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30 de julho de 2020

O Livro de Líbero | Alfredo Nugent Setubal


O Livro de Líbero foi a primeira obra nacional enviada pelo Clube Intrínsecos. Já fiquei com aquela vontade de ler depois dessa informação, que acho muito importante e sensacional. A vontade só aumentou quando meu amigo João começou a falar super bem dele no Instagram, apontando várias características positivas e sensações que a leitura causou nele. Eu tinha certeza que ia gostar, mas não sabia que a história de uma pessoa tentando se reencontrar mexeria tanto comigo. 

A primeira coisa que vocês precisam saber sobre esse livro é que ele não possui nenhuma reviravolta ou acontecimento marcante, mas isso não faz com que ele seja ruim, obviamente. Através de uma narrativa sensível e poética, Alfredo Nugent Setubal nos apresenta Líbero Perim, uma criatura que teve a vida trilhada pela passagem do Circo Bosendorf em sua cidade natal, Pausado. 

Líbero, que trabalhava no pequeno jornal da cidade, fundado e editado por seu pai, Massimo Perim, estava tão animado que não pensou duas vezes quando foi mandado até o local onde as tendas estavam armadas para garantir uma matéria perfeita para a Gazeta de Pausado. Porém, o que o menino nem imaginava é que além de toda magia e fantasia que o circo naturalmente traz, ele também vivenciaria uma coisa inacreditável na noite do espetáculo: um homem lhe ofereceria o livro da sua vida, um livro onde todo o passado, presente e futuro estaria ali, num simples passar de páginas. 

Pelo enredo, esperava de verdade uma história muito mais fantasiosa, mas fui surpreendida quando me deparei com a jornada de uma pessoa que poderia, na realidade, ser qualquer um de nós. Eu não sei o que eu faria se alguém me oferecesse um livro que contasse a minha história, que mostrasse o que tem por vir, mas confesso que admiro a atitude que Líbero tomou, mesmo que ela tenha arrancado um pedaço dele. 

Uma coisa que eu achei bastante interessante foi o fato do livro não ser narrado pelo protagonista. Isso significa que sabemos como ele é e o que ele se tornou através dos olhos de outros personagens. A primeira parte nos é mostrada por Baltazar, o homem que tomava conta do livro de Líbero. A segunda parte, após os acontecimentos no Circo, é sob a perspectiva de Rubio, um rapaz de passado misterioso que trabalhava com Massimo — e era como um segundo filho para ele — e Líbero na Gazeta de Pausado. Gostei muito desse panorama, mas confesso que gostaria de saber o que Líbero pensava, o que ele estava sentindo de verdade. 

Percebi que o Circo, invés de representar uma entidade mágica e fantástica, esteve presente durante toda a narrativa porque representa o próprio protagonista, que passou a se metamorfosear após aquela fatídica noite em que o livro foi oferecido à ele. Líbero teve todo o seu futuro transformado por uma noite, não por causa do que estava escrito no livro, mas por causa de uma decisão que tomou. No fim das contas, O Livro de Líbero é uma grande metáfora sobre sermos responsáveis por traçar nosso próprio destino.

Achei a escrita de Alfredo Nugent Setubal muito diferente de tudo o que eu já li. Sabe quando uma pessoa mais velha, bem vivida, senta e resolve contar uma história para gente, querendo trazer reflexões a partir dos fatos narrados? Pois bem, é exatamente isso — tanto que, juro para vocês, me assustei muito ao descobrir que o autor é só um pouquinho mais velho que eu. Fiquei bastante pensativa com o passar dos capítulos, principalmente porque fala muito sobre pensarmos muito no futuro e, ao mesmo tempo, sermos muito apegados ao passado. 

Eu amei muito essa história, mas apesar de tudo, não acho que O Livro de Líbero seja do tipo que agrade todo e qualquer leitor, infelizmente. Como eu já disse antes, quem gosta de livros cheios de ação e reviravoltas não encontrará aqui um porto. Ainda assim, acho que a narrativa tem um certo quê de mistério que acaba prendendo o leitor, seja para sabermos o que aconteceu com Líbero, aquela curiosidade insistente sobre o passado de Rubio... Mas enfim, acredito que o ponto alto da trama criada por Setubal está realmente nas reflexões sobre essa grande tenda de espetáculos que é a vida humana.

Título Original: O Livro de Líbero ✦ Autor: Alfredo Nugent Setubal
Páginas: 256 ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
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28 de julho de 2020

A Odisseia de Hakim: Da Síria à Turquia | Fabien Toulmé


O quadrinista francês Fabien Toulmé é fortemente conhecido por duas obras, Não Era Você que Eu Esperava e Duas Vidas. Dessa vez, ele nos presenteou com a história de Hakim, um jovem sírio que se viu obrigado a abandonar seu país de origem para sobreviver. Para se tornar um refugiado, Hakim teve que deixar tudo para trás, inclusive a família e os amigos.

Parece estranho, mas em entrevista para o site da Editions Delcourt, Toulmé conta que o desejo de escrever um livro contando a história de um refugiado sírio surgiu de outra catástrofe, "a tragédia da Germanwings, em 2015, quando um piloto atirou o seu avião, e todos os passageiros a bordo, contra uma montanha nos Alpes Franceses para cometer suicídio". Ele ficou muito comovido, mas ao mesmo tempo percebeu que os jornais não falavam abertamente sobre as centenas de outras mortes no Mediterrâneo: os imigrantes que diariamente morriam afogados tentando encontrar um lugar mais seguro eram tratados como problema pela mídia.


A Odisseia de Hakim: Da Síria à Turquia é o primeiro volume da trilogia em que Hakim dá seu relato, através dos olhos de Fabien Toulmé. Nessa parte em específico, ele nos conta principalmente sobre os horrores de uma guerra que pouco é mostrada para nós: os protestos de uma população cansada do regime ditatorial imposto pela família al-Assad desde a década de 70, o regime que reagiu aos protestos pacíficos de forma violenta, a resposta em forma de mais protestos que pediam unicamente reformas no governo para que houvesse mais democracia e melhores condições de vida... 

Obviamente todos esses acontecimentos refletiram diretamente na vida de Hakim, que perdeu seu negócio e foi torturado unicamente por estar no lugar errado, na hora errada. Só depois de passar um período preso que resolve abandonar o país em busca de segurança e de condições melhores. Os fatos narrados por Hakim são muito comoventes, porque podem ser a história de qualquer outra pessoa, ou o início da história de qualquer outra pessoa que, no fim das contas, não teve tanta sorte quanto ele.

