frankie recusa a proposta de Cassie, então ele se oferece para ocupar o lugar do amigo nesse casamento de fachada. A protagonista não sabe que Luke tem um passado conturbado, envolvendo abuso de drogas e dívidas altíssimas, e que justamente por causa disso precisa do dinheiro. Ou ele paga seu ex-traficante, ou ele morre. Simples assim. O desespero dos dois é tão grande que selam o acordo poucos dias antes do soldado partir para o exterior, mesmo sabendo das consequências se forem descobertos. E tudo ia muito bem, obrigada, até Luke sofrer um acidente grave em uma das suas missões e precisar voltar para casa. 


De início, o plano era que Cassie e Luke se divorciassem quando o mocinho retornasse para os Estados Unidos, mas um acidente muda tudo! Principalmente porque as pessoas estão de olho neles, incluindo a família de Luke, que não confia nada nele depois do seu problema com drogas. Dessa forma, os dois são obrigados a conviver para manter as aparências. E é aí que eu acredito que esteja o maior pecado da história: o livro promete que a convivência entre os protagonistas origine um sentimento verdadeiro, mas não é isso o que acontece na minha opinião.

Para que vocês entendam esse posicionamento, preciso dar um spoiler da narrativa. Enquanto Luke está servindo no exterior, Cassie começa um relacionamento com o baterista da banda. O problema para mim não é nem ela ter um namorado, afinal, o casamento é de fachada... Mas tinha mesmo necessidade? O casamento não precisa parecer real? Me incomodou o fato de Cassie ficar de rolê com o cara na vista de todo mundo, coisa que poderia trazer problemas tanto para ela quanto para Luke. Sem contar que, como ela vai se apaixonar por uma pessoa estando o tempo inteiro com outra? Não acho que Cassie e Luke conviveram tempo suficiente para se apaixonarem, sabem?

A narrativa de Continência ao Amor alterna os pontos de vista entre os protagonistas, e nas partes narradas por Cassie dá para perceber que ela não está nem aí para Luke... Luke, por sua vez, ainda demonstra sentir algo por ela, mas está tão chapado de medicamento para dor o tempo inteiro que também não me convenceu muito. Então como acreditar que eles estão apaixonados se passaram, sei lá, 90% do livro apenas se suportando? Ainda assim, não acho que o livro é essa mediocridade toda que tantos estão pintando. 


Nesse sentido, o filme homônimo ganha destaque. Ele faz justamente o que o livro não faz, que é desenvolver um pouco mais o relacionamento entre Luke e Cassie. É claro que a química entre Sofia Carson e Nicholas Galitzine ajudou bastante, mas o fato desse relacionamento paralelo não existir na adaptação fez toda a diferença. Quando Luke volta para os Estados Unidos e passa a morar com ela, realmente existe uma preocupação da Cassie com o bem-estar dele, eles realmente dividem um ambiente e não apenas coexistem nele, e não existe um outro alguém para empatar a convivência entre os protagonistas. Dessa forma é bem mais fácil acreditar que eles se apaixonam de verdade.

Existem outros detalhes que fizeram toda a diferença. Apesar do enredo geral ser bem semelhante, o filme dispensou o que eu considerei desnecessário no livro, fazendo a história ficar muito mais dinâmica. Por exemplo, além do que eu citei no parágrafo anterior, diferentemente do Luke do livro, o Luke do filme não abusa dos medicamentos e faz fisioterapia direitinho, então a cura não vem como um passe de mágica. Além disso, teve uma parte em específico que me chateou bastante no livro que foi a morte de um personagem muito importante. Ela existe no filme também, mas é tratada com muito mais emoção e delicadeza. 

Outro ponto que me ganhou demais no filme foi o relacionamento da Cassie com a mãe dela. São muito mais unidas e apesar da preocupação, Marisol não fica criticando constantemente as escolhas da filha como acontece no livro. Muitos dos embates acontecem porque Cassie quer ser uma cantora famosa e faz de tudo para que isso aconteça de verdade. Aliás, o ponto alto do filme está justamente nessa carreira da Cassie, tanto que o longa conta com quatro canções originais escritas por Sofia Carson. Eu não sou nenhuma crítica musical, mas achei bem fofinhas e elas ficam na cabeça demais — não paro de cantarolar Come Back Home desde que assisti a adaptação, rs.

Ah, dito tudo isso, queria deixar bem claro que essa não é a história de amor mais fantástica que já existiu. É um romancezinho bem água com açúcar, sem muitos altos e baixos e pouco profundo, para falar a verdade. Muitos dizem que é até um pouco fora da realidade, porque como acreditar que uma cantora feminista se apaixonaria profundamente por um jovem fuzileiro de direita? A grande questão é que para o bem ou para o mal, Continência ao Amor conquistou o coração do público. Eu, por exemplo, sou uma romântica incurável, então falou sobre qualquer clichezinho em que os personagens ficam juntos mesmo com todas as adversidades eu tô curtindo. Reafirmo que não sou parâmetro para nada, mas gostei a ponto de ignorar que muitas vezes Luke é um completo babaca, então não me julguem. Netfliz mais uma vez servindo a população com um filminho bem de boas, tá de parabéns.