Sempre que leio sobre a Guerra Civil na Síria me lembro da história Bana Alabed, uma criança que foi obrigada a deixar seu lar, em Alepo. Sua casa chegou a ser bombardeada, mas graças a Deus ninguém se machucou e atualmente toda a família está sem segurança na Turquia. Citei isso, porque lembro de falar que "a gente realmente não tem um pingo de noção do que é perder tudo e continuar lutando", e também tive esse mesmo sentimento lendo A Odisseia de Hakim.

Histórias envolvendo guerras sempre mexem muito comigo, mas quadrinhos, justamente pelo fato de terem ilustrações, sempre me deixam mais abalada, porque a gente literalmente enxerga as coisas como elas foram. Nesse sentido, os traços de Fabien Toulmé fizeram sua parte de forma magistral. Não vejo a hora de ler o restante do relato de Hakim, que continuará em mais dois volumes: Da Turquia à Grécia e Da Macedônia à França, país onde reside atualmente com a esposa e os filhos.

Título Original: L'Odyssée d'Hakim: De la Syrie à la Turquie ✦ Autor: Fabien Toulmé
Páginas: 272 ✦ Tradução: Fernando Scheibe ✦ Editora: Nemo
Livro recebido em parceria com a editora
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26 de julho de 2020

Codinome Villanelle | Luke Jennings


Em Codinome Villanelle conhecemos Villanelle (nascida Oxana Vorontsova), uma psicopata assassina de aluguel, e Eve Polastri, uma ex-agente do serviço secreto inglês que agora foi contratada por uma agência de segurança nacional para identificar a assassina e aqueles que a contratam e capturá-los.

Ao ler a sinopse do livro, eu fiquei muito empolgada e louca para conhecer essa história, que imaginei que seria um suspense incrível, totalmente vira páginas. Mas minha primeira decepção foi descobrir que o livro é dividido em apenas quatro capítulos, o que acabou deixando a narrativa um pouco lenta para mim. Além disso, Luke Jennings tinha todos os elementos para criar uma narrativa envolvente, mas a forma como ele resolveu descrever o que estava acontecendo e o foco que ele escolheu para a história frustraram o potencial que ela tinha.

Villanelle é uma mulher inteligente e fascinante, seu passado também foi bem construído, mas descrito de uma forma um tanto maçante. Sem contar que a protagonista aparentemente tem que se relacionar sexualmente com praticamente qualquer personagem que cruze seu caminho, e isso foi o que mais me decepcionou no livro. As cenas da relação entre a psicopata e qualquer que fosse o personagem da vez foram descritas com mais detalhes do que as cenas em que ela está cometendo um assassinato, por exemplo.

Eve também é muito inteligente e ao longo do livro se torna cada vez mais obcecada por encontrar a assassina responsável por tantos crimes. O problema da história de Eve, ao contrário de Villanelle, é a falta de detalhes. Senti falta de um maior desenvolvimento da personagem ao longo das páginas, pois a princípio imaginei que ela coestrelaria a narrativa, mas ao meu ver ela se quase se encaixa no papel de personagem secundária.

Apesar de ter sentido falta do suspense, do mistério da história, o último quarto do livro conseguiu acender uma pequena faísca de curiosidade em mim, pois essa narrativa se encerra no que parece ser uma espécie de clímax. Basicamente, a história acaba onde eu achei que ela iria começar (rindo de nervoso).

A série Killing Eve, estrelada por Jodie Comer (Villanelle) e Sandra Oh (Eve), foi baseada nessa história. Eu já assisti ao primeiro episódio e de cara percebi que mudaram algumas coisas, o que não é algo ruim. Até agora, todas as pessoas que conheço que já leram o livro e assistiram a adaptação gostaram mais da série e acredito que não serei exceção.

Codinome Villanelle é o primeiro livro de uma trilogia e, ao que parece, é apenas uma preparação para os próximos livros. Ainda darei uma chance a essa história, já que o final me deixou um pouco curiosa, mas sem grandes expectativas (o que foi o meu maior erro ao ler o primeiro).
 
Título Original: Codename Villanelle ✦ Autor: Luke Jennings
Páginas: 216 ✦ Tradução: Leonardo Alves ✦ Editora: Suma
Livro recebido em parceria com a editora
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23 de julho de 2020

Meus Livros Preferidos da Editora Seguinte


A Companhia das Letras está presente no mercado editorial sob a forma de vários selos, o que inclui a Seguinte, cujo foco são publicações voltadas para o público juvenil. Como meu gênero literário preferido é jovem adulto — mais conhecido como YA no nosso Universo —, leio vários livros da editora, por isso tenho propriedade para indicar os melhores, na minha opinião, para vocês. 


Seria simplesmente impossível começar essa lista com outros livros que não fossem Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo e A Lógica Inexplicável da Minha Vida, do autor Benjamin Alire Sáenz. Até hoje não consigo superar tantos personagens incríveis, as narrativas maravilhosas, a sensibilidade do autor ao retratar temas importantes para qualquer adolescente... Indico esses dois livros sempre que posso, então eles não deixariam de compor essa lista em hipótese alguma. 


Coração de Tinta, na minha opinião, tem um dos mais bem construídos universos imaginários da literatura, principalmente porque fala sobre uma coisa que nós amamos, os livros. A narrativa é tão suave que nem parece que a gente está lendo um livro de quase 500 páginas com um enredo tão minucioso. Ainda não consegui ler o restante da trilogia, intitulada Mundo de Tinta, mas aposto que os próximos volumes também são incríveis. 


Gosto imensamente de O Reino de Zália por dois motivos. Em primeiro lugar, o enredo é digno daqueles filmes de princesa que passam na Sessão da Tarde que a gente tanto ama. Depois, há muitas discussões sobre política, de uma forma bem clara, interessante e leve, o que é incrível levando em conta o público alvo do livro, né? 


Do fundo do meu coração, nunca li um livro da Sarah Dessen que fosse ruim. Minha relação com a autora começou com Só Escute, um dos primeiros dramas adolescentes que li na vida que tratavam de abuso sexual. Depois de ler Os Bons Segredos, eu mesma intitulei essa mulher como Rainha do YA, e só minha opinião que importa. 


A Melodia Feroz é T-U-D-O para mim, vocês não têm noção. Gostei principalmente de não ter um romance propriamente dito, o que pra mim só prova que não é preciso envolver dois personagens romanticamente para uma obra ser incrível. Além do mais, mostra como a violência tem consequências terríveis, uma metáfora perfeita para o mundo em que vivemos. Ah, o livro tem uma continuação, O Dueto Sombrio, mas fiquei tão PUTA com o final que não coloquei ele aqui só de birra (mas sim, é muito bom também).


Confesso que o que me vendeu esse livro foi o título poético: Juntos Somos Eternos. Mas eu me apaixonei completamente por tudo o que tem nele... A narrativa, os personagens, a forma como os protagonistas usam a união e o amor que sentem uns pelos outros para driblar os problemas, sabem? É uma história muito sensível e tem um plot twist maravilhoso, emocionante, digno. 


Contrariando a maior parte da blogosfera de meados de 2014, não morro de amores por Cartas de Amor aos Mortos. Achei a narrativa meio morna, para ser sincera. Mas Aos Dezessete Anos, minha gente, além de tratar sobre um tema atual e importante, o racismo, tem uma característica que me deixa de joelhos: narrativa melancólica. Esse livro está no hall de histórias que devem ser contadas não só por sua grandiosidade, mas por causa da lição que passa. 

Ficaram interessados nos livros? Adquiram através dos links abaixo e ajudem o Roendo Livros a crescer! Ah, e não deixem de comentar se já leram algum deles e qual o livro da Editora Seguinte que vocês mais gostam!

20 de julho de 2020

Ponti | Sharlene Teo


Ambientado em Cingapura, Ponti é narrado sob o ponto de vista de três personagens em três épocas distintas. Na década de 70, acompanhamos Amisa, uma jovem que resolve sair de casa em busca de um futuro melhor. Em determinado momento, a personagem encontra um diretor de cinema que tem um papel perfeito para ela: uma pontianak, demônio que atrai homens com sua beleza e se alimenta do sangue deles. Em 2003, temos Szu, uma adolescente de 16 anos cheia de conflitos internos e que não tem um único amigo. Por último, em 2020, somos apresentados à Circe, uma mulher que odeia seu trabalho e que acabou de passar por um divórcio conturbado.

A primeira pergunta que vocês devem estar se fazendo é qual a relação entre essas três protagonistas, certo?. Szu é filha de Amisa, e Circe é a primeira e única amiga de Szu. Para entendermos o porquê de Szu não fazer mais parte da vida de Circe em 2020, precisamos entender o que aconteceu em 2003, quando elas eram apenas adolescentes. Para entender o porquê de Szu ter uma relação tão conturbada com a mãe, foi necessário conhecer a história dela, na década de 70. Amisa rejeita Szu puramente porque sua carreira foi rejeitada: seus filmes de baixo orçamento, Ponti 1, 2 e 3, fracassaram e só receberam certo reconhecimento anos depois, quando se tornaram uma referência cult. A história fecha seu cerco quando Ponti está prestes a ganhar um remake e Circe fica responsável pela divulgação do novo filme. E é assim que a vida delas está interligada. 

Meus sentimentos em relação à Ponti foram um tanto confusos e conflitantes. Comecei gostando bastante, porque a narrativa de Sharlene Teo é realmente muito boa e as protagonistas são tão intrigantes — principalmente Amisa — que a gente sente aquela vontade de saber mais sobre elas e tal. Porém, quando cheguei mais ou menos metade do livro, comecei a me questionar aonde a autora queria chegar com a história, porque até então nada tinha acontecido. Ok, as três personagens têm essa ligação, mas em momento algum existe um ponto que as conecta de verdade. Não tem nenhum ponto alto, não tem aquela reviravolta que mexe com a gente... É só uma história sobre três pessoas que se conhecem, que se mantém morna do início ao fim. 

Acho que assim como a maioria dos leitores, eu fiquei o tempo todo esperando por um segredo que conseguisse justificar o enredo, mas ele simplesmente não existe. Fiquei esperando uma grande revelação sobre qualquer uma das personagens, mas ela não veio. Então, apesar da narrativa que envolve, Ponti não leva a lugar nenhum. Não consegui enxergar um sentido para tudo aquilo que Sharlene Teo expôs. Existe uma trama, toda essa coisa das relações, mas ela não se sustenta e é justamente isso que frustra.

Para ser sincera, o que me deixa mais triste é saber que o potencial de Sharlene Teo foi desperdiçado com um livro mal desenvolvido. E é exatamente por saber desse potencial que com certeza leria outra obra da autora. Mas Ponti... Não sei... É bem difícil e estranho articular sobre um livro bem escrito, mas que fala, fala, fala e não fala nada.

Título Original: Ponti ✦ Autora: Sharlene Teo
Páginas: 272 ✦ Tradução: Alessandra Esteche ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
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17 de julho de 2020

A Guerra que Salvou a Minha Vida | Kimberly Brubaker Bradley


A Guerra que Salvou Minha Vida é um dos livros mais bem avaliados da editora DarkSide Books. Fiquei muito curiosa porque todas as pessoas que eu conheço que leram gostaram muito. A história tem como pano de fundo o início da Segunda Guerra Mundial, quando os bombardeios de Hitler eram apenas rumores em Londres, mas ainda assim deixavam a população alarmada. Mas antes de dizer o que acontece com a protagonista nesse cenário, preciso apresentá-la a vocês. 

A narradora e protagonista, Ada, é uma menininha de aproximadamente dez anos que nunca saiu do apartamento onde vive. Fica horas e horas do dia olhando a vida pela janela, incluindo seu irmãozinho Jamie, que tem permissão para brincar lá fora. Acontece que Ada nasceu com o pezinho torto e sua mãe abusiva não permite que ela saia de casa, porque não quer que ninguém descubra que ela tem uma filha aleijada. 

Assim, com os possíveis bombardeios de Hitler, as crianças começaram a ser evacuadas, mas como Ada não frequentava a escola, ficaria de fora da lista. Pior do que isso, levariam Jamie, o que significa que ela ficaria sozinha com a mãe que tanto a maltratava. Ao pensar nisso, Ada decide tentar a sorte e foge com Jamie no dia da evacuação e os dois embarcam para o interior junto a milhares de crianças que também procuravam um lugar seguro. É assim que os dois conhecem Susan, uma moça que está passando por um período difícil, que se vê obrigada a dar lar temporário para as crianças, mas acaba se afeiçoando a elas. 