Título Original: Purple Hearts ✦ Autora: Tess Wakefield
Páginas: 336 ✦ Tradução: Gabriela Araújo, Isadora Prospero, Laura Pohl & Sofia Soter 
Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

20 de dezembro de 2022

Cenas de Vermelho, Branco e Sangue Azul que espero ver na adaptação

Já faz um tempinho desde que Vermelho, Branco e Sangue Azul foi lançado aqui no Brasil, acredito que no fim de 2019. Como a Sil leu e escreveu resenha, nunca imaginei que eu fosse ler. Quer dizer, tenho esse "problema", raramente leio livros que as colunistas do Roendo Livros leram e falaram sobre por aqui. Mas acontece que anunciaram recentemente que as gravações da adaptação foram finalizadas, e foi aí que comecei a ficar curiosa...

Resumidamente, o livro retrata o romance entre Alex Claremont-Diaz, filho da presidenta dos Estados Unidos, e o príncipe Henry de Gales, da Família Real Britânica. Logo no início da narrativa há um confusão durante um casamento real envolvendo os personagens, que são obrigados a conviver para evitar uma crise diplomática. A partir de então, eles precisam convencer as pessoas de que são muito próximos, até que se tornam próximos de fato, rs. 

Quem me acompanha nas redes sociais sabe que eu gostei do livro, mas com ressalvas. Esperava um pouco mais do romance no quesito desenvolvimento. Pegação é deveras importante, não vou negar, mas também gosto da parte "espiritual" da coisa, digamos assim. Então senti que a narrativa ficou um pouco repetitiva por causa disso e por causa das partes políticas. Além disso, me incomodei um pouco com o nome do príncipe, que é o mesmo do príncipe Henry de verdade, então não consegui desassociar essa imagem e isso acabou me atrapalhando um pouco. 

Ainda assim, não vejo a hora de ver o filme, porque a história tem um potencial cinematográfico gigantesco! Parte disso se dá pelo clichê com um casal formado por dois mocinhos, que infelizmente estamos acostumados a ver unicamente com casais heterossexuais. Então, acredito que Vermelho, Branco e Sangue Azul é super importante para a comunidade LGBTQIAP+, e ter uma adaptação da obra é uma vitória tremenda pra gente.  

A adaptação está sendo desenvolvida pela Amazon Studios, com Nicholas Galitzine no papel de Henry e Taylor Zakhar Perez como Alex. A autora, Casey McQuiston, comentou durante a Flipop 2022 que leu o roteiro do longa e acompanhou as filmagens na Inglaterra, então estou esperançosa de que minhas cenas preferidas estarão na adaptação — voltarei nessa publicação posteriormente para conferir minhas apostas. Ah, a partir daqui teremos vários spoilers do livro, então aconselho a lerem depois que finalizarem a leitura. 

1. Primeiro beijo na Casa Branca

Obviamente não poderia elencar outra cena, mores, porque esse primeiro beijo demora um pouquinho para acontecer — mas depois que aconte, meus amigos... Não falo mais nada. Alex e Henry começam a história meio que como rivais, mas vão se apaixonando aos pouquinhos durante a convivência forçada. O beijo rola durante uma festa de ano novo na Casa Branca, enquanto eles conversavam no jardim. Acredito que todos os fãs estão louquíssimos pra ver essa pegação, né? E boto fé demais que vai rolar, porque o perfil oficial do filme no Twitter divulgou uma imagem muito suspeita, rs.

2. —Alex? — a voz arranhada e perplexa de Henry do outro lado da linha. — Você me ligou às três da madrugada para me fazer escutar um peru?

Sinceramente, se não tiver essa cena icônica eu desisto, sabem? Juro para vocês que é a primeira coisa que vem na minha cabeça quando penso em Vermelho, Branco e Sangue Azul, antes mesmo do "History, huh? Bet we could make some", que eu também espero que esteja na adaptação de alguma forma.

3. Feriado no Texas

A Casey McQuiston falou durante a Flipop que tiveram gravações no Texas, mas não contou pra gente exatamente o que foi gravado lá. Claro que pode ser alguma coisa envolvendo as eleições, flashbacks e tudo mais, mas espero sinceramente que seja o feriado na antiga casa da família Claremont-Diaz, porque uma das minhas cenas preferidas acontece nessa viagem, que é o quase "eu te amo" no lago.

Além disso, é claro, mal posso esperar para ver como a bissexualidade do Alex vai ser retratada no filme. É um ponto muito importante para mim, porque diferentemente do Alex, eu me entendi bissexual bem mais nova, na casa dos 18, mas talvez a realidade do protagonista seja parecida com a de muitos jovens por aí. 

Não vou mentir para vocês que o que me inspirou nesse post foi a nova edição de colecionador de Vermelho, Branco e Sangue Azul lançada recentemente pela Editora Seguinte, que tá a coisa mais maravilhosa desse mundo. Não é só uma edição de capa dura com desing diferente: tem guardas com ilustrações das nossas cenas preferidas, laterais coloridas, e, por Deus, um capítulo inédito narrado pelo ponto de vista de Henry. 

A edição de colecionador já está disponível para compra na Amazon, então se você ainda não leu ou é simplesmente muito fã, adquira essa belezura pelo amor de Deus! Só lembrando que esse livro não é indicado para menores de 16 anos, porque contêm cenas bem quentes entre os protagonistas, hein? Agora me contem aqui nos comentários: o que vocês esperam encontrar na adaptação de Vermelho, Branco e Sangue Azul?