Eu amo livros narrados por crianças, principalmente quando relatam momentos de tensão: elas são tão sinceras e inocentes ao descrever os acontecimentos que a história, apesar de triste, ganha um tom mais leve. É irônico pensar que uma Guerra tão cruel poderia ser a salvação de uma pessoa, mas é realmente isso o que acontece aqui. Ada e Jamie viviam num ambiente hostil e eram constantemente maltratados pela Mãe. Se Jamie sofria, Ada sofria cinquenta vezes mais unicamente por ter nascido com o pé torto — o ódio que eu sinto por essa mãe se multiplica só de pensar que uma simples cirurgia quando Ada ainda era criança resolveria o problema, mas ela preferiu negligenciar a própria filha —, então sair das garras dessa pessoa tão cruel e desprovida de amor foi uma bênção para esses meninos. 

Ada é uma protagonista extraordinária e encantadora. Imaginem só vocês a cabeça de uma criança que nunca recebeu uma demonstração de afeto da pessoa que mais deveria se importar com ela. Imaginem crescer se sentindo errada, diferente das outras crianças, com medo do julgamento da sociedade. A melhor palavra para descrevê-la é desconfiada. Mesmo depois de chegar a um lugar confortável, com uma pessoa amargurada, mas disposta a ajudá-la, Ada permaneceu arredia. Ao mesmo tempo que isso me deixou triste, seria mentira se dissesse que não senti nem um pouquinho de raiva da personagem em alguns momentos. Ela finalmente tinha o que queria, um lar, amor, atenção, e não conseguia ser grata. E esse sentimento me deixava ainda mais triste, porque conscientemente eu sabia que não era culpa dela, porque ela cresceu acreditando que não merecia coisas boas.

Para mim, o ponto alto do livro é o desenvolvimento de Ada. Por exemplo, Jamie, apesar de viver aterrorizado, foi mais fácil de conquistar. Então foi muito bonito acompanhar a forma como Susan lidava com os dois, mas principalmente com a menina, que, no fundo, morria de medo de amar e ser negligenciada novamente. Susan também tem uma história emocionante, já que perdeu uma pessoa muito importante e não conseguia superar o luto. Justamente por estar vivendo um período depressivo tão grande, acreditava que não conseguiria cuidar de duas crianças, mas acabou encontrando nelas um refúgio, uma cura para o seu coração. 

Vale lembrar que é A Guerra que Salvou Minha Vida um livro voltando para o público infantil, narrado por uma criança, então a linguagem é muito simples e direta, bastante infantil, exatamente como os pensamentos de uma criança de dez anos devem ser. Particularmente gosto muito desse estilo de narrativa, mas reconheço que pode incomodar algumas pessoas. É um livro muito bonito e tocante, mas principalmente sincero. Na minha opinião, só tem um defeito: o final é corrido demais, quase ilusório. Mas fico feliz em saber que existe uma continuação, A Guerra Que Me Ensinou a Viver, que promete entregar uma história tão linda quanto a contida no primeiro volume.

Título Original: The War That Saved My Life ✦ Autora: Kimberly Brubaker Bradley
Páginas: 240 ✦ Tradução: Mariana Serpa Vollmer ✦ Editora: DarkSide Books

14 de julho de 2020

Fique Comigo | Ayòbámi Adébáyò


Recebi Fique Comigo, da autora nigeriana Ayòbámi Adébáyò, na edição da TAG Experiências Literárias, que é bem bonita, por sinal. Aqui, somos apresentados ao casal Yejide e Akin. O mais curioso é que já nas primeiras páginas sabemos que eles não estão mais juntos, o que deixa o leitor intrigado logo de cara: obviamente queremos saber o que deu errado na vida deles. A história mescla passado e presente, sob o ponto de vista dos dois personagens principais, costurando uma rede de acontecimentos que culminaram para o colapso do casamento. Antes de começar a falar de fato sobre o livro, gostaria de dizer que provavelmente essa resenha conterá vários spoilers, mas vários mesmo; se você deseja ler essa obra futuramente, não leia esse texto.

É muito difícil falar sobre Fique Comigo sem citar certos acontecimentos da trama para explicar o que acontece. De início vocês precisam saber que Yejide e Akin são casados há quatro anos e seriam muito felizes não fosse a falta de filhos. Não sei se vocês sabem, mas na Nigéria há uma crença muito forte de que um casamento não é completo sem filhos (não só na Nigéria, é claro, até aqui no Brasil muitas pessoas acreditam que uma vida a dois não é completa sem filhos). A cobrança vem de todos os lados, principalmente pela mãe de Akin, afinal, ele é o primogênito da família e ainda não conseguiu dar continuidade à sua linhagem. O fato de seu irmão mais novo já ter vários filhos piora muito a situação. A cobrança em cima de Yejide é diferente e ainda maior, já que uma mulher só é completa se for mãe:

— Você já viu Deus em uma sala de parto parindo um bebê? Diga-me, Yejide, já viu Deus na maternidade? As mulheres fabricam crianças, e se você não consegue fazer isso então não passa de um homem. Ninguém devia chamá-la de mulher.

De início, não sabemos exatamente o porquê de Yejide não conseguir engravidar, mas acompanhamos o seu sofrimento, a culpa que ela mesma sente, a culpa que depositam nela, e sofremos junto. As coisas pioram drasticamente quando insistem para que Akin adote um casamento poligâmico e se relacione com uma segunda mulher, que viria ser a sua segunda esposa. E, de fato, ele cede a pressão e se casa com Funmi, escolhida unicamente para parir o primogênito de Akin. Eis um dos primeiros tapas na cara que levamos: se um casal não consegue ter filhos, obviamente o problema é, e só pode ser, a mulher. É claro que se outra mulher fosse introduzida na história, o problema seria resolvido. Ninguém se importa com os sentimentos de Yejide ou se ela realmente quer se tornar mãe. 

E, de fato, o maior desejo de Yejide é ser mãe. Não consegui identificar exatamente se essa vontade parte realmente dela ou se é um reflexo da cobrança da família e da sociedade, mas ela deseja tanto ser mãe que passa por um período conturbado de gravidez psicológica — se ela ficasse grávida primeiro, Akin poderia se livrar de Funmi. É importante ressaltar que Yejide não concorda com a poligamia, algo que ela deixou claro desde o início de seu relacionamento. No meio desse contexto da falsa gravidez e da traição do marido, várias coisas obscuras acontecem e nossa protagonista realmente fica grávida enquanto Funmi permanece "vazia"

Apesar de ser uma notícia que traz alegria, se engana quem acha que o sofrimento de Yejide acaba por aí. Agora, mais do que nunca, o papel da protagonista é ser uma mãe perfeita, aquela que vive em função dos filhos e não deixa nada de mal acontecer com eles. Já sentia que Fique Comigo seria um dos livros mais triste que li na vida, mas eu não estava preparada verdadeiramente para o que aconteceu em seguida: a bebezinha morre antes de completar seis meses de vida, e não existe uma resposta para essa partida repentina. A pista surge pouco tempo depois, quando Yejide perde seu segundo filho para uma doença hereditária chamada anemia falciforme.