18 de dezembro de 2022

A Longa Marcha, uma narrativa distópica angustiante de Richard Bachman, pseudônimo de Stephen King


Ray Garrety, um adolescente, se inscreve em uma competição chamada de A Longa Marcha. Ao todo, 100 jovens terão que percorrer uma maratona exaustiva, principalmente por ser muito extensa: não há linha de chegada, o último a permanecer de pé é o vencedor. O prêmio? Toda e qualquer coisa que o vencedor queira. Mas é claro que não pode ser tão simples. Os participantes podem receber até no máximo três advertências, caso contrário ganham um cartão azul — ou uma bala na cabeça, como queira chamar — na frente de todos que estiverem assistindo, onde quer que esteja.

É uma história com um enredo simples, e a princípio pode até se pensar que não existe muito o que tirar de uma maratona, afinal, é só caminhar, um pé depois do outro. Só que não é bem assim que acontece. O autor utiliza de sonhos, flashbacks e até mesmo conversa dos personagens para aprofundá-los e te fazer sentir pesar, dor e medo por eles. É certo que 99 jovens vão mesmo morrer, mas você não vai se apegar somente à Garrety, ou McVries ou Stebbins, outros personagens marcantes, e isso vai te deixar angustiado pelo final. 

Certamente é um livro que te deixa pensando na motivação dos personagens de terem feito a escolha de se meter nessa situação. Alguns até te contam, mas bem poucos. É também perceptível a crítica sobre como nós decidimos observar tragédias, até mesmo como cúmplices, vaiando, aplaudindo ou somente estando ali, parados na beira da estrada vendo os garotos passando, a vida se esvaindo. 

Talvez você esteja ai pensando que já viu esse plot antes, mas esse livro foi escrito em 1979, antes de muitas outras obras que você possa ter relacionado à ele. Pode-se dizer então que Battle Royale (1996), Jogos Vorazes (2008) e até mesmo Black Mirror (2011) e Round 6 (2021) têm elementos e podem ter sido influenciados, já que não é a primeira vez que obras de sucesso possuem grandes toques de King (ou nesse caso, de Bachman). 

Mas qual é o motivo de A Longa Marcha ser um livro de um pseudônimo de King? Como esse livro foi escrito na década de 70, em um tempo em que as publicações dos autores estavam limitadas a um livro por ano, nasceu Richard Bachman. Um dos principais motivos do pseudônimo era, de certa forma, para que King não usasse de mais da sua "marca", fazendo os leitores se cansarem. Outro motivo era saber se seu sucesso se tratava mesmo de talento ou pura sorte. A Longa Marcha foi o segundo livro lançado sob o nome de Richard.

Se eu acho a escrita de King e Bachman diferentes? Bem, só li esse livro do pseudônimo ainda (por serem difíceis de ser encontrados até a Suma resolver fazer a boa pra gente hehe) e posso dizer que senti alguma diferença sim, sendo a principal delas não ter nada de sobrenatural no livro. Mas uma coisa posso dizer, o terror em forma de seres humanos está claramente ali, como King faz em suas obras.

Ah! E o final fica meio em aberto... Faz com que você questione mil coisas antes de ter certeza de algo. Eu mesma vou demorar um tanto para digerir as informações e possivelmente minha mente vai escolher um final feliz, depois de tanta tragédia. Não é o livro mais primoroso que já li do autor, mas com certeza um que não vou esquecer.

Título Original: The Long Walk ✦ Autor: Richard Bachman (Stephen King)
Páginas: 288 ✦ Tradução: Regiane Winarski ✦ Editora: Suma
Livros recebidos em parceria com a editora

16 de dezembro de 2022

Encontro com Iris Figueiredo & Chico Felitti

No último dia 30 fui convidada para um encontro com o Chico e a Iris em SP, lá na Companhia das Letras, para representar o Roendo Livros. Os autores foram apresentar seus lançamentos e conversar um pouco com os parceiros da editora sobre seus processos de escrita e outras coisinhas mais que vou contar para vocês.

O autor Chico Felitti falou sobre Rainhas da Noite (que é um livro de memórias, de pessoas que de fato existiram na cena LGBTQIAP+ de São Paulo), seu processo de escrita e de onde surgem suas ideias. Ele falou muito sobre a violência arquival que cerca a história dessas protagonistas, sobre como a falta de registros afeta muitas pessoas, que somente tem suas histórias contadas de forma oral, a partir do que os vivos se lembram.

Chico diz que Rainhas da Noite possui personagens muito ambíguas, que ajudaram a comunidade de uma forma muito ampla mas são odiadas até hoje e que é aí que mora a beleza do livro. Para não vilanizar ou passar pano para Andrea de Mayo, Jacqueline Welch e Cris Negão, o autor trabalhou muito e ouviu o máximo de gente possível, principalmente por telefone na pandemia, mas que mesmo assim algumas histórias continuam em segredo a pedido dos entrevistados — coisas que ele vai levar consigo a sete chaves.

O processo de Chico também é um tanto quanto caótico segundo ele. Tende a ser até meio doentio: uma vez que ele encontra uma história nova para contar, vai até o fim, sem parar um segundo sequer. Mas mesmo assim diz ser um processo muito prazeroso.

Eu já conhecia Chico através do podcast Modus Operandi, por ter sido um dos convidados da Mabê para um episódio do Caso Bizarro (que agora vai virar seu próprio podcast). Logo percebi que Chico Felitti trabalha bastante com conteúdos de hype, tanto para a Folha quanto para si. Acho que inclusive vocês ouviram falar dele esse ano por causa de outro podcast, A Mulher da Casa Abandonada, que deu muito pano pra manga.

Já a Iris Figueiredo escreve coisas totalmente diferentes, misturando suas experiências de fã (o amor por Rouge, RBD, Fresno, Strike e claro Taylor Swift) com sua literatura. Lembrar da paixão de querer estar perto dos artistas que ela ama ajudou muito no seu processo de escrita, e foi algo que refletiu bastante em Um Passo de Cada Vez.

O livro conta a história de Mari, uma personagem secundária de outro livro da autora, que ela quis trabalhar mais. A personagem anda sofrendo bullying na escola e para aguentar até o fim das aulas ela se apoia nas músicas da sua banda favorita, Tempest. E por acaso eles anunciam um show na cidade da Mari, que vai fazer de tudo para viver um momento único.

Iris disse que gosta muito de escutar e contar as histórias dos adolescentes que são seus fãs, para conseguir de algum modo representá-los. Apesar de ter trabalhado bastante com essa temática, ela disse também querer arriscar outros caminhos na escrita.

A autora começou escrevendo para adolescentes por ela mesmo estar nessa fase na época, mas Iris tem ideias que fogem um pouco disso e pretende nos apresentar novidades no futuro. Ela ainda disse que o luto pode vir a refletir em sua escrita por causa de suas perdas recentes, dando um tom bem diferente do que ela apresentou aos leitores até agora.

O encontro acabou com os dois assinando os livros que ganhamos e tirando fotos com todo mundo (na verdade também recebemos o primeiro volume de À Procura do Tempo Perdido e Vermelho, Branco e Sangue Azul, além de uma ecobag xuxu beleza <3). Deu até tempo de mostrar para o Chico que ele esteve no meu Spotify Wrapped e dar um abração na Iris. Os dois são maravilhosos e merecem todo amor do mundo!

Apesar de muito diferentes em suas temáticas, Chico e Iris tem algo em comum: a obsessão que os move a contar novas histórias para o mundo. Inclusive estou lendo os livros e logo vocês tem resenhas mais detalhadas sobre ambos por aqui também.

14 de dezembro de 2022

A matemática, o autismo e o romance em Os Números do Amor, de Helen Hoang

Os Números do Amor conta a história de Stella, uma mulher que trabalha na área das exatas, mais especificamente com economia, especialista em análise de dados. Ela é autista e tem sérias dificuldades de se relacionar com o sexo oposto, mas isso não impede que sua mãe insinue que ela está envelhecendo e precisa se casar. Então, para aprender a interagir e conseguir um namorado e talvez futuro esposo, Stella tem uma ideia um tanto... Curiosa: ela contrata um acompanhante pra ensinar a ela a arte da sedução. 

Sim, é isso mesmo que vocês leram. Ela arranja um acompanhante de luxo pra ensinar como e o que ela deve fazer pra ser uma boa namorada. Michael, o tal acompanhante acha a ideia muito esquisita, ele tem uma série de regras que segue na profissão, incluindo a de não repetir clientela, mas ele tem uma pilha de contas a pagar e aceita a proposta.

Stella tem 30 anos, e todas as suas experiências com sexo foram terríveis, o que faz com que ela não queira tentar de novo, mas aí quando entra a mãe dela no jogo querendo netos e casamento (não nessa ordem) o cérebro matemático não para até encontrar uma solução. E como vocês viram, eu já disse a palavra sexo 3 vezes nessa resenha, então sim, esse livro é para maiores de 18 anos. Apesar de ter muitas cenas quentes, até que é bem equilibrado, tem muita história também.

É sempre interessante ver personagens autistas nesse universo das interações pessoais, principalmente quando elas envolvem sexo. E Stella como personagem tem TANTO a mostrar, é muito legal pro leitor acompanhar sua jornada entre suas hiper sensibilidades, o autismo e o desejo de amar alguém. A história fica mais real principalmente porque a própria autora descobriu seu diagnóstico de autismo tardiamente ao fazer pesquisas para esse livro (e eu posso me identificar kkkkkk). Autista escrevendo personagem autista é sempre uma obra de arte.

Michael é outro personagem cheio de nuances, não é apenas um acompanhante de luxo. Ele é super dedicado, e mesmo com a proposta estranha, ele entende Stella e suas dificuldades. Os dois complementam um ao outro muito bem, a história tem a dose certa de drama e um humor que facilita passar pelas partes onde as dificuldades de Stella nessa situação completamente fora da sua zona de conforto são mostradas ao leitor.