Uma mãe deve estar vigilante. [...] Uma mãe não pode ter a visão embaçada. Deve notar se o lamento de seu bebê é muito alto ou muito baixo. Deve saber se a temperatura da criança aumentou ou caiu. Uma mãe não pode deixar passar nenhum sinal. Ainda tenho certeza de que deixei passar sinais importantes. 

Além de estar sofrendo muito em seu casamento, Yejide ainda tem que lidar com a culpa de perder os filhos tão precocemente. No meio disso tudo, a mãe de Akin passa a acreditar que a nora foi destinada a ter filhos abiku, crianças que, no mundo espiritual, escolhem ter uma passagem curta pela Terra. Aos poucos vamos desvendando os mistérios por trás da doença e detalhes das circunstâncias que levaram Yejide a engravidar. Eu fiquei particularmente chocada, principalmente porque é nítido que Akin escolheu deixar a mulher sofrer sozinha!

Não acho que Fique Comigo seja um livro exclusivamente sobre maternidade ou o papel da mulher no contexto social inserido pela autora. Vai muito além disso. Acho que retrata bem mais a delicadeza das relações humanas. Acima disso, acredito que o foco desse livro são as perdas, como lidar com elas e como elas afetam nosso futuro, nossas decisões.

Título Original: Stay With Me Autora: Ayòbámi Adébáyò ✦ Páginas: 256
Tradução: Marina Vargas  ✦ Editora: Harper Collins & TAG Experiências Literárias

11 de julho de 2020

Coraline | Neil Gaiman


Coraline é uma das obras mais famosas do Neil Gaiman, conhecido justamente por escrever livros de fantasia incríveis — que curiosamente saberíamos que foi ele que escreveu mesmo se não tivesse seu nome estampado nas capas, de tão característica que a narrativa dele é. Publicado pela primeira vez em 2002, Coraline é uma espécie de terror infantojuvenil que conta a história de uma menininha de espírito aventureiro que acaba de se mudar para um apartamento em uma mansão que divide com alguns vizinhos. 

Coraline é filha única e brinca muito sozinha. Uma das suas brincadeiras preferidas é sair explorando os lugares, mas quando chove e não pode sair, ela se vê presa e impaciente dentro de casa e as coisas pioram muito porque seus pais trabalham o tempo inteirinho e não dão muita atenção para ela. Num desses dias de muita chuva e neblina, Coraline descobre uma porta em uma sala antiga que dá para o nada, para uma parede de tijolos. Pelo menos era isso o que ela achava até abrir a porta novamente e descobrir o Outro Mundo, uma realidade alternativa da vida dela. 

Esse Outro Mundo é bem semelhante ao original, mas um pouquinho melhor, ainda que bizarro: apesar de as pessoas terem a pele muito branca e botões no lugar dos olhos, o lugar é muito mais colorido, vibrante e seus Outros Pais são carinhosos e atenciosos com ela e seus vizinhos são muito mais legais — e o melhor de tudo, pronunciam seu nome corretamente, rs. Mas vocês sabem que tudo o que é bom dura pouco, né? As coisas no Outro Mundo começam a ficar deveras assustadoras quando a Outra Mãe, que diz amar Coraline mais que tudo, quer manter a menina presa nesse lugar. 

Meu primeiro contato com essa história foi através da adaptação Coraline e o Mundo Secreto. Lançada em 2009 e dirigida por Henry Selick, de O Estranho Mundo de Jack, é um dos mais longos desenhos de animação em stop-motion já realizados! Enquanto lia o livro, tive a mesma sensação sufocante de quando assisti ao filme, aquela vontade de entrar nas páginas e tentar deter a personagem, sabem? Por exemplo, quem em sã consciência entra em uma porta suspeita que momentos antes dava para uma parede dura de tijolos? Convenhamos que ter dado o primeiro passo, ter entrado pela porta, é a descrição perfeita para Coraline: curiosa e corajosa, uma combinação bem explosiva, diga-se de passagem. 

— Porque coragem é quando você sente medo de fazer algo, mas faz mesmo assim, é quando você enfrenta o medo — respondeu ela. (p. 90)

A nova edição vem com uma introdução escrita pelo próprio autor, que revela detalhes muito interessantes sobre o livro. Eu amei descobrir que, inicialmente, o título do livro seria Caroline, mas ele digitou errado e acabou gostando do resultado. Essa informação é legal porque os vizinhos da menina vivem errando o nome dela. Outro ponto que chamou minha atenção foi saber que ele próprio morou em uma casa que foi dividida em vários apartamentos e que escolheu esse cenário para o livro para que não precisasse explicar para sua filha mais velha, para quem começou a escrever essa história, onde estavam as coisas.

O mais engraçado de tudo é que quando penso na minha infância, lembro de gostar de histórias assustadoras, assim como Holly, a filha do Gaiman. Só aí eu comecei a entender o porquê desse livro em específico fazer tanto sucesso: o que mais nos impressiona não são as cenas aterrorizantes ou a Outra Mãe que vai mostrando quem é de verdade com o passar das páginas, mas sim a personalidade de Coraline, dona de uma coragem que todos nós sonhávamos em ter — e que eu particularmente ainda sonho.