É um romance delicioso de acompanhar e traz muito da cultura asiática. É um bom livro pra se ler durante uma ressaca sabe, ele é rápido, mas completo. Recomendo muito. A única ressalva que tenho para fazer é que hoje o termo "Síndrome de Asperger", utilizado no livro, não é mais reconhecido para diagnosticar pessoas com transtorno do espectro autista, cujos graus são descritos em níveis. O autismo da Stella, portanto, seria considerado Nível 1. Acho que essa questão poderia ter sido corrigida nessa nova edição, porque além de ter sido dispensado pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o médico que deu nome ao transtorno tinha ligações com programas nazistas e cooperou com o regime enviando crianças com deficiência à morte. 

Título Original: The Kiss Quotient ✦ Autora: Helen Hoang
Páginas: 378 ✦ Tradução: Alexandre Boide ✦ Editora: Paralela
Livro recebido em parceria com a editora

12 de dezembro de 2022

A sequência mais que satisfatória de Manual de Assassinato Para Boas Garotas: Boa Garota, Segredo Mortal, de Holly Jackson

Não faz muito tempo que li Manual de Assassinato para Boas Garotas, volume que abre essa trilogia escrita por Holly Jackson. Como vocês bem sabem, gostei bastante e achei muito inusitado o fato de uma adolescente conduzir uma investigação. Boa Garota, Segredo Mortal se passa pouco tempo depois dos acontecimentos narrados no primeiro livro, e revisitamos o caso envolvendo Andie Bell através do podcast que Pip lançou  que se chama Manual de Assassinato para Boas Garotas, hehe , que mostra, inclusive, o julgamento de um certo personagem que esteve diretamente envolvido no crime.

A grande questão é que Pip jura por Deus que depois que a temporada do podcast terminar, isto é, quando sair o resultado do julgamento para que ela consiga colocar de vez um ponto final no que começou, nunca mais na vida vai ser envolver com alguma investigação. O caso de Andie Bell custou muito caro para ela e sua família, no fim das contas. Mas eis que o inesperado acontece: Jamie Reynolds, irmão de um dos seus melhores amigos, desaparece na noite em que acontece o memorial dedicado a Sal Singh e Andie Bell. Pip se oferece para falar diretamente com a polícia para não se responsabilizar diretamente, mas quando os oficiais se recusam a fazer alguma coisa, Pip não enxerga outra alternativa a não ser ela mesma encontrar o garoto.

Manual de Assassinato para Boas Garotas com certeza foi um dos maiores sucessos da Intrínseca em 2022 e justamente por conta disso estava um pouco receosa com Boa Garota, Segredo Mortal. Poucos autores conseguem manter o nível em todos os volumes de trilogias e séries, então estava com muito medo de dar de cara com uma trama não tão boa quanto a primeira, sabem? Mas gente... Holly Jackson prometeu e cumpriu, e isso me deixou muito feliz!

O enredo envolvendo Jamie é tão instigante quanto o de Andie, porque queremos que ele seja encontrado e queremos entender o porquê do desaparecimento. Aliás, o fato de Jamie ter sumido na noite do memorial seria apenas uma coincidência ou os casos estariam ligados de alguma forma? A forma como Pip conduz essa investigação demonstra um amadurecimento, mesmo ela ainda mantenha sua aura imprudente em algumas ocasiões. Mas é perceptível que ela aceita muito mais ajuda, que ela pensa muito antes de partir para a ação de fato, e essa evolução eu gostei demais. 

Por falar em ajuda, o Ravi segue muito ativo, tanto no podcast quanto na nova investigação. Ele é um fofo, muito prestativo e tá na cara que gosta da Pip de verdade, mas sinceramente não sei se eu gosto de verdade desse relacionamento amoroso... Acho que é porque eles praticamente não interagem romanticamente, então é difícil botar muita fé nesse namoro. E assim, são adolescente de 17, 18 anos, como que não rola nem um beijinho, gente? Difícil, viu...

Para mim o ponto alto de Boa Garota, Segredo Mortal não é nem a investigação em si, mas sim a continuidade com o mistério do primeiro livro. Muitos elementos aparecem de novo nesse volume, e a gente nem tinha ideia de que eram informações importantes até serem citadas novamente! Além do mais, Holly Jackson consegue manter aquela atmosfera deliciosa de Pretty Little Liars que eu citei na resenha de Manual de Assassinato para Boas Garotas e ainda assim entregar uma história original.

Por mais que a trama tenha sido bem intensa e cheia de reviravoltas, principalmente o plot final, confesso que gostei um pouco mais do primeiro. Num sei bem explicar, mas acho que eu esperava um pouco mais da conclusão mesmo, tendo em vista como toda a trama foi desenvolvida. A motivação do sumiço do Jamie não foi muito convincente para mim... É claro que isso não apaga todo o desenvolvimento ou deixa o livro ruim, mas acho que eu teria gostado bem mais se tivesse sido um pouco diferente.

Estou bem curiosa para saber o que a Holly Jackson vai aprontar em Boa Garota Nunca Mais, o volume que fecha a trilogia — ele será lançado no 1º semestre de 2023! —, principalmente porque o desfecho deixa a entender que será uma continuação direta do caso de Jamie. Veremos!

Título Original: Good Girl, Bad Blood ✦ Autora: Holly Jackson
Páginas: 448 ✦ Tradução: Karoline Melo ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

10 de dezembro de 2022

É possível fazer sucesso utilizando a mesma fórmula em vários livros? A Razão do Amor, de Ali Hazelwood

Ali Hazelwood estourou no universo literário com seu primeiro livro, A Hipótese do Amor, que inicialmente era uma fanfic de Star Wars. A verdade é que além do enredo brilhante abrangendo uma mulher cientista, todos os personagens criados pela autora foram muito bem aceitos, bem como o envolvimento entre eles. O sucesso foi tanto que Ali repetiu a dose com A Razão do Amor, que apresenta uma história muito bacana e personagens igualmente carismáticos. 

Dessa vez acompanhamos Bee Königswasser, que diferentemente da Olive de A Hipótese do Amor, já concluiu o doutorado. Acontece que mesmo sendo muito inteligente e possuindo pesquisas muito relevantes para a área da neurociência, vários acontecimentos culminaram para que sua carreira não deslanchasse da forma que esperava. Até que surge uma oportunidade para liderar um projeto de neuroengenharia da NASA, e tudo parecia perfeito demais até ela descobrir que precisará trabalhar com Levi Ward, seu arqui-inimigo da época do doutorado. 

Pelo que Bee fala, o cara é detestável e fazia questão de ser muito mesquinho com ela, então rola aquele rancinho antes mesmo de sabermos quem ele é. E o pior que a raiva se torna muito real quando Levi é apresentado e ele realmente parece ser muito babaca, porque assim, o cara simplesmente ignora a Bee 90% do tempo e, quando não ignora, tem que fazer um esforço gigantesto pra ter qualquer tipo de diálogo com ela. Confesso pra vocês que esse início foi um exercício de paciência com esse homem, meu Deus do céu... Até entender o contexto das ações do Levi e até ele começar a interagir com a Bee como um ser humano normal, eu fiquei bem com um instindo assassino, rs. 

Assim, convenhamos que é extremamente complicado falar de um autor sem comparar suas obras, e não seria diferente com a Ali Hazelwood. Quero deixar bem claro que existem muitas semelhanças entre A Razão do Amor A Hipótese do Amor, a começar pelo protagonista masculino: assim como Adam, Levi é alto, forte, musculoso, troncudo, grande e qualquer outra característica física de um homem másculo. Foi aí mesmo que eu tive certeza que a Ali é totalmente obcecada pelo Adam Driver, que fez o papel do vilão Kylo Ren em Star Wars. Apesar disso, achei a personalidade deles bem diferente... O Levi é mais estourado, menos delicado, sei lá. 

Quanto as protagonistas, ouso dizer que a Bee, mesmo eu me identificando mais com a Olive, é muito mais legal e bem desenvolvida. Eu gostei muito da autora ter definido a personagem com características que são consideradas incomuns no âmbito científico, sabem? Ela usa roupas diferentes, tem cabelo colorido, é cheia de tatuagem. E infelizmente, até hoje, existe muito preconceito com a aparência física da gente. É sempre aquela coisa: "como as pessoas vão te levar a sério no trabalho se você usa o cabelo rosa, sai com essas roupas, tem tatuagem pelo corpo inteiro?". Obviamente isso piora quando a pessoa em questão é do sexo feminino. 

Por falar em machismo no ambiente científico, o tema é novamente muito bem retratado pela autora. Eu não esperava menos desse livro, uma vez que a Bee é uma cientista que lidera uma equipe 100% masculina, equipe esta que nunca dá credibilidade para as coisas que ela fala até o Levi demonstrar ter o mesmo ponto de vista. Dá um ódio gigantesco ser muito boa no que faz, ter certeza dos fatos que está expondo porque foram resultado de muito estudo, e ainda assim precisar um homem reafirmar aquilo para acreditarem em você. 

Mesmo com essas e outras semelhanças — outra bastante perceptível é o carinha que se faz de bom moço mas na verdade é um pa* no c* —, o envolvimento entre os personagens é diferente. Em A Hipótese do Amor a gente tem o famoso namoro de mentira, e aqui é mais no estilo enemies to lovers, mesmo eu achando que eles não são tão inimigos assim. Gente, homem é uma coisa muito esquisita, né? Digamos que o livro não teria acontecido se o Levi simplesmente tivesse aberto a boca e conversado com a Bee. Fico pensando porque cargas d'água ele pensou que ignorar a menina seria a saída mais fácil para os problemas que ele mesmo inventou, no fim das contas. 

Agora, não vou mentir para vocês: eu estava sim ansiosa para a cena hot desse livro. Eu amei demais a forma como a Ali Hazelwood conduziu a cena entre Adam e Olive em A Hipótese do Amor, e eu queria muito saber se foi um golpe de sorte ou se ela realmente tem o dom de escrever cenas de sexo de forma gráfica, mas delicada ao mesmo tempo. E gente... Mais uma vez fui tombada, principalmente porque a tensão sexual entre Bee e Levi é muito maior. Como consequência disso, achei A Razão do Amor muito mais erótico, uma vez que as cenas quentes aparecem com mais frequência.

Depois de falar igual pobre na chuva, voltemos ao questionamento inicial. Dá para se manter no topo do mundo literário escrevendo livros com enredos muito semelhantes? E a minha resposta para vocês é sim! A Ali Hazelwood achou o método dela, com protagonistas masculinos viris, mulheres inteligentes e independentes e esse plano de fundo científico que é um diferencial... Da mesma forma que, por exemplo, a Julia Quinn tem a fórmula dela para os romances de época e a Colleen Hoover tem suas receitinhas para os romances contemporâneos dramáticos, e são ambas autoras de muito sucesso. 