Além disso, Coraline deixa algumas reflexões. Vejam bem, a passagem abaixo é a minha favorita, porque deixa claro que nós, seres humanos, estamos sempre procurando algo que nos identifique, que prove que somos verdadeiramente importantes:

— Qual é o seu nome? — quis saber a menina. — Eu me chamo Coraline, tá?
O gato bocejou bem devagar, criterioso, revelando aos poucos uma boca e uma língua surpreendentemente rosadas.
— Gatos não têm nomes — disse ele.
— Não?
— Não. Vocês, pessoas, têm nomes. É porque vocês não sabem quem são. Nós sabemos quem somos, então não precisamos de nome. (p. 65)

E por falar no Gato, para mim ele é um dos personagens mais icônicos porque representa demais a infância. Não sei se isso é exatamente um spoiler, mas vou avisar por via das dúvidas porque vou falar sobre um detalhe da trama. O Gato tem livre passagem pelos dois mundos, ou seja, não existe Outro Gato. Ele é intrigante não só por isso, mas porque no mundo original ele é um gato comum, enquanto no Outro Mundo ele consegue falar. Isso é muito interessante porque estamos falando de uma protagonista muito solitária que trabalha muito com o imaginário, que dá "vida" às coisas. Óbvio que isso também nos faz questionar se tudo o que aconteceu no livro não foi a imaginação dela também.

Para finalizar, não poderia deixar de falar sobre a edição da Editora Intrínseca, que está bem caprichada: capa dura, fitilho e pintura trilateral roxinhos, combinando com as páginas internas, além de ilustrações maravilhosas de Chris Riddell que impressionou, inclusive, o próprio Gaiman.

Título Original: Coraline ✦ Autor: Neil Gaiman
Páginas: 224 ✦ Tradução: Bruna Beber ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
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9 de julho de 2020

O Jardim Secreto | Frances Hodgson Burnett


O Jardim Secreto é um clássico da literatura inglesa, escrito por Frances Hodgson Burnett, a mesma autora de A Princesinha. Foi publicado em 1911, e desde então vem fazendo sucesso. Ganhou, inclusive, algumas adaptações cinematográficas, incluindo a de 1993, vencedora do prêmio Bafta, e vai rolar um remake esse ano, pelo que eu andei pesquisando! É realmente uma história encantadora sobre como uma criança descobre os pequenos prazeres da vida, mas com algumas falhas bem difíceis de engolir.

Mary Lennox é nossa personagem central, descrita como uma menininha amarga e rabugenta, além de muito mimada e mal educada. Ela é realmente isso tudo e um pouco mais; inclusive é muito difícil se imaginar gostando dela em algum momento. Mary nasceu e cresceu na Índia, mas nunca teve a companhia dos pais ou de qualquer outra criança. Quando tinha dez anos, uma epidemia de cólera toma o castelo onde vive, matando várias pessoas, inclusive seus pais. Por causa disso, é levada para viver em Yorkshire, onde tem um tio (tão amargo quanto ela), sr. Craven, que se torna seu tutor.  

Gente, Mary é insuportável, mas insuportável de uma forma que eu não consigo explicar. Ela é 100% acostumada com todo mundo fazendo as coisas por ela, tanto que, no início, não consegue vestir as próprias roupas e trata todo mundo com desdém. Não fosse Martha, uma das criadas do sr. Craven, essa menina estava perdidinha. Além de ser muito paciente, consegue fazer com que ela comece a brincar ao ar livre, e não fosse isso, nunca descobriria o Jardim Secreto. O jardim tem esse nome porque o sr. Craven proibiu qualquer pessoa de entrar lá dentro por causa de algo muito triste que aconteceu em sua vida há mais ou menos dez anos — sim, o lugar fica trancado por todo esse tempo.

Existem outros personagens muito importantes, como Colin Craven, que só aparece na história quando ela já está bem adiantada. Não é necessariamente um spoiler, mas o garoto é mantido escondido no quarto porque todo mundo acha que ele vai morrer logo — engraçado porque todo mundo acredita nisso há dez anos e, no entanto, o menino segue vivinho da Silva. Gente, a Mary do início do livro é um anjinho perto desse menino. Mesmo com a melhora na personalidade dele no decorrer das páginas, não consegui gostar dele, principalmente porque ele se acha o dono do mundo e faz birra por qualquer coisa. Todas as suas vontades são feitas sem nem questionamento, e ele trata as pessoas que fazem TUDO por ele como se fossem lixo. Não tive paciência NENHUMA. O problema maior que a autora tenta justificar esse comportamento mesquinho dele com sua "doença" que nem existe de verdade. Enfim. 

O egoísmo de Colin é o menor dos problemas em O Jardim Secreto. Claro que fiquei contente por duas crianças passarem a viver como crianças, brincando, se divertindo e, acima de tudo, mudando o comportamento horrível aos pouquinhos, mas não consigo fechar os olhos para as diversas passagens racistas e com preconceito de classe. Só para vocês terem uma breve ideia, selecionei alguns trechos que me deixaram muito incomodada:

"É, deve ser diferente mesmo", disse, num tom quase compreensivo. "Deve de ser por causa que tem tantos pretos lá, em vez de pessoas brancas respeitáveis".
[...]
"Eu não tenho nada contra os pretos não, viu? [...] Eu nunca vi uma pessoa preta na vida e estava contente achando que ia ver uma de perto."

"Mesmo que não seja Mágica de verdade, nós podemos fazer de conta que é. Alguma coisa tem lá. Alguma coisa tem!"
"É Mágica", disse Mary. "Mas não é magia negra. É uma magia branca como a neve."

Eu com certeza entendo que estamos falando de uma história que se passa em um século diferente e que, infelizmente, isso faz parte do contexto histórico da época... Mas eu simplesmente não consigo ignorar esse tipo de coisa, principalmente porque, nesse caso, é a essência da própria autora. É muito diferente quando um autor escreve sobre racismo para nos mostrar essa luta diária, para usar seu texto como forma de protesto e combate ao problema. E sobre o preconceito de classe, a história coloca o pobre como inferior o tempo inteiro, tratando-os como caipiras e afirmando que não tem nenhum intelecto. É muito triste, sabe? Fiquei muito chateada, principalmente porque é uma história com um bom desenvolvimento.

Apesar de tudo ser narrado sob o ponto de vista de Mary, acredito que o personagem principal desse livro é o próprio jardim, afinal, tudo acontece por causa dele. O ponto principal aqui, acredito eu, é mostrar o milagre que acontece com as crianças, que praticamente nascem de novo ao conquistar uma felicidade que nunca tiveram, ou seja, o jardim representa um recomeço.

Então, sim, O Jardim Secreto passa uma mensagem muito bonita sobre mudanças e a narrativa é tão fluida e gostosa que não é difícil aceitar o sucesso que faz até hoje. Mesmo deixando a desejar nos aspectos que citei anteriormente, não posso falar que odiei o livro com todas as minhas forças, pois estaria mentindo. Não acho que temos que ignorar acontecimentos que refletem em nossa sociedade racista até hoje, expor essas passagens faz parte da nossa caminhada como leitores, mas aprendi tanta coisa e a autora escreve com tanta tranquilidade que realmente não consegui odiar.