Fato é: quem gostou de A Hipótese do Amor vai gostar de A Razão do Amor, principalmente se a leitura for feita de forma despretensiosa. Inclusive, eu quis ler esse livro justamente porque eu sabia que enredo envolveria uma mulher que atua nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Assim como a Ali Hazelwood é obcecada pelo Adam Driver, eu sou obcecada pelas histórias que ela escreve, simples assim. As narrativas são muito inteligentes, engraçadas, sarcásticas e feministas, muito gostosas de acompanhar! Meu ponto fraco sim, vocês que lutem!

Título Original: Love on the Brain ✦ Autora: Ali Hazelwood
Páginas: 336 ✦ Tradução: Raquel Zampil ✦ Editora: Arqueiro

7 de dezembro de 2022

Nossas vidas são controladas por nossas ações ou já nascemos com um destino traçado? A Pena Mágica de Gwendy, de Richard Chizmar

Esse livro é a sequência de A Pequena Caixa de Gwendy, então se atentem para spoilers!

Depois do primeiro livro ter sido um best-seller da New York Times, as expectativas para sua continuação estavam bem altas. E o fato de ser um projeto do Stephen King também colabora para que a espera tenha sido grande por parte dos leitores. Fato é que A Pena Mágica de Gwendy é empolgante e bem legal e acredito que tenha cumprido o que prometeu.

Resumindo um pouquinho o primeiro livro para que vocês não se percam, Gwendy é uma menina doce que vive em Castle Rock no Maine e que começa a fazer muitos exercícios por causa do bullying que sofre. Mas um certo dia ela encontra com o Senhor Farris que a presenteia com uma caixa de botões que se demonstra mágica... E começa a mudar a vida de Gwendy e de todos ao seu redor.

No segundo volume da saga, Gwendy precisa voltar a Castle Rock, já que a caixa de botões reapareceu de maneira misteriosa e de algum modo o desaparecimento de duas garotas pode estar ligado à isso. A protagonista então volta para sua cidade natal, já não mais como a menina que conhecemos, mas com 37 anos e sendo congressista dos Estados Unidos!

Se no primeiro volume Gwendy vive num dilema, numa corda bamba que pode mudar tudo ao seu redor, no segundo ela se pergunta se onde ela chegou foi mérito seu ou da caixa de botões. Mas as conquistas dela estão se tornando pesadas e cansativas, e é isso que vemos por aqui. Fora que, esse é mais um livro que tem muitas referências à outras obras do King (que se você não tem familiaridade, não vão te atrapalhar) que dão um gostinho especial. 

A cidade de Castle Rock é muito nostálgica para Gwendy apesar de tudo, uma vez que foi lá que ela passou toda sua infância e juventude. Esse volume acaba focando bastante nesse sentimento, principalmente porque a personagem apresenta um pouco mais da sua história e, é claro, decisões que tomou — algumas não tão acertadas assim, mas que de certa forma contribuíram para que ela se tornasse a pessoa que é hoje.

Se anteriormente King escreveu o livro juntamente à Richard Chizmar, dessa vez o autor veio somente para o prefácio e é ali que ele explica o processo criativo dos livros, também comentando sobre sua decisão de não voltar para o segundo volume. Mas, mesmo sendo uma fã muito assídua do mestre, Chizmar não deixou a desejar!

Num geral é um livro que consegue entreter e me fez querer saber o que vai ser abordado no terceiro livro dessa série, afinal, assim como o primeiro volume, esse também tem um final. Não é tão incrível quanto o primeiro volume, e claramente você não consegue ler as histórias fora de ordem hehe mas é uma leitura que vai divertir.

Título Original: Gwendy's Magic Feater ✦ Autor: Richard Chizmar
Páginas: 352 ✦ Tradução: Regiane Winarski ✦ Editora: Suma
Livros recebidos em parceria com a editora
Ajude o blog comprando os livros através do nosso link!

3 de dezembro de 2022

A união entre mulheres muda o mundo: Amigas que Se Encontraram na História, de Angélica Kalil & Mariamma


Eu sou apaixonada por qualquer coisa que exalte personalidades femininas, principalmente quando me lembro o quanto somos apagadas da história. Vocês já me ouviram muito falar de Extraordinárias: Mulheres que Revolucionaram o Brasil e dos dois volumes de Ousadas: Mulheres que Só Fazem o que QueremAmigas que Se Encontraram na História seguem essa mesma proposta, de apresentar para os leitores de forma bem simples algumas personalidades femininas que fizeram a diferença no mundo.


Até agora são dois volumes, e cada um traz dez relatos de amizade entre mulheres de diferentes áreas que impactaram o mundo em diferentes épocas. Por exemplo, vocês sabiam que Ella Fitzgerald e Marilyn Monroe eram amigas? Isso nos anos 1950, quando os Estados Unidos enfrentavam a segregação racial e pessoas negras eram impedidas de viver da mesma forma que os brancos. Conseguem imaginar como foi impactante para a sociedade a amizade entre uma mulher branca e uma mulher negra?


Outras histórias que gostei muito de ler foram as da Annie Jump Cannon e Cecilia Payne-Gaposchkin, muitíssimo relevantes para a astronomia e astrofísica; Tapputi e Ninu, as primeiras cientistas de que se tem conhecimento na história; Alexandra Kollontai e Clara Zetkin, militantes do movimento feminista; Emma Watson e Malala Yousafzai, que lutam pelo direito à educação das mulheres... Na verdade, todas são muito legais e interessantes, mas essas me marcaram muito porque compartilhamos dos mesmos ideias, sabem?


Ambos os volumes são ilustrados e com o texto bem simples, perfeitos para apresentar o universo feminista para crianças de todas as idades. Gostei muito dos dois, inclusive, mas achei o segundo volume mais desenvolvido e informativo no que diz respeito ao texto. Agora imaginem: eu que sou adulta me apaixonei, pensem nossas crianças! Queria muito ter tido acesso a esse tipo de obra quando mais nova, com certeza teria feito a diferença na minha educação. Ah, o primeiro livro fez tanto sucesso que venceu o Prêmio Jabuti na categoria juvenil em 2021!  


Amigas que Se Encontraram na História mostram o poder de transformação da amizade entre mulheres num contexto onde a sociedade acredita que, na realidade, somos rivais. Acredito que Angélica Kalil & Mariamma — que também são amigas! — conseguiram mostrar direitinho a importância da cumplicidade feminina e como é infinitamente mais fácil alcançarmos nossos objetivos quando temos o apoio umas das outras.

Título Original: Amigas que Se Encontraram na História ✦ Autoras: Angélica Kalil & Mariamma
Páginas: 184 + 184 ✦ Editora: Seguinte
Livros recebidos em parceria com a editora

1 de dezembro de 2022

Top Comentarista: Dezembro 2022


Meus amores, eu nunca estive tão animada para um final de ano quanto o final desse ano em específico, unicamente porque desde o início tinha esperança de serem os últimos 365 dias do inominável na presidência do Brasil... E agora estamos em dezembro, e falta APENAS UM MÊS para o fim dessa era ridícula, eu tô pulando de alegria, rs. E não, nunca vou me cansar de falar de política nesse cantinho, porque ler é um ato político, viver é um ato político, é isto!

Agora falando do top comentarista... As regrinhas vocês já sabem de cor, mas não custa relembrar: antes era obrigatório comentar em todas as postagens para não ser desclassificado do concurso, mas a partir de agora vocês serão sorteados a partir dos comentários. Isso significa que não é obrigatório comentar em todos os posts: cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia — recomendo que vocês comentem e preencham o formulário sempre que sair post novo, já que quanto mais comentários cadastrados, maior a chance de ganhar. Todos os meses um comentário será sorteado pelo aplicativo.

Atenção: só preencha o formulário nos dias em que comentar no blog. Por exemplo, se em determinado mês tiverem 13 posts, o número máximo de entradas que cada participante pode ter no formulário é 13!

O prêmio é um vale de trinta reais na Amazon! Ah, as chances extras continuam: comentar nos posts do Instagram e tweetar sobre o top todos os dias em que tiver postagem nova por aqui, então aproveitem! Caso tenha restado alguma dúvida, podem me procurar nas redes sociais, tá bom?

Observações
- O período de validade desse top comentarista é de 01/12/2022 à 31/11/2022. Cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia.
Não serão computados comentários genéricos, só aqueles que exprimem a opinião do leitor e mostram que ele realmente leu o post. Comentários plagiados de outras plataformas (lembrem-se que plágio é crime) ou que se repetem em outros blogs não serão considerados. Comentários do tipo serão excluídos sem aviso prévio e o participante será automaticamente desclassificado;
- É permitido apenas um comentário por post;
- É obrigatório seguir o Roendo Livros via GFC e seguir o perfil @anadoroendo no Instagram para validar a participação;
- A entrada "tweet about de giveaway" só será válida se a pessoa estiver seguindo o Twitter informado (@anadoroendo);
- Após o término do top, o Roendo Livros tem até 15 dias para divulgar o resultado;
- O ganhador tem 48h para responder o e-mail com os dados de envio, caso contrário o sorteio será refeito. O livro escolhido (na faixa de preço estabelecida) deverá ser informado no corpo do e-mail;
- Após feito o contato, o prêmio será enviado dentro de até 60 dias úteis;
- Para o livro ser enviado, é necessário que o ganhador passe o número do CPF para a Ana, já que agora os Correios solicitam uma declaração de conteúdo (saiba mais aqui) Só participe do sorteio se estiver de acordo;
- O Roendo Livros não se responsabiliza por extravio ou atraso na entrega dos Correios, bem como danos causados no livro. Assim como não se responsabiliza por entrega não efetuada por motivos de endereço incorreto, fornecido pelo próprio ganhador, e ausência de recebedor. O livro não será enviado novamente;
- O Roendo Livros se reserva o direito de dirimir questões não previstas neste regulamento.
- Este concurso é de caráter recreativo/cultural, conforme item II do artigo 3º da Lei 5.768 de 20/12/71 e dispensa autorização do Ministério da Fazenda e da Justiça, não está vinculada à compra e/ou aquisição de produtos e serviços e a participação é gratuita.
a Rafflecopter giveaway