Ah, só mais uma informação para quem quiser adquirir a versão publicada pela Penguin Companhia: deixem para ler a introdução, escrita por Alison Lurie, depois de terminarem a leitura. Como é um pequeno estudo da história, há muitos spoilers, informações detalhadas e interpretações, o que, na minha opinião, pode comprometer sua própria análise sobre o texto.

Título Original: The Secret Garden ✦ Autora: Frances Hodgson Burnett
Páginas: 344 ✦ Tradução: Sonia Moreira ✦ Editora: Penguin Companhia

7 de julho de 2020

FLIPOP 2020 | Festival de Literatura Pop Será Online Esse Ano!


Vocês conhecem a FLIPOP? É o Festival de Literatura Pop promovido pela Editora Seguinte, selo jovem da Companhia das Letras. O evento é totalmente voltado para a literatura jovem adulto e geralmente acontece em São Paulo, contando com o apoio de várias outras editoras. Porém, como já sabemos, devido às dificuldades impostas pelo novo coronavírus, esse ano o festival será online e gratuito!

A FLIPOP 2020 ocorrerá entre os dias 9 e 12 de junho no canal oficial da Editora Seguinte. Serão quatro lives por dia, com palestras, mesas de discussões e bate-papos com autores muito legais. Confiram a programação completa abaixo. 


Todas as mesas do festival terão sorteios, e uma das formas de concorrer é preenchendo este formulário. Para mais informações e detalhes sobre a programação, acessem o site oficial da FLIPOP.

5 de julho de 2020

TAG dos 50% — 2020


Apesar de 2020 não estar sendo um ano comum por causa do coronavírus, pelo menos em uma coisa ele ajudou: com tanto tempo ocioso, consegui ler bastante mesmo com a ansiedade e quanto mais livros lidos mais legal de responder é a TAG dos 50%. A tag foi criada Chami do canal Read Like Wild Fire e traduzida pelo Victor Almeida do Geek Freak, e consiste em falar um pouco sobre os livros lidos até o mês julho, a metade do ano. 

Inclusive, se você é novo leitor aqui no Roendo Livros, não deixem de conferir os posts anteriores dessa "série":


01. O melhor livro que você leu até agora, em 2020

   
Stepsister tem tudo o que eu gosto em uma fantasia: muita ação e reviravoltas, vilões bem desenvolvidos, uma pitada de romance e o melhor, personagens femininas fortes. Nesse livro conhecemos a história das meias-irmãs da Cinderella, mas de uma forma bem diferente da passada na história original, em que elas são muito cruéis. Além disso, o que eu mais gosto aqui é que a autora conseguiu criar uma atmosfera bem feminista, chegando a questionar o papel da mulher na sociedade mesmo que o enredo se passe em um século diferente do atual. 

02. A melhor continuação que você leu até agora, em 2020


Em 2019 essa questão ficou em branco, porque eu passei realmente um bom tempo lendo só livros únicos. Inclusive, a única série que eu li em 2020 foi Para Todos os Garotos e decidi colocar Agora e Para Sempre, Lara Jean porque foi uma ótima conclusão para essa trilogia que tanto amo — btw BEM LOUCA pra Netflix lançar o filme logo, pai amado. 

03. Algum lançamento do primeiro semestre que você ainda não leu, mas quer muito


Gente, sempre me dá um branco nesse tipo de pergunta, isso acontece com vocês também? O único que consegui pensar foi Daqui a Cinco Anos, lançamento em e-book da editora Paralela do finalzinho do semestre passado. A história é basicamente a seguinte: a protagonista tem um sonho em que se enxerga a cinco anos no futuro, com um noivo diferente do que tem no presente. Ela decide acreditar que foi só um sonho mesmo, até que, quatro anos e meio depois, se encontra com o homem do sonho. Fiquei bem curiosa, e vocês?

04. O livro mais aguardado do segundo semestre 


Sou muito, mas muito Crepusculete mesmo, então nem preciso explicar o porquê de eu estar esperando tanto por esse livro, né? Pois bem. 

05. O livro que mais te decepcionou esse ano


Deus que me perdoe, mas misericórdia, que livro ruim. Nossa, pensem num livro ruim... Uma Dor Tão Doce consegue ser pior. Narrativa extremamente cansativa, não acontece nada hora nenhuma e de verdade, acho que uns 70% da história é dispensável, não faz um pingo de falta. Pai amado viu...

06. O livro que mais te surpreendeu esse ano


Apesar de ter me incomodado com uma coisinha ou outra, O Amor Não é Óbvio me surpreendeu positivamente. Fico muito feliz de saber que temos autores nacionais tão incríveis que escrevem histórias tão especiais quanto essa. Mais feliz ainda por ser um romance lésbico com direito a final feliz e tudo. 

07. Novo autor favorito (que lançou seu primeiro livro nesse semestre, ou que você conheceu recentemente)


Li Fique Comigo da autora Ayòbámi Adébáyò recentemente e me apaixonei pela escrita dela. Mais que apaixonada, fiquei admirada, principalmente porque é o primeiro livro dela. Adébáyò é nigeriana e mestre em Escrita Criativa Universidade de East Anglia, na Inglaterra. Dada a qualidade do seu primeiro livro, em que discorre sobre o patriarcalismo na sociedade nigeriana ao falar sobre a impossibilidade que um casal encontra de ter filhos, eu com certeza acompanharei sua trajetória como escritora. 

08. A sua quedinha por personagem fictício mais recente


Sendo obrigada a repetir livro porque a forma como Íris, de O Amor Não é Óbvio, descreve a personagem Édra Norr é de derreter qualquer coração. Tanto que, obviamente, também me apaixonei por ela.

09. Seu personagem favorito mais recente 
  

Achei bem difícil escolher um personagem só, então resolvi escolher meu casal preferido mais recente, que é obviamente Lara Jean & Peter K, de Para Todos os Garotos que Já Amei. Ai, só de lembrar dos dois já me dá aquele quentinho coração. Sim, sou BEM ADOLESCENTE mesmo, foi mal.

10. Um livro que te fez chorar nesse primeiro semestre 


Nossa, mas chorei igual uma condenada em O Diário de Nisha. A história da personagem se passa durante a Partição da Índia em 1947. Nisha e o irmão gêmeo são filhos de um hindu com uma muçulmana, e ela não entende o porquê dessa tensão religiosa. Com a divisão da Índia em Paquistão e Índia, Nisha e a família se veem obrigados a abandonar o lar que tanto amam para continuarem seguros. Chorei muito primeiro porque Nisha escreve para a mãe que nunca conheceu no diário, e segundo porque o conflito em si é muito triste. Vale a pena ser lido, é realmente um livro muito bom.

11. Um livro que te deixou feliz nesse primeiro semestre 


Euzinha + livros feministas com escrita acessível para crianças = felicidade na certa. O segundo volume da duologia Ousadas: Mulheres Que Só Fazem o Que Querem é tudo para mim. Em Ousadas #2 a autora e ilustradora Pénélope Bagieu nos apresenta mais personalidades incríveis que não mediram esforços para causar uma revolução.

12. Melhor adaptação cinematográfica de um livro que você assistiu até agora, em 2020


Sempre que chega nessa parte da tag eu fico horas pensando, porque não sou muito de assistir filmes. Aí coloquei a única adaptação cinematográfica que vi pela primeira vez em 2020 — e que foi lançada nesse ano também, né: Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você . Mas por exemplo, eu reassisti várias adaptações, como O Senhor dos Anéis, por exemplo, mas já vi tantas vezes que não seria justo colocar aqui.

13. Sua resenha favorita desse primeiro semestre (escrita ou em vídeo)


Minha Sombria Vanessa foi um livro muito difícil, pois é uma narrativa sobre pedofilia pela visão da vítima. Muitos trechos foram difíceis de engolir, mas a escrita é muito boa e me rendeu uma resenha bem reflexiva. Espero que vocês tenham gostado dela tanto quanto eu.

14. O livro mais bonito que você comprou ou ganhou esse ano, até agora 


Simplesmente apaixonada por essa edição de Coraline que a editora Intrínseca lançou recentemente, com capa dura, pintura trilateral roxinha — a coisa mais linda do mundo —, ilustrações muito maravilhosas de Chris Riddell e vários outros detalhes incríveis. Perfeita, sem defeitos.

15. Quais livros você precisa ou quer muito ler até o final do ano?

Eu tô sempre precisando ler pelo menos 2834392752837 livros até o fim do ano, mas em 2020 resolvi dar uma prioridade para livros esquecidos na minha estante:

Yaqui Delgado Quer Quebrar a Sua Cara, Meg Medina 
Confissões do Crematório, Caitlin Doughty
Em Algum Lugar nas Estrelas, Clare Vanderpool
Minha Vida Fora dos Trilhos, Clare Vanderpool
Longa Pétala de Mar, Isabel Allende
Bruxa Akata, Nnedi Okorafor
Recursão, Blake Crouch
The Heart of Betrayal, Mary E. Pearson
The Beauty of Darkness, Mary E. Pearson
O Mapa Que Me Leva Até Você, J.P. Monninger

Se tiverem interesse em comprar qualquer um dos livros citados nesse post, utilizem o link de compra da Amazon do Roendo Livros. Vocês não pagam nada a mais por isso e ajudam muito no crescimento do blog.

3 de julho de 2020

Promoção: Amamos Intrínseca


Eu não sei vocês, mas eu sou perdidamente apaixonada pela Intrínseca, porque ela sempre publica livros de ótima qualidade que me arrancam suspiros, me deixam animada, me fazem feliz! Pensando nisso, o Roendo Livros se juntou com mais três parceiras incríveis, @bibliotecadanath, @tardisliteraria e @queriaseralice, para presentear quatro leitores com livros maravilhosos dessa editora que tanto amamos.   

O sorteio está acontecendo no Instagram da Nath e os ganhadores poderão escolher um entre os quatro kits de acordo com a ordem dos sorteio:

Kit 01: Caixinha #20 do Intrínsecos
Kit 02: Com Amor, Creekwood e The Outsiders
Kit 03: As Outras Pessoas e Malorie 
Kit 04:  O Labirinto do Fauno e Coraline 

Todas as regras de participação vocês podem conferir no post oficial da promoção, abaixo. Boa sorte a todos e qualquer dúvida é só gritar nas redes sociais do blog!




>>SORTEIO INTRÍNSECA<< ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Preparados para um novo sorteio?! Desta vez, vamos sortear só livros incríveis da Editora Intrínseca! ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ 🎁 PRÊMIOS (PARA 4 GANHADORXS COM OS KITS ESCOLHIDOS DE ACORDO COM A ORDEM DXS SORTEADXS): ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ * Kit 1 - Caixinha Intrínsecos 020 * Kit 2 - Com amor, Creekwood l The outsiders * Kit 3 - As outras pessoas l Malorie⠀⠀⠀ * Kit 4 - O labirinto do fauno l Coraline ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨Para concorrer basta seguir as regras abaixo: ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨Curtir a foto oficial do sorteio (esta foto aí em cima). ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨Seguir o perfil dos organizadores do sorteio: ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ @anadoroendo @bibliotecadanath @intrinseca @queriaseralice @tardisliteraria ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨Comentar na foto oficial com a frase “QUERO GANHAR ESTE SORTEIO” e marcar UM AMIGO QUE VOCÊ SIGA (É PROIBIDO MARCAR: IGs fakes, famosos, lojas, repetir amigos e marcar as organizadoras do sorteio!). Comente quantas vezes quiser, mas sempre marcando amigos diferentes! ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨Residir em território nacional. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨O sorteio começa hoje 03/07 e vai até às 22h do dia 03/08. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨O resultado do sorteio será divulgado NOS STORIES. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨O ganhador deverá entrar em contato via direct em, no máximo, 24 horas após o sorteio e estar com o seu perfil DESBLOQUEADO para conferência das regras. Caso o perfil esteja bloqueado, um novo sorteio será realizado. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨O prêmio será enviado em até 40 dias úteis a partir do momento que o ganhador entrar em contato. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨Caso o ganhador não siga as regras descritas na FOTO OFICIAL, um novo sorteio será realizado. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ✨Não nos responsabilizamos por extravio e por ganhadores que não buscarem suas encomendas nos correios se preciso for! ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ 🍀Boa sorte a todos!🍀 ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ 📍Este sorteio é de caráter recreativo/cultural, conforme item II do artigo 3o da Lei 5.768 de 20/12/1971 e dispensa a autorização do Ministério da Fazenda e da Justiça, não está vinculado à compra e/ou à aquisição de produtos ou serviços e a participação é gratuita.
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